Primeira Anotação

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Parte I

Um dos meus principais desejos hoje, é saber através do seu olhar o que você pensa quando me vê.

...

Por mais que isto tenha acontecido há muito tempo, eu me lembro tão claramente que poderia até mesmo desenhar se precisassem, e essa específica casualidade de lembrar-me de algo, com tantos detalhes, é uma das coisas que mais me intriga em nós seres humanos, e claro, assim como em todos os demais seres vivos com a semelhante capacidade. Agora, sobre o que eu estou divagando? É simplesmente sobre a nossa chamada "memória", e falando desse modo informal e talvez desleixado, até se parece com algo bobo, ou mesmo insignificante em frente a tantos outros talentos e habilidades que conseguimos desenvolver ao longo dos séculos, mas... Nada disso seria possível se não a tivéssemos, não é?

Do que adianta um martelo em mãos, se você não se lembra para o que ele serve ou como se deve usá-lo?

Do que adianta ter alguém em sua vida, se você não se lembra o motivo de começar a amá-la para tê-la?

Hun, são dois extremos absurdos para comparação, eu sei, mas nota como são radicais observações com uma mesma base?

Claro, nos esquecemos de muitas coisas com o decorrer dos anos, mas você nunca se perguntou o porquê de alguns momentos, sejam eles bobos ou não, sempre seguirem você, não importa quanto tempo acabe se passando...?

...

Posso saber o porquê de você estar sorrindo desse jeito? Perguntei a ela, que o alargou ainda mais após a minha indagação repentina, fazendo com que as maçãs de seu rosto se ruborizassem enquanto olhava timidamente para baixo.

O seu sorriso era – e ainda é – estupidamente belo e revigorante para mim, assim como ela por inteiro mesmo que a temperatura gélida nos rodeasse sem descanso naquela noite incomum.

Ela apoiou-se sobre o corrimão da escada de incêndio, que ficava na parte externa do prédio onde estávamos, e respirou fundo a brisa úmida da noite como se não fizesse isso há anos. Eu me lembro de ter olhado para uma parte da cidade já noturna junto a ela, tentando identificar o que poderia ter chamado a sua atenção, mas a única coisa que eu pude de fato notar, era que a chuva finalmente havia parado.

Um bufar pesado escapou de mim.

Esqueça.

Curiosa, ela virou-se em minha direção.

Ei, desde quando você é assim? Perguntou de forma descabida.

Tomei um gole do copo com uísque que eu segurava enquanto ela me observava com cuidado. Isso não me admirava...

Assim como? Indaguei logo em seguida erguendo o queixo em sua direção.

Ela bateu as mãos no parapeito da escada em um ritmo mudo enquanto pensava, algo que chamou a minha atenção para as suas roupas, que ainda continuavam molhadas por conta da chuva que havia tomado antes de chegarmos até onde estávamos, quando eu a encontrei perambulando sozinha pelas ruas da cidade.

Não acha melhor se secar?

Você sabe. Respondeu ignorando completamente a minha última pergunta. Aparentemente ela não ligava para um homem encarando as suas roupas quase mescladas a pele, e que estavam me proporcionando uma boa vista da cor de seu sutiã e a estrutura que moldava as curvaturas sexys de seus seios e cintura – algo que particularmente deveria incomodar a maioria das mulheres que eu conhecia... Ou, pensando melhor, talvez não... – no entanto, minutos mais tarde, eu pude perceber que ela sequer havia notado como estava. Na verdade, parecia mais incomodar a ela o fato de eu estar bebendo na sua frente, e não a forma como passei a cobiçar o seu corpo repentinamente...

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