Parte I - Capítulo 1

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O cheiro de terra molhada se misturava ao de madeira podre, fortalecendo a teoria de que aquela casa havia sido abandonada a mais tempo do que eu imaginava. Empurrei a porta apodrecida, que rangeu nas dobradiças para, em seguida, ceder e cair no chão com um estrondo. O mofo dominava as paredes em uma camada grossa e esverdeada, acompanhado de alguns cogumelos e ervas daninha.

Com cautela, caminhei pela sala e encarei os sofás rasgados, a mesa de jantar tombada e a cômoda revirada; o clima era de tristeza e solidão, mesmo não tendo sinal de vida por perto. Segui pelo corredor e entrei no primeiro quarto à direita, que não se diferenciava muito da sala no quesito preservação, logo que empurrei a porta, um estalo despertou meu interesse e eu virei para o corredor a tempo de ver meu companheiro de viagem adentrar no cômodo: um robô de auxílio que apelidei de Willy.

– Este ajudante não compreende o porquê de estarmos aqui. – ele avançou calmamente e parou logo ao lado. Seu formato era humanoide, de pouco mais de um metro de altura; o tronco era ligeiramente oval, com a base sendo um pouco mais larga, enquanto a cabeça era arredondada; os braços e as pernas levemente esguios faziam-no parecer com um personagem de algum desenho infantil antigo.

– Que susto! – respondi e respirei fundo. – Nunca mais faça isso.

– Este ajudante pede desculpas. – As lentes que simulavam os olhos se voltaram para o cômodo, lançando uma luz azulada que rapidamente analisou o recinto. – Não há sinal de vida aqui. – Voltou-se para o corredor e começou andar. – Este ajudante recomenda seguirmos com a viagem.

– Não agora, tenho que procurar qualquer coisa que seja útil. – Apertei a alça da carabina recentemente adquirida que mantinha junto da bolsa. – Vai olhar os fundos.

O acompanhante emitiu um ruído e então começou a se dirigir para a parte posterior da casa a passos lentos. Sozinha ali, decidi vasculhar cada resto de cômoda, e até mesmo debaixo do que um dia fora uma cama velha, a procura de roupas ou até mesmo algo que pudesse servir como arma, já que as balas da carabina estavam se esgotando.

Eu estava caminhando há mais de um mês e lentamente as coisas começavam a ficar mais perigosas e assustadoras – tudo isso graças ao estopim que culminou com o mundo naquele estado. Encontrei um casaco para climas mais frios e uma calça jeans com pequenos rasgos, o resto estava completamente estragado e sem condições de uso. Guardei tudo dentro da bolsa no mesmo instante em que Willy retornava para o quarto.

– Este ajudante pede para que Elise o siga. – ele falou, a lente mudando de foco constantemente. – Este ajudante acredita que você gostaria de ver o que foi encontrado.

Franzi o cenho e me apressei em seguir o robô até a parte externa da casa. A porta dos fundos se abria para um quintal amplo, coberto pela grama verde e alguns arbustos descuidados. Willy avançou até a árvore de caule retorcido que se encontrava no fundo do terreno onde havia uma espécie de cadeira de varanda acolchoada logo ao lado. Quando eu me aproximei, percebi que havia uma pessoa – ou o que restou dela – sentada de costas para a casa.

– Meu Deus. – sussurrei. – Aparentemente ainda haviam pessoas morando aqui.

Os braços estavam retorcidos e a boca aberta, como se seus últimos momentos tivessem sido dolorosos ou traumatizantes. Usava os restos de uma camiseta preta e calças jeans, mas o que realmente chamou-me atenção foi a venda que cobria os olhos e parte de sua cabeça, e a arma que estava largada no chão.

– Este ajudante tem suspeitas de que esse seja o dono da casa.

– Preferiu se entregar a tentar sobreviver... Assim como grande parte das pessoas. – balancei a cabeça. – Consegue descobrir algo sobre ele?

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