Decidi seguir os conselhos de Veronica e tirei o resto do dia pra descansar, mas sem sair do quarto. Testei alguns movimentos com a perna e arrisquei ficar em pé, mesmo sem conseguir me manter por muito tempo. Um leve espasmo de dor passou por todo o membro e eu caí sentado de volta na cama. Ainda me atrevi a fazer duas outras tentativas, tendo um resultado melhor na última. Dei um passo ainda incerto para frente e, quando tive um pouco mais confiança, caminhei até a janela, apesar de estar mancando um pouco.
A rua estava escura, iluminada apenas pelas luzes que saíam dos prédios em volta, já que os postes praticamente não tinham utilidade. Alguns flocos de neve caíam isoladamente, mas eu não sabia dizer se eram novos ou arrastados pelo vento. Por causa da baixa visibilidade, ficava difícil ver algo além das construções ao redor. Eu não sabia que horas eram, mas, pela quantidade de janelas que tinham as luzes desligadas, parecia ser bem tarde. Veronica já havia me dado a última refeição do dia e certamente já se encontrava deitada. A casa inteira estava mergulhada no silêncio, deixando-me um pouco melancólico, e eu voltei para a cama.
Quando acordei no dia seguinte, reparei que a bandeja com a comida já estava em cima da mesa de cabeceira e uma muda de roupas se encontrava sobre a cadeira. Ao que parecia eu tinha dormido demais, ou Veronica havia me visitado mais cedo naquele dia e optara por não me acordar. Levantei e troquei de roupa enquanto tinha o máximo de cuidado possível com o curativo na perna. Além da camisa, notei que havia um casaco preto de moletom, que mais se parecia com uma jaqueta, cujo as mangas eram feitas de lã.
– Precisa de ajuda?
Virei-me de súbito e encontrei Veronica parada na porta.
– Não, está tudo bem. – sorri de canto. – Não precisava ter me dado roupas.
– Ah, precisava. – ela retrucou e recolheu a bandeja. – Apenas o casaco pra neve continuava em boa condição para uso.
Passei a mão sobre o tecido da jaqueta e o vesti, percebendo que a peça servia quase perfeitamente – apesar das mangas serem um pouco apertadas.
– Você se recuperou mais rápido que sua amiga. – Veronica comentou, ganhando minha atenção. – Ela acordou, mas parecia um pouco fraca e por isso mandei que continuasse deitada até que estivesse totalmente bem.
Engoli em seco, sentindo um estranho nervosismo dominar meu corpo. Eu estava na companhia de Elise há meses, mas, naquele momento, eu sentia medo de ver o rosto dela novamente depois dos acontecimentos na floresta. Respirei fundo e mordisquei levemente o lábio, tentando afundar ao máximo aquela sensação na mente.
– Eu posso vê-la? – Minha voz saiu tão baixa quanto um sussurro.
– Bem... – ela fez menção de dizer algo, mas pareceu voltar atrás na decisão. – Tudo bem, mas por apenas alguns minutos.
Assenti e então deixei ela me guiar para fora do quarto pouco tempo depois, me deparando com um pedaço do resto da casa. Percorri um corredor estreito que possuía duas portas de cada lado e parei em frente da última que ficava no lado direito. Veronica, que ainda carregava a bandeja em uma das mãos, bateu na porta e então girou a maçaneta, adentrando em seguida. Eu, por outro lado, permaneci no lado de fora, sem saber se minha entrada era permitida ou não.
Depois de apenas alguns segundos, a autorização veio através da voz de Veronica.
– Pode entrar.
Empurrei a porta com uma das mãos e entrei. A primeira imagem que tive foi a de Elise deitada na cama, com uma expressão um pouco pálida e ao mesmo tempo mórbida no rosto. Ao me ver, ela sorriu levemente, o que serviu para me acalmar um pouco. O quarto onde ela se encontrava não era tão diferente do meu, com exceção de que os móveis pareciam ser mais conservados e de Willy se encontrar parado no outro extremo do cômodo, em estado de hibernação.
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Terminal 25
RomanceEm um mundo destruído pela Guerra, onde não há leis ou governo, o que sobrou da humanidade enfrenta a dura realidade de estar à mercê da sorte. Diante das dificuldades e do perigo, todos almejam ir para Nova Luz, a procura de uma vida melhor. Após a...