Parte I - Capítulo 7

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Acordei com uma forte dor no lado esquerdo da cabeça e com um gosto amargo na boca. Tentei levar uma das mãos até a região dolorida, mas senti uma resistência nos pulsos. Franzi o cenho enquanto erguia o olhar para acima da minha cabeça e percebia que estava algemada a um cano de ferro. Tentei a todo custo me soltar, mas, apesar das ferrugens que o dominavam, o metal continuava firme e forte.

Grunhi de dor ao mesmo tempo em que ouvia o farfalhar de tecido, virei a cabeça e vi que não estava sozinha naquele local: Connor encontrava-se preso da mesma forma que eu, mas suas algemas eram três vezes mais grossas, e Willy estava envolto em correntes, preso dentro de uma gaiola.

– Willy? – minha voz saiu arrasta e rouca.

Seus olhos ganharam vida e em seguida a cabeça virou na minha direção, para o meu alívio. Willy tentou ficar de pé, mas aparentemente a gaiola era muito pequena e ele acabou caindo sentado no chão. O som reverberou por toda a sala, acordando Connor como consequência. Ele piscou os olhos e me fitou por alguns instantes; havia um corte no seu lábio e outro acima da sobrancelha.

– Elise? – falou tentando se mexer, mas as algemas impediram seus movimentos. Ele encarou os braços erguidos com o cenho franzido. – O quê?

– Estamos algemados. – anunciei.

– 'Tá de brincadeira, né? – ele retrucou, forçando os pulsos para frente. – Merda.

– Não adianta, eu já tentei a mesma coisa. – falei, apoiando a cabeça na parede. – Essas correntes são resistentes.

Ele suspirou e então deixou o corpo pender contra o chão. Estávamos no que parecia ser o porão de uma casa, já que não havia janelas visíveis e o cheiro de mofo era forte, onde as únicas coisas disponíveis eram uma mesa de madeira velha e uma cadeira de aço. Uma lâmpada pendia precariamente do teto e uma das paredes estava dominada por um emaranhado de canos semelhantes àquele que eu me encontrava presa. O chão era revestido de cimento, mas em alguns pontos viam-se falhas e rachaduras que o excesso de umidade havia causado. Uma escada podia ser vista mais ao canto, que levava até uma porta e, por consequência, ao andar de cima.

– O que houve depois que fui golpeada? – indaguei por fim. – Só me lembro de um borrão de dor.

– Havia outros dois caras. – Connor pigarreou antes de continuar. – Quando vi você caindo, tentei reagir, mas um deles me atingiu com uma coronhada no queixo. Arrisquei disparar com a pistola, mas o segundo cara estava com você sob a mira e disse que se eu apertasse o gatilho, ele explodiria a sua cabeça. – seus olhos me fitaram por alguns instantes. – No fim das contas fui obrigado a me render, depois fui chutado no estômago e no peito, e em seguida apagado igual a você.

– Willy, sabe onde estamos?

– Este ajudante detecta que ainda continuamos dentro dos limites da cidade, mas em uma região mais central. – ele informou de dentro da gaiola.

– Isso não ajuda muito. – comentei em um sussurro.

– Este ajudante pede desculpas.

– Pelo menos sabemos que realmente há pessoas vivendo aqui, mesmo que tenha sido da pior forma possível. – ele se remexeu e trincou os dentes. – Merda, parece que eu fui atropelado por um caminhão.

– Realmente, sua cara não está das melhores.

– Será que eu ouvi uma piada vinda de você? – ele riu, mas acabou se transformando em um gemido de dor. – O que acha que vão fazer com a gente?

– Não sei. – murmurei. – Minha suposição maior seria a morte, mas eles poderiam ter feito isso lá no supermercado.

– Então você suspeita que eles queiram algo? – Connor arqueou uma sobrancelha e eu dei de ombros. – Mas não temos absolutamente nada.

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