Parte IV - Capítulo 28

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Pouco mais de quatro dias haviam se passado desde que deixamos o acampamento. Nosso ritmo continuava constante e fazíamos paradas ocasionais apenas para comer e descansar, normalmente na beira da estrada ou em construções que conseguíamos encontrar ocasionalmente. Havíamos atravessado a fronteira, deixando as grandes florestas para trás, e agora um terreno novo se estendia a nossa frente, dominado por campinas e montanhas rochosas. A temperatura seguia baixa, com picos de calor raros, que ocorriam em sua maioria ao meio dia.

A estrada era sinuosa e Connor sempre tomava cuidado ao desviar de um buraco ou algo do tipo. O sol estava nascendo, deixando o horizonte tingido de azul-claro e o céu tomado pelas nuvens ligeiramente rosadas. Encolhi-me no assento, até agora nenhum sinal de civilização fora visto e eu começava a me perguntar se aquilo era um sinal bom. Ergui o olhar, procurando ocupar minha mente com outras coisas, e acabei notando nuvens escuras que se aproximavam pelo Oeste, passando sobre uma das maiores montanhas que nos rodeava e deixando-a com um aspecto intimidador e ao mesmo tempo sombrio.

Os primeiros pingos começaram a cair logo que passamos por uma placa coberta por heras, que delimitava o estado, e ficou mais intensa quando a estrada aumentou de largura. Apoiei a cabeça no encosto e fechei os olhos, deixando o som da chuva embalar meu sono dentro daquela caminhonete. Quando voltei a abri-los, já nos encontrávamos na entrada de uma cidade pequena do interior, rodeada por um bosque denso. Connor tomou a primeira saída à direita para adentrar e eu ajeitei minha postura, esticando o pescoço enquanto sentia algumas dores nas costas por causa da posição durante o sono.

– Por que estamos entrando na cidade? – indaguei com a voz ainda um pouco arrastada.

– Precisamos de gasolina. – ele completou apontando para o medidor no painel. – Pouco mais de um quarto do tanque ainda está cheio e precisamos de mais do que isso se não o carro vai parar no meio do nada.

– Certo. – olhei para trás, apenas para ter certeza de que Willy ainda continuava ali. – Dormi por quanto tempo?

– Algumas horas apenas.

Connor seguiu durante alguns metros pelo que pareceu ser a principal avenida da cidade e então virou à esquerda, tomando uma rua paralela que estava menos deteriorada. Por ser uma cidade pequena, muitas das construções tinham, no máximo, quatro andares. Entretanto, o estado de conservação não se diferenciava muito do que eu já havia visto em outras regiões, com a maioria deles estando coberto pela vegetação ou severamente depredado. Vez ou outra vi algumas mensagens escritas com tintas ou sprays nas paredes e nas fachadas das lojas, sendo a maioria palavras de ordem e pedidos de socorro.

Não importava em quantas cidades eu entrasse, ainda me causava arrepios ver tantos prédios e estradas completamente vazios, sem a energia característica da civilização. O silêncio parecia deixar explícito que tipo de atrocidades haviam ocorrido ali e eu tinha a sensação de que o vento trazia os lamentos daqueles que haviam perecido ali. Engoli em seco, sentindo um arrepio percorrer meus braços, e balancei a cabeça tentando imaginar o quão paranoico aquilo podia parecer. Connor parou em frente a uma rua com alguns carros largados e desligou o motor.

– Vamos ver se temos sorte. – ele disse abrindo a porta em seguida. – Vai me acompanhar?

– Sim. – olhei para trás e estiquei o braço, pegando a mochila e em seguida a carabina. – Willy?

Ouvi seu corpo obedecer ao meu chamado e pouco depois sua voz tomou conta do veículo.

– Bom dia, Elise.

– Estamos indo atrás de gasolina. – respondi e então abri a porta. – Seria bom se você viesse conosco.

Ele assentiu e eu abri sua porta, ajudando-o a descer em seguida. Connor foi até a caçamba e retirou um galão vermelho de plástico e uma mangueira pouco maior que seu braço. Diante dos artefatos, ergui uma das sobrancelhas e franzi o cenho.

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