Quando cheguei à cabana de Miranda, minha cabeça latejava. Eu não sabia para onde ir, então segui sem rumo pelo acampamento e, quando percebi, estava diante da porta – provavelmente por ser o único local cujo trajeto continuava fresco em minha memória. Apoiei as costas na parede e cobri o rosto com ambas as mãos, enquanto aos poucos a respiração voltava ao normal e a mente se acalmava.
– Elise?
Ergui o olhar. Miranda se aproximava com o cenho franzido enquanto protegia as mãos do frio, pondo-as dentro dos bolsos do casaco. Ela passou por mim e abriu a porta, permitindo que um facho de luz tênue vazasse para fora.
– Por que está aqui fora?
– Não achei que seria apropriado entrar sem você estar presente. – murmurei, cruzando os braços em seguida.
– Besteira. – ela balançou a cabeça. – Sua cara entrega que não é esse o motivo de você estar aqui.
Suspirei de maneira cansada e entrei na cabana. Miranda me seguiu com o olhar e fechou a porta, bloqueando parcialmente o som da floresta, que ainda podia ser ouvido através da janela.
– Sinto que tem muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo. – confessei, sentando-me em uma das cadeiras. – E isso acaba me deixando confusa.
– Por que não tenta falar sobre elas? – ela disse e sentou na minha frente. – Colocar tudo para fora pode ajudar.
– Esse é o problema, eu não consigo.
– Bem, aí fica um pouco complicado. – Miranda apontou e eu tive que concordar. – Deve haver um motivo para você se sentir assim, só basta encontra-lo.
Alguém bateu na porta, interrompendo momentaneamente nossa conversa, e Miranda se levantou para entende-la. Virginia e Rachel entraram e em seguida bateram a terra dos sapatos, deixando uma mancha escura no tapete velho que se encontrava exatamente em frente à porta.
– Não é um pouco tarde para você estarem aqui?
– Desculpa, é que a cozinheira mandou perguntar se não havia alguma bandagem sobrando. – Rachel explicou de maneira calma. – Parece que um dos ajudantes se cortou enquanto preparava o jantar.
– E só me avisaram agora?
– Pensavam que era um corte superficial.
Miranda revirou os olhos e foi até um dos armários, vasculhando o interior atrás da atadura.
– Pensei que estivesse no refeitório. – Ergui o olhar e percebi que Virginia se dirigia a mim. – Vi Connor por lá.
– Resolvi voltar mais cedo. – respondi sem maiores rodeios. – Estava me sentindo um pouco mal.
– Foi algo na comida? Podemos falar com a cozinheira sobre isso, já que vamos voltar para lá.
– Talvez, não sei muito bem.
Virginia deu de ombros enquanto Miranda retornava com as bandagens e as entregava para ela. Eu estava esperando que a resposta fosse suficiente para dar o assunto como encerrado, mas a expressão no rosto de Rachel dizia o contrário.
– Posso conversa com ela um tempinho?
– Por mim tudo bem, eu teria que fazer esse curativo de qualquer maneira. – Miranda retrucou um pouco incomodada. – Boa sorte.
As duas saíram, deixando-me sozinha com Rachel. Não fiz contato visual, mas mesmo assim soube cada movimento que ela estava fazendo até chegar à cadeira em frente a mim. Seu rosto foi mudando o semblante de indiferença habitual, dando lugar a algo mais sereno e apaziguador.
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Terminal 25
Roman d'amourEm um mundo destruído pela Guerra, onde não há leis ou governo, o que sobrou da humanidade enfrenta a dura realidade de estar à mercê da sorte. Diante das dificuldades e do perigo, todos almejam ir para Nova Luz, a procura de uma vida melhor. Após a...