Parte III - Capítulo 26

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Quando cheguei à cabana de Miranda, minha cabeça latejava. Eu não sabia para onde ir, então segui sem rumo pelo acampamento e, quando percebi, estava diante da porta – provavelmente por ser o único local cujo trajeto continuava fresco em minha memória. Apoiei as costas na parede e cobri o rosto com ambas as mãos, enquanto aos poucos a respiração voltava ao normal e a mente se acalmava.

– Elise?

Ergui o olhar. Miranda se aproximava com o cenho franzido enquanto protegia as mãos do frio, pondo-as dentro dos bolsos do casaco. Ela passou por mim e abriu a porta, permitindo que um facho de luz tênue vazasse para fora.

– Por que está aqui fora?

– Não achei que seria apropriado entrar sem você estar presente. – murmurei, cruzando os braços em seguida.

– Besteira. – ela balançou a cabeça. – Sua cara entrega que não é esse o motivo de você estar aqui.

Suspirei de maneira cansada e entrei na cabana. Miranda me seguiu com o olhar e fechou a porta, bloqueando parcialmente o som da floresta, que ainda podia ser ouvido através da janela.

– Sinto que tem muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo. – confessei, sentando-me em uma das cadeiras. – E isso acaba me deixando confusa.

– Por que não tenta falar sobre elas? – ela disse e sentou na minha frente. – Colocar tudo para fora pode ajudar.

– Esse é o problema, eu não consigo.

– Bem, aí fica um pouco complicado. – Miranda apontou e eu tive que concordar. – Deve haver um motivo para você se sentir assim, só basta encontra-lo.

Alguém bateu na porta, interrompendo momentaneamente nossa conversa, e Miranda se levantou para entende-la. Virginia e Rachel entraram e em seguida bateram a terra dos sapatos, deixando uma mancha escura no tapete velho que se encontrava exatamente em frente à porta.

– Não é um pouco tarde para você estarem aqui?

– Desculpa, é que a cozinheira mandou perguntar se não havia alguma bandagem sobrando. – Rachel explicou de maneira calma. – Parece que um dos ajudantes se cortou enquanto preparava o jantar.

– E só me avisaram agora?

– Pensavam que era um corte superficial.

Miranda revirou os olhos e foi até um dos armários, vasculhando o interior atrás da atadura.

– Pensei que estivesse no refeitório. – Ergui o olhar e percebi que Virginia se dirigia a mim. – Vi Connor por lá.

– Resolvi voltar mais cedo. – respondi sem maiores rodeios. – Estava me sentindo um pouco mal.

– Foi algo na comida? Podemos falar com a cozinheira sobre isso, já que vamos voltar para lá.

– Talvez, não sei muito bem.

Virginia deu de ombros enquanto Miranda retornava com as bandagens e as entregava para ela. Eu estava esperando que a resposta fosse suficiente para dar o assunto como encerrado, mas a expressão no rosto de Rachel dizia o contrário.

– Posso conversa com ela um tempinho?

– Por mim tudo bem, eu teria que fazer esse curativo de qualquer maneira. – Miranda retrucou um pouco incomodada. – Boa sorte.

As duas saíram, deixando-me sozinha com Rachel. Não fiz contato visual, mas mesmo assim soube cada movimento que ela estava fazendo até chegar à cadeira em frente a mim. Seu rosto foi mudando o semblante de indiferença habitual, dando lugar a algo mais sereno e apaziguador.

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