Parte IV - Capítulo 37

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Dois dias se passaram desde que nos apossamos daquele apartamento e na noite do terceiro dia Arthur me chamou até o quarto de Malick, para que eu pudesse trocar o curativo. Durante todo o período em que estive ali, visitei o rapaz apenas duas vezes, sendo aquela a primeira vez que fui chamada para tal tarefa – o que me surpreendeu, pois achei que ocorreria com uma frequência maior. Enquanto retirava as bandagens usadas, notei que o ferimento havia melhorado visivelmente e a febre já não era mais um problema àquela altura.

– Ando verificando a temperatura todos os dias e, desde que você cuidou dele, a febre não retornou. – Arthur informou enquanto se aproximava da janela.

– Parece que o antibiótico deu conta da infecção. – passei um pano limpo ao redor do ferimento. – Além disso, a inflamação também diminuiu.

– Espero que seja um bom sinal.

– E é. – Willy me deu a atadura e eu comecei a cobrir os pontos novamente. – Significa que o organismo dele está se recuperando rapidamente.

– Só espero que ele acorde logo. – ele olhou pela janela e então se concentrou em mim. – Já passei muito tempo aqui e estou querendo mudar de lugar, mas com Malick de cama fica um pouco difícil.

– E para onde você pretende ir?

– Não sei... talvez para o oeste, quero me afastar das cidades. – sua voz abaixou uma oitava. – Ou pelo menos do que restou delas.

– Achei que queria um local para criar um refúgio.

– Bem, eu não sou exatamente um líder. Eu quero deixa-las seguras, mas... cá entre nós, do jeito que o mundo está, essa tarefa está se mostrando ser cada vez mais difícil. – havia melancolia em sua voz. – Se eu encontrar um local que possa nos dar recursos necessários, será o suficiente.

Abaixei o olhar enquanto descartava o material usado e me peguei tentando reunir coragem para fazer a pergunta que tanto martelava em minha mente. Entretanto, eu não sabia qual reação seria a dele e por isso arrisquei uma investida menos explícita, que talvez fizesse sentido dentro do contexto da conversa.

– Sei como se sente. – comecei lentamente, mas não tive coragem de erguer o olhar. – Quero encontrar minha irmã, mas a cada dia que passa o universo está querendo me forçar a desistir.

– Faz muito tempo que você não a vê?

– Mais ou menos seis anos. – expliquei de maneira suave. – Eu era uma adolescente quando a vi pela última vez.

– Para você estar viajando dessa forma, imagino que tenha alguma ideia de onde ela possa estar.

– Ela foi levada para Nova Luz. Foi a solução mais segura que conseguimos pensar, dada a situação em que vivíamos naquele lugar. – ergui a cabeça, apenas para ver qual seria a reação dele. – Estou indo para lá com esse objetivo, tenho esperanças de encontrá-la.

Arthur franziu o cenho, sempre mantendo o olhar fixo na janela a sua frente, e eu me perguntei o que estaria se passando na cabeça dele. Quando enfim falou, seu tom foi um pouco mais sério do que eu esperava.

– Foi um pouco desesperado enviar sua irmã para lá, se me permite o comentário. – ele cruzou os braços. – Nada construído pelas mãos do homem é totalmente seguro.

– O que quer dizer?

– Nada, estou apenas pensando alto.

Ele passou por mim e estava prestes a sair do quarto quando eu decidi agarrar seu pulso, em um ato involuntário do meu corpo, que o surpreendeu.

– Sabe algo a respeito de Nova Luz? – tentei usar um tom de voz neutro, mas acabei soando um pouco intimidadora.

– E isso é importante para você?

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