Parte V - Capítulo 46

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Quando acordei no dia seguinte e me dirigi para a cozinha, tive uma ligeira surpresa ao ver Elise sentada a mesa, com Willy parado logo ao lado. Além deles dois, reparei que Veronica, Esther e um homem que presumi ser Yasen também ocupavam o cômodo.

– Já está de pé? – falei enquanto franzia o cenho. – Deveria repousar mais um pouco.

– Fiquei cansada de ficar deitada naquela cama. Já me sinto bem o suficiente para, ao menos, andar um pouco.

Olhei rapidamente para Veronica a procura de algum tipo de apoio, mas ela simplesmente ergueu as mãos em sinal de desistência.

– Nem olhe para mim. – falou por fim. – Tentei convencê-la a continuar deitada, mas fui ignorada.

– Certo, se você diz que está melhor, vou ter que acreditar. – murmurei e então ocupei uma das cadeiras.

– Veronica me contou que vocês encontraram o dono da balsa. – Elise começou enquanto Veronica trazia o café para a mesa. – Ele aceitou nos ajudar?

– Sim, mas antes precisamos de uma autorização dos militares. Sem ela a balsa não pode atravessar o estreito.

– E onde se consegue isso?

– Elias vai me levar até intermediário entre o refúgio e Nova Luz, é ele que supostamente nos dará esse aval. – expliquei, vendo-a assentir lentamente.

– Então vou com vocês.

– Como é? – arqueei uma das sobrancelhas. – Ainda está se recuperando, não pode enfrentar o frio desse jeito.

– Connor, você sabe o quão importante é para mim entrar naquela cidade. – ela falou de maneira calma, mantendo o olhar fixo em mim.

– Sua saúde é mais importante. – tentei argumentar da melhor maneira que pude. – Não adianta chegar naquela cidade e morrer minutos depois!

– Eu quero participar da conversa. – seu tom continuava firme e decisivo. – Por favor, me deixa fazer isso.

Respirei fundo e passei as mãos no rosto. Eu sabia que Elise não aceitaria ficar dentro daquela casa, independente do que eu dissesse para tentar convencê-la. Não me restava outra opção a não ser ter que concordar com aquela decisão, mesmo estando ciente dos riscos. Elias desceu alguns minutos depois e se juntou a nós no desjejum, que durou apenas alguns minutos pois Yasen e Esther estavam apressados para irem trabalhar. Quando terminamos de comer, vesti meu casaco e esperei pacientemente que Elise fizesse o mesmo.

– Teremos companhia hoje? – Elias sorriu levemente enquanto vestia o gorro.

– Não quero abusar da hospitalidade, principalmente se já me sinto bem. – Elise respondeu.

– Besteira. – ele balançou a cabeça e abriu a porta. – Dessa vez nosso caminho será contrário ao do cais. Samuel vive na área mais central, perto do mercado.

Saímos logo em seguida. A cada dia que se passava, o frio parecia ainda mais difícil de suportar. Conforme caminhávamos pela rua, notei que algumas pessoas jogavam sal no chão, a fim de derreter a neve acumulada nas calçadas. Um grupo de crianças passou por nós, jogando bolas de neve umas nas outras, enquanto riam e gritavam. A cena me fez sorrir, apenas por perceber que ainda havia um resquício de inocência e alegria naquele mundo.

O refúgio parecia ter um aspecto diferente naquela região, ganhando a aparência de uma pequena cidade e não de um abrigo. Alguns dos prédios claramente tiveram as fachadas reformadas, mesmo que de maneira precária pela falta de alguns recursos necessários. Haviam tábuas de madeira e pedaços de metal – provavelmente retirados das embarcações encalhadas –, reforçando as paredes e cobrindo buracos nos telhados. As carcaças dos veículos eram usadas como apoios para barracas improvisadas, onde os produtos eram colocados à venda.

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