Parte II - Capítulo 13

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Depois da conversa com Bernard, eu saí do chalé e tentei seguir a recomendação de Virginia para chegar a sucataria. Passei por duas casas e continuei pela trilha, tentando identificar onde meu objetivo ficava. Nesse meio tempo, percebi que por onde eu passava as pessoas me encaravam receosas ou cochichavam algo entre si. Encolhi os ombros; não gostava da ideia de ser o centro das atenções, principalmente por que não sabia se essa atenção era boa ou ruim.

Pigarrei e continuei pela trilha até que ela terminou em uma cerca de madeira, em frente a uma garagem aberta. Pela quantidade de carcaças e pelas manchas escuras no chão do lado de fora, deduzi que aquela deveria ser a sucataria ao qual Virginia havia se referido e então entrei. Enquanto seguia para o interior da garagem, notei pilhas de placas de ferro, hastes retorcidas e até mesmo algumas torres de pneus velhos que disputavam espaço no lado de fora.

Lá dentro, as coisas não eram tão diferentes.

Era impressionante como uma região que, aparentemente, não era tão movimentada poderia comportar tantos veículos assim – ou pelo menos os esqueletos deles. Logo que adentrei na garagem, fui bombardeado pelo forte cheiro de óleo queimado, fundição e graxa, o que acabou me deixando um pouco desnorteado. Passei por entre as pilhas de sucata e contornei um tonel enferrujado que servia como apoio para ferramentas sujas. Saí por uma porta lateral, me deparando com um pátio externo onde alguns carros encontravam-se parados, esperando para ser consertados ou para terem alguma peça removida.

Encontrei Virginia e Oliver próximo a um veículo dos modelos mais antigos largado ao lado de um trator tombado, corroído por ferrugem em alguns pontos e sem os dois pneus dianteiros. Me aproximei e então percebi que Alex também estava ali, debruçada sobre o capô aberto e encarando o buraco onde um dia fora ocupado pelo motor.

– Eu disse que seria perda de tempo revirar esse aqui. – ouvi Oliver dizer. – Está vazio.

– Eu sei, Oliver, mas eu preciso ter a certeza, apenas isso. – Alex falou.

– Você ficou maluca isso sim. – Virginia retrucou e então virou o rosto para me encarar. – Teve dificuldades para nos encontrar?

– Um pouco, não achei que ficava tão escondido assim.

– Não estaríamos assim se uma certa pessoa não tivesse perdido uma ferramenta. – ela balançou a cabeça, voltando o olhar para Alex. – Como foi a conversa com Bernard?

– Reveladora. – murmurei, esfregando as mãos. – Ele também me falou sobre o estoque de suprimentos perto daqui.

– Merda. – Alex falou enquanto ajeitava a postura e fechava o capô. Sua expressão era uma mistura de frustração e tristeza. – Não 'tá aqui.

– Eu falei. – Virginia cruzou os braços e apoiou as costas no carro, voltando o rosto para mim. – Enfim, o que ele te disse sobre isso?

– Nada muito detalhado, apenas que você havia considerado invadi-lo.

– É, eu considerei invadir, mas Bernard logo me alertou de que isso seria loucura e que ninguém aceitaria participar. – ela completou dando de ombros. – Então eu apenas deixei pra lá.

– Tem como reconsiderar? – indaguei, vendo-a me fitar confusa. – Eu topo ajudar você.

Os três me encararam surpresos, como se o que eu acabei de falar tivesse sido a maior atrocidade de todos os tempos.

– Está louco ou todos os neurônios se afogaram no rio. – Oliver falou por fim e balançou a cabeça. – Se Bernard souber disso...

– Foi ele quem autorizou. – interrompi. – Eu teria que ajudar se eu quisesse ser ajudado.

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