Parte VI - Capítulo 51

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Os seis dias seguintes ocorreram basicamente da mesma forma e eu estava começando a me habituar àquela rotina imposta no assentamento, apesar de nunca ter feito trabalho braçal como aquele antes. Maxine sempre cuidava de mim quando chegávamos em casa – seja com uma massagem nos ombros ou um chá que fosse relaxante – e aos poucos as dores ficavam cada vez mais brandas. Nunca achei que iria me habituar a um trabalho daqueles, já que no refúgio eu auxiliei o médico, mas aparentemente as coisas ali eram diferentes e tudo relacionado à segurança e saúde era de responsabilidade do exército.

No final da segunda semana vivendo ali, meus braços já não ficavam mais doloridos e eu não me sentia tão cansada no fim do expediente, sendo até capaz de aumentar um pouco a carga do serviço. Sempre que o dia da distribuição chegava, Maxine me acordava cedo e nós íamos para a fila, onde centenas de pessoas aguardavam até que os carros chegassem com os mantimentos. Depois disso, voltávamos para casa e em seguida organizávamos os alimentos nos armários. Eu tinha a vaga impressão de que, apesar das péssimas condições de vida, as pessoas por ali estavam acomodadas.

Na quarta semana, entretanto, as coisas foram um pouco diferentes. Maxine optara por não ir para a distribuição, alegando haver bastante recursos para aquela semana, mas mesmo assim pediu que eu fosse apenas por precaução. Concordei brevemente e então segui para a fila, como de costume. Apesar do grande número de pessoas naquele dia, a fila avançava a uma velocidade aceitável, mas o tempo de espera ainda era alto. Havia cerca de vinte pessoas na minha frente quando um princípio de confusão se formou um pouco mais adiante. Aparentemente o motivo fora a pouca quantidade de comida ofertada para cada civil.

– Isso é um absurdo! – o sujeito gritava para os militares. – Aqueles desgraçados ficam com tudo e nós ganhamos apenas os restos!

– Senhor, o alimento é distribuído igualmente entre os cidadãos. – o militar disse com uma calma quase robótica. – Por favor, retorne para a fila.

– Até parece. – o homem cuspiu no chão. – Pode repetir essa mentira o quanto quiser, mas eu sei a verdade.

Enquanto os dois discutiam, notei uma terceira figura que se aproximava de um dos caminhões vazios parados mais atrás. Ele havia passado praticamente despercebido pelos militares e seguia como se não ligasse caso estivesse sendo observado. O homem se abaixou ao lado do veículo e começou a mexer na parte baixo, aparentemente procurando algo. Um soldado notou a movimentação suspeita e gritou, chamando atenção de todos que prestavam atenção na confusão – inclusive da própria dupla que estava discutindo.

– Ei! O que está fazendo? – o fardado falou, se aproximando com a arma em mãos.

Lentamente as pessoas mais próximas começaram a recuar assustadas, temendo o que poderia acontecer. O homem parou o que estava fazendo, mas permaneceu calado e de cabeça baixa. Olhando com mais cautela, tive a impressão de vê-lo sorrir, como se de fato quisesse ter sido descoberto. Impaciente, o militar mirou a arma em direção ao sujeito, o que deixou todos em volta apreensivos e até mesmo assustados.

– Responda! – ele gritou, dessa vez assumindo um tom mais ameaçador.

– Calma, calma. – o homem ergueu as mãos, em sinal de rendição. – Eu não quero causar confusão.

– Então informe o que estava fazendo próximo a este veículo.

– O que eu estava fazendo? Bem... – o homem ergueu a cabeça e deixou um sorriso surgir nos lábios enquanto dava de ombros. – Eu estava apenas apertando o interruptor.

O sujeito fechou uma das mãos e um estrondo reverberou quando o carro atrás dele se transformou em uma bola de fogo, lançando pedaços de metal para todos os lados. Um grupo de homens surgiu atirando de uma rua adjacente e os militares começaram a recuar, já revidando com o mesmo poder de fogo. A confusão se instaurou de imediato e a gritaria iniciou enquanto as pessoas que se encontravam na fila correram sem rumo, a procura de proteção.

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