Eu estava deitada em uma cama. Sabia disso por que conseguia sentir a rigidez do colchão pressionar minhas costas, braços e pernas. O ar estava dominado com o cheiro de comida, álcool e algo a mais que eu não fui capaz de identificar. O ruído do galpão havia desaparecido, o que provavelmente significava que eu tinha sido levada para outro lugar, e havia apenas o silêncio agora. Tento engolir, mas minha garganta mais se parecia com uma lixa naquele momento, tornando a tarefa muito dolorosa. Um toque morno pressiona meu braço direito e então sinto quando uma agulha era espetada com extrema delicadeza na pele.
Logo após isso, escuto duas pessoas sussurrando.
– Apliquei o remédio, mas os ferimentos dela eram muito graves. A explosão queimou todo o braço esquerdo, sem falar nos estilhaços que a cortaram.
– Isso explica os curativos... bem, pelo menos parte deles. Os médicos foram rápidos em tratá-los, mesmo com tanta gente naquele galpão.
– Concordo.
– Quem a encontrou?
– Elias a viu caminhando no pátio e achou melhor tirá-la de perto daquelas pessoas.
– Realmente, está bem caótico por lá. Nem mesmo eu aguento ficar por muito tempo.
– Já se especula o que de fato aconteceu?
– Rumores apenas, nada muito concreto. Os militares se recusam a falar algo a respeito, ou simplesmente a dar uma explicação para acalmar um pouco os ânimos, mas as buscas por sobreviventes continua.
– Espero que a situação volte ao normal logo. É desesperador ver as pessoas naquele estado.
– Nem me fale. Anda, vamos deixa-la descansar.
Houve um momento de silêncio e então ouvi passos seguidos do som de uma porta se fechando. Senti meu corpo inteiro relaxar enquanto o remédio começava a fazer efeito. Não sei quanto tempo se passou depois disso, mas abri os olhos e deixei minha visão se acostumar um pouco com a luminosidade para então olhar ao redor. Era um quarto simples e eu o conhecia, além de saber muito bem onde ficava. Virei o rosto para o lado e flagrei que até mesmo o aquecedor permanecia no mesmo lugar, praticamente intocado ao lado da porta. Era a casa de Veronica, eu estava de volta ao refúgio do outro lado da baía.
Mas, sinceramente, não sabia se era algo bom.
Se eu estava de volta em Santa Cecilia, significava que a destruição em Nova Luz fora maior do que eu suspeitava. Olhei para os curativos em meu corpo e comprimi os olhos, sentindo uma angustia muito forte se apoderar de mim. Era quase impossível que eu estivesse viva, mas por algum motivo eu me encontrava lá, deitada naquela cama como um enorme peso de papel. Tentei mexer um dos braços, mas pontada de dor que se alastrou das pontas dos dedos até o ombro me forçou a continuar parada.
Eu queria gritar, mas meu corpo parecia não ter forças para isso. Eu queria sair daquele quarto e correr para o mais longe possível, mas os curativos me prendiam naquela cama. Engoli em seco, sentindo um gosto amargo descer pela garganta, e respirei fundo, tentando de alguma forma ficar calma. Os machucados levariam semanas para cicatrizarem e, até lá, aquele quarto seria onde eu ficaria por todo o período de recuperação.
––XX––
Depois de cinco dias de tratamento, meus ferimentos continuavam doloridos, mas de alguma forma meu corpo estava se recuperando. Esther me fazia visitas constantes, seja para me alimentar ou para trocar os curativos, e acabava trazendo pequenos fragmentos do que havia acontecido, apesar de eu nunca perguntar algo a respeito. A última coisa que eu queria naquele momento era saber como quase minha vida foi ceifada de uma maneira tão súbita.
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Terminal 25
RomanceEm um mundo destruído pela Guerra, onde não há leis ou governo, o que sobrou da humanidade enfrenta a dura realidade de estar à mercê da sorte. Diante das dificuldades e do perigo, todos almejam ir para Nova Luz, a procura de uma vida melhor. Após a...