Caminhamos por três dias na floresta e no início do quarto decidimos acampar na encosta de uma rocha coberta por musgos, que ficava há alguns metros de um dos afluentes do rio. Estávamos seguindo em um ritmo intenso e acelerado, quase sem paradas para descanso, e agora meu corpo clamava por uma pausa. Montei uma fogueira e Connor se prontificou em tentar pescar algo, usando o galho estreito caído de uma das árvores ao redor.
Era de certa forma cômico vê-lo no meio do riacho, segurando o galho com uma das mãos, sem as botas e com a barra da calça erguida até altura dos joelhos. Willy encontrava-se perto da margem, alertando quando os animais se aproximavam e qual seria o melhor momento para investir contra eles. Depois de cinco tentativas, Connor conseguiu pescar três e os trouxe para junto da fogueira, improvisando um suporte com algumas pedras.
A noite já tinha se iniciado quando terminamos de comer e agora eu tentava me aninhar mais perto da fogueira, vendo as estrelas iluminarem o céu. Apesar do clima ameno durante o dia, à noite, a temperatura mudava radicalmente, caindo vários graus e deixando a sensação térmica ainda mais baixa. As pontas dos meus dedos pareciam congeladas e as articulações doíam levemente; esfreguei as palmas e as direcionei para as chamas, mantendo uma distância segura.
– Como está a perna? – Voltei meu rosto na direção de Connor e percebi que ele se referia ao corte feito pela bala de raspão. – Eu vi a mancha de sangue.
– Está melhor, tive sorte de o corte ter sido superficial.
– Este ajudante pode tratar do ferimento, se Elise quiser. – Willy falou, mudando o olhar da minha perna para o meu rosto.
– Não precisa. – murmurei de maneira suave. – Ele não está incomodando.
– Tem certeza? Andamos pelo esgoto. – Connor falou, sentando-se ao meu lado. – Não acha que pode ter infeccionado ou algo do tipo?
– Se estivesse, eu já teria sentido. – respondi esfregando os braços. – Está tudo bem, é sério.
– Certo. – ele suspirou. – Se quiser dormir, fique à vontade, posso ficar de vigia por precaução.
Arqueei uma sobrancelha e comecei a fitar as chamas que queimavam na minha frente. Aos poucos minha visão foi ficando pesada e antes que pudesse perceber, havia caído em um sono pesado e turbulento. Minha mente sempre voltava para o fatídico dia em que fui obrigada a deixar minha cidade natal e me mudar para o refúgio. A sensação de solidão me dominou novamente, deixando-me triste, mas ao mesmo tempo com raiva.
Subitamente senti um cheiro doce suave e amadeirado, misturado ao aroma natural da vegetação, que estranhamente me deixou mais calma, permitindo que meus sonhos mudassem um pouco de foco.
Quando acordei no dia seguinte, meu corpo parecia não ter descansado e cada membro pesava quase o dobro. Forcei a me sentar, retirando as folhas que haviam grudado na minha roupa e cabelo, e então percebi que tinha algo a mais sobre o meu corpo. O tecido tinha a coloração preta e a consistência grossa, perfeita para climas mais frios; as mangas eram compridas e levemente desgastadas nos punhos, enquanto o zíper já não podia ser mais considerado útil. Franzi o cenho e então olhei ao redor, percebendo que apenas Willy encontrava-se ao meu lado e a fogueira estava em seus últimos vestígios de vida.
Aquele era o casaco de Connor, mas onde ele estava?
Fiquei de pé, retirei as folhas que ainda resistiam presas em minha roupa e chamei por Willy. Suas lentes ganharam vida e se focaram em mim – como se, assim como eu, ele tivesse passado esse tempo todo dormindo.
– Bom dia. – ele falou enquanto ficava de pé. – Teve uma noite boa de sono?
– Sim. – respondi, ainda me sentindo um pouco atordoada. – Sabe onde Connor está?
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Terminal 25
RomanceEm um mundo destruído pela Guerra, onde não há leis ou governo, o que sobrou da humanidade enfrenta a dura realidade de estar à mercê da sorte. Diante das dificuldades e do perigo, todos almejam ir para Nova Luz, a procura de uma vida melhor. Após a...