Terminal 25

Parte I - Capítulo 6

Foram quase três dias de caminhada – com paradas curtas ocasionais para nos alimentarmos e restituir um pouco as energias, já que só avançávamos na viagem durante o dia – para chegarmos uma pequena cidade fantasma, onde conseguimos repor parte dos nossos suprimentos. Fiquei um pouco surpresa ao perceber que ainda havia tantas coisas em bom estado de conservação, que provavelmente foram largadas daquela forma às pressas. Entretanto, desde que eu deixei o refúgio, aquela foi a primeira região encontrada que possuía tantas construções resistentes em pé.

Nossa estadia ali foi de um dia apenas, já que tínhamos chegado ao entardecer, e eu achei que seria melhor dormirmos em uma construção de tijolos do que na beira da estrada. Acabamos passando a noite dentro de um prédio, de três andares apenas, e no dia seguinte continuamos a viagem.

A chuva havia nos deixado e o clima começou a ficar ligeiramente mais abafado, mesmo com a presença de várias nuvens no céu. O ar parecia estagnado no nível do solo e a sensação era a de estar dentro de um grande forno. Naquele momento trilhávamos um caminho pela estrada de terra dentro do bosque, que mais parecia aumentar de tamanho a cada metro percorrido. Senti o terreno sob meus pés mudar de lamacento para rígido e em seguida de volta para lamacento logo quando chegamos à beira de um rio. Não havia uma ponte visível o que significava que a profundidade da água não era tão grande quando a correnteza tendia a demonstrar e que poderíamos atravessa-la a pé. Engoli em seco e voltei meu olhar para Willy, já ciente do pequeno imprevisto que precisava ser enfrentado.

– Temos um problema. – falei por fim.

– Do que está falando? – Connor virou o rosto para mim e eu apontei para o robô. – O que tem ele?

– Este ajudante não pode entrar na água por um tempo maior do que dez minutos. – Willy disse enquanto se aproximava da margem. – Temo que meus circuitos sofreriam um dano irreparável.

– 'Tá de brincadeira, né?

– Temo dizer que não.

– Aparentemente suas funções não são totalmente atualizadas. – retrucou, cruzando os braços.

– Este ajudante pede desculpas. – ele abaixou a cabeça como se estivesse triste.

Suspirei de maneira cansada e passei uma das mãos pelos cabelos, procurando a melhor solução para aquela ocasião.

– Temos que encontrar uma ponte. – falei, abrindo os braços. – Ou alguma parte onde o rio não é tão fundo.

– Vai saber quantos quilômetros esse negócio tem, podemos andar por horas ou talvez dias até encontrar um trecho favorável para nós.

– Tem alguma ideia melhor? – Vi-o encarar o rio depois a mim e então passar uma das mãos pelo rosto. Depois disso retirou a mochila das costas e a estendeu na minha direção. – Pra quê isso?

– Pode leva-la? – ele me indagou. – Acho que consigo carregar o seu amigo nas costas.

– Tem certeza?

– Não custa tentar. – falou enquanto se agachava. – Vem Willy.

Willy voltou as lentes na minha direção, esperando uma autorização minha, e, como eu simplesmente dei de ombros, ele pôs as mãos nos ombros do rapaz e apoiou as pernas em sua cintura. Connor então ficou de pé e segurou os pés de Willy, avançando na direção do rio em seguida.

– Bem... É mais leve do que eu esperava. – comentou e então se virou para mim. – Você não vem?

– Tem certeza de que consegue carrega-lo até o outro lado?

– Tenho. – respondeu, adentrando na água. – Não se preocupe, não vou derrubá-lo. Já carreguei coisas mais pesadas.

Revirei os olhos e pus uma das alças da mochila dele sobre o ombro. De fato, a água não era tão funda assim se você tivesse uma altura considerável. Em Connor, ela ficava no meio das coxas; já em mim, a água tendia a ser um pouco mais atrevida, ficando mais próxima da cintura. A impressão que eu tive ao ver Willy daquela forma foi a de uma criança presa às costas do pai, enquanto o mesmo carregava-a por estar muito cansada de caminhar. Um sorriso surgiu em meus lábios, mas eu rapidamente procurei escondê-lo.