Parte I - Capítulo 3

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Mais de uma hora e quarenta minutos. Esse foi o tempo que nós levamos para chegar ao posto de gasolina dito por Willy.

A construção em si não era tão grande, possuía quatro bombas, uma loja de conveniência que também servia como restaurante e uma pequena oficina coberta. Entretanto, o que se encontrava nos fundos do pátio a céu aberto foi o que me motivou a vasculhar aquele lugar: havia um hotel de beira de estrada ao lado do posto de gasolina. Notei alguns carros abandonados no estacionamento que acumulavam ferrugens e trepadeiras, anunciando que ninguém passava por ali há um bom tempo.

Retirei a lanterna do bolso e lancei o facho de luz em direção da loja e em seguida das bombas. O silêncio nos rodeava e o vento fez as folhas das árvores nas redondezas chacoalharem. Um arrepio percorreu minha espinha e eu tive a ligeira sensação de estar sendo observada, como se as janelas fossem olhos, assistindo quietos minha caminhada tensa. Respirei fundo e segui em direção ao interior do estabelecimento, passando pelo letreiro de neon tombado.

– Este ajudante gostaria de saber o que Elise fará agora.

– Preciso encontrar alimento e água. – respondi enquanto abria a porta de vidro trincada. – Depois disso seguiremos viagem.

– Este ajudante aconselha um descanso para Elise. – Voltei meu olhar para ele. – Detecto níveis de estresse e exaustão em seu corpo.

– Muito atencioso de sua parte me avisar sobre isso, mas devo lembrá-lo de que não temos um local apropriado para dormir. – respirei fundo e comecei a revirar os restos de prateleiras do local, que faziam jus ao estado da loja. O chão estava coberto de embalagens vazias e fezes de rato, os caixas haviam sido arrombados e as geladeiras de cerveja saqueadas. – Além disso, acho meio difícil que eu consiga fechar os olhos por algumas horas.

– Este ajudante notou a existência de quartos na construção ao lado. – ele retrucou. – Elise poderia passar noite em um deles.

– É muito arriscado.

– Porém é mais sensato do que seguir viagem à noite. – ele retrucou e eu mordisquei o lábio. – Este ajudante deve relembrá-la que Elise não gosta de seguir o caminho após o pôr do sol.

Suspirei de maneira cansada enquanto pegava uma embalagem da prateleira e voltei meu olhar para Willy. Sua cabeça inclinou-se ligeiramente para lado, como se analisasse minha expressão com cautela. Encarei o lado de fora do posto de combustível e como a luz fraca da lua deixava tudo com uma atmosfera assustadora. Eu detestava admitir, mas ele estava certo.

– Tudo bem, você ganhou.

– Mas isso não era uma competição. – Willy falou, me acompanhando para o fim do corredor de produtos.

– Não... É só uma expressão. – murmurei, colocando o máximo de garrafas d'água que a minha bolsa já lotada permitia. – Quis dizer que você conseguiu me convencer a passar a noite aqui.

– Entendi.

Sorri de canto e então fechei o zíper da mochila, jogando alça por cima do ombro em seguida. Já devia se passar das oito da noite, provavelmente, e o cansaço começava a pesar nos meus ombros. Eu estava caminhando desde pouco antes do sol nascer e só havia parado três vezes, sendo uma delas quando começou a chover. De fato, eu precisava dormir e uma parte de mim agradeceu por Willy ter encontrado aquele posto de gasolina. Subimos dois lances de escadas e seguimos por uma varanda extensa que permitia acesso a todos os quartos do segundo andar.

Havia rachaduras pelo piso e parte da mureta havia caído, a copa de uma das árvores no pátio abaixo tinha crescido mais do que o normal e alguns galhos estavam invadindo as janelas dos primeiros quartos. Agachei-me para desviar das folhas e parei diante da primeira porta em melhor estado de conservação, já que ela seria minha proteção durante o período de sono.

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