Parte II - Capítulo 16

591 47 5
                                    

Eram dois homens, e um deles carregava um fuzil militar capaz de estraçalhar a cabeça de alguém com poucos disparos. Minha primeira reação foi jogar meu corpo com força contra a primeira porta disponível, à direita, já que não havia a menor possibilidade de conseguir acertá-los antes que eu fosse alvejado. Para a minha sorte, a tranca cedeu ante ao meu peso, ao passo que a chuva de balas era cuspida na minha direção. Tentei atirar a esmo e consegui acertar um dos sujeitos de raspão, o que já era uma grande ajuda dado o equipamento que eu possuía.

Entretanto, eu ainda estava em desvantagem.

Corri agachado até um caixote no canto e engoli em seco. Pelos disparos no andar inferior, não eram apenas aqueles dois indivíduos dentro da construção. Meu braço direito ardia, mas eu não sabia se era por causa do ferimento antigo ou se eu havia sido alvejado em algum momento. Não houve um momento mais forte ao qual eu desejasse que Willy estivesse ali do que aquele. Eu estava encurralado em uma sala ampla, com alguns móveis cobertos de poeira, que ocupava o espaço de dois quartos medianos. Havia duas colunas no centro do vão, anunciando que em algum momento do passado uma parede havia estado ali, mas que fora derrubada, provavelmente, para aumentar o espaço.

Ou seja, eu estava sem opções de proteção, além do caixote ao qual eu me encontrava atrás.

Ouvi o ranger das tábuas do assoalho e trinquei os dentes. Certamente os dois agentes que continuavam vivos estavam entrando, prontos para me matar na primeira oportunidade. Olhei para o lado, mais especificamente para o sofá, e me perguntei se valeria a pena correr o risco de ir até ali, já que o espaço para proteção era maior. Outro tiro explodiu no andar inferior e eu prendi a respiração, temendo que Oliver ou Virginia tivessem sido atingidos.

– Merda. – um dos caras disse. – O que 'tá acontecendo lá embaixo?

– Não sei, vai dá uma olhada. – o outro respondeu.

– O quê? E deixar você sozinho?

– Ele só pegou a gente de surpresa! – retrucou de maneira áspera. – Deixa de frescura e desce de uma vez!

Escutei um grunhido de reprovação e então os passos se distanciando para o corredor. Se havia uma melhor oportunidade para sair dali, era agora – procurei dar um único impulso e me joguei para trás do sofá. Quase de maneira imediata, o outro cara atirou, fazendo uma chuva de balas serem cuspidas na minha direção. O encosto do móvel foi parcialmente destruído, fazendo lascas de madeira e restos de enchimento e tecido marrom caírem no chão em uma chuva disforme. Os disparos duraram mais alguns instantes e então ouvi o click característico de um pente vazio, ou seja, ele teria que recarregar.

Inspirei fundo, tentando recobrar o fôlego, e me inclinei levemente para o lado, apenas para me certificar onde ele se encontrava. Depois que a poeira assentou, mirei com a pistola e disparei três vezes na direção do sujeito, tendo em mente que eu deveria gastar o mínimo possível de balas. Um dos projeteis o acertou de raspão na cintura e ele urrou um palavrão, enquanto procurava se proteger atrás de um armário pendido. Segui para o outro lado do sofá, onde o encosto não se encontrava tão destruído, e procurei pensar pelo breve instante de silêncio que surgiu.

Meu objetivo principal era sair dali o mais rápido possível já que minhas chances de vitória eram bastante pequenas. Entretanto, eu estava distante da porta e ainda havia o inimigo no caminho – sem falar no outro que havia descido as escadas. O silêncio era angustiante e apenas servia para deixar meus batimentos cardíacos, que martelavam os ouvidos, ainda mais altos. Foi então que um estrondo ecoou pelo recinto, me assustando por um breve momento, e alguns disparos puderam ser ouvidos no andar inferior, seguido por gritos. A sensação de ambos era de apreensão, já que ninguém sabia quem havia sido atingido.

Terminal 25Onde histórias criam vida. Descubra agora