Parte IV - Capítulo 33

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Aos poucos os sentidos foram retornando e com eles vieram as dores. Senti algo frio e rígido tocar a minha bochecha e então franzi o cenho, abrindo um dos olhos em seguida. Flagrei um garoto de, no máximo, seis anos cutucando-me com um galho seco. Ele era franzino, usava roupas surradas e um casaco com um buraco próximo da gola, além de possuir um curativo no braço esquerdo.

Trinquei os dentes e deixei um grunhido escapar da minha garganta enquanto me sentava, o que fez o menino se assustar e sair correndo do local. Ao contrário do que esperava, eu não estava algemada à parede ou algo do tipo, mas sim deitada em uma espécie de cama feita de alguns panos mais grossos e caixas de papelão amassadas. Tentei ficar de pé, mas as pernas ainda não pareciam preparadas para o esforço e eu acabei caindo novamente antes de conseguir me firmar.

O espaço era retangular e uma das paredes era feita totalmente de barras de ferro. Não precisava ser um gênio para perceber que aquilo era uma delegacia e eu me encontrava dentro de uma das celas. Caminhei até a porta e tentei abri-la, mas o máximo que consegui foi causar um estardalhaço ao balançar as barras. Foi então que eu percebi não estar sozinha ali dentro e que Nicholas descansava apoiado na parede, no outro extremo do espaço. O ferimento ainda era perceptível em seu braço e, pela tonalidade escura que o tecido se encontrava, a camisa que o cobria estava ensopada de sangue.

– Elise?

Voltei para a grade e notei que na cela em frente estavam Marcus e Connor. Pelos machucados aparentes, percebi que eu não havia sido a única afetada pelo acidente.

– O que está acontecendo? – indaguei, franzindo o cenho.

– Não sei. – Connor respondeu. – Quando acordei, já estávamos aqui dentro.

– Elise, está tudo bem com Nico? – Marcus perguntou e, pelo tom, eu soube que ele estava realmente preocupado.

Voltei-me para o interior da cela e me agachei em frente a Nicholas, esticando a mão para verificar o ferimento em seu braço. Ele então segurou meu pulso de súbito, o que me fez arfar de surpresa e ao mesmo tempo de apreensão – o toque foi mais quente do que o esperado. Ele tinha um corte no alto da sobrancelha e sangue seco manchava sua têmpora, além disso, notei um hematoma no queixo e um arranhão superficial no braço direito, exatamente na altura do bíceps.

– Posso ver o ferimento? – sussurrei de maneira lenta.

Vi pelo movimento em seu pomo-de-adão que ele havia engolido em seco e então tive meu pulso solto. Exalei de maneira contida e comecei o delicado processo de remoção da camisa. A reação imediata de Nicholas foi trincar os dentes com muita força, a ponto de eu conseguir ver as veias saltarem em seu pescoço. O ferimento estava inchado e eu tinha a total certeza de que a bala ainda se encontrava alojada ali. Nicholas respirava de maneira acelerada e o suor brilhava na testa, enquanto eu recolocava a camisa, deixando o cabelo grudado em alguns pontos.

– Nada bom. – falei alto o suficiente para Marcus ouvir. – O ferimento está inchado e acho que a bala ainda está presa na carne.

– Merda! – ele gritou, chutando as barras em seguida. – Não tinha outro momento esses desgraçados acharem a gente?!

– Marcus... – Connor repreendeu de maneira calma. – Se controla.

– Foi mal cara. – retrucou enquanto se sentava.

– Pois é, se controla mesmo. – Uma mulher falou no começo do corredor. – Não queremos que as coisas percam o equilíbrio, não é?

Ela se aproximou até entrar no nosso campo de visão. Era alta e tinha um porte físico intimidador; carregava uma pistola no cinto e uma faca de caça presa à coxa esquerda. Seus olhos cor de avelã foram da cela em que eu me encontrava para a de Marcus e Connor, onde ela decidiu sustentar o foco.

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