Parte III - Capítulo 27

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Comi pouco no jantar daquele dia, já que não estava sentindo tanta fome. Durante toda a refeição, porém, percebi que o único rosto conhecido que esperava encontrar ali não estava presente. Passei o dia inteiro sem ver Connor e, involuntariamente, comecei a me perguntar se ele estaria realmente me evitando. Balancei a cabeça, tentando evitar que tal pensamento povoasse minha mente por mais do que apenas alguns segundos.

Voltei para a cabana, um pouco surpresa ao perceber que Miranda ainda não havia retornado, e tomei um banho – não que me acalmar com a água fria fosse realmente o meu objetivo. Quando saí do banheiro, minha pele sofria com calafrios e a ponta dos dedos tremiam levemente. Não pude deixar de bufar, percebendo que o banho não havia sido uma boa ideia no fim das contas. Encontrei Willy parado ao lado da cama, com o olhar fixo na porta, como se estivesse esperando que eu saísse do banheiro para dizer algo.

– O que foi? Por que está parado dessa forma?

– Este ajudante estava aguardando que Elise saísse do banho. – ele respondeu, apenas confirmando minha suposição.

– E por que estava fazendo isso?

– Porque você tem uma visita.

A resposta me surpreendeu.

– Uma visita? Como assim?

– Connor está esperando do lado de fora da cabana. – ele inclinou ligeiramente a cabeça para o lado. – Recomendei que ele entrasse para esperar por você, mas ele alegou que seria melhor o fazer do lado de fora.

Engoli em seco enquanto aos poucos o frio dava lugar a um calor interno.

– Tudo bem, eu vou falar com ele. – falei, indo em direção a porta. – Pode hibernar enquanto isso.

O ajudante obedeceu e lentamente se dirigiu para o local habitual, desligando suas funções em seguida. Após um longo suspiro, abri a porta e enfrentei a escuridão da noite acompanhada de uma brisa arrepiante. Connor estava sentado em um toco de madeira, alguns metros longe da porta, enquanto remexia a terra com a ponta do sapato. Ao me ver, ele ficou de pé e esfregou as mãos na roupa.

– Queria falar comigo? – indaguei, um pouco sem jeito.

– Era o que eu ia perguntar. – ele retrucou de maneira suave. – Alex disse que você foi atrás de mim na cabana dela.

– É, eu fui. – repeti de maneira automática, relembrando a conversa tida mais cedo com Alex. – Mas não sei se tenho coragem para falar com você.

– E por que não?

– Porque é complicado. – Sentia-me nervosa, mas procurei esconder a todo custo. – É sobre o que aconteceu ontem à noite, depois do jantar.

Notei que a expressão dele havia mudado por um mísero segundo, mas agora encontrava-se de volta ao que era antes.

– Eu tive medo. – Cada palavra saiu com enorme dificuldade, como se eu estivesse engasgada.

– Como é? – Connor se aproximou de mim, apesar de claramente não estar muito seguro e sua expressão ser de incredulidade.

– Eu fiquei assustada e acabei agindo por impulso. – engoli em seco, sentindo um gosto amargo no fundo da garganta. – A impressão que tive foi de ter as mãos daquele homem sobre mim novamente, passeando pelo meu corpo.

Eu te fiz sentir isso? – ele franziu levemente o cenho.

– Não...

– Acha que eu seria capaz de fazer algo de ruim com você?

Comprimi os lábios, prevendo onde ele queria chegar com aquela conversa, e cerrei os punhos.

– Que eu... – ele voltou a falar, mas dessa vez eu decidi interromper.

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