Parte V - Capítulo 40

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A frase que Hector disse para Elise ficou na minha mente por um bom tempo.

Nós deixamos os escombros da cidade de Indiana na tarde daquele mesmo dia e seguimos pelo trilho por quase duas semanas, com pausas para dormir e descansar sempre que possível. Conforme avançávamos na viagem, notei que a temperatura diminuía, deixando os ventos cada vez mais difíceis de suportar. Não demorou muito para os primeiros flocos de neve começarem a cair, cobrindo as árvores e o chão a nossa volta com um delicado manto branco. Conseguimos nos manter sem as roupas apropriadas para o frio durante um tempo, mas depois que começou a nevar mais intensamente, Elise decidiu que nossa prioridade seria encontrar casacos caso quiséssemos continuar vivos.

Essa busca, porém, acabou nos custando um dia inteiro dentro de uma cidadezinha construída ao redor dos trilhos. Retomamos a viagem no dia seguinte, pouco depois de fazermos uma refeição com o pouco que sobrara em nossas mochilas. A neve já não caía mais com a mesma frequência e a camada sobre o chão era de poucos centímetros apenas, mas que não facilitava nosso percurso. Continuamos por entre as árvores por alguns quilômetros, tendo a luz do sol como único marcador de que as horas estavam passando, até que alcançamos um rio, onde a ponte que sustentava os trilhos se resumia a um esqueleto de metal e concreto.

– O que foi dessa vez? – resmunguei, me aproximando da margem.

– Teremos que atravessar, pelo visto. – Elise informou. – Só que a água não está congelada.

– Pelo visto não tá tão frio pra isso acontecer. – murmurei enquanto me abaixava para pegar Willy nas costas. – Apesar de eu ter a impressão de que meu corpo vai congelar a cada segundo.

– Depois que atravessarmos o rio, vamos procurar o primeiro lugar possível e acampar. – ela anunciou, para o meu alivio. – Não aguento mais tanto frio.

Assenti e então coloquei um pé dentro da água, verificando a profundidade a cada passo avançado. Logo que minha perna entrou por completo embaixo d'água, uma onda de arrependimento se espalhou pelo meu corpo.

– Péssima ideia, péssima ideia! – grunhi conforme seguia. – Merda, merda, merda!

– A gente tinha que realmente fazer isso? – ouvi Elise indagar.

– Não sei, diga-me você. – Trinquei os dentes, sentindo a água subir até altura da cintura. – Fica por perto, a correnteza parece ser um pouco forte.

– Tudo bem.

Continuei andando a passos lentos e cuidadosos, tentando desviar de cada pedra escorregadia que havia dentro das águas. No meio do percurso havia um tronco caído sobre duas pedras salientes, servindo como uma ponte improvisada na parte mais funda do leito, e eu decidi subi-lo para vencer aquela parte do percurso fora da água. Estava apenas há alguns passos de alcançar a outra margem quando ouvi a madeira estalar e depois disso meu corpo caiu para dentro d'água novamente. Apesar do susto, eu consegui evitar ser arrastado, me agarrando uma rocha proeminente. Entretanto, meu terror retornou com mais intensidade quando olhei para trás e não encontrei Elise.

– Ah merda. Elise!

Tentei colocar Willy o mais perto possível da margem, em seguida retirei o casaco mais grosso que estava vestindo e joguei a mochila no chão, para então retornar para dentro d'água. Conforme me distanciava de onde o tronco costumava ficar, percebi que a profundidade do rio era maior do que eu esperava. Depois de alguns passos, a água já estava acima da minha barriga e a correnteza parecia cada vez mais forte. Além disso, o fundo era cheio de pedras lisas.

– Elise! – gritei enquanto olhava ao redor, sem saber ao certo de para onde ela havia ido. – Elise!

Vi uma movimentação logo adiante e então ela surgiu de modo abrupto, cuspindo água em tosses engasgadas, para logo retornar para o fundo. Não me restou outra opção a não ser prender a respiração e mergulhar de vez dentro do rio. Nunca me considerei um bom nadador, mas naquele momento tive que esquecer aquele pequeno problema enquanto vencia aquela correnteza. Quando me aproximei o suficiente dela, meus pés já não tocavam mais o fundo com a mesma facilidade de antes e por causa disso foi um pouco difícil trazer Elise de volta para a superfície.

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