Parte III - Capítulo 24

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Quando voltei a abri-los, já não me encontrava mais dentro da escuridão. Meus olhos fitavam um teto de madeira simples, onde uma lâmpada pendia de maneira precária e os fios seguiam enrolados nos caibros. A cabeça inteira doía e pensar parecia uma tarefa extremamente difícil, já que cada canto do meu cérebro latejava de uma forma diferente. Tentei me sentar, mas o mundo a minha volta girou e eu voltei a ficar deitada, enquanto as ideias pareciam entrar em foco aos poucos, deixando-me desnorteada e levemente enjoada.

Inspirei fundo, absorvendo o cheiro de terra molhada e plantas que dominavam o ar a minha volta. Depois que a tontura pareceu diminuir um pouco, reuni forças e me sentei. Durante uma rápida olhada no cenário, reparei que se tratava de um quarto pequeno, sendo a cama onde eu me encontrava e uma mesa no canto os únicos móveis do local. Joguei o lençol para o lado e vi o curativo na panturrilha – pelo nível do cuidado no ferimento, deduzi que as bandagens haviam sido colocadas recentemente. Botei os pés no chão e, ao constatar a baixa temperatura, imediatamente um calafrio percorreu minha pele.

Ao menos eu não estava em uma cela apertada, debaixo da terra.

Permaneci mais tempo nessa posição do que pretendia e, quando procurei me mexer novamente, a porta se abriu, fazendo-me erguer a cabeça de súbito. Uma mulher entrou, era mais velha do que eu e usava um casaco de lã azul sobre a blusa verde. Esperei uma reação de surpresa por parte dela, mas o que acabei ganhando foi um simples suspiro cansado.

– Se recuperou mais rápido do que eu esperava. – ela comentou, fechando a porta atrás de si e depois colocando uma muda de roupas sobre a mesinha. – Quando chegou aqui, achei que não passaria da primeira noite.

– Quem é você? – indaguei de maneira defensiva.

– Calma, não vou cortar sua carne. – ela puxou a cadeira e em seguida se sentou. – Me chamo Miranda.

– Elise. – respondi de maneira automática. – Onde estou?

– Uma longa história. – Miranda cruzou as pernas. – Basta saber que não somos o inimigo.

– Como vou saber se você está falando a verdade?

– Bem, eu cuidei dos seus ferimentos e te dei remédios que auxiliaram na sua recuperação. – ela completou, dando de ombros. – Se eu fosse um inimigo, por que eu me preocuparia em fazer isso?

– Certo. – murmurei, tendo que admitir que aquele era um bom argumento.

– Imagino que queira tirar a sujeira do corpo.

Parei um instante para analisar minhas mãos e em seguida assenti, sentindo uma pontada de vergonha tomar conta de mim. Miranda sorriu de canto e ficou de pé, depois caminhou até a porta.

– Há um banheiro logo ao lado, fique à vontade para usá-lo. – ela disse por fim e apontou para a mesinha. – Providenciei algumas roupas para você, tenho certeza de que essas que está usando já não são mais do seu agrado.

Ela saiu, fechando a porta em seguida. Eu não sabia se teria forças para andar ou para, pelo menos, ficar de pé, mas decidi arriscar. Procurei depositar majoritariamente o peso sobre a perna boa e tomei impulso para cima – os joelhos bambearam um pouco, mas conseguiram se firmar. Dei passos lentos e contidos em direção da porta, enquanto a panturrilha reclamava com pontadas agudas, porém suportáveis. Fui até o banheiro e, apesar das dificuldades, consegui me despir e entrar debaixo do chuveiro.

A sensação de tomar banho pela primeira vez depois de um longo tempo foi algo extremamente relaxante, mesmo a água estando muito fria. Passei a mão pelos cabelos e fechei os olhos, permitindo-me aproveitar o momento, mas tudo que conseguir foram flashbacks do que havia ocorrido enquanto eu estava naquela serraria. Cada frase e cada toque parecia estar acontecendo de novo, ali, naquele banheiro. Abri-os pouco depois, sentindo um nó se formar na boca do estômago enquanto a visão ficava borrada. Minha respiração estava acelerada e, na tentativa de me acalmar, desliguei o chuveiro, vendo a água suja escorrer em direção do ralo.

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