Parte IV - Capítulo 34

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Respirei fundo e passei as mãos pelo rosto, tentando compreender como as coisas podiam ter chegado aquele ponto em apenas alguns minutos. Despertei as funções de Willy e me aproximei do rapaz deitado na cama. Eu estava nervosa e as mãos trêmulas faziam o favor de deixar isso explícito para qualquer um ver – apesar de eu estar praticamente sozinha dentro daquele quarto. Retirei parte das cobertas com o máximo de delicadeza e cuidado possível, e expus o ferimento inchado.

– Willy, precisarei de alguns itens de seu estoque. – anunciei, retirando o casaco. – Tudo bem?

– Este ajudante está à disposição. – ele respondeu. – Do que Elise está necessitando nesse momento?

– Álcool, agulha e linha para sutura. – falei enquanto arrastava uma cadeira para perto da cama. – Preciso fechar esse ferimento o mais rápido possível.

Ele assentiu e então abriu o pequeno compartimento em seu peito, retirando os materiais pedidos, um a um. Com cuidado, peguei um dos panos que havia sobre a mesa de cabeceira e comecei a limpar a região ao redor da ferida, removendo todo o sangue seco e sujeira. O corte era profundo, o que serviu para me deixar surpresa ao relembrar que o sangramento fora estancado tão rapidamente, e tinha quase meio palmo de tamanho, além do fato de estar inchado e inflamado. Depois de limpo, descartei o pano sujo e peguei a agulha e a linha das mãos de Willy.

– Está tudo bem? – Willy indagou.

– Sim, só... – pigarrei e então balancei a cabeça. – Monitore ele, por favor.

Willy obedeceu e mudou o foco da atenção para o rapaz. Respirei fundo e iniciei o processo minucioso de sutura, tendo cuidado a fazer cada ponto. Malick pareceu sentir o toque da agulha atravessando a pele, pois a musculatura do abdômen sofreu um espasmo e um fraco gemido de dor escapou de seus lábios. Busquei fundo na mente tudo o que eu havia aprendido no refúgio e dei o meu melhor para manter a precisão acima de tudo, mesmo que minhas mãos não estivessem respondendo da maneira esperada e a agulha escapasse por causa do sangue nos dedos. O processo levou mais tempo do que eu esperava e os minutos mais se pareciam com horas. Quando terminei com os pontos, usei outro pano para limpar o sangue das mãos e ao redor do corte, e depois cobri a região do ferimento com bandagens limpas.

– Este ajudante detecta que a temperatura do paciente está acima do normal. – Willy anunciou, aumentando um pouco as suspeitas que eu já possuía.

– Ele está com uma infecção, no mínimo. – disse, coçando uma das sobrancelhas. – Sem qualquer tipo de exame, fica um pouco difícil ter um diagnóstico preciso.

– Este ajudante compreende.

– Tem algum antibiótico no seu estoque? – indaguei, olhando na direção dele.

– Apenas um frasco de dez mililitros.

– Vai servir. – completei umedecendo os lábios.

Willy me entregou o recipiente e uma seringa descartável, ao qual eu utilizaria para aplicar o medicamento. O frasco, eu notei, não estava totalmente cheio e provavelmente só daria para mais uma dosagem, além daquela que eu aplicaria em Malick. Debrucei-me sobre o rapaz e espetei a agulha em seu braço, injetando o antibiótico de maneira devagar – ele, por outro lado, não esboçou qualquer reação. Entreguei o frasco para Willy e depois descartei a seringa usada, sentindo um alívio por ter concluído aquela tarefa imposta sem chances de objeção.

– Fiz o que estava ao meu alcance. – murmurei, sem saber exatamente para quem. – Espero que tenha sido suficiente.

– Este ajudante alega que o trabalho foi concluído da maneira apropriada, dado os materiais e a situação em que nos encontramos.

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