Parte II - Capítulo 14

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Deixamos a cabana de Alex com um aviso de que eu não deveria me esforçar demais se não a ferida poderia abrir novamente. Besteira. Se eu estava de pé e conseguia mexer perfeitamente meu braço, significava que não haveria problemas em trabalha-lo um pouco. Ao menos aquilo me distrairia por um período de tempo e minha mente poderia se focar em outras coisas.

Virginia me guiou até a parte de trás da casa de Alex e então avançou mais alguns metros até encontrarmos um toco de madeira com um machado cravado na superfície e uma pilha de pedaços de tronco no canto. Ela se aproximou e retirou a ferramenta com um movimento rápido de braço, entregando-a para mim sem cerimônia.

Peguei o cabo com ambas as mãos e testei alguns movimentos, apenas para me certificar de que o ferimento não cobraria o seu preço se um gesto mais súbito fosse feito. Depois de alguns instantes assenti para ela e então Virginia colocou o primeiro pedaço de tronco apoiado no toco. Ergui o machado acima da cabeça e o desci em um movimento rápido e preciso, fazendo a madeira se partir em dois pedaços. Ela coletou a lenha e então apoiou outro pedaço no lugar.

Tirei a camisa de flanela e a amarrei na cintura, prevendo que aquela tarefa seria mais cansativa do que eu estava imaginando.

– Vocês são muito próximos?

A pergunta me surpreendeu e eu quase errei o movimento do machado; por causa disso um lado da lenha ficou extremamente maior do que o outro. Respirei fundo, recobrando o pouco fôlego perdido, e a encarei.

– O que disse?

– Você e Elise. – ela retomou, apoiando outra madeira no toco. – Vocês são próximos?

Franzi levemente o cenho. Tal dúvida nunca havia surgido na minha mente e a súbita decisão de alguém querer perguntar me deixou curioso. Cortei a lenha no meio e fiquei alguns instantes pensativo enquanto ela organizava os pedaços partidos.

– Nunca parei para pensar nisso. – revelei por fim. – Quero dizer, já estamos seguindo viagem juntos há algum tempo, mas isso nunca despertou meu interesse. Por quê?

– Não sei, fiquei curiosa. – ela deu de ombros e colocou outro pedaço de tronco. – Você está querendo salvá-la e quase morreu tentando uma primeira vez. Dificilmente isso ocorreria se o grau de proximidade entre vocês fosse baixo.

Cortei a madeira e apoiei o machado no ombro esquerdo.

– Elise me ajudou em um momento crítico. – comecei de maneira singela. – Eu estava fugindo de uns caçadores quando a encontrei. Não sei o que se passava na cabeça dela naquele momento, mas eu agradeci mentalmente o fato de ela ter hesitado em me matar.

– Nem sempre a morte é a solução para tudo. – Virginia comentou apoiando outra lenha e eu assenti. – E desde esse dia vocês estão andando juntos?

– Sim, mas eu tive que insistir. – respondi, cortando a madeira em seguida. – Não vou negar que tive minhas suspeitas no início, mas com o passar dos dias, você acaba esquecendo isso. Não faria sentido ela cuidar de mim se fosse me querer morto pouco depois.

– Faz sentido. – ela meneou a cabeça, empilhando a madeira no canto.

Cortei mais algumas lenhas e então parei por uns instantes, apenas para recuperar o fôlego. Ainda fazia frio, mas o esforço da tarefa era tanto, que eu conseguia sentir a camisa grudar nas costas por causa do suor. Virginia então sugeriu que trocássemos de função, sendo ela a responsável por cortar a lenha dali em diante.

– E quanto a você e Rachel? – indaguei, vendo-a franzir levemente o cenho.

– O que tem?

– Vocês são próximas?

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