Parte VI - Capítulo 49

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A balsa seguia a uma velocidade constante e quase não sofria com as oscilações do oceano. A área dos passageiros se resumia a uma série de bancos postos lado a lado, em um intervalo de alguns centímetros para que o trânsito de pessoas fosse possível. Para que eu não passasse a viagem inteira sozinha, Kenny permitiu que eu entrasse na cabine, lhe fazendo companhia durante o trajeto. Em parte, eu compreendi a atitude dele, já que todo aquele espaço completamente vazio podia ser um pouco depressivo ou até mesmo entediante.

Cruzei os braços e me apoiei na balaustrada, vendo o reflexo do céu no oceano que se estendia em volta da embarcação. A travessia já estava durando pouco mais de uma hora e meia e a faixa de terra ficava cada vez maior no horizonte, sendo possível discernir uma construção ou outra, mesmo que com muita dificuldade. Conforme avançávamos, comecei a ver algumas boias alaranjadas postas em pontos aleatórios, onde pequenas luzes vermelhas encontravam-se piscando no topo.

A distância entre cada uma delas era de apenas algumas dezenas de metros, dando a impressão de haver um enorme cinturão ao redor da baía. Passamos bem próximo de uma das boias, fazendo a luz ficar estática por alguns segundos, para então voltar a piscar.

– O que são essas boias? – indaguei para o interior da cabine.

– Sensores. – Kenny respondeu. – É assim que os militares sabem quando alguém adentra no território através do oceano.

– Espero que não seja um problema para nós. – franzi o cenho, sentindo uma leve preocupação.

– Não será. Se fôssemos um intruso, certamente a balsa já estaria no fundo do oceano. – ele continuou. – Eles sabem que um barco chegará e, provavelmente, já estarão esperando por nós no litoral.

Aquilo me deixou um pouco mais tranquila, apesar de eu ainda me sentir insegura. As boias foram ficando cada vez mais para trás e, quando já era possível identificar as estruturas no porto, a velocidade da balsa foi diminuindo gradativamente. Diferente do refúgio, as construções por ali eram menores e pareciam ter recebido um cuidado melhor ao longo dos anos, além de os prédios nem sequer aparentarem ter sofrido algum tipo de dano. Quando a balsa se aproximou do ancoradouro, notei que havia um carro parado perto da calçada alguns metros mais à frente, ao lado de um contêiner cinza. Cerca de três pessoas aguardavam do lado de fora e todas elas vestiam o mesmo tipo de uniforme.

Por mais que eu soubesse quem aquelas pessoas eram, não pude deixar de me sentir nervosa ao vê-las olhando na minha direção. Kenny ancorou a balsa pouco tempo depois e então ouvi a rampa deslizar com ligeiro ruído metálico, para então ser acoplada a uma das passarelas. Peguei a mochila e desci as escadas, encontrando o mesmo trio de militares de antes parados no início do píer. Eram dois homens e uma mulher, e nenhum deles possuía uma expressão muito amigável. Quando me aproximei o suficiente, a mulher deu um passo à frente e eu parei onde estava, temendo o que iria dizer.

– Você deve ser a civil que solicitou entrada em nosso assentamento. – seu tom era firme e eu assenti quase que de maneira automática. – Possui a autorização impressa?

Retirei o papel que Connor havia me dado e o entreguei para a militar, que simplesmente o olhou por alguns segundos antes de o colocar dentro de um dos bolsos da farda.

– Está tudo certo, eu presumo? – Kenny indagou enquanto se aproximava.

– Não precisa se preocupar com isso, externo. – a mulher retrucou de maneira seca, virando o rosto na direção de Kenny. – Seu serviço já não é mais necessário, pode retornar para seus domínios.

– Calma, não tenho interesse algum em entrar em Nova Luz. – ele balançou a cabeça de maneira negativa. – Conheço muito bem o meu lugar e não pretendo sair dele.

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