Parte II - Capítulo 20

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Já era a segunda vez no dia que eu entrava naquele chalé. Porém, diferente de antes, Bernard nos levou até um quarto no segundo andar, ocupado por uma mesa de madeira, uma escrivaninha e um divã verde, rasgado em alguns pontos. Logo que me sentei, o assento rangeu sob meu peso, denunciando que a estrutura possivelmente não era tão resistente assim. Enquanto olhava o lugar, duas coisas me chamaram atenção: a primeira foi o fuzil que descansava tranquilamente sobre a mesa mais ao fundo e a segunda foi a mulher, que estava de braços cruzados e de frente para a janela.

Bernard gesticulou para Virginia se sentar e então se aproximou da mulher, tocando gentilmente o seu ombro. Ela virou o rosto na nossa direção e em seguida trocou algumas palavras com Bernard em uma conversa sussurrante e ligeiramente contida. Sentada ao meu lado, notei que Virginia batia o pé esquerdo no chão, impaciente, enquanto esfregava as palmas das mãos na calça.

– O que foi? – indaguei em um murmúrio.

– Essa é a irmã de Bernard e...

– Posso ouvir perfeitamente o que está dizendo, garota. – a mulher falou de súbito, ganhando nossa atenção. – Meu nome é Julia e, sim, sou irmã de Bernard. Não que esse "título" possua alguma importância.

– Desculpe. – Percebi que Virginia havia cerrado os punhos.

– Desculpas aceitas. – ela arqueou uma sobrancelha e olhou para mim. – Me deixa adivinhar, você é o sujeito que meu irmão teve coragem de tirar da água?

– Sim...

– Se fosse eu tinha deixado ele boiando até morrer afogado. – Julia me interrompeu, se virando na direção do irmão. – Se não é problema meu, não há a mínima necessidade de eu me intrometer.

Bernard revirou os olhos e beliscou a ponte do nariz.

– Ainda bem que eu não sou como você. – ele falou por fim. – Foi ele quem ajudou a invadir o estoque do Herbert, caso queira saber.

– Isso não muda minha opinião. – Julia alegou, cruzando os braços. – Enfim, aquela mensagem que você me enviou, é verdade? Descobriu onde o desgraçado está se escondendo?

– Eu não tenho a total certeza se a informação é verdadeira. – ele explicou. – Como eu te disse antes, o cara pode ter mentido para nós.

– E daí? É a primeira informação que temos desde que ele tomou a região! Sabe-se lá quando teremos essa chance de novo.

– Já parou para considerar os riscos? Não quero ser o responsável pela morte de mais pessoas.

– E você já parou para pensar nas pessoas que estão lá? Sofrendo nas mãos dele? – ela abriu os braços e voltou para perto da janela.

– Julia, calma. – Bernard respirou fundo antes de continuar. – Você precisa considerar os riscos de se fazer isso.

– Herbert está muito bem armado. – Virginia se pronunciou. – Vimos alguns dos equipamentos no estoque.

– Pareciam ser equipamentos do exército. – comentei.

– E são. – Bernard respondeu de maneira grave. – Herbert sabia onde encontrar essas armas e as coletou antes mesmo que nós as alcançássemos.

– As poucas que possuímos são as que ele não conseguiu encontrar a tempo. – Julia complementou e estalou a língua. – Então vai ficar de braços cruzados?

– Julia...

– Se você não se mexer para fazer algo, eu vou. – ela se aproximou do irmão, parando há alguns centímetros de distância. – E você sabe muito bem que eu sou capaz disso.

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