– O que aconteceu? – Connor indagou após um logo período de silêncio.
– Pela cara dela, não foi algo tão bom assim. – Marcus completou de maneira singela.
Logo que Hector nos deixou, agachei perto de Nicholas e me apressei em cuidar do ferimento em seu braço. Meu maior problema naquele momento era conseguir retirar a bala que, de alguma forma, continuava presa dentro da carne. Ele parecia mais pálido que da última vez, o que aumentou ainda mais a minha angústia.
– Nada demais. – respondi por fim, dando de ombros. – Eles só queriam que eu cuidasse de um cara que estava ferido.
– Sério? – Connor continuou e eu assenti. – Isso é inesperado.
– E, a propósito, eles não são bandidos, como Marcus estava pensando. – expliquei. – São andarilhos, procurando um lugar para montarem um refúgio.
Marcus meneou a cabeça, aparentemente surpreso com a revelação. Nesse meio tempo, Nicholas retirou a blusa que envolvia o braço, permitindo que eu olhasse o ferimento novamente. Pedi para Willy analisa-lo, apenas para ter noção do grau em que a situação se encontrava. Não demorou muito para a luz azulada ser projetada na direção do rapaz sentado no chão e logo depois vir a resposta do ajudante. Estalei a língua e passei uma das mãos pela testa.
– Preciso retirar essa bala. – murmurei séria. – Mas sem algo afiado ou pontiagudo fica um pouco difícil.
– Está tão fundo assim? – ouvi Connor indagar.
– Não necessariamente, mas usar apenas os dedos deixa o trabalho cinco vezes mais difícil e dez vezes mais doloroso.
– Espera, acho que tenho algo que possa ser útil. – Marcus disse enquanto remexia nos bolsos e depois suspirava aliviado. – Ainda bem que não levaram.
Ele se agachou e depois ouvi o ruído de algo se arrastando pelo chão, seguido de um baque de metal se chocando. Franzi o cenho enquanto me aproximava da grade e encontrava um canivete preto, com o cabo levemente desgastado, parado aos meus pés. Inclinei-me para pegá-lo, passando o braço pela abertura existente entre as barras de ferro. O utensilio não era muito grande e a lâmina deveria ter, no máximo, uns oito centímetros de comprimento – o que não o deixava tão pesado para se manusear.
– Tenha cuidado. – ele recomendou, dando uma piscadela. – É a única lembrança que ainda resta da minha família, depois, é claro, das minhas memórias.
Assenti e então me virei de volta para Nicholas que, pela expressão no rosto, não aprovava o que estava por vir. Agachei-me ao seu lado e o vi fitar minhas mãos trêmulas por alguns instantes, antes de se focar em meu rosto. Seu olhar não era nada encorajador. Com a mão livre, fiz uma contagem regressiva e então introduzi a ponta do canivete pelo ferimento, da maneira mais delicada que consegui, quando a contagem chegou ao um. O que veio depois disso, porém, foi um grito gutural de dor, que fez um arrepio percorrer minha espinha, deixando-me ainda mais nervosa. Todos os seus músculos se retesaram e foi como se todas as veias no pescoço de Nicholas quisessem saltar para fora da pele ao mesmo tempo.
Conforme a lâmina adentrava, mais sangue escorria pelo ferimento e eu me apressei em enxuga-lo com a camisa suja. Depois de quase três minutos que mais se assemelharam a horas, dada a situação, consegui localizar o projétil e enfim retira-lo de dentro da carne. Limpei a região em volta da melhor maneira que pude e comecei a fazer a sutura, usando os últimos materiais ofertados pelo pequeno estoque de Willy. O processo de feitura dos pontos foi mais rápido que o de Malick, mas o grau de complexidade parecia ser dez vezes maior – provavelmente por que Nicholas estava acordado e reagindo a cada movimento meu.
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Terminal 25
RomanceEm um mundo destruído pela Guerra, onde não há leis ou governo, o que sobrou da humanidade enfrenta a dura realidade de estar à mercê da sorte. Diante das dificuldades e do perigo, todos almejam ir para Nova Luz, a procura de uma vida melhor. Após a...