Parte II - Capítulo 12

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A primeira coisa que senti ao despencar daquela ponte foi o vento agitando minhas roupas por alguns segundos e então minhas costas colidiram com a água fria. Todas as lembranças depois disso vieram em imagens disformes do céu, dos vultos de pessoas me carregando para fora do rio e em seguida me arrastando para perto da margem. Eu sentia frio e dor, principalmente perto do ombro direito, onde aquele desgraçado me acertara o tiro, mas que, por algum motivo, eu havia sobrevivido.

Ou minha sorte era muito grande ou alguém lá em cima não queria me ver ainda.

Tentei me mover, mas meu corpo parecia não responder, e, depois de minutos angustiantes, eu acabei desmaiando na terra lamacenta.

Acordei ouvindo uma série de estalidos secos. Abri os olhos lentamente e encarei o telhado de madeira sobre minha cabeça com o cenho franzido. Minha visão estava borrada e levou alguns segundos até a imagem se focar, mostrando as vigas de sustentação e uma lâmpada que pendia precariamente do teto. O cômodo ao qual eu me encontrava dividia espaço com a cozinha e a sala de jantar e eu logo deduzi que toda a construção era apenas um único vão. Grunhi e tentei me levantar, mas uma forte fisgada de dor me fez trincar os dentes e então voltei a ficar deitado.

Havia um curativo na região do ombro direito, cobrindo parte do peito e descendo até o braço. Corri os olhos mais adiante e notei que meu pulso estava algemado à barra lateral da cama, de modo que não conseguia erguê-lo mais do que cinco centímetros no máximo. Olhei ao redor e vi minha mochila largada sobre uma cadeira e a pistola descansado sobre a mesa – se a era a minha ou a de outra pessoa, eu não sabia dizer.

Sentei e então percebi que não estava usando roupas por debaixo das cobertas, eu me encontrava completamente nu. Puxei os lençóis para cima com a mão livre e analisei com mais cuidado o ambiente ao qual eu me encontrava. A cama era de madeira e parecia ter sido feita reutilizando tábuas velhas; o colchão era fino, mas suficientemente confortável para alguém dormir sem maiores problemas. Haviam duas portas ali, e eu presumi que uma delas dava acesso ao banheiro.

A casa se assemelhava a um chalé e, através da janela, pude perceber que ela ficava no meio da floresta – confirmando minha teoria. Chovia fracamente do lado de fora e fora o som das gotas colidindo com o telhado que me acordou de maneira singela, porém muito eficiente.

Onde exatamente eu me encontrava?

Não sabia.

Era seguro estar ali?

Levando em consideração que eu estava nu e algemado a uma cama, com certeza não.

A porta se abriu e um facho de luz adentrou, me deixando momentaneamente cego. Discerni a silhueta de uma pessoa entrando e em seguida colocando algo sobre a mesa, depois disso a porta foi fechada e o cômodo voltou a ser iluminado pela janela e pela lâmpada. Pisquei algumas vezes para tentar acostumar meus olhos com a súbita mudança e nesse meio tempo o cheiro de algo cozido chegou ao meu nariz, fazendo meu estômago roncar quase de maneira automática.

Eu estava faminto e nem sequer havia percebido.

O recém-chegado puxou uma cadeira e pegou o prato, trazendo ambos para perto de mim. Ele sentou e estendeu a comida na minha direção, gesticulando com o braço livre para que eu comesse.

– Olha... – comecei a falar, mas minha garganta parecia estar cheia de areia, e terminei em um pequeno acesso de tosse.

– Primeiro de tudo, evita falar por alguns minutos, passou muito tempo apagado.

Ergui o olhar e pela primeira vez o encarei, percebendo, por fim, que se tratava de uma mulher. Ela era loira, usava calças pesadas e um casaco surrado para frio. Os olhos eram castanhos e me fitavam com uma mistura de indiferença e impaciência.

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