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A essa altura minha cabeça já estava latejando de dor.

- Nanjoom. - Falei esfregando a têmpora. - Mas que caralhos você quer dizer com "O filho de Ki Young está vivo"!?

- É exatamente o que você ouviu. - Disse ele com o tom calmo. - Ele esta vivo, são, salvo e saudável. Descobri seu paradeiro no final do ano passado através de uma carta anônima. Nela havia um pedido, um pedido para que eu cuidasse do meu irmão, mesmo que não de sangue, pois a pessoa que cuidou dele quando todos pensaram que havia morrido estava muito doente e com poucos dias de vida. Pelo o que a carta dizia meu ... meu pai. - Ele disse essa palavra a cuspindo com ódio. - Tramou a morte do filho dela, de Seokjin. A pessoa que o ajudou era médico da família, alguém muito renomado e ninguém desconfiou de seu diagnóstico e nem que os remédios que dava a criança talvez fizessem com que ele piorasse ao invés de melhorar. Mas na "hora H" quando ele deveria dar fim à vida de Seokjin ele não conseguiu. Fingiu sua morte ao colocá-lo em uma espécie de coma induzido, não sei, e então subornou legistas e fez outras coisas que não vem ao caso. Assim ele fugiu com o menino para bem longe do meu pai e passou a viver uma vida simples como médico em um vilarejo no interior. - Nanjoom suspirou. - Ele já era velho, não tinha família e como ele mesmo afirma na carta "se afeiçoou a criança". Cuidou dele como se fosse seu filho, e por ele ser pequeno acabou por não se lembrar de sua vida anterior e de sua mãe. Viveram todos esses anos nesse mesmo vilarejo mas então por conta da idade avançada e de uma doença repentina o médico tinha poucos meses de vida e Jin iria ficar só no mundo.

Coloquei minha mão no ombro de Nanjoom e o apertei de leve, tentando confortá-lo mesmo que minimamente. Se era difícil para mim digerir tudo aquilo só podia imaginar como era para ele. Joon encarava o nada e tinha a expressão mais triste que eu já vi no rosto de alguém. Vê - lo daquele jeito me encheu de uma profunda tristeza.

- E então ...? - Perguntei suavemente tentando encorajá-lo a falar.

- E então. - Ele retomou sem ânimo. - Fiquei perplexo ao descobrir tudo. A carta dizia que quando eu a lesse ele provavelmente estaria morto e Jin órfão, mais uma vez. Ele disse que confiava em mim, ou pelo menos na lembrança que tinha de mim de quando eu era pequeno, de como eu protegia e confortava meu irmão, então pensou que eu seria a melhor opção apesar de ter o pai que tenho, pois nas palavras dele "devo ser um adulto bom e responsável". Fiquei atônito quando terminei de ler a carta e a destrui, com medo de que meu pai encontrasse. Nela havia o nome do vilarejo e o endereço de onde eu poderia encontrar o garoto, assim como seu novo nome. De acordo com a carta ele estaria no último ano da escola mesmo devendo ter terminado ano passado, mas esse foi perdido pois ele teve que cuidar do 'pai' velho e doente.

Nanjoom se levantou e foi até seu quarto, trazendo com ele uma caixa de primeiros socorros e a estendeu para mim. Eu a abri prontamente e dela retirei gazes e produtos desinfetantes e cicatrizantes. Como vivíamos nos metendo em brigas ambos já estávamos acostumados a tratar um dos ferimentos do outro. Me inclinei para mais perto dele e gentilmente comecei a limpar seus machucados.

- Na véspera do ano novo resolvi ir até o vilarejo para ver com meus próprios olhos se aquilo era verdade. Cheguei já de noite, estava frio e nevando e eu só queria terminar aquilo o mais rápido possível, de preferência constatar que tudo era mentira e que meu pai não era esse monstro terrível capaz de tirar a vida de uma criança ... Aí. - Ele protestou de dor.

Apesar de tudo eu sorri levemente e ele também. Nós dois sabíamos que ele era durão em qualquer luta, mas um molenga para aguentar os curativos depois. Se não dependesse de mim não me surpreenderia se Nanjoom deixasse os cortes do jeito que estavam e fosse dormir sangrando.

Delírio (vkook)Onde histórias criam vida. Descubra agora