Capítulo 11

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26/02/2013

Prezado diário,
Nem te conto, eu falei com o Caio. Eu sei, eu não cumpro minhas promessas e sou uma fraude, mas antes de me julgar, vou te explicar o que aconteceu.

O meu sapo veio conversar comigo na biblioteca, advinha por quê? Porque lá quase ninguém frequenta. Eu estava distraída escolhendo um livro novo quando de repente ele falou comigo:

Thalita! — Olhei assustada pra ele, e me deparei com ele mais lindo do que nunca parado na minha frente me olhando.

— O quê? — Respondi ríspida.

— Tenho que te explicar uma coisa. — Ele sussurrou e olhou para os lados para se certificar que estavamos à sós. Revirei os olhos.

— Não se preocupe, ninguém vai te ver aqui comigo, afinal ninguém nesse colégio está interessado em adquirir conhecimento. — Me virei e continuei lendo os títulos dos livros.

— Não é isso, é que a galera daqui fala demais e se ver a gente conversando... — Não aguentei e interrompi ele:

— Por que ao invés de você ficar enchendo linguiça não fala logo o que tem pra dizer? — Ele me olhou por um instante e sorriu.

— Tá, você tem razão, eu gosto de você por isso. Vai direto ao ponto. — Falou e eu deixei o Machado cair, não uma ferramenta, mas o livro de Machado de Assis.

COMO É QUE É? Meu cérebro perdeu a "manete" e caiu sentado, "esse video-game está estragado", afirmou o hipotálamo.

Minha voz fugiu e um nó subiu e desceu pela minha garganta. Quando minha fala foi restaurada eu consegui formular apenas uma pequena questão:

— Como é que é?

Ele se aproximou e tirou a mochila das costas, pegou um caderno e arrancou uma folha me entregando um lindo desenho. Olhei para a folha sem fazer menção de pegar e então ele sorriu.

— Eu fiz para você. Fiquei pensando naquilo que você disse e tenha te observado desde então. Percebi que você realmente acredita nesse absurdo de se achar feia. Então resolvi fazer esse desenho e apontar as coisas mais bonitas em você. — Contou me deixando incrédula. Peguei a folha e notei que o desenho incrivelmente bem feito realmente lembrava a minha pessoa, entretanto era infinitamente mais bonita. Haviam varias setas indicando todos os nomes de todas as partes do meu corpo.

— Para que essas setas? — Questionei e ele deu de ombros.

— Para ressaltar o que é bonito em você.

— Mas está escrito todas as partes do meu corpo aqui. — Estranhei e ele sorriu.

— Exatamente. Tudo em você é lindo. Quando você entender e aceitar isso, nada do que te disserem vai mais te magoar. — Explicou e eu pisquei sem saber o que dizer. — Só não mostra para ninguém esse desenho, por favor, senão todo mundo vai querer um desenho e eu não quero desenhar eles.

— Por que não?

— Porque eles não merecem.

— Bom... Eu... Obrigada!

— Espero que isso realmente te ajude. — Falou parecendo sincero.

— Eu adorei o desenho e... Espera, tem uma seta apontada para os meus peitos no desenho! — Observei e ele riu sem jeito.

— No caso eu estou falando sobre seu coração e sobre os sentimentos que você guarda nele, mas para onde a seta aponta também é bonito. Com todo respeito.

Eu. Vou. Desmaiar.
Socorro Deus!

Após um longo silêncio constrangedor ele guardou o caderno na mochila e eu tomei coragem de puxar assunto.

— Eu agradeço o que você fez, só não compreendo ainda o porquê você fez.

— Porque eu não gostei de perceber o que você pensa de você mesma. E também porque eu gostei de você.

Minhas pernas acabaram e se ele não tivesse me segurado eu com certeza teria caído estatelada no chão. Caio ficou próximo demais me segurando quase prensada na estante, meus olhos nos seus e minhas forças se encontravam fazendo Tour pelo outro lado do mundo. Comecei a tremer feito vara verde e provavelmente eu estava branca como leite em pó, pois ele se assustou:

— Você está se sentindo bem?

— Eu? Estou ótima! Eu só... — Fiz um movimento muito mal planejado e acabei jogando uma fileira de livros empoeirados no chão, fazendo uma fumaça branca nos englobar. — Ai meu Deus! Que bagunça!

— Relaxa! Eu te ajudo. — Ele propôs rindo.

— Você deve me achar um desastre ambulante, né?

— Sim, eu acho. — Respondeu animado e eu dei um leve tapa no ombro dele.

— Ei, essa era a parte que você deveria mentir educadamente. — Brinquei e ele riu ainda mais.

— OK, então, que isso, te acho nem um pouco desastrada. Jamais acharia isso de uma pessoa que nos soterrou na poeira de seiscentos anos que esses livros devem conter. — Brincou e eu segurei uma risada.

Pegamos todos os livros do chão e empilhamos tudo bonitinho novamente na estante.

— Desculpa a intromissão, mas você parece ser um cara tão legal, como pode namorar com a Bárbara? Digo... Não que ela seja...

— Eu não namoro com a Bárbara, ela é apenas uma amiga da minha irmã.

— E você beija as amigas da sua irmã? Interessante, vou fazer amizade com a... — Parei de falar no mesmo instante quando percebi ele me encarando.

— Com a?

— Nada. Atchim! — Fingi um espirro e ele franziu a testa sustentando um sorriso nos lábios. — Nossa, essa poeira do século passado vai atacar minhas alergias, é melhor sair daqui logo. — Menti e ele continuou me encarando.

— O que você estava dizendo antes?

— Nada. Eu não disse nada. Eu... Te agradeci pelo desenho?

— Umas trezentas vezes já.

— Então, obrigada trezentas e um. — Falei e ele sorriu fazendo carinho nos meus cabelos e sorriu.

— Você é tão divertida! Me faz muito bem ficar perto de você. Parece que até o ar fica mais leve.

— Levemente empoeirado. — Ironizei e ele sorriu.

Ótimo, agora respiro com dificuldades, isso só pode ser brincadeira, porque ele tem que ser tão lindo e charmoso? Que ódio eterno disso.

Me senti me desfazendo aos poucos, no final da nossa conversa poderia chamar a tia da limpeza e pedir para que recolhesse o que sobrou de mim com vassoura e pá.

— Até mais, Thalita!

— Até! — Praticamente sussurrei e vi ele partir, mesmo querendo que ele ficasse.

Era óbvio que nunca ficaríamos juntos. Mais óbvio ainda que um cara lindo e maravilhoso como ele nem em sonhos iria se interessar por mim. E mesmo que um milagre desse acontecesse, ele jamais me assumiria em público. Então visto todos os fatos mais que óbvios, por que raios meu coração insistia em fantasiar? Olhei para meu lindo desenho e apertei no meu peito. Aquilo talvez fosse o mais mais perto que eu chegaria dele na vida.

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