O Diário De Uma Garota "Feia"

Capítulo 12

27/02/2013

Caro diário,
Hoje assim que cheguei em frente à minha sala me deparei com uma grande e péssima surpresa. Lá estava ele, ainda mais lindo do que nunca, conversando com a Evelyn, sentado na mureta. Ela estava de braços cruzados e batia seu pé calçado por uma bela sapatilha azul. Aparentavam estar discutindo, não que eu tenha tentado ouvir a conversa, jamais. Mas o semblante dele estava péssimo. Por fim ele levantou irritado e gritou:

— A VIDA É MINHA E EU FAÇO O QUE EU QUISER! — E saiu furioso, vindo em minha direção de cabeça baixa. Ao me ver abriu um lindo sorriso. Nem preciso dizer que faltei derreter, né?!

Ele continuou andando e eu voei para outra dimensão. Estava pensando em como nossos filhos serão lindos, quando a Evelyn veio me importunar:

— Oh coisa feia, perdeu alguma coisa?

Aff, acho que essa cunhadinha é pior que muita sogra por ai, viu? Nesse momento me toquei, como seria minha sogrinha? Fiquei olhando para ela e tentando envelhecer ela mentalmente. Deve ser bonita. Que Família, meu amigo!!!

— Por que está me olhando assim, monstrinho? — Ela ergueu a sobrancelha, parecendo assustada.
Fiquei pensando como minha sogra deve ser uma mulher jovem, inteligente. Será que ela gosta de fazer ceia de natal? Porque minha mãe adora...

— Sua mãe gosta de panetone ou chocotone? — Perguntei enquanto Evelyn mexia distraidamente no celular.

— Ela prefere chocot... — Parou de responder do nada e piscou os olhos várias vezes. — Ei, isso não é da sua conta! Sua maluca! — Reclamou e saiu nervosa.

Sinceramente espero que seja mais fácil de conquistar minha sogra. Porque essa cunhada, haja paciência.

Bom, mudando de assunto, depois fomos para a sala. Durante toda a aula, tanto Evelyn quanto a Bárbara me encaravam, acho que de repente virei o centro das atenções. E eu não fazia ideia do porquê.

Tivemos uma atividade de biologia para fazer em dupla, porém o número de alunos presente não batia, então adivinha? Fiz sozinha, como sempre. Mas prefiro assim, melhor do que se for para alguém dar palpite errado.

No final da aula, já perto do portão, Caio estava conversando com alguns amigos, daí Bárbara e Evelyn se aproximaram de mãos dadas, as duas sorridentes, entretanto ele cumprimentou elas friamente, e quando a Bárbara se aproximou para o abraçar, ele se afastou deixando ela no vácuo com as patinhas esticadas!!! Ai diário, ri demais. Não na frente dela, claro, mas foi hilário vê-la ficar no vácuo. Acho é pouco, ela se acha demais! Bem feito para esse projeto de tomate seco. Eu sei que estamos empatadas em zero a zero, mas enquanto ela também estiver com zero, para mim estará ótimo!

Continuei andando e em seguida notei alguém do meu lado. Era o Caio.

— Quer companhia para ir embora? — Ele ofereceu e eu olhei para trás. Evelyn e Bárbara nos olhavam com um misto de incredulidade e fúria assassina.

Assenti aceitando o convite sabendo que poderia ser a última coisa que faria na minha vida, mas pelo menos era uma coisa infinitamente boa.

— Você está chateado com alguma coisa? — Perguntei e ele suspirou.

— Dá para notar?

— Na verdade dá. Desde cedo você parece irritado com algo.

— É a minha irmã e a mania dela de querer me empurrar a Bárbara. Isso me estressa. Às vezes a Evelyn pode ser insuportável. — Confessou.

— Ela talvez pense que vocês dois combinam. — Sugeri com aperto no peito.

— Eu e a Bárbara não temos nada a ver.

— Olhando de fora vocês têm muito em comum. Não que eu esteja dando força para vocês ficarem juntos, porque não estou, mas todas as vezes que vi vocês juntos parecia mesmo um casal.

— Nunca fomos e nunca seremos um casal.

— Que bom. — Falei e ele me olhou confuso. — Digo, que bom que você sabe o que quer. Eu só acho que está faltando você deixar isso claro para ela, pois ela acredita que vocês estão juntos.

— Ela te disse algo?

— Não, mas nem precisa, né! Ela já chega te beijando. — Falei com uma leve pontada de ira. — E você deixa. — Completei com um leve tom de acusação.

— Eu nunca levei a sério tudo isso. Mas você tem razão, eu tenho que deixar claro o que eu quero. É um ótimo conselho, obrigado!

— É uma pena que eu não sigo meus próprios conselhos. — Resmunguei e ele franziu a testa.

— Como assim?

— Nada. Eu moro aqui. Até mais!

— Até mais, Thalita! Obrigado por me ouvir, e eu não perguntei como você está.

— Ah, eu continuo desastrada como sempre. — Brinquei e ele sorriu.

— E continua especial como sempre também. Até mais! — Falou acenando e eu fiquei petrificada no mesmo lugar.

Vou plantar uma árvore na calçada bem no lugar onde meu príncipe disse que sou especial, para nunca mais esquecer esse momento. Porém enquanto eu não consigo convencer meu pai a me emprestar uma britadeira para quebrar o concreto e plantar as sementes, me conformo em pintar um "X" no chão, como os lugares demarcados para os tesouros nas histórias de piratas.