Alguém tem que ceder

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Los Angeles, 16 de dezembro de 2019
Camila estava em seu quarto. Estava de castigo até o dia 22 sem poder sair de casa por conta da sua pequena fuga. Já que era proibida de deixar sua casa, quase nunca saía do quarto, como forma de protesto. Se não podia sair, tampouco colocaria um pé para fora do quarto. Logo depois do almoço, ligou para Lauren, pedindo que viesse vê-la. A latina não poderia ir até ela, mas sua mãe não disse nada sobre receber seus amigos. Essa brecha era o suficiente para que a cubana desafiasse sua mãe. E caso ela reclamasse, usaria os princípios de direito contra a própria advogada. Sua mãe era responsável pela brecha no "contrato", a única coisa que podia fazer, como futura praticante da advocacia, era usufruir dessa brecha. Enquanto estava jogada em sua cama, ouviu o tocar da campainha, indicando que sua namorada havia chegado. Desceu as escadas e abriu a porta, deixando a morena entrar. Voltaram ao seu quarto. Lauren estava com aquele olhar infantil no rosto que sempre tinha quando queria pedir ou propor alguma coisa. Camila, como sempre, não deixou de notar todos os detalhes que indicavam para tal. Sorriu ao perceber o brilho nos olhos verdes.

-Sobre o que está pensando? - perguntou enquanto as duas sentavam na cama.
-Como sabe que estou pensando em algo?
-Eu apenas sei. - a latina disse sorrindo.
-Bem... O Natal está chegando e eu vou para Nova York, para passar com meus pais.
-Isso é ótimo. Estou com saudade deles.
-Eu também. Só que... eu também estava pensando que odiaria passar o Natal longe de você. - Camila entrelaçou seus dedos nos da morena. - Estava me perguntando se você não gostaria de ir para Nova York comigo.
-Você está falando sério? - a morena confirmou com a cabeça. - Eu adoraria. Mas... eu estou de castigo. - disse revirando os olhos.
-Eu sei. Por isso, já pensei em tudo. Vamos sair daqui dia 22, exatamente quando você vai ser "liberta". - disse fazendo aspas com os dedos.

Camila deixou um beijo nos lábios de Lauren, antes de se levantar e pegar seu laptop em cima da escrivaninha de seu quarto. As duas compraram as passagens naquele mesmo momento. A latina já não estava mais preocupada se sua mãe gostaria ou não do que fazia. Na verdade, o objetivo dela era irritar a mais velha. Ainda estava indignada com seu castigo. Quando contou para Sinu sobre sua viagem de Natal, fez questão de usar todo o veneno possível em seu tom. Porém, para sua surpresa, sua mãe pareceu não se importar. Na verdade, apoiou a ideia dela sair de Los Angeles um pouco e descansar antes de arrumar um emprego. Ao mesmo tempo frustrada e feliz pela indiferença de sua mãe, Camila voltou ao seu quarto, de onde não saiu mais até o final do dia.

Los Angeles, 19 de dezembro de 2019
Camila e Sofia assistiam a um filme na televisão da sala, enquanto sua mãe cozinhava. Apesar de o almoço se aproximar, as irmãs devoravam o pote de pipoca enquanto seus olhos estavam vidrados na tela. Ouviram a campainha tocar, mas não se moveram. Depois de alguns segundos, puderam ouvir a voz de Sinuhe vinda da cozinha, gritando para que Camila abrisse a porta. A latina, suspirando, se levantou para ir até a porta. Caminhou até a entrada da casa e girou a maçaneta, chocada com o que via em sua frente. Um sorriso brotou no rosto da cubana ao ver sua avó em sua casa depois de tantos anos. Deixou um abraço na senhora, abrindo espaço para que entrasse. Sofia virou o rosto e viu, por cima do sofá, as duas mais velhas entrando de volta na sala.

-Abuelita! - a criança gritou, enquanto se levantava e corria até sua avó, deixando um abraço apertado nela.
-Sua mãe está? Preciso falar com ela. - Camila sorriu, mesmo surpresa com o pedido de sua avó.
-Achei que ficar com meu pai era um erro dela que você nunca perdoaria.
-Eventualmente, alguém tem que ceder. Algo tem que mudar. Se não vai ser do lado dela, que seja do meu.
-Fico feliz que pense assim. Ela está na cozinha.

A avó acenou com a cabeça e seguiu em direção à cozinha. As duas irmãs se entreolharam, já sabendo que ouviriam a conversa por trás da porta fechada. Assim que a senhora entrou na cozinha, seus olhos pousaram sobre sua filha, que não via em algum tempo. Como estava de costas, Sinu não viu sua mãe entrar, e continuou a cozinhar. Camila e Sofia permaneciam com o ouvido grudado na porta encostada, tentando ouví-las, mas elas permaneciam em silêncio. Ao virar-se, os olhos de Sinuhe encontraram sua mãe, fazendo com que travasse no lugar, sem conseguir se mover.

Find Me - Camren (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora