Sinto sua falta

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Los Angeles, 18 de junho de 2024
Enquanto Camila e Hayley terminavam de arrumar o novo quarto da criança, Shawn instalava a cadeirinha no carro da latina. Hoje, ela finalmente buscaria sua pequena Lauren no orfanato e contava com a ajuda dos amigos para isso. Todos os papéis já haviam sido assinados. Tudo já estava pronto, só bastava que buscasse sua filha e ela seria sua para sempre. Era um contentamento que não sabia descrever. Depois de tanto tempo mergulhada em melancolia, era a primeira vez que a latina sorria. Podem checar se quiserem, desde que Camila acordou, ainda não havia dado um sorriso verdadeiro, genuíno, legitimamente feliz. Ainda sem poder dirigir por orientações médicas, sentou no banco do passageiro, enquanto Shawn tomava o controle do carro. Hayley ficou no banco de trás, acompanhando a paisagem pela janela, enquanto ouvia os amigos conversarem. O carro logo parou em frente à casa de adoção. Desceram e entraram no pequeno prédio. Camila ficou de frente para sua filha mais uma vez. Pegou-a no colo com a sensação de alegria por não ter que soltá-la ao final do dia lhe invadindo. Focou nos olhos castanhos do bebê, que eram praticamente iguais aos seus.

-Oi, Lauren. Pronta para ir para casa? - disse, enquanto a filha segurava seu dedo indicador com a mãozinha. - Você é minha, agora. Vamos ser ótimas amigas, não é? - a criança sorriu para Camila, que deixou um beijo em sua cabeça, após tanta fofura. - Eu te amo. Acho que devemos ir, não é?

Camila colocou a filha na cadeirinha, afivelando o cinto de segurança. Sentou no banco de trás do carro para ficar junto com Lauren. Shawn dirigiu novamente, agora com Hayley sentada ao seu lado no banco de passageiro. Os dois deixaram a latina em casa e foram embora depois de ter certeza de que tudo estava sob controle. A cubana carregou a filha no colo, tentando fazer com que dormisse, mas a criança parecia mais encantada com as paredes e o teto do que com a ideia de adormecer. Camila caminhou pela sala, mas parou ao ver que os olhinhos de sua filha pousaram em um porta-retrato com uma foto dela e de sua falecida namorada. Suspirou ao ver a maneira como os olhos da criança pareciam hipnotizados pela foto.

-Você gostou dela? - perguntou. - Eu também acho aquela a mulher mais linda do mundo. O nome dela é Lauren, igual o seu. Ela é sua mamãe. Eu sou sua mama e ela é sua mamãe. Eu escolhi esse para mim, porque sou cubana, sabe? É como eu chamo minha mãe. Espero que nós tenhamos um vínculo tão forte quanto o meu com ela.

Ao focar seu rosto na filha novamente, percebeu que ela havia dormido durante seu monólogo. Sorriu por ver Lauren tão pacífica e calma. Subiu as escadas com ela no colo, caminhando até o quarto, que antes era vago, mas agora tinha uma nova dona. Colocou o neném gentilmente no berço, evitando acordá-lo. Deixou um beijo na testa de sua filha antes de seguir para seu próprio quarto, finalmente podendo descansar um pouco.

Los Angeles, 22 de junho de 2024
Ariana dirigia até um estúdio de tatuagens, com Camila no banco de passageiro. A latina havia deixado sua filha com seus pais, pois sua melhor amiga queria levá-la para sair um pouco. Dizia que era como uma despedida de solteira, mas para virar mãe. A cubana não estava em posições de recusar nenhum convite que lhe tirasse de casa, já que ainda não havia voltado a trabalhar e ficava ali o dia todo. Não demoraram muito para chegar aonde pretendiam. Desceram do carro e entraram no local que parecia muito confiável e bem cuidado. Apesar de ser uma fã de tatuagens em outras pessoas, Camila não foi até lá com a intenção de marcar o seu corpo. Estava apenas acompanhando Ariana que faria mais uma tatuagem em meio às tantas outras que já tinha. Logo separaram-se, a latina permaneceu na recepção observando os cadernos de desenho e as outras pessoas entrando e saindo pela porta, enquanto Ari era levada para outro cômodo pelo tatuador. Após esperar um pouco, a cubana foi abordada por uma das jovens, que trabalhava ali.

-Você já foi atendida? - perguntou gentilmente.
-Não, obrigada. Só estou acompanhando uma amiga.
-Tem certeza de que não quer fazer nada? Não há nada importante para você que queira lembrar para sempre?
-Até tem, mas nunca pensei em marcar meu corpo com isso.
-Não é tão importante a ponto de lembrar-se para sempre?
-É muito, na verdade.
-Por que não vem comigo? Acho que podemos fazer algo incrível com você. - Camila sorriu enquanto seguia a garota para uma sala um pouco mais reservada. Sentou-se de frente para ela. - Já sabe o que quer fazer?
-Tem essa data que é muito importante para mim. 3 de abril. Talvez pudesse fazer algo pequeno no meu pulso. - disse levantando a manga da blusa.
-Você prefere uma barra ou um ponto para separar os números?
-Um ponto.

A garota colocou as luvas. Segurou o pulso direito de Camila com delicadeza, esterilizando-o com um paninho com álcool. Ligou a máquina e aproximou a agulha da pele da latina. Não demorou muito para que sentisse a dor das pequenas perfurações, marcando-lhe para sempre. Quando a jovem terminou, afastou as mãos da cubana, que encarou a tinta preta e um pouco de sangue em sua pele. 03.04. Agora estaria ali para sempre. Em todos os momentos de sua vida, lembraria de Lauren. Não ousaria esquecer, nem mesmo por um segundo, e se sua mente eventualmente falhasse em algum momento, sempre teria seu corpo para se lembrar do dia em que perdeu a pessoa mais importante para si. Ao prestar uma homenagem, Camila acabou criando uma tortura para si mesma. Por mais que tentasse evitar que sua mente lhe bombardeasse com imagens de Lauren, sempre teria seus pulsos para se lembrar de que a morena nunca mais estaria ao seu lado. Antes tinha momentos em que poderia não lembrar-se dela, agora era como se proibisse a si própria de ter um momento de paz. A data e a tragédia lhe acompanhariam para sempre.

Los Angeles, 05 de julho de 2024
Camila estava no consultório do psicólogo novamente. Estava indo regularmente, como havia prometido para seus pais. Nas primeiras semanas, ia apenas por obrigação, mas com o passar do tempo gostava de conversar com o rapaz. Parecia que realmente lhe ajudava. Era algo que aprendeu a apreciar. Não reclamava mais de ter que ir para a terapia. Admitiu que era algo para seu bem e não era algo que detestava. Afinal, havia melhorado expressivamente. Era claro para todos. Estava longe de estar curada, mas vê-la sorrir passou a ser mais frequente. E o sorriso da latina era algo que todos vinham batalhando demais para obter. Foi chamada para dentro da sala do ruivo. Cumprimentou-o brevemente com um aperto de mão. Conversaram sobre um pouco da vida da latina, especificamente sobre como estava tomando seus remédios e se estava fazendo tudo corretamente, para que melhorasse de vez.

-Fico feliz que que esteja seguindo o tratamento à risca, Camila. - disse, enquanto observava-a sentar na poltrona à sua frente.
-Eu também. Para ser honesta, não achei que conseguiria.
-Estou orgulhoso. - disse, fazendo-a sorrir. - Alguma novidade?
-Apenas me adaptando a cuidar de uma criança. Ser mãe foi a coisa mais difícil que eu decidi fazer.
-Imagino. Como está Lauren?
-Bem. Acho que estou fazendo um trabalho razoável.
-Deixe de ser modesta. Aposto que está fazendo um ótimo trabalho. - a latina manteve o sorriso no rosto. - E as alucinações? Teve alguma recentemente?
-Não. - disse orgulhosa. - A última foi aquela de um mês atrás. Os remédios parecem estar ajudando.
-Isso é bom. - disse focado em sua prancheta, anotando o que Camila lhe dizia. - Você tem se sentindo cansada ou sem ânimo? Porque, se sim, significa que exageramos na dosagem.
-Não, muito pelo contrário, tenho me sentido viva, como não acontecia em um bom tempo.
-Você parece estar reagindo muito bem ao tratamento, Srta. Cabello.
-É sobre isso que eu gostaria de falar. Eu estava pensando e, agora que estou bem, quero voltar a trabalhar.
-Achei que dinheiro não fosse problema para sua família.
-Não é. Mas me sinto inútil em casa. Sinto falta de sair, de ganhar um processo e da animação que isso me causa.
-Você acha que está pronta para isso? - perguntou, focando nos olhos castanhos.
-Sinceramente, acho que já progredi o suficiente para voltar a fazer as coisas que me animam.
-Tudo bem. Vou conceder a liberação para o trabalho. - viu a alegria tomar conta do rosto da latina. - Mas, você tem que prometer que não vai abandonar o tratamento.
-Eu prometo.

Camila observou animadamente o rapaz imprimir sua liberação médica e assinar. O sentimento de impotência deixou seu corpo assim que tomou o papel em mãos. Voltou para sua casa, encontrando sua mãe e Sofia tomando conta de sua pequena. Havia deixado Lauren com as duas para poder ir até a terapia. Tomou sua filha em seus braços, enchendo-a de beijos. Despediu-se de sua mãe e irmã, observando-as deixar sua casa. Já era algo próximo de 7 horas da noite. Como Sinu já havia dado banho e colocado pijama na neta, Camila teve o trabalho apenas de colocá-la para dormir. Lauren estava cansada e com os olhos pesados, não demorou muito para que dormisse. Camila entrou no banheiro para escovar os dentes. Enquanto suas mãos atingiam a água, seus olhos mirava a tatuagem em seu pulso, suspirando. Sussurrou "Sinto sua falta", antes de voltar ao seu quarto.
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É isso, meus anjos
Beijos delusionals, bia💕

Find Me - Camren (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora