Capítulo 3 - Jogos do destino

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O vento trazia uma quantidade absurda de areia para a velha e destruída construção. Era raro acontecer uma tempestade de areia tão forte e Bruno, mesmo vivendo ali por cinco anos, podia jurar que nunca tinha acontecido coisa igual. O material improvisado usado para fechar as janelas tremiam tamanha a força da areia sendo jogada para todas as direções possíveis, era incrível como tudo daquele mundo desconhecido colaborava para a destruição dos seres vivos.

Bruno, ao perceber a mudança do clima, começou a ter um de seus surtos de preocupação. Seus olhos cinzentos buscavam qualquer pista sobre o que acontecia do lado de fora, espiando pelas falhas entre as pedras das paredes, seu cabelo escuro caindo sob seus olhos dificultava mais ainda suas tentativas.

— Eu não tinha que ter pedido para Sayla e Frederick irem fiscalizar se está tudo bem. Mas que por...

— Pare de reclamar, Bruno! Estou tentando me concentrar. — Hector berrou com ódio. Com sua cadeira de rodas para lá e para cá por todo o espaço, ele segurava várias pedrinhas e tentava escrever algo de útil nas paredes do lugar para incluir em um de seus livros no futuro.

— Como não está preocupado com sua irmã? Sayla está lá fora no meio dessa tempestade e você está aqui só se importando com malditos livros! — Bruno retrucou. Seus punhos continuavam cerrados e seu olhar indignado.

— Ela sabe se virar muito bem e, além disso, ela está com o gênio. — O loiro pela primeira vez do dia tirou sua atenção dos seus rascunhos e fitou Bruno com tédio e irritação. — Nada de ruim irá acontecer com eles, só não prometo o mesmo sobre você se continuar a me perturbar.

Merópe Maia deitada em seu colchão, feito da única coisa que existia por todo lugar, areia, assistia toda a cena rindo tanto que pequenas lágrimas surgiam ao redor de seus olhos azuis cintilantes e sua barriga doía levemente.

Bruno, impulsivo e orgulhoso, não deixou de rebater com uma resposta tão rude quanto a que lhe foi dada. Hector deixou de lado suas ideias e verdadeiras preocupações para se dedicar inteiramente a discussão, fazendo questão de movimentar sua cadeira até estar perto o suficiente do garoto "mais rabugento dos dois mundos".

O espetáculo só chega ao fim quando, abrindo a pesada porta, que na realidade não passava de uma enorme pedra que eles tinham que rolar para os lados, Sayla invade o local sendo acompanhada de Frederick.

O último, para a surpresa de todos, carregava uma linda jovem de cabelo ondulado e rosto delicado e, mostrando sem nenhuma vergonha seu eterno sedentarismo, largou a garota inconsciente no primeiro colchão que encontrou em seu caminho.

Hector, irritado pela quantidade de areia entrando no cômodo, movimentou sua mão na direção da porta e, com o poder do comando de sua mente, é fechada em um baque fortíssimo.

— Encontramos ela um pouco distante daqui, por esse motivo demoramos mais que o normal. — Sayla começou a explicar ao conseguir interpretar as emoções agitadas de Bruno. — Teve muita sorte, se eu não estivesse junto com Frederick e sentido sua presença ela estaria morta pela tempestade agora.

— E pelos meus cálculos o portal dessa vez apareceu no céu, até agora a única explicação para ela ter sobrevivido a queda é a areia ter amortecido ou o poder que ela tem ajudou de alguma maneira. — Frederick revirou seus olhos, todos deviam saber disso, pois é óbvio, mas, como todos são lerdos, precisam de uma descrição detalhada. ― Ou seja, isso explica o motivo dela estar desacordada, a pancada deve ter sido forte e ela passou a noite inteira lá fora.

Todos se aproximaram da nova integrante do grupo, curiosos e ao mesmo tempo aflitos. Cada um deles teve uma reação diferente ao passar pela situação de estar em outro mundo, com pessoas desconhecidas e longe da família, sendo a pior reação a de Merópe, que ficou dias sem comer, sem conversar, isolada de tudo e todos. Até hoje a menina de olhos azuis encantadores não se recuperou totalmente, conseguindo por anos não dormir de forma satisfatória.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora