Capítulo 7 - Novas terras

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Caminhavam sem rumo, a esperança cada vez mais fora de alcance. O cenário, por mais que andassem, continuava o mesmo. A areia fervia e o vento espalhava mais o calor, como se estivessem em um grande forno com vapor quente fritando seus fracos corpos. Lorrayne mantinha a cabeça baixa, parecia deprimida, entretanto estava longe desse sentimento. Queria descobrir o porquê de seu melhor amigo estar agindo mais estranho que o de costume e tentava adivinhar algum motivo que levou a isso.

Desde a noite passada, desde a última conversa que tivera com ele, Dmitri a ignorava sem disfarçar. De manhã tratou de fugir da loira, ficando aos cochichos com seu novo bicho de estimação, e quando Lorrayne se aproximou o jovem deu uma desculpa qualquer e, novamente, conseguiu escapar de um simples "olá".

A loira sabia que ele escondia algo, anos de amizade e convívio fizeram eles se conhecerem bem demais, porém, agora, tinha mudado um detalhe. Dmitri não estava mentindo para seus pais ou para qualquer outra pessoa, era Lorrayne, nunca escondiam nada um do outro!

Pelo menos era o que a garota acreditava, afinal, depois do ocorrido com sua irmã, Louise, não duvidava de mais nada, mas torcia que fosse só um mal humor passageiro do rapaz e não algo mais sério. Não queria perder a confiança que tinha nele... ou será que o motivo do estranho afastamento se referia a sua nova decisão de querer mudar e tentar ser uma pessoa certa e melhor? Ele estava a achando chata por culpa disso e iria se afastar?

O fitou pela décima vez e obteve a mesma informação que já possuía. Dmitri sussurrava palavras desconhecidas para o vento (Uma música, talvez?) e como plateia Ônix, que se divertia com suas maluquices.

Começara a ficar entediada. De todos, ela era a mais firme na caminhada pelo deserto, uma vez elementar do fogo o calor não a prejudicava, mas a fome estava presente a torturando sem pausas ou descanso. Nunca tinha passado fome na vida e sentiu-se péssima ao lembrar que teve várias chances de ajudar quem precisava nas ruas de Eclípcia e não fazia absolutamente nada, agora ela estava em uma situação parecida com a daquelas pobres pessoas.

Sem ter o que fazer, e necessitando de uma distração melhor que seu pensamento, prestou atenção na conversa dos outros do grupo que estavam alguns passos mais adiantados que ela.

Bruno, como o paranoico que era, vigiava cada lado possível enquanto continuava na frente guiando o grupo para o desconhecido. Seu cabelo liso caía a cada segundo em seus olhos cinzentos, o fazendo protestar aos resmungos, sozinho, toda vez. Seu rosto ficava mais pálido conforme o dia passava —Talvez a fome? — Pensou Lola. As roupas sujas e rasgadas o deixavam com um ar doente e miserável, mas impossível de não notar, era um doente miserável bonito.

Hector, agora sem sua cadeira de rodas, continuava usando como apoio o braço gorducho de Frederick. O último discutia sem parar sobre o quanto o cadeirante estava pesado e que esse peso estava danificando sua coluna, que diferente da coluna de Dmitri a sua não se curava rápido. Mas mesmo com suor pingando de seu cabelo loiro, mesmo mancando, mesmo com fome, sede e exaustão Hector tinha forças para rebater com ótimo humor todos os berros do gênio e, ainda, com um sorriso irritantemente debochado em seus lábios finos.

Frederick teve que guardar seus óculos em seu único bolso da bermuda, o que era uma péssima ideia, mas não teve outra opção se quisesse continuar com eles inteiros depois. Suas bochechas pareciam dois tomates de tão vermelhas que estavam e seus olhinhos pequenos e puxados pareciam ter diminuído mais ainda de tamanho com a luz forte do sol batendo e sem o grau dos óculos presente.

Logo atrás dos meninos estavam Sayla e Merópe Maia. Para Maia faltava pouco para cair desmaiada de sono e cansaço. Nos dias normais a linda jovem de olhos com a essência do mar já parecia fraca e prestes a dormir por séculos, agora, com essa aventura louca, sua aparência só piorou drasticamente. Utilizava seu poder para ajudar a todo momento seus amigos quando sentiam sede, o que sugava mais energia do que realmente tinha em seu pequeno corpo, sendo preciso muita força de vontade da sua parte para ainda estar de pé e conversar normalmente.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora