Capítulo 30 - Os irmãos Santana

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Eram bolinhas coloridas de vidro, uma por uma elas iam caindo de encontro ao chão, mas por algum motivo elas não quebravam, por mais que aquele movimento se repetisse elas continuavam sem uma rachadura. As crianças, que se divertiam com isso, riam abertamente, sem arrependimento ou medo.

O barulho que as bolinhas reluzentes e brilhantes faziam alegrava todos da rodinha e quando não quebravam e se demonstravam fortes causava certa curiosidade e raiva por não quebrarem mesmo sendo claramente de vidro, o que explicava o porquê de todas as crianças continuarem tentando e tentando.

Hector era como aquelas bolinhas.

Filho de dois cientistas excepcionais de Lua Azul e irmão mais novo de uma garota perfeita, o menino que cursava o seu segundo ano de experiência em um colégio se sentia, e era, a sombra da família.

Tinha pouca idade, apenas 6 anos de vida, mas já era idade suficiente para conseguir se comunicar com outras pessoas e crianças, o chamado "fazer amigos" e "se enturmar". Pelo menos era isso o que todos o diziam, fazendo sua família passar uma completa vergonha pelas ações, ou melhor, a falta de ações do caçula.

— Eles ainda estão te evitando? Não me diga que implicaram com você novamente! — Sayla surgiu de repente atrás do irmão, o abraçando, fazendo o garoto ficar por alguns instantes imóvel.

O dia estava perfeito. O sol não tão forte iluminava a pracinha próxima ao colégio das séries experimentais, ou seja, o colégio primário de Lua Azul. Seus raios coloridos traziam mais cores para as árvores, para os olhares de todos os presentes e a grande movimentação ao redor enquanto os pássaros faziam sua parte com belas canções da pouca natureza que ainda resistia no lar de vários cientistas e suas tecnologias.

Mas Hector desconfiava que aquilo tudo era planejado, assim como tudo era na região Lua Azul. Nada era natural, tudo feito por cálculos e mais cálculos. Até as risadas das crianças que preenchiam os brinquedos, o barulho do trânsito de pessoas e transportes, assim também como os professores que passavam sorrindo ao estarem indo embora depois de mais um longo dia de aula.

Tudo parecia tão... superficial, pelo menos para o menino loiro.

Mas havia uma única coisa, apenas uma, que era verdadeira para ele e capaz de o fazer sentir algo.

Sayla, dois anos mais velha que ele, esbanjava um sorriso iluminado por nenhum motivo em especial. Desfilava com seu vestido volumoso de flores e sapatinhos vermelhos, como uma primavera infinita, e seus olhos mesmo com uma cor escura possuíam um brilho incomum, uma mistura surpreendente de gentileza, bondade e inocência. Seu cabelo longo e liso, tão escuro quanto seus olhos pretos, combinava perfeitamente com sua pele naturalmente bronzeada e a flor rosa que amarrava suas mechas sedosas no alto de sua cabeça a deixava ainda mais bela e suave.

Ela encarava admirada o mesmo que Hector observava junto a ela e, não tendo consciência do que o seu irmão realmente pensava, simplesmente falou ao não receber respostas ainda abraçando suas costas, com um sorriso imenso em seus lábios.

— O dia está perfeito hoje, não? Entendo o porquê de gostar tanto de observar o céu, as pessoas... é tão bom! É reconfortante, né? Ver os sorrisos de todos.

Era esse o problema principal. Sayla era a primavera e ele, obviamente, o inverno, frio e cruel, branco e sem cores, vivo, mas também morto.

— Vamos logo para casa, irmã. Nossos pais podem reclamar ao chegarem em casa e não estarmos lá, sabe disso. — Hector lembrou, empurrando a menina para longe dele e cancelando o abraço inapropriado. — E eu não entendo o que diz, não sinto nada ao olhar tudo isso, é somente desgastante.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora