Capítulo 14 - Adeus Frederick

221 40 121
                                    

Nunca soube o porquê de ter sido deixado no orfanato. Chegou no lugar ainda recém-nascido, sem pais e sem informação nenhuma, exceto a única coisa deixada com ele, um nome, Frederick.

O menino gorducho conforme crescia perguntava sobre sua origem e sobre como tinha parado em Lua de Sangue, entretanto nunca obteve as respostas, pelo menos não convincentes. Os mais velhos pensavam que por serem crianças não tinham noção da verdade e da mentira, Frederick não sabia das outras, mas ele era, sem sombra de dúvidas, inteligente o suficiente para reconhecer o que era mentira e o que era verdade.

Com o passar dos anos o gordinho simplesmente deixou o assunto de lado e foi em busca do seu futuro. Decidiu deixar o passado no lugar que deveria ficar, esquecido, para trás, pois de nada iria adiantar saber de seus pais biológicos, não mudaria nada em sua vida. Então, deixando sua curiosidade obsessiva no passado, frequentou pela primeira vez a escola, lugar onde finalmente se encontrou e decidiu o que queria para o resto de seus dias.

Estudar, conhecer, aprender, descobrir... ele se encantou por esse mundo. O conhecimento era algo espetacular na visão do menino fofo e preguiçoso. Com apenas 4 anos já buscava aprender matérias mais avançadas. Enquanto seus amiguinhos de turma aprendiam a ler e escrever ele aprendia, no quintal do orfanato, fórmulas mais complexas de matemática, como por exemplo, as leis básicas de invocação geométrica.

Sua inteligência não era comum, conseguia aprender tudo em míseros segundos, analisava o cenário ao seu redor de forma diferente dos outros e sua visão era até mesmo crítica. Sempre carregava consigo uma simples pergunta: "por que? ".

Por que a chuva caía? Por que o céu era azul? Por que o ar era invisível, mas mesmo assim podia senti-lo?

Roubava os cadernos e livros dos garotos mais velhos do orfanato na intenção de estudar, o que o colocava em muitas encrencas por ter pego sem pedir primeiro e, desse modo, quando chegava na escola sentia tédio pois enquanto todos aprendiam dois mais dois ele já sabia ciências químicas.

Com 6 anos tinha terminado de estudar e entrou em desespero. Surtando por dentro ele se perguntava o que faria a seguir. Como assim tinha acabado todas as informações do mundo? Só era aquilo? Não! Ainda tinha tantas perguntas sem respostas, ele queria mais, não podia parar.

Ele resolveu descobrir. Por que depender dos outros para saber? Ele mesmo iria explorar e fazer seus próprios testes e cálculos.

Infelizmente Frederick não fora adotado. Ele se concentrava tanto nos estudos e em suas próprias teorias que esquecia uma parte essencial de sua vida e a vida de qualquer ser, o amor. Não tinha amigos, ninguém queria o adotar por ser "obeso de mais" e "estranho" e não tinha afeição por nenhuma senhora que cuidava de todos do prédio velho. Ele não sabia o que era amor, seja de amigos, dos pais, de irmãos ou paixão.

Negava para si mesmo, mas no fundo era triste por tal constatação.

Até que conheceu Bruno.

O prédio precário de Lua de Sangue servia como abrigo para as crianças órfãs, apesar de ser totalmente perigoso por ter partes da estrutura quebradas e ferros soltos pelo chão, recebia mensalmente um pouco de dinheiro do governo que não dava para cobrir todos os gastos do lugar. Então, vinha a parte suspeita, toda semana pelo menos uma criança desaparecia sem deixar pistas, dessa forma fazendo o orfanato não ficar tão lotado quanto deveria.

As pessoas em volta não percebiam e, se o faziam, fingiam que nada estava acontecendo, mas Frederick não. O garoto tinha descoberto e, encabulado, tomou iniciativa de fazer algumas investigações quanto aos desaparecimentos.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora