Capítulo 32- Guerra de igualdade

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Um som triste percorria todas as construções que sobraram da capital de Mercurinonis, mais um para completar todas as tragédias que aquele ambiente presenciou. Ecoando pelo solo e sendo levado pelo vento, os gritos de dor, angústia, ódio e fúria destruíam não só o portador desses sentimentos como também os de quem assistia sem poder fazer nada para ajudar.

Dmitri socou o chão sem aviso obrigando Ônix a correr para longe pela explosão assustadora de concreto e terra. Tal ação não causou danos à Dmitri, mas em compensação um buraco fundo se formou onde eles estavam e explicar mais tarde para os outros o que significava aquilo seria o mais desgastante de tudo.

— Não existe! — Ele gritava em desespero, jogando o velho diário de feitiços que o acompanhou até ali para qualquer direção, batendo coincidentemente no focinho de Ônix, que não teve nem coragem de reclamar. — Não existe feitiço para vencer a morte, muito menos para voltar no tempo! Então para que me serve essa porcaria de magia? O que adianta eu ter todo esse poder se não posso fazer uma coisa simples como salvar a Sayla? Por que eu existo se sou inútil para isso?!

O silêncio seguiu por alguns segundos. O felino não sabia dizer o que era pior, ouvir os gritos dolorosos de Dmitri ou ver seu olhar vazio fitando o horizonte em uma dor profunda e silenciosa.

O garoto solitário de Eclípcia tinha guardado sua dor até ali, não queria demonstrar isso para ninguém, bastava a dor que todos estavam sentindo, seus amigos não precisavam lidar com aquilo também. E, além disso, ele preferia se recuperar sozinho como sempre fez.

Os primeiros sinais de um novo dia já apareciam, o céu clareava com a presença do lindo e perigoso sol. Ônix olhou com certa lamentação para os raios solares relembrando de memórias que preferia não ser possível se lembrar nunca mais, contudo, vendo o sofrimento de Dmitri, era impossível para o bichano não recordar do seu próprio passado e de como as histórias se repetiam cada vez piores.

— Adrian está certo, mesmo que eu consiga ter o meu poder completo e não dependa mais desse livro nada me garante que eu vou poder realmente trazer ela de volta. É claro que não vou, sempre soube que a morte é inevitável e uma hora isso aconteceria com a Sayla também. — Dmitri falou respirando fundo e retornando a sua razão, surpreendendo Ônix com a mudança tão inesperada. O garoto problemático secou suas lágrimas com a palma de sua mão e buscou ficar perto de seu amigo, agarrando de volta o seu livro caído. — Se eu, nada e nem ninguém pode trazer ela de volta só resta aceitar. Vou fazer Hector sofrer e encontrar um novo objetivo para a minha vida.

Ônix o olhou, com aqueles olhos grandes e amarelados, com curiosidade e grande admiração. Podia não parecer, mas o garoto que se tornou seu grande amigo, depois de tantos séculos em que o bichano vagava sozinho, era extremamente forte. Porque Dmitri não sentia medo da dor ou da incerteza, ele desafiava não só o mundo e o destino, mas também ele mesmo.

E agora ele tinha se desafiado a seguir em frente, mesmo que no momento ele não tivesse motivos para isso, porque ele seguia sem arrependimentos apesar de estar se tornando uma pessoa diferente do que era.

Sim, só o restava aceitar.

Pela quinta vez Lorrayne rolou na cama mudando de posição, fazendo a madeira dar um estalo preocupante e agora ela podia ver novamente o teto precário do único quarto da casa.

— Tem mais alguém acordado ou apenas eu que não consigo dormir? — Questionou inquieta. As cenas se repetiam a todo instante para ela e fechar os olhos só piorava e trazia à tona a morte de Sayla e toda aquela história absurda, então dormir estava fora de cogitação para ela, sem contar a ansiedade e preocupação sobre o retorno para Palladino.

E pensar que a única noite que conseguiu ter pose da cama seria logo a que ninguém estava conseguindo pensar com clareza, a noite mais difícil para eles.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora