Não era a primeira vez que Lorrayne se sentia deslocada, sem lugar e sem papel fundamental. Dmitri tinha acordado e em segundos ficou rodeado de perguntas e agradecimentos. Por estarem em um lugar quente e bonito o grupo merecia depois da árdua batalha se distrair um pouco, se divertir um pouco, então, na manhã ensolarada, todos partiram para uma lagoa próxima da casa que estavam.
A refeição foram os cocos que encontraram no caminho, a conversa preenchida por boas risadas, nem parecia que no dia anterior Merópe Maia estava entre a vida e a morte. Bom, depois de um tempo vivendo daquela forma já era natural para os adolescentes agirem assim, conversas jogadas fora em alguns momentos curtos e em outros estavam em lutas pela sobrevivência.
Lorrayne chegou a acompanha-los até o fim, até se achar um peixinho fora d'água. Diferente de Dmitri, a loira sempre teve dificuldades em interagir com os outros, mesmo não aparentando ser esse tipo de pessoa. Não, ela não era uma antissocial dramática, apenas... se sentia diferente das pessoas próximas, uma das consequências de conviver com seu pai, mais uma que carregaria pelo resto da sua vida.
Sobre Dmitri... não sabia, depois de tudo o que presenciou, se estava sendo correta com ele.
A lagoa se localizava exatamente no meio de um campo de cogumelos, minúsculos e amarelos, que rodeavam a água e os adolescentes. Alguns além de amarelos tinham uma pequena mudança de cor, passando para um fraco branco que brilhava na luz do dia.
Já tinham mergulhado na água e agora apenas conversavam na beira. Merópe Maia aproveitava a oportunidade para pensar mais sobre ela e Frederick. Se arrependeu amargamente assim que tirou os pés da casa da árvore, não queria deixar o gênio pensando que o sentimento não era recíproco, por isso mais tarde conversaria com Sayla, talvez a amiga tivesse um bom conselho para ela.
― Antigamente, assim que eu cheguei em Mercurinonis, não conseguia nem trazer água para perto, foi difícil eu pegar prática em controlar meus poderes. Mas, enfim, será que vamos recuperar nossos poderes elementares ou... eles desapareceram para sempre? É bom, mas depois que lidamos com isso por tanto tempo é tão angustiante ver desaparecer dessa forma, de repente...
― Eu obriguei Frederick a treina-la, uma vez que o poder dela seria muito útil para a gente lá no deserto. ― Bruno comentou, suas roupas assim como seu cabelo estavam encharcados. Ele sorria lembrando da memória antiga, fazendo a respiração da elementar do fogo falhar. ― E eu não acho que perdemos os nossos poderes, não tem como simplesmente tirar isso de nós.
― Falando no Fred, ele não estava aqui? ― Sayla questionou. ― Não escuto mais a voz dele.
― Que continue assim. ― Hector falou distraidamente. O sol ao bater em seus olhos o deixava ainda mais diferente, um espetacular show, parecendo que seus olhos e fios amarelados se juntavam e faziam parte da natureza, do sol, se encaixando perfeitamente no ambiente.
― Ele voltou para a casa, disse que tinha que resolver a questão da saída desse lugar. ― Bruno respondeu com sua testa um pouco franzida. ― E também disse que poderia ter um grave acidente se continuasse sem seus óculos.
Lorrayne nem prestava atenção de verdade. Forçava um sorriso quando notava que todos estavam gargalhando somente para não acharem que tinha algo de errado acontecendo com ela, entretanto, na realidade, tinha muita coisa de errado acontecendo com ela.
Ela saiu tão silenciosa de lá que, juntamente com a distração da conversa, ninguém notou sua ausência.
Não soube para onde estava indo até seus pés descalços tocarem na areia úmida, chegou na praia de forma aleatória e ficou pelos seus pensamentos. Sua única roupa, que a acompanhava desde o início dessa jornada, continuava molhada por ter nadado na lagoa junto com os outros. Sua blusa, feita do tecido do seu antigo vestido azul marinho, ficava ainda mais justa nela por estar encharcada e o mesmo acontecia com seu short, feito de uma mistura de tecido e plantas. As conchas que enfeitavam as bordas de sua roupa já tinham sido destruídas há tempos.
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O Tempo é o inimigo
FantasyExistem dois mundos completamente diferentes um do outro, Palladino e Mercurinonis. Apesar de suas diferenças eles sempre estiveram conectados, porém o motivo dessa estranha aproximação era desconhecido até pelos melhores cientistas. Essa união acon...