Capítulo 17 - Praia solitária

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 O mar era a coisa mais linda que podia se ver, as ondas vinham, molhavam a areia e, de forma rápida, voltavam para sua origem. Em um ciclo interminável, o barulho da água era o calmante mais agradável do universo. Fechando os olhos e sentindo a brisa fresca notava o quanto a natureza era perfeita. No céu não existia uma única nuvem, apenas mostrando o azul claro infinito, e o cheiro da água salgada invadia seus sentidos e sua alma. Sim, a paz era algo bonito de presenciar.

Seus pés descalços sentiam a quentura da areia e os pequenos grãos fazendo cócegas, mas não era tão insuportável quanto a areia do deserto, muito pelo contrário. O sol não tinha a necessidade de tentar derreter tudo a sua volta, ele apenas cumpria seu papel, não sendo nem muito quente e nem muito fraco.

Não muito distante de onde estava havia uma linda casa em uma das árvores, pequena, entretanto confortável e linda. Àquela casa não era a única, também tinha outras idênticas espalhadas ao redor, e se encontravam vazias, parecendo apenas esperar por mais convidados.

Ele não fazia questão de se perguntar onde estava ou pesquisar a respeito como normalmente faria, queria pela primeira vez aproveitar algo sem preocupações e, até o momento, seu plano estava indo muito bem. Rindo à toa e bebericando um pouco de água de coco refletia olhando para a água cristalina do mar. Não tinha ideia do quanto sentia falta da sua própria companhia, do quanto sentia falta da solidão, de poder ouvir sua própria respiração e seus pensamentos com clareza.

Se ele realmente tinha morrido era certeza absoluta que estava no tão sonhado paraíso, e não queria sair dali de forma alguma.

― Se eu soubesse já tinha morrido antes. ― Falou em voz alta, depois riu de si mesmo.

E quando anoiteceu, quando a lua de cor vermelha como sangue surgiu no céu transformando a água do mar nessa mesma cor, o jovem se encaminhou para sua nova casa ainda com o ar feliz o rondando.

Essa felicidade toda durou apenas até o segundo dia no lugar.

Começou a sentir angústia, ansiedade e desespero.

Angústia de não saber como foi parar ali, que lugar era aquele e onde estaria os outros.

Ansiedade de conversar com alguém sem ser ele mesmo, de escutar vozes amigas ao seu lado e perturbar as pessoas ao redor quando o tédio aparecia.

E desespero porque simplesmente nada tinha solução, nada fazia o menor sentido. Não conseguia sair da praia solitária e não estava conseguindo enxergar detalhes sem seus óculos.

Por um momento Frederick parecia ter voltado para a época que não tinha ninguém para conversar, para amar e muito menos para contar quando as coisas iam de mal à pior. Estava sozinho novamente e dessa vez Bruno não tinha aparecido.

O gênio andou o quanto pôde na praia, mas parecia estar caminhando em círculos. Não! Não podia ficar ali! Para quem ele demonstraria sua esperteza? Como viveria sem debochar da lerdeza dos outros? Como viveria sem seus amigos e... e Merópe?

― Eu preciso me acalmar. ― No terceiro dia ele falou para si mesmo enquanto contemplava seu reflexo na água de uma cachoeira próxima da casa de madeira, seus olhos esticados procurando respostas. ― Preciso me acalmar para conseguir fazer o que eu sei de melhor, descobrir.

Aos poucos suas últimas memórias voltavam em sonhos durante a noite. Estava escalando uma montanha de gelo junto com os outros até que seus óculos caíram, então, ele não viu a rachadura no gelo abaixo de seus pés, e que graças ao seu peso acabou de quebrar, o largando de uma altura absurda direto para as estacas de gelo.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora