Capítulo 19 - Não precisamos deles

158 30 31
                                    

Apolo transitava por Eclípcia com pressa, dividindo as grandes calçadas com outras pessoas tão apressadas quanto ele. Estava à caminho da sede dos curandeiros para finalmente realizar seu exame do final do ano (isso porque o governo resolveu adiantar o processo para o total azar dos alunos), a prova decisiva do seu futuro, pois caso não tirasse uma nota satisfatória daria adeus ao seu sonho. Nervoso era pouco para seu estado.

Para completar, além de estar atrasado, não tinha estudado o suficiente para sentir-se tranquilo e sem dúvidas e ainda tinha o encontro inesperado com seu pai no dia anterior que não parava de rondar sua linha de pensamento e raciocínio de forma alguma. Foi traumatizante ver seu pai em sua frente, bem vivo, que só não voltou para casa e para sua família por livre e espontânea vontade.

Sentado em uma cadeira de ferro desconfortável, ao ar livre, esperava ansiosamente pelos apavorantes papéis que seriam entregues depois das longas e chatas palavras do homem responsável pela sua turma e por toda a burocracia do lugar. O mestre das ciências, Senhor Antônio Patrick, que cuidava não somente daquela turma de futuros curandeiros, mas também dos aprendizes para cientistas.

Depois de, aproximadamente, meia hora de espera as folhas preenchidas de questões complicadas estava na frente de Apolo. Agora era apenas ele e a prova, ele e sua pouquíssima sorte, ele e seu conhecimento.

Na primeira fase o rapaz ficou seguro de si e, confiante, respondeu todas as perguntas de forma certeira e objetiva agradecendo à Mãe Natureza que tinha lido exatamente aquela parte da matéria na noite após o encontro dele e do menino na biblioteca, porém, ainda era cedo para comemorações. Infelizmente a segunda fase, ao contrário da primeira, não tinha caído uma única palavra do livro de Apolo.

Encarava àquelas letrinhas como se fossem suas eternas inimigas, o sentimento de ódio cessou e o pavor lhe veio. Se perdesse essa prova, se tirasse uma nota baixa, não só seu sonho iria ser destruído, mas também seu futuro. Apolo teria que trabalhar pelo resto de sua vida em coisas simples e sem muita importância, talvez como vendedor da lojinha próxima, como um mero secretário do governo ou um escravo de construções de Lua Azul.

Sua mãe... como ajudaria sua mãe nessas condições? Tinha que ter alguma luz, alguma lembrança das aulas de explicações e exemplos práticos que ajudasse sua mente a funcionar.

Entretanto, por mais que tentasse pensar até causar uma grave dor de cabeça, tudo que aparecia para ele eram apenas os seus problemas cotidianos. Seu chefe, da lojinha de mercadorias de Lua Crescente, já estava ficando irritado com os atrasos e desculpas que o jovem dava para escapar do serviço e, como resultado, Apolo era constantemente ameaçado de ficar sem trabalho e sem dinheiro.

Ainda tinha sua irmã que precisava de sua ajuda o quanto antes para sair daquele lugar e sua mãe que continuava com uma doença incurável. Não há cura para a tristeza e falta de vontade de continuar a viver, por mais que Apolo fizesse o possível e impossível para ajudar a senhora de nada adiantava, tudo só parecia piorar ao decorrer dos meses...

E agora surgiu seu pai, que insiste depois de anos a voltar a ter contato com a família. Apolo bem sabia que era falsidade do homem, se estivesse mesmo interessado e com saudades já teria aparecido na porta de sua casa há tempos, nunca se mudaram, nunca deixaram de viver no mesmo endereço, ele poderia ter aparecido a hora que quisesse que mãe e filho estariam lá.

O homem, que já é um criminoso nos dias atuais, só estava demonstrando isso pois Apolo foi em busca de sua organização contra Austin Black. O homem forte e alto provavelmente só queria um aprendiz para ser o futuro chefe do crime. E quem seria melhor do que seu próprio filho?

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora