Capítulo 4 - Visitante inesperado

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Dmitri não era um elementar, não tinha um pingo de magia ou qualquer coisa sobrenatural em seu sangue, o que o fazia incompatível com o portal e com Mercurinonis, sendo que o mesmo não sabia desse pequeno detalhe. Cegos, cadeirantes e deficientes ao todo, quando mandados para o temido mundo, nem sequer respiravam o ar do novo lugar, a água mágica entrava em seus pulmões fracos e, assim, todos morriam e desapareciam como fumaça.

Era o que os elementares achavam até agora, uma informação que só eles possuíam.

Até Dmitri mudar essa teoria.

Não tinha planejado que de repente estaria naquela situação. Queria estar preparado com suas malas o acompanhando para sua nova vida, porém, como em todos os seus planos, sempre algo saí de seu controle e acaba tudo errado. Assustado, só retomou o raciocínio do que tinha acabado de acontecer quando abriu os olhos e não viu a praça, as casas e os prédios, somente o céu se distanciando e a água balançando com seus movimentos bruscos.

Nunca gostou de crianças e depois dessa passou a odiar.

Sentiu-se confuso, nada acontecia e não tinha nada de mágico naquilo, até que, para seu completo desespero, começou a ser puxado para o fundo. A água querendo acabar com seu sistema respiratório, a pressão por estar indo para o fundo fazia doer todos os seus ossos. Acabou tendo sua resposta: Lorrayne estava morta, era impossível sobreviver àquilo e ele, burro e idiota, tinha caminhado até a sua morte.

Fechou seus olhos... não, ele se negava a aceitar isso! Não podia morrer agora, queria fazer tantas coisas, conhecer lugares, conhecer histórias e descobrir mais sobre ele próprio...

Magia. Tudo o que os outros sentiram da magia ao passar pelo portal foi dor. Não sabiam, mas nem mesmo os elementares conseguiam suportar perfeitamente bem a força da magia, por isso a dor, a tontura e a sensação de se afogar, tudo consequência de estar em contato direto com a maior força existente. Todavia Dmitri não sentiu dor, tontura ou coisa parecida.

A pressão da água parou, ele continuava sendo puxado para o fundo, porém agora de forma mais delicada. Estava respirando! Respirando de baixo d'água sem causar qualquer dano em seus órgãos. Seus sentidos pareciam novos, nunca escutara tão bem em toda sua vida, conseguia captar até o mínimo detalhe do movimento da água ao seu redor mesmo de olhos fechados.

Ele agora tinha conhecimento, não importava como, mas sabia que ele e a magia tinham uma ligação que ninguém seria capaz de quebrar, a magia o escolheu.

Ao abrir seus olhos castanhos, mais brilhantes do que antes, admiração tomou conta de seus sentimentos. A água rodopiava ao seu redor como se fossem um só, ele observava pequenos pontinhos dourados flutuando, para uma visão normal seria dificílimo saber desse detalhe.

Entretanto, assim como tudo aconteceu, terminou. Aos poucos foi desaparecendo toda a magia e, em um piscar de olhos, sentiu o chão firme, o vento seco em seu rosto e areia sujando sua roupa.

— O que foi isso? — Sussurrou para o vento enquanto se levantava ainda atordoado.

Dmitri infelizmente não teve muito tempo para se recuperar e nem para pensar a respeito. Um som chegou até ele, muito semelhante ao de um terremoto, a areia se misturou ao vento o deixando sem saber o que fazer no meio de tanto barulho e poeira. Então, em meio ao caos, surgiram olhos grandes e assustadores, amarelados e nervosos, que pareciam estar em busca de algo e, quando fitaram o garoto, finalmente tinham achado.

Correu em uma velocidade aterrorizante para um monstro tão pesado e gigante. Mais areia se espalhou dificultando a vida de Dmitri, que mesmo sem saber o que era ou o que estava acontecendo tinha certeza que a melhor coisa a se fazer era fugir para o mais longe possível.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora