Capítulo 6 - A verdade dói

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Algo se movia distraidamente, mesmo com o sol quente do dia e com a areia fervendo se escondia como podia, com suas patas enormes levantava poeira para tudo que é lado para não ser visto. O grande felino passeava pelos arredores do deserto como fazia todas as tardes até sentir uma força mágica, antiga e familiar, que o causou um leve espanto. Pensava que aquilo já estava perdido em seu passado e enterrado em suas lembranças, talvez o que sentia naquele instante era uma ilusão que a sua esperança estava o causando.

Mas não pôde evitar de ser movido pela curiosidade e deixou seu disfarce para trás, resolvendo mostrar seu lindo pelo preto e olhos amarelos espertos que hipnotizavam pela beleza diferente.

Seguindo a vibração da enorme energia, com graciosidade, correu veloz em busca da origem da estranha sensação, se deparando com uma torre aos pedaços que acabara de cair segundos atrás. A poeira da areia se misturava com o pó das rochas quebradas impedindo de o bichano enxergar o que acontecia.

Milagrosamente um vento fortíssimo invadiu o local, arrepiando os pelos do felino e afastando uma boa porcentagem da nuvem de poeira e, só por isso, pôde finalmente ver a origem da magia que emanava por Mercurinonis.

No centro de toda a destruição existia algo parecido como uma brilhante bolha de sabão, um círculo perfeito, mas diferente do que aparentava não era frágil e sim forte o bastante para aguentar todo o peso das pedras, agora destruídas.

Os seis jovens fitavam boquiabertos, mesmo caídos no chão, o único em pé e responsável por ainda estarem vivos. De olhos fechados e concentrado, Dmitri nos últimos instantes, de algum jeito, conseguiu invocar uma proteção antiga que envolvia em sua composição ondas mágicas de cores roxas, azuis e pretas que rodopiavam no círculo, como a própria cor do universo. Nada podia os atingir enquanto estivessem em volta daquilo, proteção essa que atraiu a atenção do bichano atrevido.

Dmitri não aguentou por muito tempo, caindo fraco no chão assim que cumpriu o seu papel e desfazendo o feitiço com a ação. Ninguém tinha palavras para reagir àquilo, até ali nenhum elementar seria capaz de fazer algo do tipo, então como Dmitri conseguiu? Quantas surpresas poderiam acontecer iguais a essa? Do que ele era capaz?

O gato, que até então observava tudo em uma distância considerável, em pegadas lentas e silenciosas, aproximou-se dos jovens. Quando perto o suficiente teve sua presença notada, mas não se importou, seu objetivo era saber quem era o portador da magia antiga e inexistente nos dias atuais até aquele momento.

- Minha mãe natureza! Vejam isso! - Merópe gritou despertando todos de seus pensamentos, apontando hesitante para o enorme e feroz felino que estava exatamente de frente para eles ostentando seus olhos maravilhosos e julgadores.

- Mas que bicho é esse? - Bruno sussurrou já de pé, pronto para correr. O gato pareceu ofendido com o seu comentário e, em reação a grosseria, mostrou suas garras, afiadas e brilhantes como lâminas, para o garoto, que engoliu em seco entendendo o recado.

- Não parece ser como os outros monstros, até agora não nos atacou... - Frederick desviou seu olhar para Dmitri que ainda estava caído, achando, assim, rapidamente a resposta para o seu próprio questionamento. - Ele está aqui por ele.

Lorrayne não estava preocupada com o animal, sua atenção estava em Dmitri. Tentava de tudo para o acordar, mas ele não reagia. Suas lagrimas continuavam sendo seguradas porque não podia ser fraca, mesmo ali conseguia ouvir a voz de seu pai no fundo de sua consciência a dizendo claramente para nunca demonstrar fraqueza, pelo menos não na frente dos outros.

Em qualquer lugar, em qualquer situação e mesmo em mundos diferentes Austin conseguia perturbar seus pensamentos. Era um fato, por mais que o odiasse e que tentasse esquecer, seus conselhos nunca a deixavam agir por vontade própria.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora