O tempo corria, a chuva caía e a neve aumentava assim como o frio, porém, ninguém conseguia seguir em frente. A dor que sentiam era profunda, tão profunda que desde que amanheceu ninguém falou uma única palavra. Era estranho olhar para os lados e não ver o gênio reclamando de seus óculos, do seu dia e da lerdeza que o cercava. Era estranho acordar sem os gritos histéricos sobre um cálculo estar incompleto, sem alguém para dar uma explicação óbvia e sem alguém sorridente e engraçado quando queria.
Bruno não era capaz de impedir sua mente de reviver as memórias passadas, as memórias dele e de Frederick desde o orfanato. Como enfrentaram juntos as dificuldades na escola, no orfanato, nas ruas e, por fim, em Mercurinonis. O gordinho inteligente foi seu primeiro amigo, aquele que o acompanhou praticamente desde o início, eles se apoiavam em situações complicadas e se entendiam de verdade. Como viveria sem seu irmão? Sentia uma dor inexplicável em seu peito, a mesma dor de quando perdeu seus pais, estava acontecendo novamente.
E o garoto de olhos tempestuosos lutou tanto para que isso não ocorresse, para que ficassem em segurança... de nada adiantou.
Lorrayne tinha em suas mãos o mapa de Frederick, a única coisa que sobrou dele por ali, desenhada em uma das folhas gigantes da floresta, ultima coisa que ele fez e deixou para todos. Não entendia absolutamente nada do que estava ali, para ela só havia rabiscos e anotações em uma letra deplorável e ilegível. Negava, queria negar para si mesma, mas estava difícil com a verdade bem na sua frente. Não iriam à lugar algum, não sem ele e sua inteligência. Quem iria os guiar? Ninguém presente na caverna sabia as direções certas e sobre previsões do clima maluco de Mercurinonis.
Sayla tentava sentir a presença de seu amigo, mas não achava nada. Só existindo duas opções: ele estava fora de seu radar por ter deixado de existir no mundo físico ou ele estava muito longe de onde estavam. A adolescente de bom coração torcia para que fosse a última explicação e, mesmo não conseguindo nada com seu esforço mental, continuava tentando não só por ela, mas também por Frederick e os outros.
Dmitri percebendo o clima tenso e triste na caverna se permitiu sair um pouco com Ônix para respirar melhor e, desse modo, notou que no lugar onde estavam a neve e o frio não eram as únicas características principais. Não sabia se somente ele podia e conseguia sentir, mas o vento tinha um cheiro adocicado... como flores, como rosas brancas em uma linda primavera, o que era realmente estranho e interessante já que não fazia sentido algum com o cenário.
Hector, agora em sua cadeira de rodas, circulava observando os outros em um completo tédio. Sua irmã estava sentada, de pernas cruzadas e com seus olhos inúteis fixos em um ponto qualquer, provavelmente ainda insistindo em achar o gordo. Bruno sentia uma dor pesada e guardava isso só para si, colocando uma máscara inexpressiva em seu rosto demonstrando para todos que ele estava bem, mas não para o loiro escritor, não tinha como o enganar.
Lola debruçada no mapa tentava achar algum sentido naquilo, deitada de barriga para o chão e suas pernas se movimentando no alto. "Coitada", o cadeirante logo pensou, "nunca, nem se um milagre ocorresse, ela iria descobrir o que os rabiscos de Frederick representavam". Talvez ele fosse capaz, mas não estava com paciência suficiente para ajudar ninguém no momento.
Por fim, Merópe Maia, que dormia em posição fetal. Parecia calma, só parecia, com certeza estava em um de seus pesadelos como costume. Hector parou e estacionou sua cadeira ao lado dela, sabendo que ainda não era o fim, estava muito longe de ser o fim.
Maia na verdade, até o momento, estava tendo um sono tranquilo, sem pesadelos, previsões ou qualquer coisa anormal. Só até aquele instante e, então, tudo mudou.
Estava novamente em seu quarto, no porão da casa, olhando para seu reflexo no espelho. Seu cabelo longo e perfeito, o vestido branco lindo em seu corpo e uma felicidade imensa dentro de si. Seu aniversário de 15 anos...
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O Tempo é o inimigo
ФэнтезиExistem dois mundos completamente diferentes um do outro, Palladino e Mercurinonis. Apesar de suas diferenças eles sempre estiveram conectados, porém o motivo dessa estranha aproximação era desconhecido até pelos melhores cientistas. Essa união acon...