Capítulo 8 - Medos e segredos

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O fogo crepitava, o vento soprava sua brisa fria e as folhas das árvores batiam umas nas outras causando um barulho tranquilo e sonolento. Dmitri não conseguia dormir mesmo com o ambiente sendo favorável a um bom sono. Encarava as altas árvores que o impediam de observar o céu noturno de estrelas brilhantes e sentia raiva porque até a garota que não gostava de dormir estava descansando menos ele.

Em suas mãos estava um pequeno livrinho de capa preta, sim, era o livro grosso e pesado que achara na noite anterior. O feitiço para retirar os poderes dos elementares não foi o único que aprendeu lendo as páginas amareladas, também aprendeu um feitiço simples para diminuir o tamanho do misterioso livro, o que lhe foi bem útil tanto na caminhada quanto para continuar sendo um segredo.

Como não era capaz de dormir, discretamente sentou-se e olhou ao redor. Sayla continuava sentada um pouco afastada da fogueira e, mesmo se estivesse perto, não teria importância, era cega então naturalmente não poderia ver o que o jovem faria. Lorrayne e os outros, cansados, dormiam tão profundamente que Dmitri desconfiava que podia acontecer o que fosse, mas eles continuariam como estavam.

Sem perder mais tempo e com sua curiosidade a todo vapor encostou a palma de sua mão direita na capa preta antiga do livro e um brilho fraco surgiu entre seus dedos que, aos poucos, aumentou a intensidade até finalmente desaparecer por completo. Lá estava o livro, agora, em seu formato original.

Cruzou suas pernas e, como uma criança que acabou de receber seu primeiro livro, fez uma careta, porém, tinha um brilho diferente em seus olhos profundos. Tinha que admitir que daria muito trabalho e gastaria muito tempo para decorar todo o conteúdo dali, ainda mais escondido de todos, ou seja, mais um motivo para começar o quanto antes. Seu novo objetivo era aprender cada detalhe dos feitiços, poções e o que mais existisse no livro. Talvez, desse modo, achasse as respostas que tanto queria.

Por que não morreu no portal? Por que tinha essa estranha ligação com o livro, com Ônix e com tudo relacionado ao tema magia? Por que não dormia e nem cansava como um ser humano normal? Estaria deixando de ser humano ou nunca foi um? Se não era um elementar nem um humano, o que ele era?

Às vezes gostaria que Frederick e seus cálculos pudessem o ajudar de fato.

Então, na luz fraca da fogueira, ele abriu o grosso livro e tratou de começar a devorar as páginas com total atenção. Teve que segurar a risada diversas vezes durante a leitura pois, no meio de explicações mágicas e históricas, havia desenhos inusitados como borboletinhas coloridas, flores e outras bobagens dignas de uma menina de cinco anos.

Em espaços que sobravam nas bordas e no meio dos parágrafos, escrito em uma caligrafia caprichada e bonita, continha misturas de feitiços, resumos de explicações desnecessárias e, o mais impressionante, regras novas e originais criadas pela pessoa dona da caligrafia.

Será que, diferente do que imaginava, o livro não pertencia a um mago velho ou um feiticeiro poderoso e sim a uma garota? Uma garota muito infantil e inteligente por sinal... quem ela era? Rápido, Dmitri passava as páginas em busca de um nome ou algo que indicasse a identidade do antigo dono ou dona do livro, porém, foi interrompido quando estava na penúltima página.

— Por que esconder um livro?

Tamanho foi o susto que, por pouco, não deixou o livro escorregar de seu colo e ir direto na fogueira. Agarrado ao livro e com sua respiração mais controlada, se virou para encarar ninguém menos que Sayla, que tinha um sorriso brincalhão nos lábios.

O Tempo é o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora