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“Sejam educadas.” Gyuri sussurrou para as duas filhas antes de tocar a campainha. Não demorou para a porta ser aberta por um homem de meia idade, de cabelo castanho escuro com alguns fios brancos e usando óculos. Ele sorriu ao ver as três mulheres.
“Boa noite.” Ele as cumprimentou de forma simpática. “Entrem e fiquem a vontade.”
A casa não era muito grande, mas era bem cuidada e bastante organizada, com paredes claras e quadros com fotos de família sobre. Também havia uma televisão de 42 polegadas, mais alguns objetos na estante, e em um dos três sofás estava sentada uma menina de cabelos castanhos, franja, rosto cheio e olhos pequenos, que se levantou e abriu um adorável sorriso gengival no mesmo instante que elas adentraram a casa.
“Boa noite.” Ela também cumprimentou a família e se curvou diante das visitas.
Sooyoung logo soube que ela era a tal Jiwoo, filha do reverendo Kim, pois era a garota que estava nas fotos.
“Meu bem, essas são minhas filhas: Sooyoung e Hyejoo.” Gyuri apresentou a dupla de adolescentes ao homem, que se curvou para as garotas que repetiram o gesto respeitoso.
“É uma honra recebê-las em minha casa, meninas. Ansiei muito por este momento.” O homem falou sorrindo. “Aquela é a minha filha, a Jiwoo.”
“Muito prazer.” Jiwoo falou para as duas irmãs que responderam baixo.
“Nós não sabíamos direito o que fazer, então fomos pelo caminho mais simples: pedimos algumas pizzas.” Donghae falou. “Todo mundo gosta de pizza, né?”
Após as devidas apresentações, todos seguiram para a cozinha para jantar. Donghae sentou-se na mesa, Gyuri e Jiwoo sentaram-se lado a lado, assim como Sooyoung e Hyejoo. Hyejoo ficou de frente para a mãe e Sooyoung para a filha do pastor. A outra ponta ficou vazia, já que a mesa era de 6 lugares.
“É muito bom esse sentimento ao ver a mesa cheia de novo.” Donghae comentou. “Mas antes de comermos, peço que todos deem suas mãos para uma oração em agradecimento pelos alimentos que o Senhor colocou na nossa mesa e pela oportunidade nos dada de nos reunirmos nesse momento.”
Assim todos deram suas mãos, e Sooyoung pegou na mão de Jiwoo. A menina lhe deu um sorriso simpático antes de fechar os olhos, assim que Donghae começou a falar palavras de agradecimento.
Após a oração, todos sentaram-se em seus lugares e começaram a comer, enquanto conversavam. As únicas exceções eram Sooyoung e Hyejoo, que apenas comiam e só falavam quando lhes perguntavam algo.
A filha do reverendo, a tal Jiwoo, ao contrário, estava se mostrando bastante extrovertida e animada com aquela conversa e parecia interessada em se aproximar das irmãs.
“Bom, a conversa está muito boa, mas eu agora eu quero pedir licença para falar de um assunto sério.” Donghae falou após algum tempo, e olhou diretamente para Sooyoung e Hyejoo. “Eu gostaria de convidar as duas meninas para assistirem a um culto na nossa igreja.”
Era o que Sooyoung temia. Tinha certeza que teria que frequentar a igreja por causa do namoro de sua mãe, coisa que talvez não fosse problema para outras pessoas, mas pra ela, uma ateia, era um disparate.
“Um dia quem sabe?” Sooyoung respondeu com um sorriso falso, tentando parecer simpática. Hyejoo manteve o silêncio, mas a mais velha sabia que ela também não era chegada em religião.
Donghae ficou visivelmente constrangido com a resposta, resultando em um olhar feio de Gyuri para a filha mais velha.
“Sua mãe nos contou que você tem muito talento pra música, Sooyoung.” A voz de Jiwoo chamou a atenção de todos. “Você sabe tocar guitarra, não é?”
“É, eu sei.” A jovem confirmou e tomou um gole de seu suco natural de laranja.
“Sabe, estamos precisando de uma pessoa pra tocar guitarra na banda da igreja, e eu pensei que talvez você pudesse preencher este lugar.” Jiwoo sugeriu com aquele sorriso que para muitos poderia ser sinal de simpatia, mas para Sooyoung, pareceu um deboche.
As palavras da religiosa foram o estopim pra Hyejoo engasgar com o suco que bebia só de imaginar sua irmã atéia tocando em uma banda de igreja evangélica.
Foi um momento constrangedor para todos, especialmente para Gyuri, que corou violentamente, muito envergonhada com a cena feita pela filha caçula.
“Eu lembrei de uma piada... piada que a Chae Won me contou hoje de manhã.” Hyejoo mentiu na maior cara de pau, pois era óbvio pra todos que não havia piada alguma.
“Eu agradeço o convite, Jiwoo, mas eu não vou poder aceitar, porque, pra ser sincera, a minha guitarra quebrou há um tempo e eu não toco desde então.” Sooyoung disse, e não estava mentindo totalmente, mas ela poderia pensar em dar um jeito se quisesse participar daquilo. “Eu estou meio enferrujada, sabe?”
“Bom, nós temos uma guitarra na igreja, se esse for o seu problema.” A filha do pastor, respondeu, deixando Sooyoung de calça curta.
Ah como ela odiava gente que ficava encontrando soluções para os empecilhos que ela colocava nas coisas que não queria fazer.
“Bom, sendo assim, eu...” Sooyoung começou.
“Ela vai, sim, Jiwoo.” Gyuri respondeu pela filha, deixando a jovem irritada. “Sooyoung está precisando mesmo conhecer gente nova, fazer amigos.”
“Verdade, ela é muito sozinha.” Hyejoo comentou, claramente zombando da mais velha.
“A cota gamer esquisita da família não foi preenchida por mim.” Sooyoung rebateu no mesmo tom, para o horror de Gyuri, que gritava internamente e estapeava as filhas em pensamento.
Realmente, a jovem não tinha muitos amigos e até se interessaria por conhecer novas pessoas, mas não um bando de engomadinho evangélico. Esse não era o tipo de gente que ela faria amizade normalmente.
“Bom, creio que esse é um assunto que merece mais tempo para se pensar sobre, não?” Donghae interviu com um sorriso sem graça, mudando o assunto a fim de evitar maiores confusões.
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Após o jantar terminar, Gyuri quis voltar para casa o mais rápido possível, com medo de passar mais vergonha com suas filhas.
Hyejoo ficou sentada no carro, jogando no celular, enquanto sua mãe conversava com o namorado na varanda da casa.
“Me perdoe pelos comentários mal-educados das minhas filhas, Donghae, eu estou tão envergonhada por elas.” A mulher falou, emocionalmente desgastada. “Eu disse pra você que elas eram difíceis.”
“Não se preocupe, meu bem.” O homem a consolou. “É notável que suas filhas são ótimas pessoas, só estão perdidas, como ovelhas desgarradas de seu rebanho.”
“Eu só espero que esse comportamento rebelde mude com a igreja.”
“Elas vão mudar, não tenha dúvidas. Deus opera verdadeiros milagres, como no caso de Paulo de Tarso, que de um perseguidor do povo de Deus se tornou um dos mais devotos cristãos.” O reverendo falou de forma dócil. “Não podemos perder a fé.”
Enquanto o casal conversava do lado de fora, Sooyoung estava com Jiwoo na sala.
“Gostei da sua jaqueta.” A filha do pastor quebrou o silêncio incômodo que habitava entre elas. “É muito bonita.” Completou de forma totalmente inocente, sem imaginar as maldades que passavam na mente da outra, que abriu um sorriso ao ouvir aquilo. Era o momento perfeito pra ela dar o troco na crentezinha insuportável que era a culpada por ela estar sendo obrigada a participar de uma banda gospel.
“Você achou minha jaqueta bonita porque ainda não viu o que tem por baixo dela.” Sooyoung respondeu de forma sedutora e abriu um sorriso malicioso, enquanto abriu a jaqueta lentamente.
A sua ideia deu certo, já que ao ouvir aquela resposta Jiwoo corou violentamente, arregalou os olhos e ficou sem palavras, apenas observando a mais velha abrir totalmente a jaqueta e mostrar o seu cropped vermelho e seu abdômen por baixo.
A garota religiosa prontamente desviou o olhar, nervosa.
Agora Sooyoung queria ver se aquela menina pentelha iria querê-la em seu grupinho musical, já que crente tinha horror a homossexual.
Porém, naquele momento a porta se abriu e Gyuri e Donghae entraram ali. Sooyoung fechou a jaqueta rapidamente, mas era tarde demais, e as duas meninas olharam assustadas para seus pais, que pareciam tão surpresos quanto as duas.



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