49

202 12 4
                                    

Capítulo 49:
“Nossa, tá gata, hein?” Kahei elogiou Sooyoung assim que a amiga entrou em seu carro, vestindo uma calça jeans skinny cinza escuro, uma camiseta do KISS, a jaqueta de couro que ganhou de Jiwoo por cima e o tênis All Star preto. Sooyoung também prendeu seus cabelos, agora mais curtos, em um coque samurai.
Já Kahei vestia uma mini saia de sarja preta, botas de cano longo e salto agulha também pretas, camiseta cinza escura, jaqueta de couro preta por cima e os cabelos loiros soltos.
“Valeu.” Ela respondeu sem muita animação. “Você também tá estilosa.”
Já era sexta-feira à noite, e a semana que tanto sonhou, se aproximava do fim. Logo sua mãe e Donghae estariam de volta, assim como Hyejoo, e nada do que ela imaginou que poderia viver com Jiwoo se concretizou. E essa noite, que poderia se tornar um momento romântico para as duas, iria terminar com Sooyoung indo para uma festa com Kahei.
Após se curar do Rotavírus, a chinesa decidiu não perder mais tempo e voltar a aproveitar a vida, como fazia antes de entrar em um relacionamento com Haseul.
“Se anima que hoje a gente vai se divertir muito.” Kahei respondeu sorrindo, e até aumentou o volume do som de seu carro.
Estava tocando ‘Pink’ do Aerosmith.
“Pink it was love at first sight. I yell ‘pink’ when I turn out the light, and pink gets me high as a kite. And I think everything is going to be all right, no matter what we do tonight! Yeah!” Kahei cantou com a maior animação o refrão da música enquanto dirigia, já Sooyoung a olhou com certo estranhamento. Tudo bem que Kahei era mesmo uma pessoa animada, mas ela estava muito mais elétrica e sorridente que o normal, e a sua amiga não estava entendendo o motivo de tanta felicidade. “Viva a liberdade! Yeah!” Gritou e levantou o punho esquerdo com o mesmo entusiasmo de um revolucionário francês após a queda do rei Luís XVI. Só faltou emendar com ‘igualdade e fraternidade’ pro lema ficar completo.
“Quanta felicidade, hein, Kahei? Parece até que saiu da prisão depois de uns dez anos em regime fechado. Nem meu padrasto ficou tão feliz quando se livrou da minha mãe.” Sooyoung comentou meio ácida, então a outra voltou abaixar o volume da música para poderem conversar. “Enquanto isso a Haseul tá mal pra caramba.”
Ao ouvir o nome da ex-namorada, a expressão de Kahei mudou um pouco, e seu sorriso desapareceu dando lugar a um olhar meio culpado.
“As coisas vão melhorar com o tempo. Eu sei que fiz o que considerei correto, tanto pra mim, quanto pra ela.” Kahei respondeu séria. “Vai ser difícil de início, mas logo ela vai melhorar, voltar a sair, encontrar alguém, ser feliz, quebrar a cara e assim por diante. A vida continua.”
“Você tem razão, inclusive eu concordo com você sobre ser melhor ter terminado tudo com ela, mas eu não consigo não sentir pena, ainda mais porque ela tava muito na sua, Kahei, tanto que até escreveu uma música pra você.” Sooyoung comentou.
“Você conhece a música?” A chinesa questionou e Sooyoung assentiu. “Me mostra como ela é.”
“O quê? Como assim?” Sooyoung perguntou.
“Canta pra mim ou me fala como era a letra.” Ela esclareceu e a outra balançou a cabeça negativamente.
“Não posso fazer isso.” Sooyoung disse. “Não sei se a Haseul iria querer que eu te mostrasse a música, e outra, não iria me sentir confortável cantando sobre os sentimentos de outra pessoa.” Completou, para a frustração da jovem chinesa.
“Você não canta a música ‘Woman’?” Kahei perguntou e Sooyoung confirmou. “Então, essa música é sobre os sentimentos do John Lennon pela Yoko Ono, ou seja, você canta sobre o sentimento de outras pessoas.”
“Que comparação mais sem nexo.” Sooyoung rebateu e Kahei riu. “Infelizmente, eu não fui colega de banda do John, e também nunca vi o Paul McCartney cantando essa música, por exemplo.”
“Mas custa você me falar como é a música?” A mais velha insistiu.
“Pra quê você quer saber? Você não quer mais nada com a Haseul mesmo.” Sooyoung argumentou e deu os ombros.
“Curiosidade.” Kahei respondeu. “Vai me dizer que você não ficaria curiosa se estivesse no meu lugar?” Sooyoug assentiu, entendendo o ponto de vista de Kahei, mas, mantendo-se leal a Haseul.
Kahei optou por não falar mais daquele assunto, e Sooyoung ficou em silêncio, um tanto cabisbaixa e com o olhar entristecido.
“Bebê, não fica assim, não.” A chinesa tentou consolar a amiga. “Entendo que você esteja triste pela Jiwoo, mas pensa que daqui a pouco nós vamos estar em uma festa muito boa, cheia de gente bonita e disponível, e você pode até encontrar uma menina legal pra dar uns beijinhos.”
“Ah, eu não consigo me animar.” Sooyoung respondeu sincera e suspirou. “Você sabe que eu nem queria ir pra essa festa.”
E isso era verdade. Kahei passou a quinta-feira inteira e boa parte da sexta pra convencer Sooyoung a sair com ela. Venceu pelo cansaço, e a mais jovem aceitou ir à festa na casa de um rapaz gay, que tinha virado amigo da chinesa há pouco tempo.
“Eu sei que você tá triste, e eu tô preocupada com você. Só quero te distrair e te deixar feliz um pouquinho.” Kahei desabafou sincera, fazendo Sooyoung abrir um pequeno sorriso.
“Eu agradeço, mas é que aconteceu uma outra coisa aí e eu me ferrei de vez.” Sooyoung respondeu, referindo-se a perda da guitarra. “Eu vou ter que devolver a guitarra pra igreja. Um garoto vai entrar pro grupo de lá e vai precisar dela.”
“Caramba...” Kahei murmurou e ficou em silêncio por alguns segundos. “Ei, a Haseul tem um violão, ela pode te emprestar, como você toca a base mesmo, dá pra você usá-lo até conseguir uma guitarra nova.”
“Kahei, eu não quero fazer isso.” Sooyoung respondeu logo de imediato. “A verdade é que pegar uma guitarra ou um violão emprestado é apenas uma forma de me iludir e acreditar que isso vai dar certo, quando não vai.” Ela completou. “Eu tenho que botar na cabeça que isso não é pra mim, e tentar buscar outra coisa pra fazer da vida. O problema é descobrir o que fazer, eu sou um zero à esquerda em tudo.” Suspirou e colocou uma mão sobre o rosto.
“Sooyoung, não tem nada que você possa vender pra levantar uma grana e conseguir uma guitarra?” Kahei questionou e a outra balançou a cabeça negativamente.
“Eu não tenho nada de valor, no máximo o meu celular, e ele não deve valer nem metade do preço de uma guitarra decente.” A jovem respondeu entristecida. “É isso: o sonho acabou.”
“E as meninas? Elas já estão sabendo disso?” Kahei perguntou, preocupada.
“Ainda não, eu não tive coragem de falar. Elas estão tão animadas pra amanhã, que eu não tive coragem de estragar o clima com isso.” A menina respondeu, engoliu em seco e crispou os lábios. “Eu vou deixar pra dar a notícia depois do show, sabe? Pra não atrapalhar a nossa performance.” Ela continuou falando, com os olhos baixos. “Eu sempre estrago tudo com a minha idiotice e o meu egoísmo, mas dessa vez eu vou fazer diferente.”
“Sooyoung, não fale assim de você mesma, você não deve se depreciar de forma tão cruel.” Kahei pediu.
“E eu não sou uma idiota egoísta? Olha só o que eu fiz com a Jiwoo mesmo depois de tudo o que ela fez pra me ajudar. Eu sou um lixo que só deixa destruição por onde passa.” Sooyoung desabafou, e então não aguentou mais, e acabou deixando o nó em sua garganta se transformar em lágrimas.
As lágrimas mais doloridas de sua vida. Estava sentindo uma dor tão imensa que era até impossível de se mensurar.
Nem mesmo a pior surra que havia levado doeu de tal maneira.
Kahei estacionou o carro, mesmo sem ter chegado ainda ao seu destino.
“Sooyoung, meu amor, não fica assim, não.” Ela tentou consolar a outra, e acariciou o seu rosto. “Você errou, sim, mas é normal. Todo mundo faz merda de vez em quando e isso é natural. Ninguém se torna um monstro por isso.”
“Não podia ter errado com a Jiwoo. Eu estraguei tudo.” Sooyoung disse, chorando sentida. “Eu só queria poder voltar no tempo e fazer tudo diferente. Só queria poder desfazer essa merda toda e ter ela de volta pra mim.”
Kahei, então, deu um forte abraço em Sooyoung, que retribuiu o gesto e passou a chorar sobre o ombro amigo que lhe foi ofertado.
A garota mais velha permaneceu ali, em silêncio, sentindo-se até um tanto frustrada por não ter como dar uma ajuda maior para a amiga. Se pudesse mesmo, daria um jeito de tirar com as próprias mãos a dor que atormentava Sooyoung, mas, infelizmente, nada podia fazer além de oferecer seu colo.
“Se você quiser, a gente pode voltar pra sua casa ou ir pra minha. Não precisamos ir pra essa festa se você não estiver bem.” Kahei lhe disse, mas Sooyoung balançou a cabeça negativamente.
“Não, tudo bem, vamos pra essa festa.” Sooyoung respondeu, secando as lágrimas com as mangas de sua jaqueta. “Talvez seja melhor e eu consiga me distrair um pouco.” Ela mentiu, porque apesar de não estar com humor para festas, como havia aceitado o convite, não tinha o direito de estragar a noite de Kahei por causa dos seus problemas.
“Tem certeza?” A chinesa perguntou, segurando no rosto de Sooyoung, que assentiu confirmando. “Mas se você se sentir mal ou quiser ir pra casa, é só me dizer, tá bom?”
“Tá bom.” Ela disse firme, então a outra jovem lhe deu um beijo no rosto e depois ligou o carro e seguiu no caminho para a casa de seu amigo.
/=/=/=/=/
Jiwoo, por sua vez, estava em casa, onde passaria o resto de sua sexta-feira sozinha. Não queria admitir, mas estava mordida e com um gosto muito amargo na boca por ter visto Sooyoung sair para uma festa com Kahei sem poder falar ou fazer nada para impedir.
Tudo bem, que depois do casamento, após ver a chinesa interagindo com Brian, ela até se convenceu que a garota não tinha nada mesmo com Sooyoung além de amizade, mas ainda assim, Jiwoo não conseguia não sentir ciúmes, até porquê: Sooyoung estava tão sexy e linda, que com certeza atrairia muitos olhares para si, seja lá onde estivesse; e Kahei não era a única garota no mundo.
Por mais que tivesse afirmado de forma clara e categórica que não queria mais nada com a outra, seu coração parecia não aceitar a razão naquele caso, batendo desesperado e machucado apenas com o pensamento de Sooyoung se envolvendo com alguém que não fosse ela.
Era tudo muito ridículo e talvez até mesmo patológico, mas Jiwoo não conseguia evitar se sentir daquela maneira.
Seria uma longa e árdua batalha esquecer alguém com quem se dividia a casa, o quarto, a vida. E ela já sabia que não adiantava nada rezar, pois a impressão era a de que Deus não lhe ouvia, e portanto, teria que dar um jeito arrancar esse sentimento de si sozinha.
Como mais cedo naquele dia, Donghae havia ligado e pedido para que a filha fosse até o estúdio responsável pegar as fotos de casamento que haviam ficado prontas, e tentando se distrair, ela decidiu montar o álbum e fazer uma surpresa para o seu pai quando ele chegasse.
Tinha passado em uma loja e comprou um álbum de papel cor-de-rosa claro, papel scrapbook de várias cores como vermelho, branco e alguns tons de rosa, cola, tesoura e canetas coloridas, e assim usou o material para montar o álbum enquanto ouvia música no celular com o fone de ouvido.
Usou os papéis para fazer flores e corações, que foram colados nos cantos das páginas, e usou as canetinhas coloridas para desenhar bordas e escrever algumas coisas de acordo com as fotos ali coladas, como na dos noivos trocando alianças, onde ela colocou o seguinte versículo bíblico: ‘Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor - Coríntios 13:13’.
E assim ela foi montando o álbum e passando o tempo, e apesar de vez ou outra aparecer uma foto ali com Sooyoung e Jiwoo até tentou, mas foi difícil se segurar, mas a tristeza possuiu seu coração e as lágrimas voltaram a rolar por seu rosto.
/=/=/=/=/
Já fazia quase duas horas que Kahei e Sooyoung tinham chegado aquela festa, e a segunda ainda estava com um grande desânimo, tanto que na primeira oportunidade, tratou logo de ir se sentar em um sofá livre na sala.
Kahei, como amiga fiel, lhe acompanhou e se sentou ao seu lado, e do sofá, olhava para as mais diversas garotas que estavam dançando aquelas músicas eletrônicas horríveis nas proximidades, quando seu celular tocou.
“Mensagem do Brian.” Kahei comentou sorrindo, e viu que era uma imagem do rapaz com um cachorrinho poodle branco no colo, dizendo que ele havia sido presente de aniversário de sua mãe. “Ele é muito fofo.”
Sooyoung abaixou a cabeça e fez uma expressão de desgosto, ainda não acreditando que Kahei mantinha conversas com aquele crentelho.
“Sinceramente? Não entra na minha cabeça que uma pessoa como você tá dando bola pra um cara como esse Brian.” A mais jovem comentou. “Esse cara é um babaca igual a todos os coleguinhas dele.”
“E daí? Eu não quero namorar com ele, não, só dar uns beijinhos.” Kahei explicou e deu os ombros. “E além do mais, eu achei ele bem simpático e uma delicinha.”
Sooyoung revirou os olhos e balançou a cabeça negativamente, porém, no final das contas, quem era ela pra incriminar Kahei? Afinal estava sofrendo o diabo por causa de uma crentelha também.
“Tem uma garota que não para de olhar pra cá.” Kahei comentou e sorriu maliciosa. “Agora não sei se é pra mim ou pra você.” Ela fez sinal com a cabeça e Sooyoung olhou para a direção apontada: e sim, havia uma garota, que não era asiática, mas sim branca, de cabelos negros com mechas ruivas e estilo channel, maquiagem forte com sombra pink e batom preto. Usava uma bermuda curta preta, uma blusa azul escuro amarrada na cintura e uma camiseta preta e branca listrada e nos pés tinha botas de cano longo pretas.
Ela estava encostada na parede e olhando fixamente para a direção de Sooyoung e Kahei, enquanto tinha um copo de uma bebida azul na mão direita, e deslizava o indicador da mão esquerda, cuja as unhas eram pintadas de preto, na boca do copo.
Porém, apesar de ter achado a menina bastante atraente, soube logo que não era pra si que a mesma estava olhando, pois foi só Kahei olhar para ela, que a mesma abriu um sorriso, piscou e fez sinal com o indicador, chamando a chinesa para perto.
“Gostosa, né?” Kahei perguntou para Sooyoung, animada com o convite a distância, e a mais jovem assentiu concordando. “Se importa se eu for chamar ela pra dançar e te deixar sozinha um pouco?”
“Claro que não. Vai lá.” Sooyoung incentivou a amiga a ir de encontro com aquela egirl bonitona, e bom, ela não precisou falar duas vezes, já que Kahei se pôs de pé no mesmo instante, e com confiança, se aproximou da jovem.
Sooyoung, sozinha, pegou o celular e decidiu se distrair com algum joguinho, mesmo com pouca bateria, já que tinha esquecido de deixar o aparelho carregar antes de sair.
Alguns minutos se passaram, e quando Sooyoung olhou para o meio do cômodo, Kahei e a garota estavam dançando mega animadas e sorrindo, claramente flertando uma com a outra. A menina abriu um sorrisinho e voltou a dar atenção para o seu celular, e após perder uma outra partida, olhou para frente e já não viu mais Kahei e nem a menina ali, e após uma pequena busca visual, encontrou as duas em um canto, encostadas na parede, com a menina segurando na cintura da chinesa, que segurava em seu rosto.
Elas se beijavam lentamente.
Sooyoung ficou até meio hipnotizada com a cena e acabou olhando fixamente para as duas por alguns segundos.
“Ei, posso me sentar aqui?” A voz feminina chamou a atenção de Sooyoung, que virou a cabeça no mesmo instante para ver quem estava falando consigo, e até se surpreendeu com o que viu: uma jovem de cabelos pretos e curtos, usando uma calça de couro preta e cintura alta, um moletom bem justo também preto, tênis branco e uma touca beanie vermelha.
Era uma jovem com um belo rosto e um corpo de tirar o fôlego.
“Ah... é... claro, pode se sentar, sim. Fique à vontade.” Ela respondeu e abriu um sorriso meio nervoso, enquanto a jovem se acomodou ao seu lado.
“Prazer, sou Jeon Soyeon.” Ela se apresentou de forma simpática e abriu um sorriso. Um belo sorriso, diga-se.
“Ha Sooyoung.” A outra respondeu no mesmo tom.
“Esse cheiro bom é o seu perfume?” A garota questionou, fazendo Sooyoung dar uma leve corada e ao mesmo tempo sentir um aperto no peito ao se lembrar que Jiwoo adorava o seu cheiro.
“É uma essência de Rosas-do-Deserto.” Sooyoung respondeu, tentando não demonstrar aquele nervosismo de garota inexperiente. “Obrigada.”
Um silêncio bastante incômodo cresceu ali, uma vez que Sooyoung estava bastante tímida e não sabia o que falar, e Soyeon também demonstrava certa timidez.
A rockeira estava torcendo em silêncio para Kahei voltar, mas a chinesa provavelmente não iria fazer isso tão rápido, já que estava bastante ocupada com a boca da egirl bonitona, enquanto se perguntava se Soyeon curtia meninas e havia se aproximado dela com segundas intenções.
E a reposta era muito provavelmente ‘sim’ para as duas questões, já que todo mundo naquela festa tinha jeito de gay, por toda a casa haviam diversos casais de dois caras ou duas meninas se beijando, alguns até de forma mais acalorada, Kahei e a egirl não eram exceção, e bom, o dono da festa e da casa era um cara gay.
“Quer dançar!?” A pergunta de Soyeon quebrou o silêncio e pegou Sooyoung totalmente de surpresa.
“Dançar? Não!” Ela respondeu de imediato, no susto, e de forma até meio grosseira.
“Tudo bem.” Soyeon concordou, bastante sem graça e até meio desanimada, abaixando a cabeça e colocando a mão na nuca.
Sooyoung teve certeza de que era um monstro idiota.
“Quer dizer, eu não sou muito boa pra dançar, sabe? Sou meio travadona, e também esse estilo de música, eu não curto muito.” Tentou amenizar a situação, se explicando até de forma meio atabalhoada. “Essas músicas ‘puts puts’ e sem letra não têm nada a ver comigo.”
“Entendi.” Soyeon respondeu, mas ainda parecia meio sem graça.
“A gente podia conversar num lugar mais calmo, não? A música tá muito alta, não dá pra ouvir direito.” Sooyoung argumentou, e a outra concordou.
Assim, as duas se levantaram dali e seguiram para o quintal, mas não sem antes passar Soyeon passar no barzinho improvisado e comprar duas garrafas de cerveja. Uma para ela e outra para Sooyoung.
“Me desculpa pela forma como eu falei com você. Eu não quis ser grossa.” Sooyoung disse durante o pequeno percurso e Soyeon sorriu e assentiu, aceitando o pedido, então a rockeira aproveitou para fazer um teste para tentar descobrir se a outra menina também curtia mulheres. “É que eu fico nervosa perto de garotas bonitas.”
Soyeon passou a mão no cabelo e colocou uma mecha atrás da orelha, sorrindo tímida e agradecendo após ouvir aquilo.
“Então, Sooyoung, o que você faz da vida?” Soyeon puxou logo assunto, assim que chegaram no quintal, onde poderiam conversar com tranquilidade e se sentaram lado a lado em um banco com dois lugares de madeira. “Trabalha? Estuda?”
“Eu tô no último da escola.” Sooyoung respondeu, um tanto tímida e envergonhada pelo seu péssimo histórico e horrendo desempenho acadêmico. “E você?”
“Eu faço faculdade e trabalho num barzinho durante a noite.” Soeyon explicou, e a sua vida fez Sooyoung se sentir um lixo ainda maior, já que era tão burra e imprestável e não tinha basicamente nada de interessante pra tentar impressionar a outra. “Eu estudo psicologia.”
“Eu também toco numa banda de rock.” Sooyoung falou e viu um interesse brotar na expressão de Soyeon.
Ser parte de uma banda era a única coisa legal de sua vida e, infelizmente, iria acabar.
“Maneiro.” A outra comentou e tomou um gole de sua bebida. “Você toca o quê?”
“Guitarra e também sou vocal de apoio.” Sooyoung respondeu com certa animação e até orgulho de si mesma. “A banda se chama Lei de Thelema e é composta inteiramente por garotas.”
“Uau, isso torna tudo mais interessante.” Soyeon comentou e riu. “Realmente acho sexy mulheres que tocam instrumentos, especialmente guitarristas.”
Sooyoung sentiu as bochechas arderem e corou ao ouvir aquilo.
“Tipo, eu tenho um crush forte na Mami Sasazaki.” A outra jovem falou, e Sooyoung arqueou uma sobrancelha, sem nem fazer ideia de quem era aquela pessoa.
“Quem é essa?” Ela perguntou meio tímida, e Soyeon riu, achando-a totalmente fofa.
“É a guitarrista da banda Scandal.” Soyeon respondeu e tomou um pouco mais de cerveja. “É uma banda de J-Rock, também só com garotas, é que minha calça não tem bolso e eu precisei deixar meu celular com uma amiga, mas se não eu te mostrava. Essa banda é muito boa, você deveria conhecer.”
“J-Rock não é muito o meu estilo, mas se você está falando que é bom, então eu vou dar uma chance.” Sooyoung falou sorrindo simpática. Ela achava esse estilo uma porcaria, mas não falou nada para não ser grosseira novamente e tirou do bolso o seu celular, jogando o nome da banda no Google, e por indicação da outra, foi ver uma apresentação ao vivo de uma música chamada ‘Standard’. “É, até que é legal.”
“Amerika, Burojiru, Furansu, Chuugoku, Nihon cha cha cha! Nihon cha cha cha!” Soyeon cantorolou com a música, que ela demonstrava gostar bastante.
Após o vídeo, Sooyoung ficou vendo fotos das garotas, que eram todas muito bonitas, e chegou a uma imagem das diversas guitarras das membros da banda, uma mais linda que a outra, e deu até um aperto no seu coração.
Foi quase um gatilho.
Após isso, Soyeon indicou um outro grupo feminino japonês, chamado BABYMETAL, e ao colocar ‘Megitsune’ percebeu que lhe era familiar, e se lembrou que Hyejoo ouvia aquelas meninas.
Era a cara de sua irmã caçula mesmo.
“Aaa aah sou yo itsu demo onna wa kawaru no. Kitsune janai kitsune janai watashi wa megitsune.” Soyeon começou a cantar junto do refrão, porém,infelizmente, elas não puderam ouvir mais nada, já que a bateria do celular acabou e o aparelho desligou no meio da música.
“Merda.” Sooyoung esbravejou. “Esqueci de colocar pra carregar antes de sair.” Explicou e guardou o aparelho no bolso.
“Tudo bem, não tem problema.” Soyeon respondeu e suspirou. “Você namora, Sooyoung?”
“Não.” Sooyoung respondeu direta.
“Sabe, eu vi a hora que você chegou com aquela outra garota, pensei que fossem um casal.” A menina confessou e riu. “Quer dizer, vocês poderiam ser um casal moderno, com um relacionamento aberto.”
“Não, o que é isso? Kahei e eu somos só amigas.” Sooyoung esclareceu rindo. “Eu tô solteira desde sempre. Na verdade, nunca namorei.”
Soyeon arqueou uma sobrancelha.
“Nossa, é até difícil de acreditar que alguém tão bonita e interessante, e que ainda por cima toca guitarra, nunca tenha namorado ninguém.” Ela comentou, fazendo Sooyoung corar e até cobrir o rosto com as mãos, enquanto a outra riu mais alto, achando graça na situação.
“Mas e você? Namora?” Sooyoung questionou após se recompor.
“Tive um relacionamento longo, de mais de dois anos, com um cara. Foi bom de início, mas depois as coisas foram se deteriorando com o tempo e a gente acabou terminando em termos não muito amigáveis, e desde então, eu tô sozinha já tem uns meses.” A jovem explicou. “Eu passei um tempo meio quieta, com medo de conhecer gente, então passei a me dedicar somente pros estudos, e só agora que resolvi voltar a sair, e olha só, logo na minha primeira festa pós-namoro eu conheci você.”
Sooyoung até engoliu em seco e nem soube o que responder, mas ficou feliz por ver que alguém acreditava que era algo bom ter conhecido ela.
“Sooyoung?” A voz de Kahei fez as duas garotas olharem para outra direção. “Desculpa atrapalhar, mas é que já tá tarde e a gente precisa ir embora.”
“Ah, claro.” A garota concordou e se levantou do banco. Soyeon repetiu seu gesto.
“Então, a gente se fala depois?” Soyeon perguntou e a outra confirmou. “Mas a gente ainda não trocou telefones.” Se lembrou.
“É verdade.” Sooyoung concordou, e por instinto, tirou o celular do bolso, pra logo ser lembrada que o mesmo estava sem bateria.
“Eu vou lá procurar a minha amiga e pegar meu celular com ela, prometo não demorar.” Soyeon saiu apressada, enquanto Kahei começou a rir.
“Caralho, Sooyoung, que menina mais gata.” A chinesa falou. “E eu achando que você tava enchendo a cara na tristeza, enquanto você tava enxugando as lágrimas por uma no lençol de outra.” Ironizou de forma metafórica.
“Não é nada disso, Kahei. A gente só tava conversando.” Sooyoug esclareceu meio envergonhada. “Eu nem sei se ela gosta de garotas.”
“Não aconteceu porque você não quis, já que tá  quase escrito ‘me pega, Sooyoung’ na testa dela. Não se faça de boba.” A chinesa a repreendeu, mas a outra balançou a cabeça negativamente.
Após alguns poucos minutos, Soyeon voltou meio esbaforida e ofegante.
“Eu não achei a minha amiga, mas eu trouxe uma caneta que consegui pegar no bar.” Ela mostrou o objeto. “Se importa se eu escrever meu número na sua mão?”
“Não, claro que não.” Sooyoung respondeu e estendeu a mão direita para Soyeon escrever na palma dela. “A gente tem que acertar a cerveja que você pagou pra mim.”
“Vamos fazer o seguinte? Você me paga uma cerveja quando a gente sair, e aí nós ficamos quites.” A jovem respondeu sorrindo animada e deu uma piscadela para Sooyoung, que sorriu tímida. “Eu vou ficar esperando sua mensagem.” Completou após terminar de escrever.
“Tudo bem.” Sooyoug respondeu e olhou a palma da mão, onde, além do nome e do número, Soyeon também tinha feito um desenho de coração. “Então, até mais.”
“Até mais, Sooyoung.” E para a surpresa da jovem rockeira, a menina de touca lhe deu um beijo no rosto como forma de despedida.

“Ainda vai falar que não sabe se a garota gosta de mulher?” Kahei provocou Sooyoung no caminho de volta para o carro, que tinha sido estacionado em outro quarteirão. “Ela te chamou pra sair na cara dura.”
“Sim, pode até ser que ela goste, mas sei lá, eu tô meio com medo de me envolver.” Sooyoung respondeu, e Kahei balançou a cabeça.
“Acho que é mal de sapatão essa emoção de achar que todo mundo que você pegar vai ser o amor da sua vida, com quem você vai namorar, casar, ter dois filhos e um cachorro.” Kahei ironizou. “A Haseul é igualzinha. Se ela não fosse assim, tão possessiva, a gente poderia estar juntas ainda.”
“A Haseul te pediu em casamento?” Sooyoung provocou e riu.
“Não, mas só porque eu terminei antes. Certeza que amanhã, depois da música, ela provavelmente iria aparecer com uma algema, digo, aliança e me pedir pra passar o resto da vida presa com ela.” Ela respondeu. “Só de pensar já me dá calafrios.”
“Se você não gosta de um relacionamento assim, porque aceitou namorar com ela, então?” Sooyoung questionou, afinal, se Kahei era tão contra relacionamentos fechados e monogâmicos, por que cargas d'água aceitou se envolver com alguém que a queria dessa forma.
“Sei lá, acho que foi o diabo quem preparou essa armadilha pra mim.” Kahei respondeu em tom satírico e ironizando as desculpas cristãs. “Olha, eu sei que o que vou confessar agora não é nada legal, mas pensando bem, eu gostava mesmo do jogo de sedução, da forma como ela me olhava, sabe? Babando por mim, me dizendo coisas que botavam meu ego lá na estratosfera, demonstrando que eu a tirava do sério. Isso era muito gostoso, essas sensações iniciais, e eu também achei que iria ficar bem com isso, mas sei lá, talvez daqui uns vinte anos, não, vinte é pouco, daqui uns trinta anos eu esteja preparada pra um relacionamento como esse.”
“Mas nessa brincadeira a Haseul se apaixonou de verdade e se fodeu.” Sooyoung comentou, e Kahei suspirou.
“Juro que nunca tive intenção de machucar ninguém. Se eu soubesse que as coisas iriam terminar assim, nunca teria aceitado o convite dela praquele cinema.” A chinesa se defendeu. “Sei que errei, mas não posso ficar me culpando o resto da vida, até porque a vida segue e uma hora a Haseul vai encontrar outra garota.”
Após um curto período de silêncio, Kahei voltou a falar.
“Mesmo tendo nascido em um país de cultura muito conservadora, eu sempre fui criada com muita liberdade. Não consigo engolir possessividade, cara, e a Haseul tinha ciúmes até de você, tem noção disso? Eu não terminei com ela pelo Brian ou qualquer outra pessoa, mas sim por mim e pela minha liberdade.” Ela falou. “Conhece a música 'Nothing Else I can say' da Lady Gaga? É como esse nosso relacionamento acabou.”
Sooyoung apenas assentiu, então a outra começou a cantarolar a música.
“Boy, we've had a real good time
And I wish you the best on your way, eh
I didn't mean to hurt you
I never thought we'd fall out of place, eh, hey
I have something that I love long, long
But my friends keep a-tellin' me that something's wrong
Then I met someone
And eh
There's nothing else I can say
Eh, eh
There's nothing else I can say
Eh, eh
I wish he never looked at me that way
Eh, eh
There's nothing else I can say
Eh, hey”

Ao avistarem o carro, Sooyoung ficou espantada.
“Kahei, o que aquela garota tá fazendo no seu carro?” Sooyoung questionou a amiga.
A garota dentro do carro era a mesma que Kahei beijou na festa.
“É a Kimberly. Ela é dos Estados Unidos e tá aqui por intercâmbio.” Kahei respondeu. “Hoje eu vou fazer o trabalho da ONU e selar a paz entre chineses e americanos.” Continuou rindo. “Você sabe, né, Sooyoung? Eu amo a minha liberdade, mas odeio dormir sozinha.” Completou e sorriu maliciosa, antes de entrarem no veículo com a garota gringa.
/=/=/=/
Quando o dia amanheceu, Jiwoo se levantou e após um banho quente e demorado e tomar café-da-manhã.
Tinha tido uma péssima noite, acordando assustada por várias vezes, inclusive no momento em que ouviu Sooyoung chegando da tal festa quase as três da manhã.
Mas mesmo diante da situação, a garota optou por fazer parte de suas tarefas escolares, mas para o seu azar, um de seus livros havia ficado no armário de seu quarto, onde Sooyoung, após chegar tão tarde em casa, ainda estava dormindo.
Não teve outra opção que não fosse entrar no quarto, abrindo a porta bem devagar e adentrando no quarto, que estava iluminado pelos raios solares que entravam pela janela.
Jiwoo caminhou até o seu armário, abriu a porta e pegou o livro que precisava. Tudo em muito silêncio, porém, a curiosidade, que deveria ser algo do diabo, fez com que ela olhasse para Sooyoung, que dormia, totalmente alheia aos movimentos dentro do cômodo.
A menina mais velha estava na cama de baixo do seu beliche, coberta por um grosso edredom branco até a altura da cintura. Estava deitada de lado, usando a camiseta dos Ramones. A mesma que usava na noite do último sábado e que acabou indo parar no chão quando elas... enfim... quando aconteceu aquilo entre elas.
As bochechas de Jiwoo ficaram púrpuras e queimando apenas com as lembranças daqueles momentos quentes.
E bom, como o braço direito de Sooyoung estava esticado com parte para fora da cama, Jiwoo logo notou que havia algo escrito de caneta na palma de sua mão.
Foi tomada por uma sensação muito ruim no mesmo instante, e então foi se aproximando do beliche devagar, se curvando e cerrando os olhos enquanto tentava identificar o que estava ali escrito na mão dela, e mesmo com a mão um pouco fechada, Jiwoo logo percebeu que era um número de telefone junto ao nome feminino.
Seu coração até errou uma batida com aquilo, a vista escureceu, e ela ficou toda desconcertada e sem rumo e chegou a derrubar o grosso livro que estava em suas mãos, o que fez um barulho alto e acabou por despertar Sooyoung, que se assustou ao abrir os olhos e ver a outra ali, tão próxima de si.
“Jiwoo?” Sooyoung murmurou, surpresa e até um pouco feliz, imaginando que a outra estivesse ali buscando uma reaproximação romântica. “O que está fazendo?”
Jiwoo, no entanto, se recompôs imediatamente, sentindo o seu coração doendo como se tivesse sido dilacerado por uma afiada faca e fazendo uma força enorme para conter as lágrimas que começavam a se formar em seus olhos e engolir o gigante nó que nasceu em sua garganta.
“Eu só vim pegar o meu... nada! Deixa pra lá.” Jiwoo respondeu, visivelmente abalada. Então ela, simplesmente, saiu do quarto com passos rápidos, quase correndo, e se refugiou no quarto de Donghae e Gyuri, batendo a porta com força e a trancando na sequência.
Sooyoung, ainda meio atordoada e com sono, bocejou, e depois olhou para o chão e viu um livro de química da outra garota caído ali, o qual ela pegou e colocou em cima do criado-mudo, onde o seu celular estava carregando.
Ela pegou o aparelho e passou o número de Soyeon para lá, mas, titubeou e não teve coragem de mandar nenhuma mensagem para a mesma. Nem mesmo um ‘bom dia’ que fosse.
Talvez fosse melhor assim, afinal, sua vida já era complicada o suficiente, não precisava envolver outra pessoa nisso para aumentar a confusão.

Jiwoo se jogou na cama que havia arrumado há poucos minutos, e agarrou um travesseiro, sobre o qual começou a chorar: era um choro amargo e que misturava dois dos piores sentimentos que existem: raiva e tristeza.
Estava se sentindo a menina mais idiota do mundo. Estava sofrendo feito uma condenada enquanto Sooyoung se divertia e passava a noite na companhia de outra garota.







































































You're my sunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora