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“Sooyoung, você quer mesmo que eu acredite que a Jiwoo estava interessada no seu cropped?” Gyuri perguntou incrédula, enquanto dirigia de volta para casa, tendo uma discussão pesada com a filha mais velha.
Seu rosto estava vermelho de tanta raiva e vergonha que havia passado por causa de sua primogênita.
“Mas é a verdade, mãe.” Sooyoung manteve-se na mentira. “Ela pediu pra ver meu cropped. Foi só isso.” Era uma desculpa muito da esfarrapada, sim, mas ela não havia conseguido pensar em nada melhor.
A chegada de Gyuri e Donghae naquele momento havia sido uma terrível surpresa tanto para Sooyoung, quanto para Jiwoo, que ficou muda e palida.
“Ah, tá bom.” Hyejoo debochou e deu uma risadinha. Havia parado de jogar no celular, pois a briga das outras duas estava mais interessante.  “Quem diria que minha irmã é uma sapat...”
“Cala essa boca, seu resto de placenta!” Sooyoung esbravejou contra a irmã antes que ela terminasse o que ia dizer, porém Hyejoo apenas riu com mais intensidade.
“CHEGA!” Gyuri gritou tão alto que assustou as prórprias filhas. “Vocês duas estão de castigo! Um mês sem sair de casa e sem celular ou computador, entenderam?”
“Isso não é justo!” Hyejoo reagiu, cruzando os braços e se encostando no banco do carro. “A Sooyoung  é quem apronta e eu sou quem paga o pato?”
“Vocês são duas desaforadas e mal-educadas, só me fazem passar vergonha, e eu já não aguento mais.” A mais velha desabafou. “Essa noite foi o cúmulo da falta de respeito. Donghae e Jiwoo nos receberam de braços abertos e com tanto carinho, pra vocês duas fazerem aquela palhaçada?”
As garotas ficaram em silêncio e nada disseram, pois sabiam que qualquer palavra errada poderia deixar Gyuri ainda mais furiosa e com isso receberiam uma punição ainda maior.
“Eu não sei o que você estava pretendendo fazer com a Jiwoo e nem quero saber, mas você vai se desculpar com ela, Sooyoung!” A mulher ordenou e a garota balançou a cabeça e suspirou. “Aquela menina é uma santa e você...”
“Não é porque ela vai na igreja que ela é santa.” Sooyoung não aguentou e respondeu. “Aliás, esse tipo de gente é que geralmente são as piores pessoas, já que por trás da roupinha de ovelha inocente existe sempre um lobo à espreita...”
“Cale essa boca!” Gyuri ordenou em voz alta. “Eu não admito que você insinue nada sobre a Jiwoo! A verdade é que vocês duas deveriam se espelhar nela para serem filhas melhores.” Hyejoo e Sooyoung abaixaram a cabeça diante daquelas palavras. “A única coisa que vocês me dão nessa vida é desgosto.”
Aquilo foi doloroso de se ouvir, e a mais velha se segurou para não chorar.
O resto do caminho foi uma tortura silenciosa entre três pessoas magoadas umas com as outras, e assim que chegaram em casa, a mãe entrou na frente, e uma vez dentro da sala, ela virou-se para encaras as duas adolescentes.
“Celulares.” Disse ao estender as mãos. Sooyoung tirou o objeto do bolso e o entregou para a mãe, indo direto para o quarto, já Hyejoo foi um pouco mais resistente quanto aquele gesto.
“Mãe, por favor...” A menina tentou argumentar, na esperança de mudar o pensamento da mais velha.
“Me dá esse celular agora, Hyejoo.” Gyuri manteve-se firme.
“Mas eu não fiz nada.” A garota ainda insistiu, mas sua mãe estava irredutível.
“Fez, sim. Você ficou rindo da cara do Donghae e da Jiwoo, ou pensa que eu me esqueci?”
A contragosto, a jovem entregou o celular para a mãe e foi caminhando lentamente para o quarto.
“Meu pai estava certo quando disse que te largou porque você ficou insuportável.” Ela sussurrou mas em um tom alto o suficiente para que Gyuri ouvisse e se enfurecesse.
Acertou em cheio no calcanhar de Aquiles da mãe.
“O que foi que você disse?” Gyuri perguntou, enquanto andou rápido na direção da jovem, que saiu correndo. “Volte aqui, Hyejoo!”
A garota, no entanto, correu para o quarto e trancou a porta.
“Isso não vai ficar assim, não! Você não vai poder ficar trancada aí pelo resto da vida!” Gyuri falou alto do lado de fora do quarto, enquanto Sooyoung estava já deitada em sua cama, a parte debaixo do beliche, e via a irmã rindo.
“Histérica!” Ela provocou a mãe.
“Para com isso, Hyejoo.” Sooyoung chamou a atenção da caçula. “Você vai acabar apanhando.”
Hyejoo deu os ombros.
“Como você se importasse comigo.” Ela debochou.
“Eu não me importo com você, me importo com o meu sono.” Sooyoung respondeu no mesmo tom. “Eu preciso dormir e não vou conseguir se vocês ficarem gritando como loucas pela casa.”
“Isso tudo é culpa sua!” Hyejoo a acusou, apontando o dedo. “Se você não tivesse feito aquela graça com a filhinha do namorado dela, a gente não taria sem celular agora.”
“Ah, vai dormir e não enche o meu saco.” Sooyoung respondeu irritada, e virou-se na cama, ficando de frente para a parede e de costas para a caçula.
“Eu só queria que o meu pai me levasse embora com ele.” Ela desabafou, triste e desanimada, e foi pegar seu pijama para trocar de roupa.
Desde que Yangnam se separou de sua mãe, Hyejoo o vira pouquíssimas vezes e sentia-se completamente abandonada, já que ele não pestanejou duas vezes antes de deixar o país em busca de um recomeço na Europa, ignorando suas necessidades de afeto e atenção paternal.
O máximo que ele fazia agora era enviar um cheque mensal para ajudar Gyuri com as despesas da filha, suprindo sua demanda financeira, mas a emocional, continuava lá.
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Sooyoung ficava feliz ao se lembrar da irmã que tinha. Sim, Hyejoo era uma verdadeira embuste, mas ao menos tinha o sono pesado e dormia feito uma pedra, e isso era uma grande vantagem, uma vez que a irmã mais velha guardava alguns segredinhos.
A jovem saiu da cama em silêncio e andando nas pontas dos pés. Por baixo do cobertor, ela ainda estava com a roupa que fora no jantar com a família Kim.
Abriu a janela lentamente, sempre tomando cuidado para não fazer nenhum barulho e depois saiu pela mesma, fechando-a para que o vento frio não despertasse a irmã caçula, que entregaria sua cabeça em uma bandeja de prata com muito gosto para Gyuri.
Uma vez na rua, escura e deserta, ela andou por um quarteirão inteiro, cabisbaixa e com as mãos no bolso.
Aquela era o melhor momento para Sooyoung, pois ela se via livre e longe de toda a chatice de sua família problemática.
Ao dobrar a esquina, ela viu o já conhecido Corvette 77 Stingray cor de chumbo, a.k.a o carro mais estiloso de Seul, estacionado há alguns metros de distância.
Ela abriu um sorriso e apertou o passo para chegar ao veículo, onde entrou no banco do carona e sorriu para a pessoa na direção: sua melhor amiga, a chinesa Wong Kahei.
Kahei tinha os cabelos cor-de-rosa claro, um sorriso peculiar e único, além de expressões delicadas em sua face. Ela era uma garota muito legal e descolada, cabeça aberta e com o espírito livre, que gostava de rock e de bebidas alcóolicas. O tipo de pessoa que sua mãe jamais veria com bons olhos.
O único problema era que Sooyoung tinha quase certeza que ela era mais velha do que dizia, mas a coreana não entrava muito nesse assunto, porque Kahei ficava realmente irritada com isso.
“Quase que não vim hoje.” A chinesa começou. “Te mandei um monte de mensagem e você não respondeu nenhuma, pensei que tivesse dormindo.”
“Não é nada disso.” Sooyoung respondeu. “Não manda mensagem pra mim por esses dias, não. Minha mãe confiscou meu celular.”
“Putz, sério?” Kahei perguntou, fazendo uma careta. “Justo agora que eu te mandei vários nudes?”
“O quê?” Sooyoung quase teve um ataque ao ouvir aquilo, mas a outra começou a rir.
“É só brincadeira, não mandei nada, não.” Ela logo disse, deixando a outra bem mais calma.
Óbvio que seu celular tinha senha de acesso, como o de qualquer pessoa normal, mas vai que por algum azar da vida Gyuri conseguisse descobrir a senha e acessasse suas coisas? Seria o caos, porque só as conversas com Kahei já seriam motivo para encrenca, se tivesse fotos dela nua então, era capaz de Gyuri mandar a filha para uma sessão de exorcismo, ou até expulsá-la de casa.
“Mas o que você aprontou dessa vez pra sua mãe tirar seu celular?” Kahei perguntou, virando a chave no painel e dando partida no carro e ligando o som do carro, tocava Ramones.
“Tudo por causa de uma crentelha.”A garota respondeu e recebeu um olhar confuso da amiga, que levantou uma sobrancelha.
“Crentelha? O que é isso?” Kahei questionou.
“É a junção de crente com pentelha.” Sooyoung explicou fazendo a outra rir.
“Tá, mas o que de aconteceu de fato? E o que a crentelha tem a ver com isso?” Kahei perguntou novamente, tentando pegar o fio da meada.
Sooyoung começou a explicar toda a história desde o começo, que sua mãe estava frequentando uma igreja e havia começado a se relacionar com o reverendo Kim.
“... E foi aí que a... promete que não vai rir?” Sooyoung perguntou e a sua amiga assentiu.
“Claro, por que eu riria?” A chinesa garantiu e Sooyoung continuou.
“Então a crentelha me convidou pra tocar guitarra na bandinha da igreja dela.” Sooyoung disse, como se tivesse recebido a maior das ofensas.
Apesar da promessa, Kahei caiu na gargalhada ao ouvir aquilo e Sooyoung suspirou.
“Me desculpa, mas isso foi muito engraçado.” A mais velha disse. “É muito surreal você numa igreja evangélica.”
“Mas eu ainda não terminei de contar o que aconteceu, porque eu tive a brilhante ideia de me vingar da crentelha, então eu aproveitei a hora que ela elogiou a minha jaqueta pra passar uma cantada nela.” Sooyoung completou, fazendo a outra começar a rir novamente. “E bem na hora os nossos pais chegaram e viram tudo.”
“Você é maldosa, Sooyoung.” Kahei ironizou. “Mas por que passar uma cantada na crentelha? Ela é bonita, é?” A chinesa perguntou em um tom provocador, e fez Sooyoung rir.
Kahei não tinha preconceitos, então ela não definia sua sexualidade, dizia que era antiquado querer colocar algo tão instável em uma caixinha e apenas gostava de beijar pessoas atraentes, independentes de seu sexo.
“Ela é bonitinha até, mas é só isso.” Ela respondeu de pronto. “Eu pensei que se ela pensasse que eu era sapatão não ia me querer na banda, mas eu só consegui perder meu celular por um mês.”
“Bom, eu também tenho uma novidade pra você.” Kahei falou e sorriu animada. “Lembra que eu te falei de uma amiga chamada Jin Sol?” Sooyoung balançou a cabeça, assentindo. “Ela toca bateria e tá com uma ideia de formar uma banda só de garotas, e eu convenci ela a deixar você fazer um teste pra guitarrista.”

















You're my sunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora