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“Preparadas?” Haseul perguntou, sorrindo e até animada para as colegas de grupo, enquanto elas estavam tratando dos últimos preparativos para o show.
“Eu já nasci preparada, honey.” Jin Sol respondeu confiante e abriu um sorriso.
As garotas haviam combinado de se vestirem com estilo anos 50 e 60 para combinar com as músicas que seriam tocadas.
E todas estavam usando trajes que seriam considerados masculinos, salvos alguns detalhes, na época:
Jin Sol vestia uma calça jeans azul desbotada e desfiada, uma camisa social azul com a gola levantada, os dois últimos botões abertos e mangas dobradas na metade do braço, óculos escuro modelo wayfarer, os cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo, e nos pés tinha um All Star botinha vermelho.
Jung Eun estava com um macacão preto por cima de uma blusa vermelha com bolinhas brancas e All Star branco.
Yerim estava usando uma camisa com listras horizontais nas cores preta e branca, uma calça jeans azul escura colada, os cabelos presos com uma faixa vermelha e sapato social branco com solado preto.
Sooyoung estava vestindo a sua jaqueta de couro, uma camiseta branca por baixo, calça jeans azul, óculos escuros aviador e All Star botinha preto.
Haseul vestia uma camisa social vermelha com a gola azul, suspensório e calças cinzas, óculos escuros iguais ao de Jin Sol e sapato social preto.
As garotas se reuniram e tiraram uma selfie, para registrar aquele momento único em suas vidas.
“O primeiro de muitos shows da Lei de Thelema.” Haseul, que foi quem postou a foto no Instagram, recitou a legenda colocada junto da imagem das cinco garotas e seus instrumentos musicais (no caso de Jin Sol, ela segurou as baquetas).
“Nós vamos arrasar!” Jung Eun afirmou com toda a certeza do mundo, e então as garotas se reuniram em rodinha e colocaram as mãos no centro.
“Faz o que tu queres!” Haseul puxou o ‘grito de guerra’ com a Lei de Thelema.
“Pois há de ser tudo da lei!” As outras completaram com o mesmo entusiasmo, e então elas subiram no pequeno palco montado no fundo do quintal.
Sooyoung estava se sentindo bastante triste, mas ainda assim decidida a dar o melhor de si naquela apresentação e dessa forma deixar a melhor lembrança possível para as suas amigas.
Os convidados da festa aplaudiram as garotas assim que elas apareceram.
Sendo uma festa de comemoração de bodas de ouro dos avós de Haseul fazia com que a maioria das pessoas ali estivessem na faixa dos 40 pra cima, mas haviam também alguns jovens, adolescentes e até mesmo crianças.
Um grupinho de meninos ficou bastante animado por ver uma banda só de garotas e associaram e acenaram para as músicas, que se posicionaram em seus devidos lugares.
“Boa tarde, galera!” Haseul cumprimentou os convidados. “Nós somos a banda Lei de Thelema e vamos fazer vocês sacudirem os esqueletos agora!” Ela disse sorrindo.
“E é um, dois, um dois, três, já!” Yerim fez a contagem, e as garotas começaram a tocar a música 'Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band’ dos Beatles, que assim como no álbum foi emendada com ‘With a little help from my friends’.
Na sequência, elas tocaram a clássica 'Blue Suede Shoes', do Elvis Presley, e diferente dos ensaios, Haseul dançou como o Rei do Rock, com direito a muitos movimentos pélvicos e com os pés.

O show todo foi muito animado, mesmo nos momentos em que for tocadas músicas lendas como 'Crying' de Roy Orbison, 'Love me Tender' e 'Blue Moon' também do Elvis.

O encerramento, no entanto, foi o ponto alto, já que no meio de 'I saw her standing there dos Beatles', cada menina teve a oportunidade de fazer um pequeno solo com seu instrumento após serem apresentadas pela vocalista.
E o show foi encerrado com 'Let’s Twist Again' de Chubby Checker, uma das mais dançantes e animadas da década de 60.

A energia estava tão boa e aquele momento no palco, mesmo em um familiar e caseiro, tinha sido tão mágico, que Sooyoung até se esqueceu de que nunca mais teria a chance de tocar com as suas amigas.

Após o término da apresentação, os avós de Haseul foram conversar com as meninas. Muito agradecidos, trataram todas elas com extrema educação e oferecendo uma montanha de comida da festa como forma de pagamento pelo show.
Porém, elas já tinham combinado e juntado dinheiro para comprar comida e bebida para uma festa particular na casa de Jin Sol.
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As garotas chegaram na garagem que ensaiavam completamente animadas, pulando, cantando e dançando.
“Bota uma música nessa porra que a gente merece!” Jung Eun falou alto.
“Toca Bowie!” Yerim emendou e Jin Sol conectou o seu celular em uma caixa de som que havia levado para lá mais cedo.
“Que tal um brinde antes?” Haseul sugeriu, e as meninas pegaram cervejas para comemorar o momento, inclusive a adolescente Yerim.
“Tem certeza que vai tomar isso?” Haseul perguntou para a caçula do grupo.
“Mas é claro! Eu não passei a tarde tocando e esse tempo todo ensaiando pra brindar com suco de laranja.” Yerim respondeu com firmeza e convicção.
“Mas vê se não vai encher a cara, porque se não todo mundo aqui vai passar a noite em cana por sua causa.” Jung Eun a alertou e Yerim riu.
“Um brinde a Lei de Thelema!” Jin Sol falou alto e as garotas estenderam as mãos e bateram suas garrafas de cerveja.
“E também um brinde à nossa sorte, afinal, a gente andou em um carro dirigido pela Jin Sol e sobreviveu pra contar história.” Jung Eun provocou, fazendo as colegas rirem e brincarem novamente, inclusive a própria Jin Sol, que reconhecia ser uma motorista inexperiente.
Após isso, elas colocaram 'Let's Dance' de David Bowie, a.k. a. o Camaleão do Rock devido ao seu talento para mudar de estilo de forma constante sem se entregar aos padrões conservadores, para tocar. Jung Eun, Yerim e Jin Sol começaram a dançar. A baterista, no entanto, fez questão de tirar Haseul e Sooyoung, que estavam quietas em um canto, para dançar com ela.
“If you say run, I'll run with you
If you say hide, we'll hide
Because my love for you
Would break my heart in two
If you should fall
Into my arms
And tremble like a flower
Let's dance”
Quando aquela música terminou logo na sequência se iniciou outra bastante conhecida de David Bowie, 'China Girl'.
Só o riff de guitarra no início fez Haseul ficar séria e sem graça. Foi inevitável para ela não pensar em Kahei.
“I could escape this feeling with my China girl
I feel a wreck without my little China girl
I hear her heart beating loud as thunder
Saw they stars crashing
I'm a mess without my little China girl
Wake up mornings, where's my little China girl?
I hear her heart's beating loud as thunder
Saw they stars crashing down”
“Jin Sol, tira dessa música, por favor.” Ela pediu, e a morena o fez no mesmo instante.
Ninguém falou nada, até porque todo mundo sabia de quanto Haseul ainda estava abalada e sofrendo com aquele término tão recente, apesar dela não ter tocado no assunto com ninguém.
“Vamos botar uma música mais animada.” Jin Sol falou, e então colocou pra tocar ‘Cherry Bomb’, do The Runaways.
“Uhu! Essa é a minha música, hein?” Sooyoung falou, e começou a usar uma garrafa de cerveja vazia como microfone enquanto cantava.
“Can't stay at home, can't stay at school.
Old folks say 'You poor little fool'.
Down the streets I'm the girl next door.
I'm the fox you've been waiting for.
Hello, daddy. Hello, mom.
I'm your ch-ch-ch-cherry bomb!
Hello world! I'm your wild girl.
I'm your ch-ch-ch-cherry bomb!”
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Em Daegu, Gyuri e Donghae estavam em um bistrô, que ficava nas proximidades do hotel em que estavam hospedados.
“Eu nunca comi nada disso.” O homem falou, enquanto lia atentamente o cardápio. A ida ao lugar havia sido uma sugestão de Gyuri. “Eu peço comida chinesa, japonesa, italiana e até mexicana, mas francesa eu nunca pedi, acredita?”
“Acho que você vai gostar de Petit Gâteau avec Sorbet à la Framboise.” Gyuri sugeriu e Donghae sorriu para ela.
“Como é que é o nome?” Ele perguntou.
“Petit Gâteau avec Sorbet à la Framboise.” Gyuri repetiu e também sorriu. “Entendeu agora? É um bolinho quente de chocolate com uma espécie de sorvete bem cremoso de framboesa. É uma delícia.”
“Na verdade, eu entendi da primeira vez, só pedi pra você repetir porque você ficou muito bonitinha falando francês.” Ele respondeu sorrindo.
“Bonitinha?” Gyuri questionou o agora marido com uma sobrancelha arqueada. Mesmo após casados, ela notava o quanto Donghae era cuidadoso e até um pouco acuado no tratamento com ela, e ficava um tanto frustrada com isso.
Entendia que Donghae era um homem reservado e religioso, mas ele não precisava ser tão pudico com ela, especialmente na intimidade.
“Sensual.” Ele se corrigiu, um tanto tímido e com um risinho nervoso. “Mas você falou com tanta propriedade, fez até aquele biquinho.”
“Eu fazia aulas de francês quando era adolescente.” Gyuri respondeu, surpreendendo o reverendo. “Eu nunca cheguei a ser fluente, e nesses últimos anos não pratiquei nada, então acabei esquecendo a maior parte do que aprendi, mas ainda guardo uma coisa ou outra, mon petit coeur.” Ela finalizou com uma expressão carinhosa que ao pé da letra significava ‘meu coraçãozinho’, mas na forma de tratamento era próximo de ‘meu querido’, e piscou para o marido, que voltou a sorrir tímido.
“Eu vou chamar o garçom e você faz o pedido, tá bem? Eu não vou saber falar desse jeito chique igual a você.” Ele brincou e Gyuri concordou.

Após serem servidos com a deliciosa sobremesa francesa, Donghae voltou ao assunto.
“Eu nunca imaginei que você soubesse francês, Gyuri.” Ele comentou.
“É que nunca falei disso pra ninguém. Nem minhas filhas sabem que a mãe delas um dia sonhou em ser uma juíza poliglota e bem-sucedida, que pudesse levá-las para conhecer a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo durante as férias de verão.” Ela respondeu com certo desânimo e suspirou.
Lembrar de seus sonhos esmagados ainda era algo bastante doloroso para a mulher.
“É difícil encontrar criança que sonha em ser juiz, você era mesmo diferente.” Donghae comentou em tom elogioso.
“Eu era uma criança normal, porque antes de pensar em ser juíza, queria ser veterinária.” Gyuri explicou, e não era segredo que quase toda criança já disse querer ser veterinária quando adulta. “Quando eu era muito pequena, minha família comprou um cachorrinho shih-tzu preto e branco, Haneul era o nome dele. Eu era doida por esse cachorro, praticamente cresci com ele, mas os anos se passaram e ele ficou velhinho e doente e precisou de eutanásia. Quando isso aconteceu, eu descobri que veterinários, às vezes, precisam deixar os bichinhos morrer, e bom, acho que nunca teria coragem pra fazer isso.” Ela comentou, ficando até nostálgica e com saudades de seu velho melhor amigo. “Infelizmente, quando eu fui embora de casa, não pude pegar nenhuma foto dele pra mim, e tinham várias que eu gostaria de ter comigo.” Só conseguiu imaginar que não restava mais nenhuma dessas imagens, porque ela também estava nelas, e seu pai, pra apagar a sua existência da família, deve ter queimado todas.
Donghae ficou em silêncio, sentindo que as palavras de Gyuri carregavam muita tristeza e mágoa, o que era compreensível para uma filha abandonada. O que ele nunca entendeu é como um pai e uma mãe podiam ter jogado na rua a filha grávida e nunca mais procurá-la para saber se está viva, se está bem, se a criança em seu ventre nasceu saudável, se tinha comida em casa, se precisava de ajuda financeira ou material.
Como não tiveram vontade e nem ao menos curiosidade de conhecer a própria neta? Isso era inexplicável para o reverendo. Era muita crueldade, pelo menos em seu ponto de vista.
Como um homem poderia deitar na cama e dormir tranquilo sabendo que sua filha estava na rua, em situação vulnerável, e podendo ser vítima de tudo quanto é tipo de maldade?
Por mais que um filho errasse, ele sempre seria filho, e assim como todos erramos e Deus, nosso Pai, sempre nos perdoa e não nos abandona, nós também não devemos ser carrascos e deixar sangue de nosso sangue ser torturado pela vida, como foi o caso de Gyuri.
“Ça vous plu, mon amour?” Gyuri perguntou, após eles terminarem de comer a sobremesa e o pastor riu. “Eu perguntei se você gostou, meu amor.”
“Sim, é muito saboroso.” Ele respondeu simpático, e então eles deixaram o bistrô e voltaram para o hotel.

“Tinha uma música que a gente aprendeu lá no curso de francês, que eu adorava.” Gyuri comentou assim que entrou no quarto. “Quand il me prend dans ses bra. Il me parle tout bas, je vois la vie en rose. Il me dit des mots d'amour, des mots de tous les jours, et ca me fait quelque chose ” Ela cantarolou sorrindo e abraçou o marido. “Deve ser a música francesa mais famosa do mundo. “La Vie em Rose”, de Édith Piaf.
“É uma música muito bonita.” Ele disse e após um sorriso, trocaram um beijo.
“Fala sobre como uma mulher se sente após encontrar o homem que é o amor de sua vida. Ela passa a ver a vida toda cor-de-rosa, e bom, é exatamente assim como eu sinto ao seu lado.” Donghae sorriu com aquela declaração. “Je t'aime, mon amour.”
Os dois se beijaram novamente após Gyuri dizer que o amava no idioma latino-europeu.
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Na casa de Jin Sol, as meninas ainda curtiam a festa, sentadas no chão, bebendo, comendo e fazendo planos para o futuro. A conversa, que era pra ser animadora e alegre, para Sooyoung estava sendo bem triste, e ela nem sequer conseguia falar algo.
“Sooyoung, tá tudo bem? Faz o maior tempo que você tá quieta aí.” Jung Eun perguntou, e essa foi a deixa para a menina falar sobre o que estava havendo.
“Eu preciso falar uma coisa séria com vocês.” Sooyoung começou, e até se levantou para o comunicado. “Primeiro de tudo eu queria agradecer todas vocês, porque pela primeira vez, eu me senti como se estivesse no meio de uma família, meio doida, né?” Ela brincou e deu um risinho triste. “Mas que me ama e me aceita de verdade.”
“E a Jin Sol é aquela prima gostosa que você pega no banheiro, né não?” Jung Eun brincou, e levou um tapinha amigável no braço, por parte da baterista que estava ao seu lado.
“Para de falar desse assunto!” A morena pediu. “Todo dia isso, Jung Eun.”
“Eu nunca vou me esquecer daquela cena. Eu fiquei traumatizada, viu? Até sonhei com isso.” Jung Eun retrucou, mas essas suas últimas palavras arrancaram risos de Yerim e de Haseul.
“A verdade é que a Jung Eun não perdoa o fato de vocês não terem chamado ela pra participar daquela pegação, por isso que ela fala disso todo santo dia.” Yerim provocou a colega. “Ela tá até sonhando com esse desejo. Freud deve ter escrito algo que explique isso.”
“Vai dormir, Yerim! Já passou da hora de criança ir pra cama.” Jung Eun respondeu e depois riu. “Eu já disse que não sou gay.”
Sooyoung riu das garotas, e mesmo que a zoeira fosse com ela, sabia que sentiria muita falta dessas brincadeiras e piadas das meninas.
“Continuando aqui, eu também quero agradecer pela chance de poder conhecer gente tão incrível, tão talentosa, tão legal e que me acolheu assim, de forma tão calorosa.” Sooyoung continuou o discurso.
“Credo, Sooyoung, isso tá parecendo uma despedida.” Jin Sol comentou, já que, assim como todas as outras meninas, ela estava estranhando aquelas palavras da amiga.
“Na verdade isso é uma despedida mesmo.” Sooyoung respondeu, e aquilo pegou todas de surpresa, e o clima, que era de descontração e brincadeiras, mudou de forma repentina.
“Como assim? Despedida? A gente acabou de fazer o nosso primeiro show.” Yerim argumentou, perplexa.
“Eu sei disso, e juro que queria poder continuar tocando com vocês, mas não tem como. Eu vou ter que devolver a guitarra pra igreja que ela pertence, e não tenho grana pra comprar outra.” Ela respondeu, triste. “Eu sinto muito, não falei antes pra não comprometer a nossa performance hoje. Não podia estragar o nosso grande dia.” 
Os olhos de Jin Sol se encheram de lágrimas ao ouvir aquilo, então, ela foi a primeira a se levantar e abraçar a guitarrista.
Em seguida, Yerim e Jung Eun repetiram seu gesto, e tornaram aquela aproximação um abraço coletivo. A única que ficou afastada foi Haseul, sentindo-se culpada e muito arrependida pela forma como tratou Sooyoung no início, agindo puramente por ciúmes da amizade da jovem com Kahei.
Mas ela acabou por se aproximar devagar e também se unir ao abraço em solidariedade a Sooyoung.
“Vocês vão ser gigantes, meninas, e eu vou estar lá na primeira fila pra aplaudi-las de pé.” Sooyoung falou e abriu um sorriso em meio às lagrimas. “Eu amo vocês.”
“Nós amamos você também.” Jin Sol respondeu e deu um beijo no rosto de Sooyoung. “Por favor, não deixe de aparecer, você sabe que será sempre bem-vinda aqui.”
“Afinal, Lei de Thelema sempre será OT5.” Jung Eun reforçou e as outras concordaram.
“Muito obrigada, gente.” Sooyoung agradeceu novamente. “Mas agora é hora de voltar para a minha realidade. Foi bom sonhar com vocês.”
As garotas a abraçaram novamente antes que ela fosse embora.
“Tava tudo dando tão certo.” Yerim comentou com desânimo, enquanto secava as lágrimas. “A vida é uma merda.”
“Essa festa virou um enterro.” Jin Sol comentou, e não estava errada, afinal, todos os sorrisos e animação se transformaram em tristeza e lágrimas e uma banda de apenas 4 membros.
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Sooyoung chegou em casa sentindo-se como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Estava acabada física e emocionalmente.
Ela encontrou Jiwoo na sala, deitada em um dos sofás vendo televisão.
“Jiwoo, cheguei.” Falou e andou devagar até a direção da garota, que pareceu não ter lhe ouvido. “Eu queria te dizer uma coisa, posso?”
Jiwoo continuou em total silêncio, para o estranhamento de Sooyoung, que dessa vez teve certeza que a outra lhe ouviu, porém não obtendo resposta, optou por continuar falando.
“Olha, eu vou deixar a guitarra lá no quarto do seu pai, tudo bem?” Mais uma vez falou sozinha. “Eu sei que você ainda tá brava comigo, mas mesmo assim, queria que soubesse que eu sou muito grata por você ter me ajudado a poder tocar com as minhas amigas hoje. De verdade, talvez eu nem merecesse isso...”
“Não merecia mesmo.” Jiwoo quebrou o silêncio, soltando aquelas palavras agressivas de forma seca e fria, surpreendendo Sooyoung a ponto de calá-la imediatamente.
Jiwoo nunca tinha falado com ela daquela maneira tão cruel. E doeu como uma pedrada.
“Jiwoo...” Ela tentou um diálogo, para tentar entender se havia acontecido mais alguma coisa para deixá-la naquele estado.
“Sooyoung, eu não estou falando com você, não percebeu ainda?” Jiwoo a cortou, e quando se virou para olhar para a mais velha, que ficou um tanto assustada, afinal, nunca havia visto naqueles olhos, que eram sempre tão cheios de amor e inocência, tanto ódio.
A expressão no rosto da filha do reverendo não era de tristeza como nos últimos dias, mas sim de raiva.
Parecia até meio surreal.
“Vai lá pro seu quarto e fique lá, porque se o seu telefone tocar, pode ser alguém com quem você queira falar por horas e horas e horas.” Jiwoo ironizou. “Vai, Sooyoung! Sai daqui!” Ordenou em um tom mais alto, e até se levantou para encarar a outra e se impor naquela situação.
Sooyoung estava desconfiada que Jiwoo havia tentado ler o que estava escrito em sua mão naquela manhã, e agora suas palavras agressivas lhe deram essa confirmação.
“Eu sei porque você tá assim, mas...” Ela ia tentar explicar, dizer que não teve nada com Soyeon na festa, e nem sequer tinha a intenção de manter contato com ela.
“Que bom que você sabe, então faça o favor de ter o mínimo de decência e tirar essa sua cara-de-pau da minha frente, porque eu já tô ficando com nojo de olhar pra ela!" A mais jovem atacou novamente, sem dar a mínima chance de defesa para Sooyoung, cada vez mais magoada pela forma como estava sendo tratada.
“Não sei porque você está agindo dessa maneira comigo, Jiwoo, foi você quem terminou tudo!” Sooyoung argumentou em sua defesa, tentando manter a calma.
“Terminei tudo o quê? Pra se terminar uma coisa é preciso que ela tenha começado, e a gente nunca começou nada!” Jiwoo respondeu, demonstrando ficar cada vez mais irritada. “A gente nunca teve nada e mesmo assim você sempre se achou no direito de se meter na minha vida, agredir meus amigos, brigar com a minha família, me humilhar na igreja, me obrigar a assumir um sentimento que eu nunca tive certeza do que era! E ontem, você me deixou aqui sozinha, sofrendo, tendo uma noite péssima pra curtir uma festinha com outra garota! Você queria que eu estivesse como?”
Sooyoung sabia que tinha feito muita coisa errada com Jiwoo, e a filha do reverendo tinha parte de razão naquilo que falava, mas ela estava agindo por pura emoção, ofendendo e magoando a outra jovem.
“Eu não quero mais nem olhar pra sua cara!” Jiwoo falou mais baixo, e então foi andando em direção a cozinha, mas Sooyoung a seguiu.
“Jiwoo, espera, vamos conversar.” Sooyoung pediu, indo atrás da garota, que lhe ignorou e seguiu em frente.
Então, Sooyoung, agindo por impulso, agarrou Jiwoo pelo braço, e a puxou para trás, encostou suas costas contra a parede, usando o próprio corpo e os braços para evitar que ela saísse dali.
“Me solta, Sooyoung!” Jiwoo ordenou quase gritando e ainda mais irritada por conta daquele ato.
“Me deixa te explicar essa situação.” Sooyoung pediu, dando tudo de si para manter a calma. “Eu gosto de você.”
“Não quero mais ouvir mentiras!” Jiwoo disse, possessa.
Estava com tanta adrenalina em seu corpo, que sentia que poderia explodir.
Seu coração estava batendo tão rápido e forte que seu peito chegava a doer. Suas pernas estavam quentes, e suas mãos trêmulas.
“Eu não estou mentindo quando digo que gosto de você. Eu gosto, e muito. Sou louca por você, Jiwoo.” Sooyoung falou mais baixo, colocando uma mecha do cabelo de Jiwoo atrás de sua orelha esquerda, e depois depositou as mãos no rosto da outra. Jiwoo até tentou se desvencilhar daquele toque e virar o rosto, mas Sooyoung a segurou com firmeza. “Eu nunca quis te machucar."
Jiwoo fechou os olhos e respirou fundo.
Precisava se acalmar ou acabaria passando mal.
“Se você disser que ainda me quer, eu vou ficar com você.” Sooyoung lhe disse num sussurro e encostou sua testa na testa da outra. “Eu te amo.”
Sooyoung fechou os olhos após se declarar de coração aberto, e então aproximou sua boca da de Jiwoo, chegando a roçar seus lábios nos da menina, mas não completou o beijo.
Esperou que o selar viesse por parte da mais nova, e foi por muito pouco que Jiwoo não sucumbiu diante daquela tentação e colou sua boca na de Sooyoung.
Mas, por Deus, se manteve firme.
“Canalha!” Jiwoo vociferou, e ao invés de receber um beijo, Sooyoung recebeu um empurrão tão forte, que a fez se chocar contra a outra parede do corredor, na hora que a filha de Donghae aproveitou que seus braços estavam soltos para se livrar de si e fugir dela o mais rápido possível.
Em outra situação Sooyoung estaria furiosa e disposta a revidar com a mesma intensidade todas as agressões sofridas, mas naquele momento, só conseguia sentir tristeza. Jiwoo havia sido extremamente cruel com ela nas palavras e no tratamento, mas Sooyoung tinha noção, que no fundo, a culpa disso tudo era somente sua. Se ela não tivesse sido tão inconsequente antes, a situação nunca chegaria a esse ponto.
Sem mais o que fazer, ela simplesmente se trancou no quarto, e frustrada se jogou na cama, pegando o celular e o fone para tentar se distrair, porém mesmo as suas playlists não pareciam lhe ajudar e Sooyoung não conseguiu não evitar o choro ao ouvir ‘I don't wanna love somebody else’ de A Great Big World.
“Oh we buried it alive and now it's screaming in my head
Oh I shouldn't go on hoping
Oh that you will change your mind and one day we could start again
Well I don't care if loneliness kills me
I don't wanna love somebody else
Oh I thought that I could change you
Oh I thought that we would be the greatest story that I tell
I know that it's time to tell you it's over
But I don't wanna love somebody else”
Foi olhar os contatos e ficou por um tempo parada no de Soyeon, se lembrando da conversa agradável que tinham tido na noite anterior.
Por fim, sentindo-se tão triste e chateada, decidiu que não deveria magoar mais ninguém, então, para não deixar a jovem fazendo papel de palhaça e esperando por uma mensagem que nunca chegaria, ela mandou um ‘oi’ seguido por um pedido de desculpas pela demora.
Soyeon respondeu com um emoji sorrindo com coraçõezinhos e disse para Sooyoung não se preocupar, já que ela tinha passado quase o dia todo com a cara enfiada nos livros, estudando.
Na sequência mandou uma foto de um livro sobre cadernos e post-its coloridos e cheios de anotações. O livro se chamava ‘O Seminário, livro 4: A relação do objeto’ de Jacques Lacan.
Se só o título já era confuso, imagina o conteúdo?
Pensou que Soyeon devia ser mesmo muito inteligente pra estudar algo assim, diferente dela, que era uma burra velha que não conseguia nem tirar a nota média pra passar de ano no ensino regular.
As duas continuaram trocando mensagens por mais algum tempo
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Após a despedida de Sooyoung, a festa da Lei de Thelema praticamente acabou, uma vez que ninguém mais via motivos para se comemorar nada.
Jung Eun e Yerim acabaram indo embora quase uma hora depois, mas Haseul ficou para trás, e foi encontrada por Jin Sol ao voltar para a garagem.
“Eu odeio ficar triste, porque me dá uma fome do caramba. Fico até com medo de engordar.” A morena falou, enquanto trazia uma bandeja com duas canecas de chocolate quente e biscoitos. “Parece até que eu fumei uns dez cigarros de maconha... Haseul?  O que foi?” Jin Sol questionou, assim que notou que Haseul estava sentada no chão, cabisbaixa e chorando.
A vocalista não respondeu nada, apenas mostrou o celular, assim que a outra menina se sentou ao seu lado.
Haseul estava chorando por ter aberto o Instagram e a primeira imagem a aparecer foi Kahei com Brian, sentados lado a lado em uma lanchonete, num estilo muito ‘casalzinho’ e com a legenda 'first date', um emoji de bola e pinos de boliche, um de hambúrguer, um de batata frita e um coração com uma flecha.
Não dava nem pra disfarçar e tentar dizer que eles eram só amigos.
Jin Sol engoliu em seco e ficou em total silêncio. Era até irônico como ela e as outras meninas tinham tentado convencer Haseul de que não havia nada de perigoso numa festa evangélica, mas Kahei era o tipo de pessoa que se fosse em uma festa só de noviças e seminaristas, ainda assim conseguiria levar alguém para a cama.
“Evitei redes sociais a semana toda pra não ver nada que pudesse me machucar.” Haseul começou a desabafar. “Agora fui ver se tinha algum comentário na foto que eu postei nossa, e dou de cara com isso.”
“Dizem que chocolate ajuda a espantar a tristeza.” Jin Sol comentou, após não conseguir pensar em nada mais útil para dizer, e ofereceu a caneca de chocolate quente para a amiga.
“Obrigada, mas eu vou pra casa.” Haseul respondeu, mas Jin Sol segurou em sua mão. “Pega, vai te ajudar a se sentir melhor.”

“Por favor, fica aqui.” A garota pediu. “Meus pais não estão em casa, e eu já tô triste. Se eu ficar sozinha aqui, vou ficar ainda  pior.”
“Mas eu também tô triste, Jin Sol, acho que não vou poder te animar. Sinto muito.” Haseul respondeu cabisbaixa.
“Eu sou burra pra muita coisa, mas eu sei que em matemática menos com menos dá mais, então, se a gente juntar a minha tristeza com a sua tristeza talvez consiga criar um pouco de felicidade.” A garota argumentou, e Haseul até deu um risinho.
Infelizmente as relações e sentimentos humanos não eram exatos como a matemática, mas Haseul achou fofo o raciocínio da amiga, e por isso decidiu ficar e dar um voto de confiança a ela.
Talvez Jin Sol fosse uma espécie de gênia incompreendida.

Jin Sol levou Haseul para seu quarto e as duas acordaram em assistir um filme de comédia para tentarem melhorar o seu humor.
Mas era uma tarefa difícil encontrar algo desse gênero que prestasse nos serviços de streaming.
No final, acabaram colocando o  filme Animais Fantásticos.
“Haseul, para de ficar vendo essas coisas.” A voz de Jin Sol, após alguns minutos de silêncio, assustou Haseul. “Desse jeito você não vai se sentir melhor nunca.”
Haseul suspirou, mas reconhecia que a amiga estava certa. Naquele momento estava se torturando olhando o Instagram de Kahei.
“A Kahei é tão preguiçosa que nem sequer apagou as nossas fotos juntas.” Haseul comentou com certa amargura.
“Talvez não seja preguiça, talvez ela queira manter essas lembranças de você.” Jin Sol argumentou. “Não é porque ela terminou o relacionamento, que ela te odeia.”
“Eu só queria entender o que eu fiz de errado.” Haseul falou triste. “Eu me dediquei tanto pra esse relacionamento funcionar. Eu fazia tudo o que ela me pedia, tentei ser romântica, tentei agradar, ligava pra conversar, sempre perguntava como tinha sido o dia dela, ouvia quando ela desabafava, tentava animá-la quanto ela estava triste, levava pra sair, e até comecei a me policiar em relação ao meu ciúmes. Me esforcei de verdade pra ser uma boa namorada, mas não adiantou de nada. Levei um pé na bunda por causa de um cara qualquer aí. Dói quando penso nisso, entende? Eu fiz tudo por ela, Jin Sol, e mesmo assim não foi o suficiente pra fazê-la se apaixonar por mim.” Desabafou e abaixou a cabeça.
Jin Sol ficou em silêncio por não saber o que dizer, então apenas deu um abraço na garota e lhe deu um beijo na cabeça.
“Todo mundo viu que você fez o melhor que pôde, até escreveu uma música pra ela, quer coisa mais amorosa que isso?” Jin Sol tentou consolá-la após um tempo.
“Aquela música era uma porcaria.” Haseul comentou com amargura. “Foi até melhor que a gente não tenta tocado ela, era capaz de estragar o show.”
“Não era uma porcaria, Haseul, era bonitinha e fofa.” A baterista rebateu e encostou sua cabeça na da amiga, que guardou o celular e resolveu prestar a atenção no filme, mesmo que já o tinha assistido diversas vezes.
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No dia seguinte, de Jiwoo levou a guitarra de volta para a igreja, e assim Jisung pôde fazer o seu teste após o culto. No entanto, com o talento e experiência demonstrados por ele, não tinha como não ser aceito na banda.
Mesmo com raiva de Sooyoung, Jiwoo não poderia deixar de se sentir estranha ao ver a guitarra sendo tocada por outra pessoa. Iria demorar para conseguir dissociar a imagem da garota do instrumento, que parecia ter sido feito para ela.
Hyunjin, mesmo após ter se retirado por conta própria da banda, estava ali, acompanhando a apresentação do menino, sorrindo encantada.
“Agora entendi porque a Hyunjin queria tanto trazer esse menino pro grupo.” Heejin cochichou para Yeojin, referindo-se claramente ao fato de Jisung ser muito bonito e Hyunjin parecer hipnotizada enquanto olhava pra ele tocando e cantando.
“Tá apaixonada.” A mais nova concordou e riu também.
Quando o rapaz terminou de tocar, foi aplaudido por todos os membros do coral.
“Não tem como dizer 'não' pra você, Jisung.” Jiwoo, como líder, falou. “Seja bem-vindo.”
O rapaz sorriu e olhou para Hyunjin, agradecendo-a.

Enquanto os membros da banda arrumavam suas coisas para ir embora, Christopher se aproximou de Brian.
“Eu vi a foto que você postou no Instagram ontem.” O baterista falou sorrindo para o amigo, referindo-se a uma imagem dele com Kahei em uma lanchonete. “Rolou?” Perguntou mais baixo.
Brian abriu um sorriso tímido e até ficou ligeiramente vermelho.
“Ela é incrível.” Brian respondeu alargando o sorriso. “A gente se beijou depois do jogo de boliche.”
“Você é o meu, heroi, Brian, conseguiu pegar a menina da festa.” Christopher falou animado. “Quando crescer quero ser igual a você, cara.”
“Sonhar não custa nada, né?” O baixista ironizou, escondendo o amigo de que na verdade, foi Kahei quem o pegou, já que tinha sido ela a tomar a iniciativa em todos os momentos, uma vez que ele ficou totalmente tímido e travado quase o tempo todo.
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“Ei, Hyunjin!” A garota ouviu alguém chamando seu nome enquanto caminhava para o carro de sua família, por isso parou e olhou para trás e viu Jisung andando rápido em sua direção.
Ele estava com a guitarra e a caixa amplificadora junto de si, e isso era uma imagem que trazia para Hyunjin.
Sooyoung nunca mereceu o posto de guitarrista da banda da igreja, aquela pecadora desaforada.
“Eu queria te agradecer pela ajuda e pelo acolhimento.” Ele falou, após alcançá-la. “Seu pai e sua mãe também, mas você, especialmente, porque me ajudou muito e me incentivou a fazer esse teste pra banda. Muito obrigado.”
“Imagina, Jisung, eu só fiz o que era o certo. Foi pelo Senhor.” Ela respondeu meio tímida, mas sorrindo e olhando para o céu ao falar de Deus.
“Sim, sim, claro, mas de qualquer forma, você está sendo muito importante pra minha adaptação nessa nova igreja, e eu queria poder retribuir toda a sua gentileza.” Ele começou um pouco tímido também. “Por isso quero saber se algum dia desses, quando estiver com tempo livre, se você aceita ir ao cinema comigo?”
Hyunjin ficou petrificada ao ouvir aquilo. Seu coração disparou.
Jisung estava lhe chamando para ir ao cinema, tipo, um encontro? Ela não estava nem acreditando. Isso nunca havia lhe acontecido antes.
“Mas é clar...” Ela sorriu ao respondê-lo de forma positiva.
“HYUNJIN!” Aquela voz estrondosa num grito de seu pai, fez o sorriso desaparecer do rosto dela no mesmo instante.
O susto foi tamanho, que a garota deu até um pulinho. Até mesmo Jisung se assustou com o grito do ministro.
“Eu estou te esperando no carro há mais de dez minutos já!” Jaesang começou a bronca na filha assim que chegou perto dela e de Jisung. “Você sabe que a sua mãe precisa fazer o almoço, e ela não gosta de atrasos!”
Na verdade, quem não gostava de atrasos era o próprio Jaesang. Ele exigia que o almoço fosse servido pontualmente às 12:30, e caso sua esposa se atrasasse, ele ficava muito aborrecido. E quando Jaesang se aborrecia, o terror se instaurava na casa.
“Sim, senhor, pai. Me desculpe.” Ela falou, abaixando a cabeça, enquanto Jisung ficou visivelmente constrangido com a cena.
“Ministro Kim, a culpa foi minha, fui eu quem atrasou Hyunjin. Só queria agradecê-la por estar me ajudando com a adaptação na igreja.” O rapaz acabou por intervir em defesa da jovem.
“Já agradeceu?” Jaesang perguntou e Jisung assentiu. “Então pode ir, seus pais devem estar te esperando também.”
“Sim, senhor. Com licença.” Jisung respondeu, e obedeceu ao homem prontamente, indo embora.
“Quando eu mandei você ajudar na adaptação desse garoto na igreja, eu não imaginei que você se comportar dessa maneira vergonhosa! Eu não criei filha pra ficar se oferecendo pro primeiro que aparece, não!” Jaesang repreendeu a garota de maneira bastante ofensiva, fazendo a menina começar a chorar de vergonha.
“Mas a gente só estava conversan...” Ela tentou se defender.
“Calada!” Ele ordenou e ela o obedeceu sem questionar. “Hyunjin, você sabe muito bem o que vai acontecer se ousar a fazer qualquer coisa errada! Filha minha se quiser ter um teto sobre a cabeça vai ser mulher direita, caso contrário, vai viver na rua que é o lugar de vagabunda!” Ele continuou com a bronca. “Agora, vamos embora, porque já perdemos tempo demais por sua causa!”
Hyunjin enxugou as lágrimas e seguiu o pai sem mais delongas.
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Jiwoo passou o resto do domingo bastante chateada e bem longe de Sooyoung, que ficou trancada no quarto o dia todo e só saiu de lá pra ir no banheiro e comer.
Ela estava ciente de que havia se comportado de maneira bastante exagerada, mas naquele momento sentia tanta raiva de tudo o que Sooyoung já tinha feito antes, que acabou por explodir e agir quase como uma louca.
E não, não ia tentar amenizar o seu erro com os erros de Sooyoung como justificativa. Não deveria ter agredido Sooyoung com palavras tão duras, muito menos lhe empurrado daquela maneira, que poderia até ter lhe machucado.
Quando se lembrava daquilo, Jiwoo sentia como se tudo o que aconteceu fosse parte de um sonho, de tão surreal. Ela nunca, em toda a sua vida, tinha agido de forma semelhante, tão agressiva e odiosa.
Cresceu sendo uma menina meiga, calma e compreensiva, mas estava cansativo ser assim e não poder sair dessa caixa de expectativas de si para evitar decepcionar os outros.
Não via a hora de Donghae voltar dessa viagem. Uma semana longe de seu pai e a sua vida tinha virado um verdadeiro inferno e estava de cabeça para baixo.
Jiwoo sem Donghae era como um navio sem bússola.
Mesmo sabendo que já era quase uma adulta e que deveria cortar esses laços de dependência extrema, só queria um abraço dele naquele momento e ansiava pelo momento em que aquela porta se abrisse e ele entrasse por ali, mesmo que agora as coisas fossem ficar diferentes, porque teria que ‘dividi-lo’ com Gyuri, e mesmo que sempre tenha apoiado aquele relacionamento, estava ressabiada em como seria a sua convivência com uma mulher que tinha tantos problemas com as próprias filhas.
Naquele momento, tudo o que ela mais queria era ser protagonista de um filme de ficção científica com uma máquina do tempo, onde apertando um único botão, pudesse voltar ao passado e impedir que Donghae e Gyuri se conhecessem, e assim voltaria para a sua vida tranquila de antes.
Podia até ser um tanto egoísta de sua parte pensar daquela maneira, mas ela estava cansada de ser altruísta, de só pensar nos outros e colocar sempre o bem-estar alheio acima do seu. Deus haveria de perdoá-la por isso.
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Em seu quarto, Sooyoung havia concordado em fazer uma chamada de vídeo com Soyeon, que estava muito linda deitada em sua cama, meio descabelada, usando óculos e com uma camiseta branca.
Ela confessou um pouco antes que tinha um pequeno grau de miopia, mas preferia usar lentes ao invés de óculos, apesar ter lhe dito que eles lhe caíam bem, dando um charme de intelectual para ela.
“Aconteceu alguma coisa? Você parece meio desanimada.” Soyeon perguntou após alguns minutos de conversa.
“Está tudo bem.” Sooyoung mentiu. “Eu só estou um pouco cansada. Ontem eu fiquei tocando com as minhas amigas e cheguei bem tarde em casa.” Completou com mais mentiras.
“Que bom que é só cansaço, achei que fosse tristeza.” Soyeon disse aliviada. “Seus olhos estão murchos iguais aos de um cachorrinho pidão.”
“Você tá insinuando que eu tenho cara de cachorro?” Sooyoung perguntou em tom brincalhão e riu.
“Tecnicamente, sim.” Soyeon respondeu também rindo. “Mas é daqueles cachorros bem fofinhos, que dá vontade de abraçar bem forte e nunca mais soltar.”  A guitarrista corou levemente e riu de novo.
“Obrigada, eu acho.” Ela agradeceu tímida.
Após mais alguns minutos de conversa, Soyeon disse que precisaria desligar, pois ainda tinha que fazer um relatório sobre o livro de Lacan que estava lendo e reclamou sobre como psicanálise era um pesadelo e que por vezes a fazia sentir até saudades das aulas de matemática, mesmo odiando exatas.
Sooyoung apenas ouviu e concordou com a outra jovem,  mas no fundo não fazia a menor ideia de quem era esse tal de Lacan e só conhecia psicanálise por nome.
Após encerrar a ligação, Sooyoung abraçou o travesseiro e tentou tirar um cochilo. Agora sem a guitarra não tinha nada além do celular para ajudá-la a passar o tempo.

Após longos minutos de absoluto silêncio, Sooyoung até levou um susto ao ouvir batidas na porta.
Não precisava nem perguntar quem era, porque além dela, somente Jiwoo estava ali. Ela ficou receosa de início, mas se levantou e abriu a porta.
A outra menina estava parada em frente a porta, cabisbaixa, de braços cruzados e até meio encolhida.
“Sooyoung, eu posso conversar com você? Prometo que não vou brigar.” Ela perguntou e tratou logo de deixar claro que estava ali em paz.
“Entra aí.” Sooyoung respondeu e deu um passo para o lado, deixando o caminho livre para Jiwoo passar por ali e entrar em seu quarto.
A filha do reverendo tinha passado boa parte de seu dia pensando e ensaiando no que deveria dizer para Sooyoung, porque depois da última briga, as coisas ditas por si mesma estavam lhe assombrando, e como nunca foi do feitio de Jiwoo ser uma pessoa ruim e que saía distribuindo ofensas por aí, sentia que deveria, ao menos, tentar se desculpar.
“Você está se sentindo melhor?” Foi Sooyoung quem falou primeiro, demonstrando preocupação, afinal, Jiwoo estava tão nervosa e alterada na última noite, que não tinha como ela não se preocupar.
A religiosa apenas assentiu como resposta. Mesmo que passado um longo tempo se preparando mentalmente para essa conversa, ao ficar frente a frente com Sooyoung, tudo o que ela tinha planejado falar evaporou de sua mente.
“Eu só... Só queria pedir desculpas pelo meu lamentável comportamento ontem.” Jiwoo começou, ainda de braços cruzados e cabisbaixa, demonstrando estar bastante envergonhada. “Todas aquelas coisas horríveis que eu falei, eu disse da boca pra fora, eu só as falei porque estava me sentindo machucada e queria te machucar também, pra te deixar tão pra baixo quanto eu estava. Foi uma infantilidade e eu estou arrependida por ter me comportado daquela maneira.”
Sooyoung ouviu tudo em silêncio e no seu coração ela entendia o ataque de Jiwoo, afinal, ela já tinha feito coisa pior.
“Eu não tinha direito algum de te cobrar nada, porque como você disse, fui eu mesma quem decidiu colocar um ponto final naquela nossa... relação.” Ela tentou pensar em uma palavra melhor, mas não conseguiu. “Você disse que não seria uma pedra no meu caminho, então eu também não serei uma no seu.”
“Está tudo bem, Jiwoo, vamos esquecer isso.” Sooyoung disse, tentando quebrar aquele clima pesado. “A culpa de tudo o que aconteceu foi mesmo minha, no final das contas, eu já fiz tanta coisa errada com você...”
“Não, Sooyoung, um erro não justifica o outro. Eu não deveria ter dito e feito aquilo ontem.” Jiwoo respondeu, cortando-a, e engoliu em seco. “Eu não quero mais fingir que está tudo bem, quando claramente não está. Foi tentando fingir que não estava acontecendo nada que chegamos a esse ponto.” Jiwoo continuou. “Foi tentando me afastar, foi negando o meu amor, foi por não querer amar que eu amei você.”
O coração de Sooyoung até deu uma acelerada com aquela declaração, mas os olhos de Jiwoo estavam carregados de tristeza e isso era um mau presságio.
“Tanto eu tinha pra dizer, tanta coisa eu calei, foi por medo de sofrer que eu estou sofrendo.” Jiwoo completou emocionada. “E nós não podemos continuar nessa negação, porque ela nos leva ao destino que mais tentamos evitar.”
Sooyoung apenas assentiu e também abaixou a cabeça.
Sabia que Jiwoo estava com a razão.
“Foi por medo de perder que eu perdi você.” Sooyoung sussurrou e olhou para Jiwoo, já com os olhos cheios de lágrimas e com uma pontinha de esperança de que a filha do reverendo quisesse reatar, e  então corresse para o seu abraço.
Mas não aconteceu.
Jiwoo suspirou fundo e fechou os olhos e depois saiu do quarto, confirmando que Sooyoung a havia mesmo perdido.
A guitarrista viu seu sonho lindo ser despedaçado novamente.
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Segunda-feira chegou, e, com isso, também chegou o dia de Hyejoo deixar a casa de Chae Won e voltar para a sua nova casa, afinal, sua mãe chegaria de Daegu a noite.
“Chae Won, o que você acha?” Ela perguntou para a amiga, enquanto caminhavam durante a volta para a casa do reverendo.
Chae Won estava ajudando Hyejoo a carregar suas coisas.
Hyejoo levantou o celular e mostrou a imagem de uma boneca de pano bege, com olhos de botão costurados, um maior marrom e outro menor preto. Do lado do objeto, tinha uma caixinha com vários alfinetes.
“Minha nossa! Que coisa mais feia!” Chae Won respondeu sem rodeios e com toda a sinceridade do mundo após colocar a mão sobre o peito. “Olha, eu sei que você não gosta de Barbie, mas tem bonecas mais bonitas pra você comprar do que essa coisa esquisita aí.”
“Chae Won, isso não é uma boneca comum, é um vudu.” Hyejoo explicou calmamente, e a sua amiga arregalou os olhos e fez sinal da cruz. “Tô pensando em comprar um pra usar contra o Donghae.”
“Ai que horror!” Chae Won exclamou, chocada. “O reverendo é um homem de Deus, então é capaz disso daí ricochetear lá no anjo da guarda dele e voltar tudo pra você. Não mexe com essas coisas, não, Hyejoo.” Ela alertou a outra, com séria preocupação.
A morena riu daquilo, não demonstrando medo.
“Ela é ainda é menos feia que a vovó gagá.” Hyejoo comentou ácida e riu. “Mas eu tava só brincando, sua boba.” Hyejoo esclareceu. “Mas ia ser engraçado fazer o boneco dele começar a dançar lá hora do culto. Imagina só: ele tá lá: toda honra e toda glória ao Senh...Oppa Gangnam Style!” A garota começou a fazer a dancinha do megahit do Psy.
Chae Won riu da cena e das besteiras que passava pela cabeça da garota. Hyejoo não prestava.
Elas seguiram pelo caminho, conversando e brincando, até chegarem ao seu destino.
“Enfim, a nossa semana acabou e eu tenho que voltar pra minha vida chata, com aquele reverendo chato, com aquela filha dele chata, com aquele bando de crente chato, com a minha irmã chata, com a minha mãe chata, tudo chato.” Hyejoo se lamentou e suspirou fundo.
“Talvez não seja tão ruim assim, Hyejoo. Pensa nisso como a chance de um novo começo. Uma grande mudança na sua vida.” Chae Won tentou ser mais positiva, tentando animar a outra. “Você não vivia dizendo que estava no fundo do poço? Então, agora só dá pra subir.”
“Não, Chae Won. No fundo do poço sempre existe um alçapão.” Hyejoo respondeu, porque ela sabia que não existia no mundo situação ruim que não podia ficar pior, e também sabia que era impossível conviver sob o mesmo teto que Donghae sem se estressar mais do que na sua antiga casa.
Chae Won entregou a mochila que carregava para Hyejoo e se despediu da amiga com um abraço.
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No início da noite, Gyuri e Donghae chegaram e foram recebidos por uma animada Jiwoo, que até chorou ao abraçar o pai, tamanha era a falta até sentia dele.
Já o encontro de Gyuri com suas filhas foi um tanto mais frio, mas as duas meninas também abraçaram a mãe.
“Nós trouxemos presentes.” Donghae falou animado e levou as sacolas para a sala, onde todos se acomodaram.
Gyuri ficou ao lado do marido, e Sooyoung e Jiwoo também sentaram-se lado a lado, tentando agir normalmente. Hyejoo se sentou no braço do sofá, ao lado de Sooyoung.
“Esse é pra você, Hyejoo.” Gyuri entregou para a filha caçula um pacote pequeno com embrulho cinza.
Ao abrir ela viu que o presente era um boné vermelho com o 'M' do logo de Mario Bros bordado.
“Legal.” Ela falou sem muita animação, mas o colocou na cabeça em seguida. “Obrigada.”
“Esse aqui é pra você, querida.” Donghae disse e entregou um pacote pequeno, com embrulho cor de laranja, e assim que ela abriu vou uma pelúcia de pinguim com cachecol, luvas e gorros na cor vermelha.
Jiwoo sorriu enquanto olhava a pelúcia.
“Muito obrigada, pai.” Ela agradeceu ao reverendo com um largo sorriso.
E então Gyuri tirou de dentro da sacola um embrulho de tamanho pequeno, o menor de todos, cor-de-vinho.
“Foi difícil encontrar algo do seu gosto, mas acho que acertei.” Gyuri falou com um certo orgulho de si mesma e abriu um sorriso.
Sooyoung abriu o pacote sem saber muito o que esperar, e, foi surpreendida.
Gyuri havia lhe dado uma pequena caixinha de música dos Beatles.
Havia esculpido as sombras dos quatro músicos de Liverpool atravessando a Abbey Road, momento eternizado por ser a capa do álbum de mesmo nome da rua.
Sooyoung sorriu, encantada com aquele presente tão singelo, mas tão bonito.
Ela levantou a tampinha da caixa e começou a girar a pequena manivela ao lado.
A música tocada era 'Let It Be'.
“É linda.” Sooyoung comentou com um sorriso. Ela tinha gostado mesmo do presente. “Obrigada, mãe.”
“Jiwoo, você foi buscar as fotos do casamento?” Donghae perguntou para a garota, que assentiu e fez o que foi pedido.
“Eu estou tão ansiosa pra ver essas fotos.” Gyuri comentou animada. “Eu estava pensando em fazer um álbum com capa de veludo vinho, e uma caixa com os nossos nomes nela.” Ela sugeriu.
“É uma boa ideia, querida.” O reverendo concordou, então Jiwoo voltou trazendo o álbum feito por ela.
“Pai, Gyuri, eu tomei a liberdade e decidi pegar as fotos do casamento e montar um álbum caseiro.” A garota disse sorrindo e estendeu as mãos, para entregar o álbum para o seu pai. “Espero que vocês gostem.”
Todos ficaram em silêncio e Donghae abriu um sorriso meio sem-graça por causa do que Gyuri havia acabado de falar.
Hyejoo, no entanto, começou a rir alto, diante da cena de constrangimento de sua mãe.
“Minha mãe odiou, olha a cara dela.” A caçula comentou, deixando a mãe numa situação ainda mais delicada, principalmente porque Donghae olhou para ela no mesmo instante.
Jiwoo ficou vermelha e acuada, sentindo que tinha feito besteira.
“Eu gostei, sim.” Gyuri mentiu e forçou um sorriso. “Hyejoo não sabe o que fala.” E olhou para a filha caçula de forma meio ameaçadora.
Donghae abriu o álbum e começou a ver o que Jiwoo tinha feito, sorrindo para a garota.
“Me desculpem por estragar o álbum de vocês.” Jiwoo falou baixo e envergonhada, enquanto Hyejoo segurava o riso, achando aquela situação muito engraçada.
“Não, não, ficou muito bom, minha filha.” Donghae assegurou, mas Jiwoo não se convenceu.
“Sim, eu gostei muito também.” Gyuri completou, mentindo. “E qualquer coisa, a gente manda fazer outras cópias e um novo álbum pra mostrar pros nossos convidados, e esse a gente deixa aqui em casa, só pra gente mesmo.” Ela sugeriu, tentando não parecer antipática, mas, de forma alguma iria mostrar pras pessoas de fora aquele negócio de visual de menininha adolescente.
“Imagina se você não tivesse gostado, né, mãe?” Hyejoo provocou novamente
“Hyejoo! Chega!” Gyuri ordenou, com impaciência e um tom firme, mas sem gritar.
“Depois a gente vê o que faz sobre isso, nós acabamos de chegar de viagem e eu tô com fome.” Donghae mudou o assunto e se levantou, mas Gyuri chegou em sua mão.
“Amor, senta aí, descansa, você dirigiu por horas a fio, deixa que eu preparo algo pra você comer.” Ela disse e também se levantou. “Agora você tem uma esposa pra cuidar de você.” Ela frisou e seguiu para a cozinha, acompanhada do marido.
Já Jiwoo saiu da sala, demonstrando estar desanimada e decepcionada consigo mesma por ter feito uma bobagem tão grande com as fotos do casamento de seu pai.
“Monstro.” Sooyoung falou para Hyejoo, que riu de novo.
A mais velha se levantou e foi atrás de Jiwoo, e a encontrou sentada no degrau da varanda.
Sooyoung se sentou ao seu lado.
“Não fica triste, não. O álbum que você fez ficou bonito.” Ela tentou consolar a outra. “Eu tenho umas fotos antigas que estão soltas por aí, seria legal colocar num álbum daqueles, se você quiser, é claro.”
“Obrigada, Sooyoung, mas eu sei que eu estraguei o álbum de casamento com aquela ideia ridícula.” Ela respondeu. “Sua mãe odiou, e ela tá certa.”
“Jiwoo, não dê bola pras coisas que a Hyejoo fala, ela gosta de tumultuar.” Sooyoung a aconselhou. “E a minha mãe é meio enjoada mesmo.”
“Mas ela tá certa, Sooyoung. O álbum de casamento é dela, tem que ser do jeito que ela quiser.”Jiwoo falou. “Acho que vai levar um tempo ainda pra eu me acostumar que agora não somos mais só o meu pai e eu, sabe? Tenho que botar na cabeça que agora ele tem uma esposa pra cuidar dele, como sua mãe mesmo disse.”
“Não se preocupe, eu vou estar aqui pra te ajudar.” Sooyoung garantiu e abriu um sorriso e Jiwoo sorriu de volta.
“Obrigada.” A mais jovem agradeceu.
“A gente pode ajudar uma a outra, não precisamos passar por todos esses problemas sozinhas.” Sooyoung reforçou e pegou na mão direita de Jiwoo, entrelaçando seus dedos.
O contato com Sooyoung, mesmo que inocente como esse, deixava o coração de Jiwoo acelerado.
No entanto, as mãos se soltaram instantaneamente quanto elas ouviram a porta atrás dela se abrindo.
“Meninas, venham com...mer.” Era Gyuri quem estava ali, e ficou ligeiramente surpresa ao notar o contato cortado de forma abrupta.
Achou estranho , principalmente pelo fato delas terem tomado aquele susto.
Ela balançou a cabeça negativamente, tratando de expulsar qualquer pensamento paranoico e indevido em relação a garotas, que se levantaram e a acompanharam de volta para dentro da residência.
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“É impressão minha ou você tá me levando pra casa da Jin Sol?” Sooyoung questionou Kahei após reconhecer o caminho.
Era sexta-feira a noite, e ela tinha sido chamada pela amiga para ir ao cinema pela amiga, mas pelo visto, estavam indo pra outro lugar.
“Não é impressão sua, não, a gente tá indo pra lá mesmo.” Kahei respondeu e deu uma piscadela e Sooyoung suspirou.
“Pra quê isso, Kahei? Eu ainda não superei essa minha saída da banda.” Sooyoung reclamou.
“Foi a Jin Sol quem me pediu pra te levar lá. Ela disse que as meninas passaram a semana toda preparando uma homenagem pra você.” A outra explicou.
“Homenagem é pra quem morreu.” Sooyoung respondeu meio grosseira, mas não foi por maldade ou por desprezo ao trabalho de suas amigas, mas sim porque sabia que iria chorar ao vê-las novamente, ainda mais em uma homenagem para si, e tudo o que ela queria era ficar feliz e se distrair um pouco.
Sooyoung queria evitar tanto esse assunto, que a primeira coisa que fez no último sábado após se despedir das amigas foi sair do grupo de WhatsApp da banda.
“Quanto mau humor.” Kahei ironizou. “Elas só querem mostrar o quanto você é importante pra elas.”
“Eu sei, Kahei, eu sei, é que eu ainda fico sensível com esse negócio.” Ela se explicou e abaixou a cabeça e Kahei assentiu, entendendo o sentimento da outra.
“A Haseul vai tá lá?” Sooyoung perguntou após algum tempo, imaginando como ela e Kahei ficariam no mesmo ambiente.
“Claro, né? Ela é parte da banda, então sim, vai estar.” Kahei respondeu calma. “Eu sei o que você deve estar pensando, mas eu e ela não somos inimigas, e por mim, vamos continuar próximas. Sem mágoas.”
Levou mais algum tempo, até elas finalmente chegarem ao seu destino, e ao entrarem na garagem, encontraram as garotas conversando animadas.
“Sooyoung!” Jin Sol exclamou alto, e as quatro membros da banda foram ao seu encontro, lhe dar um abraço muito aconchegante e acolhedor, como se fizesse muito mais tempo que não a vissem.
Elas também cumprimentaram Kahei, com a exceção de Haseul, que agiu como se a chinesa não estivesse ali, evitando até mesmo olhar para a sua direção.
Kahei ficou levemente desconfortável com aquela reação por parte da outra, mas em parte era até compreensível e ela sabia disso, por isso não iria criar caso com a ex.
“Nós queremos te dar um presente.” Jung Eun falou sorrindo. “Vamos, meninas.”
“Esperamos que você goste.” Yerim completou sorrindo, enquanto Jin Sol foi buscar dois banquinhos para Sooyoung e Kahei se sentarem, para assistirem a apresentação.
As garotas pegaram seus instrumentos, inclusive Haseul, que estava com seu violão, para tocar a base no lugar de Sooyoung e Jung Eun assumiu o vocal de apoio.
Elas começaram a tocar a música 'Don't dream it's over' do Crowded House.
“There is freedom within, there is freedom without
Try to catch the deluge in a paper cup
There's a battle ahead, many battles are lost
But you'll never see the end of the road
While you're traveling with me
Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win
Now I'm walking again to the beat of a drum
And I'm counting the steps to the door of your heart
Only shadows ahead barely clearing the roof
Get to know the feeling of liberation and release
Hey now, hey now
Don't dream it's over
Hey now, hey now
When the world comes in
They come, they come
To build a wall between us
We know they won't win
Don't let them win
Hey now, hey now
Don't let them win
Don't let them win”
Sooyoung não queria mais chorar, porque sentia que já nem tinha mais lágrimas, tanto que havia se emocionado nos últimos tempos, mas foi impossível.
E quando a música terminou, ela colocou as duas mãos sobre o rosto. Seu choro foi muito sentido, tocada pela apresentação, mas também entristecida por não fazer mais parte daquilo.
“Sooyoung, não chora, não.” Haseul pediu, e foi a primeira a vir ao encontro da garota, se ajoelhando a sua frente. As outras três garotas da banda se uniram a ela, ao redor da ex-guitarrista da Lei de Thelema.
“Para com isso, DJ Yves.” Jung Eun pediu com um risinho ao usar o apelido que Sooyoung odiava.
“Você ouviu o que a gente acabou de cantar? Não sonhe que isso terminou.” Yerim falou.
“Eu não tenho nem palavras pra agradecer vocês, meninas.” Sooyoung começou a falar após conseguir se acalmar um pouco, quando sentiu alguém tocar em seu ombro, fazendo-a olhar para trás no mesmo instante.
Era Kahei, que estava sorrindo e segurando uma guitarra pelo braço.
Era uma Fender Telecaster Standard vinho e branca.
Sooyoung ficou sem reação por alguns instantes, parecendo não acreditar no que estava diante de seus olhos.
Aquela guitarra era pra ela?
“E aí, gostou?” Kahei perguntou.
“Gente? Vocês...? Onde... onde vocês conseguiram...?” Sooyoung perguntou, ainda em choque, com dificuldade até de ficar em pé, porque suas pernas estavam trêmulas.
“Trabalho em equipe.” Jin Sol respondeu orgulhosa.
“É, a gente assaltou um banco.” Jung Eun brincou e riu. “Nós não podíamos deixar a nossa DJ Yves ir embora assim sem fazer nada.”
“A gente pode perder, mas morre atirando.” Yerim comentou.
“Mas a verdade é que todo mundo deu um pouquinho de dinheiro, e não ficou pesado pra ninguém.” Haseul explicou de forma simpática.
“Mas a pessoa que teve a ideia e conseguiu a guitarra mesmo foi a Kahei.” Jin Sol esclareceu.
“Sim, mas eu não teria conseguido comprá-la sem a ajuda de todas aqui.” Kahei respondeu, dividindo o crédito com todas as outras meninas. “No sábado quando eu saí com o Brian, ele comentou que um amigo estava precisando de grana, por isso tava vendendo algumas das guitarras que ele colecionava, aí eu entrei em contato e consegui negociar essa aqui com ele.”
“Vocês são demais, sério.” Sooyoung agradeceu, sorindo e chorando ao mesmo tempo. “Eu não tenho nem palavras pra agradecer isso o que vocês estão fazendo por mim.”
“Diz que aceita voltar pra banda e isso já basta.” Haseul pediu.
“Mas é claro que eu volto.” Sooyoung respondeu de imediato e as meninas comemoraram.
Ela nunca quis nem sair da banda.
Sooyoung nem acreditou quando colocou as mãos naquele magnífico instrumento.
“Agora você vai ter que tocar pra gente.” Jin Sol falou animada e Sooyoung assentiu.
Depois daquele presentão, ela faria um show completo se as meninas pedissem.
Após ligar a guitarra na caixa amplificadora e afiná-la, Sooyoung escolheu a música 'If you could read my mind' de Johnny Cash pra estreia-la.
“If you could read my mind, love,
What a tale my thoughts could tell.
Just like an old time movie,
'Bout a ghost from a wishing well.
In a castle dark or a fortress strong,
With chains upon my feet.
You know that ghost is me.
And I will never be set free
As long as I'm a ghost that you can't see.
If I could read your mind, love,
What a tale your thoughts could tell.
Just like a paperback novel,
The kind the drugstores sell.
When you reached the part where the heartaches come,
The hero would be me.
But heroes often fail,
And you won't read that book again
Because the ending's just too hard to take!”






























































You're my sunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora