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“Jogo ridículo.” Hyejoo resmungou mal-humorada ao clicar sem querer no ícone de Jurassic World, aquele jogo besta que só uma pessoa besta como Chae Won poderia gostar, e só alguém mais besta ainda, como ela, poderia se deixar convencer por aquela loira burra oxigenada e baixar aquela porcaria que ocupava um bom espaço de memória em seu celular.
A garota estava sentada no degrau da porta de entrada pra sua casa, que agora tinha uma placa anunciando a venda do imóvel, coisa que havia aborrecido muito a garota. Não achava justo sua mãe vender a casa que elas moravam e se jogar num relacionamento, que poderia acabar.
Se um dia Donghae se separasse de Gyuri, elas iriam viver onde? Naqueles apartamentos horríveis debaixo do chão no centro da cidade? Na favela de Guryong?  Debaixo de algum viaduto?
Mas como falar não adiantava, Hyejoo decidiu ocupar sua mente com a única coisa que ainda lhe restava: seus jogos.
Já era a noite de sexta, o vento estava bastante gelado e a rua estava pouco movimentada, por isso Gyuri já havia lhe mandado voltar para dentro duas vezes, mas ela ignorou a mãe e  permaneceu ali, na companhia de si mesma e de seu celular.
Apesar de abrir o Jurassic World sem querer, ela ficou ali, olhando para a tela onde seu parque de dinossauros se encontrava.
“Só Chae Won mesmo pra gostar de um jogo entediante como esse.” Murmurou enquanto recolhia as moedas dos animais.
Hyejoo era orgulhosa e não estava disposta a admitir pra ninguém, mas ela estava como Lana Del Rey, se sentindo tão sozinha na sexta-feira a noite, porque seus fim-de-semana eram preenchidos pela companhia da amiga, mesmo que cada uma estivesse em sua própria casa, mas elas estavam sempre trocando mensagens e jogando juntas e isso era o suficiente para preencher a lacuna vazia do coração de Hyejoo.
Queria que aquela tonta criasse vergonha na cara e viesse lhe pedir desculpas, já que mesmo não merecendo, Hyejoo estava disposta a lhe perdoar, porém era capaz dela estar muito ocupada no momento conversando sobre sua coleção de Barbies com suas novas amiguinhas patricinhas fúteis.
Ainda naquele jogo chato, Hyejoo decidiu ir pro único modo vagamente divertido dali: o de batalhas online.
O conceito das batalhas era simples: você selecionava três dinossauros entre os que possuía, e o jogo selecionava um adversário, uma pessoa aleatória, de qualquer parte do mundo, para disputar um prêmio com você. Como o jogo exigia login do Facebook, você via o nome e a foto da pessoa com quem jogava contra, e isso podia tornar derrotas mais humilhantes caso o seu adversário fosse uma criança, ou pior ainda, um velho.
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Hyejoo e Chae Won estavam sentadas lado a lado no pátio da escola, e a loira jogava Jurassic World em seu celular, enquanto Hyejoo apenas estava lhe dando apoio moral, quando o adversário da loira foi revelado: um velho branquelo grisalho chamado Jordan.
“Ganhar desse coroa aí é sua obrigação moral, Chae Won.” Hyejoo falou para a amiga, que apenas assentiu, com os olhos fixos na tela de seu celular, com toda sua atenção focada na batalha que havia começado.
Hyejoo apenas permaneceu em silêncio, enquanto via a amiga, que por azar, estava com um trio de dinossauros em categoria de desvantagem contra o velho, e como as batalhas envolviam tática e uma dose de matemática, Chae Won acabou perdendo a batalha.
“Caralho, Chae Won, mas você é lesada mesmo, conseguiu perder pra um velho desses.” Hyejoo a provocou, rindo, enquanto a loira olhava abismada para o celular.
“Eu não acredito que perdi essa batalha.” Sussurrou, ainda incrédula. Perder não era algo incomum para a garota, mas era a primeira vez que ela era vencida por um idoso.
“Desonra! Desonra pra toda a sua família, desonra pra tu, desonra pra tua vaca.” Hyejoo brincou, imitando o dragão Mushu, da animação Mulan, e isso fez Chae Won começar a rir, já que esse era um de seus filmes favoritos, o qual ela já tinha assistido pelo menos uma dezena de vezes com sua melhor amiga.
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“Porra.” Hyejoo reclamou baixo, ao perder a batalha. A verdade é que ela nem tinha prestado muita atenção no que estava fazendo, devido a lembrança com Chae Won.
Nesse instante um carro virou a esquina e estacionou em frente a sua casa, chamando a atenção da jovem, que logo reconheceu o veículo, de onde desceram Jiwoo e Donghae.
A garota a cumprimentou baixo e parecia bastante séria, tão séria que Hyejoo até se surpreendeu. Ela tinha seus cabelos presos em um rabo-de-cavalo e usava uma blusa de lã azul escura, com uma calça jeans compondo o resto das vestimentas.
Jiwoo abaixou a cabeça e ficou esperando seu pai trancar todo o carro, acionar o alarme e depois seguir com ele para dentro da casa.
“Está frio aqui fora, Hyejoo, não acha melhor entrar?” Donghae sugeriu simpático, cruzando os braços e se encolhendo um pouco assim que uma rajada de vento bateu.
“Não.” Hyejoo respondeu seca, nem olhando para a cara do pastor. “Eu estou bem aqui.” Completou voltando a atenção para seu celular.
Donghae crispou os lábios, mas não disse mais nada, após mais uma tentativa frustrada de iniciar um diálogo com a filha caçula de sua futura esposa.
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Sooyoung estava terminando de se arrumar em seu quarto, enquanto trocava mensagens com Kahei. Como o combinado com Gyuri, a garota havia colocado todas as suas roupas dentro de caixas de papelão, as quais tinha escrito o seu nome com uma canetinha.
“Eu já tô chegando.” Kahei mandou.
“Mas você tá chegando mesmo ou ainda nem saiu de casa? Porque eu já tô pronta.” Sooyoung perguntou, conhecendo bem a amiga.
“Eu já tô chegando mesmo, só parei pra abastecer rapidinho. Pode me esperar, gata.” A chinesa esclareceu, e mandou um emoji piscando na sequência.
Sooyoung pegou a jaqueta de couro que estava em cima de sua cama, e a vestiu por cima da camiseta preta e branca listrada. Ela estava usando uma calça jeans preta e um tênis All Star da mesma cor nos pés.
Ajeitou a jaqueta e passou a mão pelo cabelo olhando no espelho de seu guarda-roupa vazio.
Estava concentrada em seu visual, quando ouviu vozes vindo da sala de sua casa, e logo reconheceu ser de Donghae.
Jiwoo estava ali.
A verdade é que Sooyoung ainda não havia engolido aquela história de frequentar estudos bíblicos, muito menos a possibilidade de se converter e se batizar, mas ainda assim, não conseguia não se sentir nervosa só pela garota estar tão próxima.
Mas de qualquer forma, ela precisava sair do quarto, já que dentro de minutos Kahei chegaria para lhe buscar.
Ao sair do quarto, ela seguiu para a sala, onde encontrou Jiwoo, junto de Donghae e Gyuri.
A garota, que estava sentada no sofá, cabisbaixa, por instinto virou sua cabeça e ao ver Sooyoung vestida daquele jeito sentiu até uma onda de calor percorrendo por todo o seu corpo.
Desviou o olhar no mesmo instante, juntando ainda mais as pernas, como se quisesse suprimir as sensações incontroláveis de seu íntimo. Algo inútil, para variar.
“Olá, Sooyoung.” Donghae cumprimentou a jovem, que respondeu baixo.
Jiwoo olhou rapidamente e cumprimentou a garota, evitando qualquer tipo de contato visual com a mais velha e para afastar aquelas sensações malignas rezando em pensamento, mas não pode deixar de notar sua mochila.
“Sooyoung, vai lá chamar a sua irmã pra mim.” Gyuri ordenou para a filha. “Eu já falei pra ela entrar duas vezes, se eu for lá de novo, vou acabar me irritando.”
Sooyoung apenas assentiu e foi até a porta da frente, já Gyuri olhou para Donghae com certa vergonha por demonstrar não ter controle sobre a filha, mas sabia que se fosse lá fora, iria acabar extrapolando e colocando Hyejoo para dentro de casa na base dos tabefes.
Aliás, a garota tinha passado a semana inteira testando sua paciência, e era quase um milagre que Gyuri não tivesse perdido a paciência e lhe dado boas pancadas.
Escutou Sooyoung conversando com a irmã e logo depois fechando a porta e voltando para a sala sozinha.
“Ela não quis vir não, disse que tá bem lá e pra eu não encher mais o saco.” Sooyoung falou e deu os ombros, já que não podia fazer nada quanto a chatice de Hyejoo, e até tinha sido mais branda ao esconder o fato que sua irmã havia mandado ela “se foder”, porém a mais velha não quis dizer aquele palavrão na frente das visitas.
Gyuri respirou fundo e em seguida forçou um sorriso, tentando não deixar transparecer a raiva que estava dentro de si. A pior coisa que poderia lhe acontecer naquele momento era perder o controle na frente de Donghae e deixá-lo assustado e com dúvidas sobre a sua decisão de se casar com uma pessoa como ela.
“Estão com fome? Podemos pedir alguma coisa naquele aplicativo de delivery.” Donghae perguntou após um pequeno silêncio incômodo pairar ali.
“Eu agradeço, mas já vou sair, vou dormir na casa de uma amiga.” Sooyoung respondeu sorrindo simpática, e apesar de não demonstrar nenhuma reação ou mesmo se mexer, Jiwoo sentiu uma coisa bem ruim no estômago e suas pernas até ficaram meio moles.
Ela já tinha certeza de quem era essa amiga: Wong Kahei.
“Eu tô te dando um voto de confiança, espero que você não me apronte nada.” Gyuri comentou. “Atenda essa telefone se eu te ligar, mande mensagem, não me deixe sem notícias.”
“Tá bom, mãe, pode deixar.” A jovem garantiu. “Mas não tem motivo pra você se preocupar, eu já disse, nós só vamos ver alguns filmes, comer umas porcarias, essas coisas.” Completou mentindo.
A cada palavra dita por Sooyoung, Jiwoo ficava com o estômago mais revirado. Tinha certeza de que ela estava mentindo e faria outro tipo de coisa naquela noite.
Ouviram um som de carro estacionando nas proximidades, e Sooyoung reconheceu que era o ronco do motor do Corvette 77 de sua melhor amiga.
“Ela chegou.” Sooyoung falou animada, pegando sua mochila e sorrindo, pronta para sair. “Tchau, gente.”
Sooyoung se despediu rapidamente e saiu, mas não sem deixar de notar o quanto Jiwoo estava estranha, nem ao menos levantando a cabeça para se despedir.
“Confesso que me surpreendi com a Sooyoung me pedindo para dormir fora, nunca ela tinha feito isso antes.” Gyuri comentou. “Mas ultimamente Sooyoung tem se comportado bem, não há motivos para eu privá-la desse programa.”
“Concordo, a garota merece se divertir também, a vida de um jovem não pode ser só estudos e compromissos, é preciso haver equilíbrio, e desde que não se esteja fazendo nada de errado ou perigoso, nós pais temos que apoiar nossas garotas.” Donghae falou e Gyuri sorriu.
Por mais que ela não externalizasse, ser aprovada como mãe pelo seu futuro marido era algo que ela almejava ardentemente, já que apesar dele não falar muito sobre Park Jinsu, sua falecida esposa, ela sabia que a relação deles era harmoniosa e que apesar do pouco tempo que pôde conviver com Jiwoo, ela havia sido uma mãe exemplar e Gyuri não podia fazer um trabalho abaixo.
“E pelo que eu vi daquela garota amiga dela, a tal Kahei, ela me pareceu alguém de confiança.” A mulher comentou, e Jiwoo, que ainda permanecia em silêncio ao lado de seu pai, sentiu uma raiva tão grande, que chegou a fechar o punho direito.
Essa raiva lhe atingiu como uma onda violenta, causando uma pressão física em seu corpo, e fazendo um nó enorme nascer em sua garganta, forçando-a a se controlar bastante e engolir o próprio choro.
Essa súbita agressividade lhe causou uma vontade enorme de sair correndo dali, e então respirou fundo e pigarreou, atos que chamaram a atenção de seu pai.
“Está tudo bem, Jiwoo?” Donghae perguntou, ficando até assustado ao ver a expressão no rosto da filha, essa entregava que a garota não estava nada bem.
A garota comprimiu os lábios e assentiu, evitando olhar direto nos olhos de seu pai.
“Posso ir no banheiro?” Jiwoo perguntou para Gyuri.
“Claro que sim, fique a vontade.” Gyuri respondeu simpática, então a garota se levantou, pediu licença baixo e seguiu para o banheiro, sob o olhar preocupado de seu pai.
“Eu vou trazer a Hyejoo pra dentro, já volto.” Gyuri disse e se levantou do sofá.
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Uma vez dentro do banheiro, Jiwoo não contente suas lágrimas pela enorme dor e sentimento ruim que estavam dominando seu interior.
Seu peito ardia e era como se um punhal tivesse sido cravado bem em seu coração, que sangrava. Cada vez ela imaginava Sooyoung na companhia de Kahei, um instinto de agressividade lhe invadia e ela sentia uma enorme vontade de sair pela rua, ir até a casa daquela chinesa e arrancar todos os seus filhos cabelos coloridos de tinta rosa na base do puxão.
Nunca em toda a sua vida havia sentido tanta raiva de alguém como estava sentindo de Kahei naquele momento.
Aquela garota era o mau encarnado, e mesmo que Sooyoung dissesse que elas eram só amigas, Jiwoo não era idiota pra acreditar em uma mentira deslavada daquela. Era óbvio que elas tinham algo além, que era aquele menina de cabelo colorido quem tinha corrompido a alma, e talvez também o corpo de Sooyoung.
Abriu a torneira e lavou o rosto, depois respirou fundo, tentando se acalmar. Olhou no espelho e viu que seu olhos estavam vermelhos e inchados, e se ela saísse de lá naquele momento, ficaria claro que ela estava chorando, e se tinha uma coisa que ela não precisava naquela hora, era ter que ficar se explicando, até porque nem ela mesmo sabia o que estava se passando consigo.
Iria dar um tempo no banheiro até sua feição melhorar, enquanto rezava em silêncio, pedindo para que o Senhor tirasse todo aquela coisa ruim de seu coração.
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Após Gyuri fazer Hyejoo entrar em casa ameaçando lhe tirar o celular por uma semana, a adolescente se juntou ao casal na sala, mas sem interagir na conversa, mantendo-se focada apenas em seu celular e nos seus jogos.
“Bom, eu venho esperando uns dias pra anunciar uma surpresa.” Donghae falou para noiva sorrindo. “Eu podia ter dito por telefone, mas achei melhor fazê-lo pessoalmente.”
“O que é, meu querido?” Gyuri perguntou carinhosa e também curiosa, o que fez Hyejoo virar os olhos e botar a língua pra fora em uma careta debochada, enojada com aquela melação.
“Lembra que há algumas semanas estávamos conversando e você me disse que há muitos anos não via o mar? Então, eu reservei um hotel para passarmos nossa lua-de-mel em Daegu.” Ao ouvir aquilo, um largo sorriso surgiu no rosto de Gyuri. “É um quarto que tem uma vista ampla pro mar, todos os dias que estivermos por lá você vai dormir e acordar vendo e ouvindo o mar.” Ele completou sorrindo.
“Você não existe, Donghae.” Gyuri falou emocionada, e num gesto impulsivo e apaixonado, praticamente se jogou no colo do homem e lhe deu um beijo nos lábios. “Eu te amo tanto.”
Hyejoo do outro sofá observava a cena com nojo e também surpresa, porque um treco desses deveria ser caro pra caramba.
Após se recompor, Gyuri saiu do colo do homem e ambos estavam com os rostos vermelhos e rindo abobados feito adolescentes.
“Acho que eu vou ser pastora.” Hyejoo comentou, chamando a atenção dos dois adultos. “Deve ser muito bom ganhar tanta grana assim pra não fazer nada.” Completou, deixando Donghae um tanto desconcertado com o ataque.
“Hyejoo!” Chamou a atenção da garota, já se irritando novamente após o breve momento de felicidade. “Você não vai desrespeitar o Donghae de novo, tá me entendendo?”
O homem, no entanto, pediu para a mulher se acalmar.
“Se um dia você quiser conversar, eu estarei a sua disposição para te explicar como funciona o meu trabalho, e quem sabe Deus possa tocar seu coração e te mostrar que talvez esse seja o caminho que você deve seguir.” Ele disse sem se alterar e a garota riu com certo deboche. “E no mais, eu não ganho fortunas, sou apenas um homem organizado financeiramente, então cuidado com as acusações, pois “não é o que entra boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, porque procede do coração”, viu?” Completou usando um trecho bíblico, dessa vez mais sério e firme, mas sem se alterar.
Hyejoo parou de sorrir e voltou a atenção para o celular, agora sentindo um pouco mais de ranço daquele pastorzinho moralista.
Gyuri, ainda envergonhada pela postura da filha, chamou Donghae para lhe acompanhar até a cozinha, evitando ficar no mesmo ambiente em que Hyejoo.
“Posso deixar as minhas coisas aqui? Como eu vou pegar umas caixas tenho medo de deixar meu celular ou documentos caírem por aí, e depois eu não conseguir achá-los.” O homem falou e colocou sua carteira e o celular sobre a estante da sala, do lado da televisão após receber uma resposta positiva de Gyuri.
Os dois adultos seguiram para a cozinha, e Hyejoo viu a grande oportunidade que estava esperando cair em seu colo. Aquela era a chance dela conseguir baixar o app que Namjoon havia lhe passado e finalmente conseguir desmascarar aquele homem hipócrita.
Afinal, ela havia pagado um preço bem caro por aquilo: enviado uma série de fotos suas seminua para Namjoon “se divertir”, coisa que não lhe deixava nem um pouco feliz, mas que foi o que tinha que ser feito, então agora havia chegado a sua hora de se beneficiar daquilo.
Se levantou do sofá, pegou o celular de Donghae, colocou no bolso da calça e seguiu para o seu quarto.
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“Me desculpa pela grosseria da Hyejoo, Donghae.” Gyuri falou, assim que chegaram na cozinha. “Ela parece que piora um pouco a cada dia, e eu já nem sei mais o que fazer: eu já tentei conversar, eu já castiguei, já tirei o celular, já bati e mesmo assim, nada é capaz de fazê-la melhorar, ela só muda pra pior.” Desabafou com o homem, que entendia a situação complicada entre mãe e filha. “E essa semana, acredite, ela veio com uma conversa sobre eu ter um filho com você e gostar mais dele do que dela, olha se tem cabimento uma coisa dessas?” Falou e até deu um risinho nervoso, apesar de não achar graça nenhuma na situação.
Aquelas palavras surpreenderam Donghae. Nunca havia passado pela cabeça dele, nesse ponto da vida, ter um outro filho, uma vez que Jiwoo já estava chegando à idade adulta, e começar tudo outra vez nunca fez parte de seus planos.
“Olha, eu sei que eu não sou o pai dela, mas acredito que depois de todas essas suas tentativas que não deram resultado, você deveria considerar buscar ajuda profissional pra resolver essa questão com a Hyejoo.” Donghae sugeriu, surpreendendo a mulher.
“Buscar tratamento profissional?” Ela repetiu, ainda digerindo as palavras.
“Sim, buscar um tratamento psicológico.” O pastor esclareceu.
Gyuri ficou na defensiva ao ouvir aquilo e cruzou os braços. Não sabia se era uma boa ideia, por diversos motivos: uma possível rejeição de Hyejoo, que provavelmente se recusaria a se tratar, uma vez que esse tipo de coisa não era bem vista na sociedade e ela poderia se tornar um alvo de piadas caso outras pessoas ficassem sabendo; outra era a questão financeira, já que tratamentos psicológicos eram caros e não era justo que Gyuri pagasse por isso sozinha, mas se Yangnam já estava se recusando a pagar a pensão da garota, aumentar a quantia de dinheiro enviada para sua ex-esposa era algo que ele iria recusar de pronto e só aumentaria a dor de cabeça da mulher em relação a ele; e por último era o fato que Gyuri sabia que se Hyejoo aceitasse fazer o tratamento, ela iria pintar a mãe como o pior monstro que já pisou na face da Terra, já que sempre são as mães as culpadas por todos os problemas e desvios dos filhos.
“Eu não sei se Hyejoo aceitaria fazer isso, e também não acho que seja esse o caso, ainda.” Gyuri disse, tentando achar uma forma educada de se esquivar da sugestão. “Eu também não vou ter dinheiro pra ficar pagando consulta toda semana, agradeço a preocupação, mas vou adotá-la somente em um caso extremo.” Ela completou. “Vou rezar o dobro para Deus me dar a sabedoria e a paciência necessárias para resolver esse problema.”
Apesar de discordar da posição de Gyuri, ele se manteve em silêncio, já que Hyejoo era filha somente dela e tinha um pai, mesmo que distante, e que provavelmente não iria ficar nada feliz em saber que ele estava se envolvendo na vida da filha, então não se sentia confiante o suficiente para tentar contra-argumentar com sua futura esposa.
“Jiwoo ainda está no banheiro?” Donghae perguntou, porque já tinham se passado ao menos uns quinze minutos desde que a sua filha havia se trancado lá dentro. “Será que ela está passando mal?” Completou, preocupado e voltou para a sala, de onde seguiria para o banheiro, mas Jiwoo estava ali, havia acabado de sair de seu refúgio temporário.
Gyuri seguiu seu noivo.
“Me deu uma dor de barriga, mas eu já estou melhor.” Jiwoo se explicou com uma mentira vergonhosa e fazendo uma careta.
Não bastasse a raiva e a tristeza que estava sentindo, ainda tinha que passar por uma humilhação tendo que inventar uma mentira tão infantil como aquela.
“Você está passando mal, minha filha?” Donghae questionou a filha, e a garota negou.
“Não, pai, está tudo bem.” Ela mentiu novamente, já que estava com uma tristeza enorme e um coração dilacerado.  E com raiva de si mesma por não conseguir evitar se sentir daquele jeito.
Apesar da resposta dizendo o contrário, era bastante visível que a garota não estava nada bem, e não era algo que se deu apenas naquela noite de sexta. Donghae estava percebendo o quanto sua filha estava mudada há alguns dias, e isso o estava preocupando, e pela primeira vez ele se sentia perdido, não sabendo o que fazer, imaginando que pela mudança comportamental de sua filha e pelo acontecido naquela mesma semana, aquele problema tinha origem sentimental, ou seja, sua menininha estava sofrendo por amor.
“Bom, o que vocês acham de pedirmos algo pra comer antes de fazermos o que viemos fazer aqui?” Donghae sugeriu animado, tentando melhorar os ânimos. “O que quer comer, Jiwoo?” Ele perguntou, e foi direto pegar o seu celular, deixado ao lado da televisão junto de sua carteira, e estranhou ao não o ver ali.
“O que foi, Donghae?” Gyuri perguntou, assim que viu o homem começar a olhar para o chão.
“Eu acho que meu celular deve ter caído no chão, eu o deixei junto da minha carteira e ele não está mais aqui.” O homem respondeu, intrigado, achando aquela possibilidade um pouco estranha, mas sem querer levantar suspeitas ou acusar alguém injustamente. “Você viu meu celular, Jiwoo?”
“Não, senhor.” A garota respondeu, sem dar muita atenção a pequena aflição de seu pai.
Já Gyuri, no entanto, estremeceu só de pensar no que poderia ter acontecido, já que quando ela e o homem saíram da sala, Hyejoo ainda estava ali. Ela fechou os olhos e suspirou fundo, tentando arrumar forças para agir de forma serena diante de um novo ato rebelde de sua filha caçula.
“Ai meu Deus do céu, dai-me paciência, senhor.” Gyuri suplicou baixo, e sem dizer nada, apenas seguiu para o quarto que suas filhas dividiam, e deu de cara com a porta trancada, como era de se esperar.
Sem muita paciência, Gyuri bateu na porta diversas vezes, demonstrando pressa. Já tava sentindo o coração batendo forte, suas mãos estavam suadas e suas pernas trêmulas.
Se o celular de seu noivo estivesse com sua filha, Gyuri nem saberia o que era capaz de fazer. Iria ficar tão envergonhada, pois de tudo o que ela e Sooyoung haviam aprontado, nada chegava aos pés de roubar algo alheio.
A garota não respondia ao seu chamado.
“Abre logo essa porta, Hyejoo!” Gyuri ordenou, com bastante firmeza, mas tentando não gritar e nem parecer uma louca na frente de Donghae e Jiwoo, que permaneciam na sala, em um silêncio incômodo.
Só Deus mesmo para não lhe fazer enlouquecer diante de tanto problema com aquela garota.

Dentro do quarto, Hyejoo estava sentindo um pequeno medo. Tinha certeza que sua mãe não faria nada além de lhe xingar, mas quando eles fossem embora, as coisas poderiam se complicar, e pro seu azar, Sooyoung ainda não estava em casa para intervir caso a mulher acabasse se excedendo na violência. E sim, se sua mãe soubesse que ela havia pegado aquele celular, iria apanhar muito, pois já havia sido agredida por menos.
“Merda.” Sussurrou, olhando para o programa que estava quase terminando de ser baixado naquele celular de idoso do reverendo.
Precisando pensar rápido, guardou o celular de Donghae no bolso de sua calça, bagunçou um pouco seu cabelo negro e pegou seu fone de ouvido conectou no próprio celular e colocou em suas orelhas, colocou “Don’t Stay” do Linkin Park pra tocar, em seguida abriu a porta, tentando agir da forma mais natural possível.
“Mas o quê que foi? Não pode mais nem ouvir uma música em paz, não?” Perguntou de forma agressiva, sob o olhar desconfiado de Gyuri, que entrou no quarto, encarando-a.
“Tira essa porcaria da orelha!” A mulher ordenou, já que Hyejoo fez questão de deixar o som alto o suficiente pra mãe ouvir a “barulheira” como ela mesma chamava. A garota pausou a música e obedeceu a ordem. “Você pegou o celular do Donghae?”
“Quê? Pra quê que eu ia fazer isso?” Ela questionou cinicamente, dando um riso debochado.
“Pra fazer o que você faz de melhor: infernizar a minha vida!” A mulher retrucou, fazendo o sorriso debochado da garota desaparecer.
“Eu não tenho nada com isso, não me enche!” Hyejoo esbravejou, e fez questão de se deitar em sua cama, de barriga para cima, para se assegurar de que o celular ficaria escondido, e cruzou os braços, com uma expressão demonstrando irritação.
Gyuri balançou a cabeça, mas deixou o quarto, ainda com a certeza de que Hyejoo  era culpada pelo sumiço estranho daquele celular. Seu coração de mãe estava gritando isso em seu peito.
Voltou para a sala e encontrou Jiwoo e Donghae procurando pelo objeto pelos arredores da casa.
“Parece que o meu celular simplesmente evaporou.” Donghae comentou, colocando as mãos na cintura e com um sorrisinho incrédulo. “Pode ser um sinal de Deus me dizendo que está na hora de eu comprar um aparelho mais novo e me livrar daquele modelo pré-histórico, como a Jiwoo fala.” Ele ainda tentou brincar e riu sozinho da própria tentativa de piada, mas logo ficou sem graça ao notar que Gyuri parecia bastante nervosa e Jiwoo tinha a sua cabeça em qualquer outro lugar, menos naquela sala.
Ele se sentiu frustrado pois era óbvio que nenhuma delas tinha lhe ouvido, mas mesmo assim decidiu mudar o rumo da conversa e dos ânimos, para que Jiwoo e Gyuri sorrissem pelo menos um pouco.
“Jiwoo, pede uma pizza pelo seu celular, melhor, pede duas, porque nós vamos precisar de muita energia hoje pra carregar um monte de caixas.” Ele brincou, mas não conseguia deixar de notar a tristeza de Gyuri, que se sentou no sofá, cabisbaixa, claramente abalada pelo o que havia acabado de acontecer.
Ela sabia que tinha dedo de Hyejoo no sumiço do celular de Donghae, não havia outra explicação possível.
Donghae se sentou em seu lado e pegou em sua mão, surpreendendo  a mulher com o gesto.
“Não fique assim, nós vamos encontrar meu celular.” Ele disse e abriu um sorriso simpático, e Gyuri, que já sentia uma lágrima escorrendo por seu rosto, sorriu de volta e se inclinou para dar um beijo nos lábios do pastor, que sempre ficava tímido com gestos como aquele, mas logo relaxou e passou a corresponder o beijo, sem nem se importar com a presença de Jiwoo.
A garota, no entanto, observou aquela cena romântica, sentindo-se ainda mais culpada. Seu pai estava tão feliz e apaixonado e então ela se deu conta que a questão de Sooyoung podia ter motivos maiores.
Antes pensava que o demônio estava usando a outra garota apenas para fazê-la cair em tentação, para lhe afastar do caminho de Deus, porém agora tudo estava claro: além de lhe desgraçar, Satanás estava querendo também  destruir o casamento de seu pai, destroçando seu coração apaixonado.
Engoliu em seco, sentindo-se ainda mais pressionada a não ceder e cair na tentação. Não eram somente os seus sentimentos que seriam destruídos com aquela insensatez, mas os de seu pai e Gyuri também, já que aquele segredo poderia destruir uma família e justamente a sua.
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Naquela noite, Sooyoung estava aliviada pela sua amiga não ter saído do carro e muito menos entrado em sua casa, pois as suas vestimentas iriam causar bastante incômodo em Gyuri e até em Donghae, já que ela estava usando uma minissaia jeans e desfiada, uma meia arrastão-preta, com uma bota de salto alto da mesma cor, e pra completar uma camiseta branca lisa com uma jaqueta no estilo bomber com estampas coloridos por cima. Seu cabelo rosa estava solto ao vento, e ela estava com um perfume delicioso e envolvente.
Sooyoung tentou não parecer uma tarada nem nada, mas não dava pra negar o quanto sua amiga estava gostosa naquela roupa e não conseguiu não ficar, de forma disfarçada, olhando para suas coxas enquanto a mesma dirigia, conversando e rindo, de forma até inocente.
Quando elas chegaram ao seu destino, Sooyoung ficou surpresa com o que encontrou. O local não era grande, e nem precisava, afinal, ela morava sozinha, mas era a cara dela: as paredes da sala eram rosa-choque, com vários quadros com estética antiga pendurados por elas: haviam imagens dos Beatles atravessando a Abbey Road, do Elvis Presley em sua melhor fase visual com topete, jaqueta de couro e sua clássica guitarra, da Marilyn Monroe fazendo uma bola de chiclete, do James Dean fumando, de Frida Kahlo, de uma pin up gostosa loira trocando um pneu de um carro com o vestido branco levantado e a lingerie preta aparecendo, de um cara bonitão de cabelos negros, óculos escuros, jaqueta de couro, calça jeans, com uma expressão rebelde, de braços cruzados encostado em um muro, e também haviam, para uma surpresa de Sooyoung, dois quadros da propaganda comunista chinesa, um com uma mulher segurando uma foice que se cruzava com um martelo segurando por um homem, frente a uma bandeira vermelha e outro do próprio Mao Tse-Tung, em frente a um pequeno grupo de pessoas junto de uma bandeira comunista.
Compondo o ambiente , haviam também duas poltronas e um sofá de couro vermelho no estilo vintage, um painel branco com uma TV de 32 polegadas e uma luminária em formato de coração, e o que deu, sem dúvidas, o toque mais legal de todos: um toca-discos de madeira com a tampa de acrílico transparente, lindíssimo, muito bem conservado, mas que deveria ter, no mínimo, uns 40 anos de existência, junto de duas caixas de som, da mesma cor marrom, e embaixo do painel, havia um baú de madeira, também branco.
“Uau, sua casa é bem legal.” Sooyoung elogiou, vendo que pelo menos a sala, tinha mesmo a cara de Kahei.
“Calma, que você ainda não viu a parte mais legal.” A chinesa respondeu, sorrindo, caminhando até o baú. “Vem aqui dar uma olhada nisso.” Sooyoung atendeu ao pedido da amiga e se aproximou dela. “Lembra que eu te falei que tinha algo pra te mostrar? Foi um presente do meu avô, esse toca-discos e quatro décadas de LP´s colecionados.”
Quando Kahei abriu a tampa do baú, Sooyoung ficou boquiaberta, nunca imaginou ver uma raridade daquelas em toda a sua vida.
“Caralho, Kahei, isso é um tesouro.” A jovem falou, se ajoelhando e começando a olhar com mais atenção para os álbuns ali dentro.
“Não é à toa que está em um baú.” A mais velha brincou, e se ajoelhou ao lado da amiga. “Vamos ouvir alguma coisa?”
“Claro, claro.” Sooyoung respondeu animada. Tinha álbum de vários estilos ali dentro, e só em uma olhada rápida, ela viu alguns clássicos como: o álbum branco dos Beatles, uns dois álbuns do Elvis, Rolling Stones, Buddy Holly, Queen e até Thriller do Michael Jackson, a.k.a o álbum mais vendido da história da música.
“Você lembra da nossa primeira conversa? No Facebook?” Kahei perguntou, de forma aleatória, enquanto pegava um álbum dentre aquele monte.
“Lembro que foi num grupo que falava sobre música, bandas de rock, mas não lembro o teor da conversa.” Sooyoung respondeu sincera, tentando puxar aquele dia, que agora parecia tão distante, em sua memória.
“Era uma postagem sobre o Queen, falando sobre a melhor música deles, e eu tinha comentado que era “I want to break free” e falei que era por causa de ser uma música revolucionária, que fala sobre liberdade, sobre amor, e o videoclipe é hilário e progressista por ter todos os integrantes da banda vestidos como mulheres que se libertam de um ambiente doméstico tóxico e explorador.”
“Nossa, você fez uma tese sobre essa música.” Sooyoung brincou e Kahei riu, concordando. “E o que eu falei?”
“Você respondeu dizendo que eu tava muito emocionada e que era só uma música de viadinho.” A resposta de Kahei fez Sooyoung rir alto, porque ela se lembrou de que realmente falava isso daquela música, mesmo já gostando dela.
“Desculpa, eu era escrota demais antes.” Sooyoung falou e Kahei riu.
“Na hora eu fiquei muito puta e pensei em xingar muito a otária que tinha me falado aquilo, porém, quando eu entrei no seu perfil e vi o quanto você era gata, decidi não fazer isso e te mandei uma solicitação de amizade, acho que você nem se lembrou que eu era a pessoa que você tinha zoado naquele grupo.” Kahei completou e riu, com Sooyoung concordando. “Pra ver como a vida é engraçada, eu conheci a melhor pessoa da minha vida de um jeito inesperado e torto.”
Sooyoung sorriu tímida e corou levemente ao ouvir aquele elogio.
“A minha escrotidão, pelo menos, serviu pra algo bom, e eu calei a minha boca, né? Porque agora o viadinho sou eu.” Sooyoung brincou e Kahei riu.
“Eu te levei pro mau caminho.” Disse e deu os ombros, então levantou o LP que tinha pego, era do Johnny Rivers. “Você quer dançar?” Falou sorrindo, já que “Do you want to dance?” era uma das músicas mais famosas do cantor.
“Claro.” Sooyoung respondeu, e as duas levantaram, enquanto Kahei foi colocar o álbum no toca-discos.
“Eu acho que o Johnny Rivers era muito gostoso quando era novo, nossa, juro que se eu tivesse uma chance, eu sentava.” Kahei comentou aleatoriamente, o que fez Sooyoung fazer uma careta de nojo e balançar a cabeça negativamente, sem que sua amiga visse, já que estava de costas para ela e com a atenção toda voltada para o que estava fazendo.
Quando a música começou, Kahei foi até o interruptor, apagou a lâmpada comum e acendeu a luminária de neon rosa em forma de coração, que ficava ao lado da televisão.
Sooyoung ficou estática e sorrindo, mas um pouco nervosa, pensando se aquela história de festa não era uma apenas uma invenção pra que elas pudessem dormir juntas, afinal, parecia tudo tão bem planejado, e aquele ambiente era perfeito para seduzir alguém, e Sooyoung não conseguiu evitar e imaginar como seria se Jiwoo estivesse ali.
“E aí, gostou?” Kahei perguntou, chegando perto de Sooyoung, colocando as duas mãos sobre os seus ombros. Por instinto, a outra passou a segurar em sua cintura, também com as duas mãos, enquanto começaram a se movimentar devagar, dançando a música que era lenta.
“É bem legal mesmo.” Sooyoung concordou. “Você traz muitas meninas aqui? Ou caras, sei lá.”
Kahei riu daquela pergunta.
“Algumas meninas, elas gostam mais.” Ela respondeu, sorrindo, orgulhosa. “Caras são mais diretos, eles já preferem o caminho do quarto.” Sooyoung apenas assentiu e não disse nada, não tinha nenhuma experiência nessas questões. “Eu tô brincando, eu quase não trago ninguém aqui.”
“É, você vai na casa deles também, né?” Sooyoung falou, irônica e ácida.
“O que foi? Você tá com ciúmes de mim?” A chinesa brincou e a outra soltou um riso debochado.
“Pfft... Claro que não.” Ela respondeu rindo, como se tivesse ouvido o maior absurdo de sua vida. “Você é livre, e o seu coração é como sua casa: com espaço de sobra pra quem quer que seja.”
“Não precisa ter ciúmes, Sooyoung, ninguém nunca vai tomar o seu lugar no meu coração.” Ela respondeu sorrindo de forma simpática e brincalhona, e Sooyoung corou levemente, abaixando a cabeça e ficando sem ter o que falar.
Porém, a atmosfera foi quebrada pelo som alto da campainha.
“Ué, quem será essa hora? Eu falei pras meninas virem só mais tarde.” A chinesa comentou.
“Você não pediu nada pra entrega?” Sooyoung perguntou, também estranhando.
“Não, eu já comprei tudo com antecedência.” Ela esclareceu, e então foi acender a luz, antes de abrir a porta, e se surpreender com quem ali estava. “Haseul?”
A garota de cabelos curtos estava usando uma calça jeans azul clara, tênis esportivos brancos e um moletom azul escuro, além de um boné com a aba virada pra frente no mesmo tom. Em suas mãos tinham um buquê de flores e uma caixa de bombons finos, e ela sorriu ao ver a chinesa.
“Oi, Kahei.” Cumprimentou a ex-namorada de forma um tanto tímida, porém, assim que seus olhos avistaram Sooyoung lá no fundo da sala, o sorriso logo se desfez e ela entender a expressão no rosto de Kahei, que parecia desconfortável por vê-la ali.
Mais uma vez havia sido posta de lado em detrimento daquela garota, e mais uma vez estava fazendo papel de idiota.
“Eu pensei em chegar um pouco antes e te fazer uma surpresa pra gente conversar, mas pelo visto, já chegaram antes de mim.” Comentou amarga e contendo o choro, e então se virou para ir embora, com passos rápidos.
“Haseul, espera!” Kahei pediu e foi atrás dela, deixando Sooyoung no meio da sala, sem nem saber o que fazer ou dizer, mas agora com a certeza de que não havia sido enganada por Kahei, e a história da festa era realmente verdade.


























































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