“Morre, capeta!” Hyejoo falou alto, enquanto jogava Free Fire em seu celular, surpreendendo Sooyoung que entrou no quarto e encontrou a irmã mais nova sentada em sua cama e apertando do celular com pressa e força. “Desgraça!”
Sooyoung suspirou e revirou os olhos. Era tão frustrante chegar em casa e encarar sua realidade após passar uma tarde em um ambiente que lhe trouxe paz e lhe transmitiu tranquilidade como a casa de Jiwoo.
“Ah, puta que pariu! Vai tomar no cu, moleque noob do caralho!” Hyejoo continuou esbravejando.
“Abriu a boca de esgoto? Em menos de um minuto você já falou um caminhão de palavrões.” Sooyoung repreendeu a irmã, que até largou o celular e encarou a outra.
“Qual é, hein? Já foi contaminada pela crentelhice dos seus amiguinhos da igreja, é?” Ela debochou. “Vê se me erra, sua babaca insuportável.”
“Você parece que gosta de ser desagradável.” Sooyoung acusou e Hyejoo soltou um riso debochado diante da afirmação.
“Com você eu gosto mesmo.” Provocou sem pestanejar.
Sooyoung até pensou em descer o nível e dar a Hyejoo a resposta que ela merecia, mas tinha em mente que ela era a pessoa mais inteligente e racional das duas, e aquela discussão não tomaria um bom caminho, e tudo o que ela menos precisava naquele momento era ter problemas em casa.
Sooyoung guardou suas coisas e decidiu tomar um banho antes de comer alguma coisa.
Havia tido um dia bom e não precisava estragar isso se deixando levar pelas provocações infantis de Hyejoo, e também precisava repassar o convite do cinema de Jiwoo para ela.
Enquanto lavava seus cabelos negros considerava a ideia de não falar nada sobre aquilo com a irmã e depois dizer para a filha de reverendo Kim que, chata como era, Hyejoo havia negado o seu convite, mas o súbito pensamento de ser pega mentindo para a sua mais nova amiga e magoar os sentimentos da menina, que estava tendo tão boa vontade e intenção, para com elas.
Apesar de não ser o que ela queria, deveria falar com Hyejoo sobre o cinema na sexta.
Após terminar o seu banho e comer, voltou para o quarto, onde Hyejoo já não jogava mais, apenas rolava pelo seu feed no Facebook sem muito interesse.
“Hyejoo, eu tenho uma coisa pra te falar.” Ela começou, enquanto andou até o seu material escolar e começou a fingir que estava conferindo seus cadernos, para não olhar diretamente para a outra enquanto conversavam. “Você tá afim de ir ao cinema na sexta?”
Hyejoo arqueou uma sobrancelha e olhou com surpresa para a irmã mais velha. Não era nem um pouco comum Sooyoung lhe chamar para sair, e isso lhe deu a certeza de que algo diferente estava acontecendo.
“Que bicho te mordeu?” Hyejoo ironizou. “Tá gravando aí com o seu celular pra pegadinha de algum canal no YouTube?”
“Para de graça, pô.” Sooyoung disse com certa impaciência. “Só me responde se quer ou não ir com a gente no cinema.”
“A gente? É uma excursão do pessoalzinho da igreja?” Ela continuou com as ironias, que Sooyoung se esforçou para ignorar.
“Comigo e a... e a Jiwoo.”
Aquela resposta fez Hyejoo cair na gargalhada, como se tivesse ouvido uma piada muito boa.
“Ai ai Sooyoung, cara, na real, eu detesto ficar de vela em encontro de casais.” Hyejoo zombou, e usou toda a sua habilidade para desviar por poucos centímetros do estojo que a irmã atirou contra ela.
O objeto acertou a parede com tanta força que fez um barulho quase desproporcional ao seu tamanho.
“Eu vou quebrar a sua cara se você repetir esse tipo de coisa, entendeu?” Sooyoung ameaçou a irmã.
Claro que o barulho da pancada fez com que não demorasse para Gyuri aparecer ali.
“Mas o que está acontecendo aqui?” Ela perguntou, colocando as mãos na cintura e revezando seu olhar repressivo entre suas duas filhas.
“Sooyoung tentou me assassinar.” Hyejoo respondeu em um tom debochando.
“Como é que é?” A mãe perguntou novamente, olhando apenas para a filha mais velha dessa vez.
“Hyejoo fica insinuando coisas desagradáveis sobre mim, eu perdi a paciência.” A garota se explicou. “Mas eu não tentei matar ela, só queria acertar meu estojo nessa cara deslavada.”
Gyuri comprimiu os lábios e piscou algumas vezes. Hyejoo estava impossível nos últimos dias.
“Eu só falei o que todo mundo tá comentando, oras, até a mãe pensou que você deu uns pegas na Jiwoo quando viu aquele chupão no seu pescoço.” A mais nova disse no maior cinismo, fazendo Sooyoung arregalar os olhos e Gyuri corar.
“Eu não estou entendendo nada. Me expliquem o motivo dessa briga e o que Jiwoo tem a ver com você isso.” Gyuri falou tentando manter o tom de voz ameno e demonstrar calma, mesmo que por dentro quisesse explodir com a caçula.
Sooyoung explicou de forma rápida o convite de Jiwoo para ir ao cinema com as duas irmãs na sexta, enquanto Hyejoo mexia no celular fazendo pouco caso da situação.
“Eu não vou.” Ela respondeu, sem desgrudar os olhos do celular.
“E por quê não? Não custa nada você retribuir uma gentileza da Jiwoo, minha filha.” Gyuri argumentou simpática.
“Mãe, você pode me forçar a engolir esse pastor e a filha dele com esse casamento, mas não vai me fazer agir como se eles fossem minha família, porque eles nunca vão ser!” Hyejoo respondeu firme e com um tom sério, encarando Gyuri sem demonstrar medo.
A mulher andou em sua direção e com certa agressividade tomou o celular das mãos da filha.
“E agradeça ao Donghae por eu não te bater depois dessa falta de respeito!” Ela disse e Hyejoo riu e deu os ombros.
“Não faz diferença um tapa a mais, um tapa a menos... já liguei o foda-se pra isso há muito tempo.” Ela disse e ao terminar a frase, foi atingida por um tapa no rosto de Gyuri.
Sooyoung cruzou os braços e olhou para baixo. Imaginou o quanto Jiwoo se decepcionaria por saber que o seu simples e inocente convite era responsável por tamanha confusão.
“O seu celular ficará comigo até você aprender que eu não aceito mais palavrões nessa casa!” Gyuri falou para Hyejoo, que havia perdido a pose debochada e agora estava abraçada ao travesseiro, visivelmente fazendo força para segurar o choro. “E sim, você vai para o cinema com Jiwoo e Sooyoung na sexta e sem falar nenhum tipo de gracinha de mau gosto para elas.”
Após isso, a mulher deixou o quarto, fazendo Hyejoo olhar com extremo ódio para a irmã. Seus olhos estavam vermelhos, assim como a sua bochecha esquerda, púrpura pelo forte tapa que havia recebido.
Apesar de lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da mais jovem, ela abriu um sorriso totalmente vicioso.
“Isso é tudo culpa sua!” Vociferou em fúria. “Mas não se preocupe, porque vai ter troco.” E assim, ela fechou o rosto, e se deitou na cama.
Sooyoung permaneceu parada por algum tempo. Não tinha nem reação ou palavras para traduzir o que ela sentia naquele momento.
Seu dia que havia sido tão bom fora, mais uma vez, estragado por sua família disfuncional.
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No dia seguinte, Hyejoo levantou mais cedo e saiu bem antes do horário que costumava de casa, já que não fazia questão alguma da companhia de sua mãe ou de Sooyoung para a escola.
Preferia ficar esperando sozinha na frente do prédio do colégio a aturar aquelas duas sonsas. Hyejoo não costumava rezar, mas já estava até pensando em começar a fazê-lo, assim Deus a ouviria e faria com que seu pai a levasse para morar com ele na Espanha, bem longe de Gyuri, Sooyoung e agora também de Jiwoo e Donghae, os “brindes” que sua mãe lhe deu.
Esperou por alguns minutos em frente ao prédio, observando os alunos que chegavam e ali entravam, até que finalmente seus olhos reconheceram Chae Won, a única pessoa por quem ela nutria genuíno afeto, além de Yangnam.
“Chegou cedo hoje, hein?” Chae Won disse sorrindo, assim que Hyejoo chegou ao seu encontro.
“Saí antes daquele inferno de casa.” Ela respondeu amarga, enquanto ambas caminhavam juntas para o interior da escola. “Minha mãe tirou meu celular de novo.” Ela disse, com irritação. “E ainda me bateu.” Completou com uma expressão de botar medo.
“Mas o que houve dessa vez?” Chae Won perguntou solidária. Já conhecia bem a vida complicada da outra adolescente. Hyejoo não escondia nada dela.
“Culpa da Sooyoung e da filha daquele pastor picareta que a minha mãe resolveu se casar.” A garota respondeu, mas sua amiga continuou confusa.
Antes da aula começar, Hyejoo, no entanto, contou o que havia acontecido na noite anterior após Sooyoung chegar do ensaio da igreja.
“Aquela filha da puta da Sooyoung é uma cobra ainda. Ela se faz de coitadinha, mas ela é igualzinha a minha mãe, uma louca.” Hyejoo continuou a criticar sua irmã, enquanto Chae Won, que estava sentada na carteira a sua frente, havia se virado para lhe ouvir. “Eu sei que ela está adorando essa situação toda, porque agora eu estou igual a ela: uma garota sem pai.”
“Você tem certeza que é isso mesmo?” Chae Won questionou, não acreditando muito naquele raciocínio de sua amiga.
“Sim, eu sei do que falo.” Hyejoo confirmou com toda a certeza do mundo. “Mas isso não vai ficar assim, e Sooyoung vai se arrepender de tudo isso que ela está fazendo, já que agora ela virou amiguinha da filha do pastoreco.”
Nesse instante a professora entrou na sala e a conversa das duas foi interrompida pelo início da aula.
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Sexta-feira chegou, e Hyejoo acabou sendo obrigada a ir no passeio com Sooyoung e Jiwoo, mas ela estava disposta a tornar aquela ida ao cinema em um inferno. Não estava feliz e iria exteriorizar toda a sua raiva em cima das outras duas, mesmo que isso pudesse lhe causar uma surra.
Sooyoung estava um tanto animada, vestiu-se da melhor maneira possível: uma calça jeans skinny, que era a mais nova que tinha, uma camiseta preta da banda KISS e a sua jaqueta jeans favorita, a mesma que ela usou na primeira vez que encontrou Jiwoo e a mesma havia lhe elogiado.
“Esse dinheiro é pro cinema e pra um lanche depois do filme.” Gyuri comentou e entregou uma quantia pequena de dinheiro para Sooyoung.
“Obrigada, mãe.” Ela agradeceu, e o guardou no bolso da jaqueta.
Não demorou para elas ouvirem buzinas de carro, e ao saírem na porta, viram o carro de Donghae e Jiwoo sorrindo ao seu lado.
“Venham, meninas, entrem no carro. Meu pai vai nos dar uma carona até o cinema.” A garota exclamou, então Sooyoung se despediu da mãe e Hyejoo saiu sem dizer tchau, entrando no veículo da família Kim: um Kia Cerato branco. “Boa noite, meninas.”
“Boa noite.” Sooyoung respondeu, enquanto Hyejoo apenas fez um breve aceno com a cabeça.
“Tudo bem com vocês, meninas? Tiveram uma boa semana?” Donghae perguntou de forma simpática e em uma tentativa clara de criar laços amistosos com as filhas de sua futura esposa.
“Ótima.” Hyejoo respondeu cheia de ironia e olhando melancolicamente as luzes dos outros carros que passavam por eles através da janela.
“Foi uma semana normal. Tenho ensaiado bastante as músicas do grupo da igreja.” Sooyoung manteve a conversa de forma cordial e educada.
“Jiwoo me disse que você está surpreendendo a todos com suas habilidades.” Donghae comentou e trocou um risinho com a filha. Sooyoung corou levemente e ficou um tanto desconcertada, porque não era bem aquilo o que estava se passando, aliás, não era nada daquilo. “Deus te deu um dom, e agora que você está canalizando ele para o bem, as coisas vão virar ao seu favor. Deus sabe sempre o que faz.”
“É, eu acho que sim.” Sooyoung concordou, mesmo não acreditando em nada do que tinha sido lhe dito.
O resto do caminho foi mais silencioso para as duas irmãs enquanto Jiwoo e seu pai combinavam o que fariam: as três meninas teriam que estar na casa de Gyuri antes das dez e meia e viriam embora de metrô ou Uber, já que o pastor iria aproveitar o momento sozinho para levar a noiva para jantar com ele.
“Bom, chegamos.” Donghae falou, assim que estacionou o carro há alguns metros da entrada do cinema. “Juízo e divirtam-se.”
“Tchau, pai.” Jiwoo se despediu do homem.
“Obrigada pela carona, reverendo Kim.” Sooyoung agradeceu e o homem sorriu para ela.
“Não precisa agradecer.” Ele disse e depois olhou para Jiwoo.” Tchau, minha filha.” Então ligou o carro e foi embora, deixando as três garotas na calçada.
Hyejoo cruzou os braços e fechou ainda mais a cara.
“Hoje a minha mãe vai ajoelhar e não vai ser pra rezar, hein?” Hyejoo falou em um tom jocoso e com um riso sacana, dando uma cotovelada de leve em Jiwoo, deixando a religiosa totalmente constrangida.
Sooyoung arregalou os olhos e encarou a irmã caçula, incrédula com o que tinha acabado de ouvir.
“Cala a boca!” Ela ordenou, fazendo a outra rir.
“Ih, que que é, hein? Isso é a coisa mais natural do mundo, eles vão aproveitar esse momento sem as filhas por perto, pra tirar o atraso.” Ela se defendeu, como se não tivesse dito nada demais. “Quem ouve você falando, pensa que você é uma santinha pudica.”
Sooyoung bufou, segurando-se bastante para conter sua vontade de dar um soco em Hyejoo por estar sendo tão indelicada sem motivo.
“Ninguém quer saber o que você pensa, só feche essa maldi...” Ela começou em tom agressivo, e quase falou uma palavra que não era nada obscena, mas que tinha um peso forte para os cristãos. “É... essa sua boca e vamos ver o filme em paz.”
Jiwoo mantinha o total silêncio. Estava constrangida e até meio acuada, sentindo-se perdida ao ver a discussão entre irmãs.
Hyejoo, por sua vez, apenas riu e balançou a cabeça.
Elas decidiram assistir o remake de O Rei Leão, e quando estavam na porta da sala, Hyejoo foi ao banheiro, deixando o caminho livre para Sooyoung conversar sossegada com Jiwoo, que estava calada desde que saiu do carro.
“Ei, você está triste?” A mais alta perguntou, genuinamente preocupada com a amiga, que era sempre tão extrovertida e sorridente.
“Não, eu só acho melhor eu não falar muito pra não irritar ninguém.” Ela respondeu e abriu um sorriso entristecido. Já havia percebido que o clima estava pesado entre as irmãs.
“Olha, você não deve ficar assim por causa da Hyejoo. Ela está fazendo isso pra ser insuportável e estragar o nosso passeio de propósito, porque ela não queria vir.” Sooyoung explicou. “O problema dela não é com você, é comigo, não se preocupe.”
“Eu só queria que a gente pudesse ter uma noite legal.” Jiwoo falou cabisbaixa, então Sooyoung tomou a liberdade de segurar em seu queixo e erguer o seu rosto, sorrindo para ela.
“Nós vamos ter uma noite legal. Eu prometo.” Sooyoung falou confiante e com um largo sorriso, o que fez Jiwoo corar e sentir, por alguma razão desconhecida, seu coração dar uma acelerada.
“Desculpa, estou atrapalhando alguma coisa?” Hyejoo perguntou, totalmente irônica,ao aparecer ali de repente, segurando no ombro de Sooyoung, que soltou Jiwoo e até deu dois passos para trás, se afastando de supetão, como se tivesse sido flagrada em um momento totalmente íntimo.
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You're my sunshine
ФанфикHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...