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“Haseul!” Kahei chamou novamente, e por dar uma corridinha, conseguiu alcançar a garota e segurar em seu braço, forçando-a parar onde estava. “Não vai embora, não.”
“Qual é? Você me chamou pra sua festa pra quê? Pra ficar se esfregando em outra garota na minha cara?” Haseul esbravejou, com tanta raiva que sua vontade naquele momento era de jogar aquelas flores e aquele chocolate no chão e pisar em cima, assim como Kahei estava pisando em seu coração.
“Vamos conversar lá dentro, eu não quero que algum vizinho escute coisas indevidas.” Kahei pediu, falando num tom mais calmo, não querendo chamar a atenção das pessoas que moravam no entorno, porque a Coreia do Sul era um país muito conservador, e ela era assumida em seus ambientes íntimos, não queria que outras pessoas soubessem, pois não sabia o que eles poderiam fazer.
“Você já tem companhia no seu abatedouro.” Haseul ironizou.
“Não fala assim!” Kahei ordenou, não gostando nada daquele termo. “Olha, eu sei que você tá chateada, mas isso não te dá o direito de ficar falando esse tipo de coisa, é melhor você entrar e a gente conversar de forma civilizada ao invés de você ficar chorando e falando merda pra magoar os outros como uma criança mimada!”
“E você acha que as coisas que você faz não me magoam?” Haseul se defendeu. “Você sempre tá me deixando de lado por causa da Sooyoung! Eu me sinto uma verdadeira palhaça, comprei as suas flores favoritas, chocolate, me arranquei de lá da minha casa pra vir até aqui, ouvindo gracinha de macho pelo caminho, pra gente conversar a sós, e te encontro com quem? Com a Sooyoung! Eu vim te encontrar de coração aberto, disposta a fazer as pazes, mas fui recebida com um balde de água fria.” Desabafou, já não conseguindo mais segurar as lágrimas. “Não é fácil perceber que você não é correspondida na mesma intensidade pela pessoa que você gosta, que você não passa de um estepe.”
Kahei ficou envergonhada ao ouvir aquilo, pois dava pra perceber que as palavras que saíram da boca de Haseul junto daquele choro, estavam realmente sendo sentidas por ela. A outra jovem se mostrava verdadeiramente machucada e a culpa era toda sua.
“Eu sinto muito por te fazer se sentir assim.” Kahei falou, verdadeiramente arrependida. “Eu não queria que você pensasse esse tipo de coisa, que achasse que é só um passatempo, você não é.”
“Gestos dizem muito mais que palavras, e tudo o que você faz me leva a crer que é bem isso o que eu sou pra você.” Haseul falou, triste e cabisbaixa e então virou as costas para ir embora, e dessa vez, Kahei não teve coragem de ir atrás dela.
“Merda.” Murmurou, frustrada e fez o caminho de volta, cabisbaixa.
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Sooyoung se sentou no sofá, pensando em como ela parecia um ímã de confusão. Parecia até amaldiçoada, que não podia ter um único dia de paz em sua vida, não importando onde estivesse.
Enquanto isso “Do you want to dance?” tocava de fundo, e a garota não pôde deixar de lembrar que aquela era uma das músicas que ela tinha colocado na playlist que tinha pensado em mandar para Jiwoo, antes da filha do pastor passar a lhe ignorar solenemente sem um motivo plausível.
Triste, mas Sooyoung sentia que não havia nada que pudesse fazer para mudar aquela situação, só precisava arranjar uma forma de lidar com a garota, especialmente depois que elas passassem a viver juntas, porém, pra quem conseguiu conviver 15 anos com Hyejoo e com sua mãe quase surtada, conviver com a filha do pastor não parecia uma tarefa impossível, apesar de ingrata.
Não demorou para Kahei aparecer ali, visivelmente chateada e Sooyoung nem precisou perguntar nada, pois era óbvio que ela não tinha se acertado com Haseul.
“Bora beber alguma coisa?” Kahei convidou a amiga, que aceitou o convite, porém tendo em mente que não podia beber muito, já que se Gyuri ligasse, ela teria que parecer sóbria, caso contrário, teria grandes problemas.
“O que você tem aí?” Sooyoung perguntou, se levantando e acompanhando a outra até a cozinha.
“Cerveja, vodka, saquê, uísque, gin, lean, e a minha favorita: tequila.” Kahei respondeu, quase que declamando cada item, deixando Sooyoung boquiaberta com a quantidade e variedade de drinks que tinha ali.
“Caralho, você tem um bar próprio, é isso mesmo?” A morena disse e sorriu. Sua experiência nesse quesito era resumida a cerveja, e agora ela tinha um leque de opções, apesar de que ainda tinha o impasse de não poder encher a cara como gostaria.
“Basicamente.” Kahei respondeu, abrindo sua geladeira. “Mas olha: não vá com tanta sede ao pote, porque você nunca bebeu a maioria dessas coisas, então cuidado pra não passar mal.”
“Tá bem.” Sooyoung concordou, sabendo que Kahei estava com a razão.
“Sabe, se a Haseul não tivesse chegado aqui e deixado meu humor lá no chão, eu te convidaria pra gente fazer um body shot com tequila.” A mais velha comentou.
“O que é isso?” Sooyoung perguntou, de forma inocente, fazendo Kahei se lembrar de quando ela conheceu a coreana e passou a lhe explicar coisas sobre sexo, tanto educativas quanto safadas, apenas para provocar a outra.
“É você deitar no sofá, colocar uma fatia de limão na boca, levantar a sua blusa e jogar um pouquinho de sal na barriguinha, então eu chego lambo o sal, pego o limão da sua boca com a minha e tomo um gole de tequila em seguida. Divertido, não?” Sooyoung até corou levemente com aquela explicação. Aquilo parecia excitante, não tinha como negar. “Eu falei barriga, mas dá pra se fazer em qualquer outra parte do corpo, basta usar a imaginação.”
“Eu acho que eu vou querer uma cerveja mesmo, vou ficar no campo que eu já conheço.” Respondeu, então Kahei lhe entregou uma garrafa de cerveja, enquanto pegou uma lata roxa, que estava escrito “lean” nela.
As duas voltaram para a sala, e se sentaram lado a lado no sofá. Era gritante como Kahei havia mudado seu humor após a inesperada chegada e partida de Haseul.
“Qual é, Kahei? Você não pode ficar triste logo numa festa na sua casa, né?”  Sooyoung falou sem muito jeito, tentando animar a amiga, já que os papéis estavam trocados, uma vez que sempre era ela quem estava pra baixo, enquanto Kahei fazia o papel da animadora.
“Eu sou uma escrota.” Kahei desabafou. “Eu nunca tinha parado pra pensar, mas o que a Haseul falou é verdade. Eu fui babaca com ela, e ela tem toda a razão por ficar puta comigo.”
Kahei não mentia quando dizia que Sooyoung era a pessoa mais importante de sua vida, pois o amor que ela sentia pela menina era genuíno, e isso fez com que ela sempre pensasse em como agir diante da morena e desconsiderando, mesmo que de forma inconsciente, os sentimentos de Haseul, que acabava se sentindo como uma segunda opção descartável.
Tentando fazer o bem pra uma pessoa, acabou machucando outra, e não era isso o que ela queria.
Sooyoung ficou pensando, procurando algo de útil pra dizer, mas tava difícil de encontrar, já que ela não sabia o que havia sido falado por Haseul, apesar dela estar certa que o motivo de mais uma briga entre as duas tinha sido ela própria.
Só sabia que estava odiando ver Kahei pra baixo, tanto que já pensava se não deveria propor fazer o tal body shot pra ver se ela não se animava.
“Quer ouvir outra coisa?” A chinesa perguntou. “Pode escolher, fique à vontade, meu bem.”
Sooyoung aceitou o convite, afinal, ali naquele baú estava uma coleção que devia ter mais de uma centena de álbuns, muitas relíquias que mereciam ser ouvidas.
A guitarrista começou a olhar os discos dali de dentro, quando, mais uma vez, a campainha tocou e Kahei foi atender. Eram o resto de suas convidadas naquela noite, Jin Sol, Yerim e Jung Eun, trazendo com elas uma surpresa: Jo Haseul.
“A gente encontrou com ela no caminho.” Jung Eun falou, apontando para a vocalista de sua banda.
“E convencemos a voltar de um jeito bem democrático: ameaçando encher ela de porrada se ela não viesse.” Yerim completou, fazendo as outras, menos a própria Haseul, rirem.
As três garotas estavam comendo o chocolate que a jovem havia comprado para Kahei, as flores já não estavam em suas mãos, e pra completar ela mesma estava com uma cara de quem não queria estar ali.
Depois de ficar surpresa pela chegada da ex-namorada, Kahei se surpreendeu com o novo visual de Jin Sol: a garota tinha abandonado seu loiro já há muito conhecido e adotou um novo corte, com franja, e um novo tom: o preto.
Kahei ficou por alguns segundos totalmente sem reação, mas então abriu um tímido sorriso, pedindo para as meninas entrarem, deixando-as boquiabertas diante do cenário que estava em sua frente. A única que já conhecia o ambiente, mas que também tinha adorado, era Haseul.
Mas naquela noite, ela não estava nada feliz, e logo que entrou na sala, se sentou em uma poltrona, com os braços cruzados e com uma expressão de quem poderia dar um soco em alguém caso fosse perturbada.
“E aí, Sooyoung?” Jinsoul cumprimentou a garota segurando com as duas mãos em seu ombro, que mantinha sua atenção focada para o baú de discos de Kahei.
“Fala, Jin...” Sooyoung se virou para cumprimentar a outra ao reconhecer sua voz, sorrindo, mas ao vê-la tão diferente, ficou embasbacada e boquiaberta. “Jin Sol?”
“E aí, gostou do meu novo visual?” Ela perguntou confiante, se recompondo e passando a mão pelos cabelos, enquanto Sooyoung concordou com a cabeça.
“Sim, ficou lindo, incrível, Rock´N´Roll.” Sooyoung respondeu, também se levantando, e não se poupando de olhar para o visual completo da sua amiga, que usava uma calça de couro com correntes de metal prateadas caindo do cinto, uma camiseta preta do ACDC e uma jaqueta também de couro por cima. “Você está perfeita.”
“Obrigada.” Jin Sol agradeceu sorrindo, e depois colocou seus olhos no baú.
“Kahei, sua casa é foda pra caralho.” Jung Eun comentou, admirando atentamente cada detalhe dos quadros na parede.
“Parece aqueles bares ambientados dos anos 50 e 60 nos Estados Unidos, tirando aqueles trecos comunistas ali. Só faltou uma lambreta pra ficar completo.” Yerim falou e Jung Eun concordou com ela. Só faltava uma lambreta mesmo.
Yerim estava usando uma camiseta cinza com uma estampa escrita “BAD REPUTATION” e os olhos de Joan Jett. Esse era o nome de uma de suas músicas mais conhecidas e um clássico do Rock, uma calça de couro vermelha e uma bota. Trazia consigo uma mochila nas costas, provavelmente com roupas para dormir e outros acessórios como escova de dentes, assim como Sooyoung. Seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo, e ela era a única que parecia não estar com frio.
Jung Eun, por sua vez, usava uma minissaia preta, uma blusa pink com estátuas de vaporwave estampadas e uma jaqueta branca por cima. Tava um pouco estranho, mas parecia combinar com sua maquiagem forte e seus cabelos loiros soltos e levemente despenteados por conta do vento.
“Onde eu posso deixar a mochila?” Yerim perguntou, então Kahei a chamou e a levou para o seu quarto.
“Esqueci minha mochila no seu carro.” Sooyoung comentou. As duas jovens estavam tão animadas que até tinham se esquecido disso.
“Eu pego pra você e já trago.” Kahei respondeu e saiu rapidamente.
“Porra, olha só o tanto de disco que tem aqui.” Jin Sol falou para as amigas, enquanto olhava para a enorme coleção. “Tem alguma coisa do David Bowie aí?”
“Acredito que sim.” Sooyoung respondeu, enquanto Yerim se juntou as duas colegas de banda, olhando estupefata para a coleção de álbuns.
“Não acredito!” Yerim falou alto, chamando a atenção de todas. “Ela tem essa preciosidade!” Ela tirou do baú uma cópia de “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band” um dos discos mais clássicos e emblemático dos Beatles. “Eu, literalmente, mataria por isso!”
“Vou falar pra Kahei se esconder, então.” Jung Eun brincou, no momento em que a chinesa voltou trazendo para dentro, trazendo a mochila de Sooyoung consigo.
“Quanto você quer por esse disco?” Yerim perguntou, exibindo o álbum em suas mãos.
“Nada disso está à venda, são só objetos para apreciação pública.” A mais velha respondeu e sorriu. “Agora vem comigo.”
“Poxa, Kahei, você podia abrir uma exceção pra mim, não é?” A morena insistiu, seguindo a outra, que continuou negando seu pedido.
Já Jung Eun olhou para Haseul, que continuava no sofá, de braços cruzados e cara de poucos amigos.
“Você não trouxe roupa pra dormir não, Haseul?” Jung Eun questionou.
“Não vou dormir aqui.” Haseul respondeu séria, o tempo todo evitando olhar para a direção onde Sooyoung estava.
“Mas se fosse a gente sabe que ia dormir pelada, não é mesmo?” Jin Sol tentou brincar e riu, mas recebeu apenas um olhar reprovador da outra, enquanto Sooyoung abaixou a cabeça, sentindo-se mal por aquela situação. “Foi uma piada, gente, vamos rir.”
“Eu não achei a mínima graça nessa piada.” A vocalista respondeu séria e virou o rosto.
“Esquece esse assunto, não fala mais nada.” Jung Eun sussurrou orientando a amiga. Tava na cara que qualquer comentário mal interpretado poderia virar uma briga enorme ali, e todas as meninas só queriam beber e se divertir em uma noite sem ninguém pra botar limites.
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Hyejoo continuava sentada no sofá da sala, fingindo não se importar com o que estava acontecendo ao redor, enquanto enrolava mexendo em seu celular, apenas observando de canto de olho Donghae, Jiwoo e Gyuri procurando o celular do pastor, que estava em seu bolso traseiro. Vez ou outra ela notava que sua mãe lhe lançava um olhar acusatório.
“Pai, eu já olhei por todos os cantos, seu celular não está em lugar nenhum.” Jiwoo falou, já desanimada e sem muita paciência para aquela situação. “Já liguei pra ele e chama, mas eu não ouvi nenhum toque.”
Hyejoo sorriu brevemente ao ouvir aquilo. Ela tinha deixado o celular no silencioso.
“O celular não é um ser vivo, então não pode ter simplesmente criado pernas e ter ido dar uma volta por aí.” Gyuri falou, visivelmente irritada, já não conseguindo mais se conter e olhou para Hyejoo, que continuava mexendo no celular. “Devolve esse celular agora, Hyejoo!”
“Mas que droga, eu já falei que não tenho nada com isso!” A garota se defendeu, nervosa.
Jiwoo abaixou a cabeça, sentindo-se até meio acuada com a tensão que crescia no ar entre mãe e filha. Não à toa Gyuri parecia não ter tempo para ver o que estava acontecendo entre Sooyoung e Kahei, Hyejoo chamava a atenção toda para ela.
“Hyejoo, eu sei que foi você quem fez isso, e quanto mais rápido você assumir a culpa, melhor vai ser.” Gyuri respondeu, se aproximando devagar da garota. “Vamos, Hyejoo, devolve o celular do Donghae.” Ordenou estendendo a mão, sob os olhares de pai e filha.
“Já disse que não peguei nada, caralho!” A garota mentiu novamente, em um tom de voz alterado e fazendo corar violentamente por causa do palavrão na frente de Donghae.
“Olha essa boca, Hyejoo!” Ela repreendeu a filha, que mesmo sabendo que só estava deixando aquele buraco mais fundo, riu debochada, num misto de coragem e estupidez. “Minha paciência com você já acabou, devolva o celular agora!” Gyuri se enfureceu e avançou na garota, agarrando seu pulso esquerdo, mas a garota se esquivou rapidamente, se levantando no mesmo momento.
“Me solta!” Ela gritou, se desvencilhando da mulher mais velha.
Jiwoo deu um passo para trás, com os olhos arregalados, diante da cena de violência que era nada comum em seu ambiente familiar.
“Calma, Gyuri.” Donghae se viu obrigado a intervir, com receio da mulher acabar por agredir a filha, e se aproximou dela, segurando-a delicadamente pelos braços.
“Qual é? Deixa ela, reverendo, deixa ela mostrar quem ela é de verdade, mostrar pra todo mundo aqui que de princesa ela não tem nada, ela é a madrasta má!” Hyejoo, irritada e cheia de ódio falou, provocando Gyuri, que apenas abaixou os olhos. “Deixa ela me bater, já que é isso o que ela sempre faz! Bate! Ela já bateu em mim e na Sooyoung tantas vezes que uma vez ela deixou a Sooyoung toda roxa e machucada com uma surra, só porque ela beijou um carinha aí, sendo que até hoje ninguém sabe quem é o pai da minha irmã! Se bobear, nem você mesma sabe, não é Ha Gyuri? Falsa moralista! Vamos ver por quanto tempo você consegue manter sua máscara!”
Apesar de toda a tensão e o medo enorme de apanhar na frente dos outros e passar a maior vergonha de sua vida, Hyejoo sentia que aquele era seu momento de catarse e tava tirando meia tonelada de peso de seu coração. Era como se aquelas palavras estivessem saindo de forma automática de sua boca, vingando cada tapa, agressão e xingamento sofrido por ela nas mãos de sua mãe.
Se ouvisse aquelas palavras em outra situação, Gyuri provavelmente, voaria em cima de sua filha e lhe encheria de pancadas, mas, naquela situação, diante de Donghae, ela se sentiu totalmente humilhada, diminuída, pequena.
As palavras ditas por Hyejoo foram bastante parecidas com as que o seu pai havia lhe dito no dia que a expulsou de casa e cortou definitivamente relações com ela. O homem havia insistido e lhe pressionado, inclusive com ameaças de violência, para que ele revelasse o nome do rapaz que havia lhe engravidado, mas ela resistiu e manteve o seu segredo, não porque não sabia quem ele era, Gyuri sabia muito bem, já que até aquele momento ele havia sido o único em sua vida, mas sabia que caso a verdadeira história viesse a tona, pessoas inocentes sairiam machucadas, em especial, o seu bebê que nem havia nascido ainda.
Sua escolha, no entanto, causou a impressão de que ela era uma garota leviana que havia ido pra cama com uma quantidade grande de homens e garotos, a ponto de não saber quem havia lhe engravidado, e isso era demais pra sua família.
Por alguns instantes, Gyuri se sentiu com 18 anos de novo, totalmente humilhada e hostilizada por alguém de sua família, como se fosse uma mulher sem valor moral algum.
Ao invés da reação agressiva que lhe seria o habitual, ela começou a chorar ao ouvir aquilo, mas chorar sentida, ao ponto de chocar a própria Hyejoo, que até tinha um meio sorriso triunfante nos lábios por ter ganho a briga nos argumentos.
“Gyuri!” Donghae, um tanto perdido diante de uma situação tão violenta e triste, seguiu a noiva, que caminhou em direção a cozinha.
Hyejoo ficou paralisada, por alguns segundos pensando se ter feito aquela cena tinha valido a pena, e com um amargo na boca, que podia ser sinal de arrependimento. Sua mãe podia ter vários defeitos e estar longe de ser um exemplo, mas vê-la chorando daquele jeito, ainda mais por sua causa, era algo algo difícil de digerir.
Jiwoo estava parada também, sentindo-se bastante mal e deslocada por aquilo, não sabendo como iria lidar com uma relação tão bélica diariamente, e também bastante surpresa, de forma negativa, por saber que Sooyoung era vítima de uma violência doméstica tão grande, a ponto de levar surras de ficar com hematomas e machucados. Sabia que Gyuri já tinha agredido a filha, mas não de modo extremo, e seu incômodo com esse pensamento foi tamanho, que ela nem pensou muito que Hyejoo afirmou que sua irmã deu beijinhos em um cara, ou possivelmente em uma garota.
Isso deixou o coração de Jiwoo ainda com mais temor pela outra garota e no que poderia lhe acontecer se Gyuri descobrisse sua sexualidade. Talvez fosse melhor que ela nunca desconfiasse de nada.
Jiwoo também não conseguiu não se sentir mal por imaginar o que a outra menina passava dentro de casa, mas nunca deixou transparecer e se demonstrava alguém tão legal e gentil, diferente de Hyejoo, que era propositalmente desagradável com qualquer pessoa.
A religiosa então pegou o celular e abriu o WhatsApp, rolou um pouco pra baixo e viu ali a mensagem que estava há dias ignorando, e sentiu um peso ainda maior na consciência. Mesmo sabendo que naquele momento a garota deveria estar fazendo coisas impróprias com Kahei e isso era mais que o suficiente pra ela sentir uma raiva enorme, Sooyoung não merecia aquele tratamento de silêncio.
Então, ela abriu a mensagem, disposta a respondê-la, e colocou a música pra tocar.
“Não é à toa que a Sooyoung gosta tanto de você, vocês duas tem o mesmo gosto por músicas arcaicas.” Hyejoo ironizou, reconhecendo a música, e recebendo um olhar assustado por parte da outra, que por um segundo havia se esquecido de sua presença ali. “Você tá passando bem?”
“Está tudo bem, sim.” Jiwoo respondeu, ainda meio atordoada. “Obrigada por se preocupar.”
“Não me preocupo com você, não, só não quero que me acusem de mais nada, já que tudo é culpa minha nessa merda de casa.” A mais jovem respondeu ácida e deu os ombros, fazendo Jiwoo suspirar fundo, e optar por ir até o corredor, para manter uma certa distância.
Aproveitando-se do momento, Hyejoo correu até a televisão e jogou o celular de Donghae, já com o aplicativos espião devidamente instalado, atrás dela e depois voltou para o sofá e passou a mexer em seu celular, como se nada tivesse acontecido.
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Na cozinha, Gyuri estava sentada em uma cadeira, enquanto Donghae lhe preparava um copo de água com açúcar, na esperança de acalmá-la.
Gyuri ainda chorava compulsivamente, soluçando e com lágrimas que escorriam por todo o seu rosto. Faltavam exatamente 8 dias para eles selarem aquela união, mas naquele momento a mulher se sentia mais insegura do que nunca.
“Gyuri, tome essa água, isso vai te acalmar, meu bem.” O homem disse carinhoso, sentando-se em outra cadeira, ao seu lado.
A mulher, no entanto, continuou chorando, envergonhada, arrependida, e o pior de tudo: insegura e temerosa.
“Ela só falou aquilo por estar de cabeça quente, tenho certeza que com uma conversa franca vocês podem se entender.” Ele tentou consolar uma Gyuri completamente destruída, mas ela se recusou com a cabeça.
“Hyejoo me odeia, assim como os meus pais me odeiam, talvez seja o preço a pagar pelo meu grande pecado.” Ela desabafou referindo-se a sua gravidez de Sooyoung, tomando um pequeno gole da água. “Eu fui egoísta, não pensei nas consequências, estraguei a honra da minha família, fui obrigada a aprender a ser mãe na marra, e aprendi tudo errado. Fui uma péssima filha, péssima amiga, péssima mãe, todo mundo que passou pela minha vida me odeia, nem mesmo minhas próprias filhas gostam de mim e eu não posso culpá-las, passava a maior parte do meu tempo trabalhando, chegava em casa cansada, tinha que cuidar da casa sozinha e nunca consegui dar o atenção e o carinho que elas queriam de mim, pelo contrário, só dei gritos e agressões.” Ela desabafou, desejando ardentemente que Deus materializasse na sua frente e lhe desse uma chance única de voltar no tempo e fazer tudo diferente.
Mas, infelizmente, isso era impossível.
“Gyuri, você não pode ficar o resto da sua vida remoendo o passado, peça perdão e siga em frente, pois é de agora em diante que nós podemos fazer diferente.” O homem falou calmamente, mas suas palavras não tiveram efeito algum.
“Esse é um discurso muito bonito e reconfortante, mas as coisas não assim, nem tudo se resolve com um pedido de perdão.” Ela respondeu. “Magoar alguém é como colocar um prego num pedaço de madeira, pedir desculpas é retirar esse prego, o motivo da mágoa deixa de existir, mas o buraco continua lá aberto, e é exatamente isso o que eu fiz com todas as pessoas da minha filha. Eu deixei um buraco aberto no coração de cada um.”
“Gyuri, essa forma de pensar é muito cruel e nada cristã.” Donghae comentou. “É impossível perdoar sem esquecer, a própria Bíblia diz isso: “Diz o Senhor, porque lhes perdoarei a sua maldade e nunca mais lembrarei de seus pecados.””.
“Mas foi exatamente o que o meu pai me disse quando me expulsou de casa, e quanto mais o tempo passa, mais eu vejo que ele estava com a razão.” Ela explicou, um pouco mais calma, enxugando suas lágrimas.
Diante de palavras de uma alma tão devastada como a de Gyuri, Donghae ficou sem saber o que dizer, só conseguiu imaginar que assim como Hyejoo, a mulher também precisaria de ajuda profissional para vencer toda aquela culpa e vergonha que a corroía.
Ele não era psicólogo, mas tinha quase vinte anos como pastor, e durante esse período havia conversado e aconselhado centenas de pessoas, e algumas delas com imensa dificuldade de perdoarem a si mesmas igual a Gyuri, e em todas essas situações essa dificuldade estava relacionada a uma incapacidade grande de se amarem e se aceitarem.
A vida de uma mãe solteira e tão jovem em uma sociedade patriarcal como a sul-coreana poderia ser um verdadeiro pesadelo, um caminho tortuoso, cheio de pesados julgamentos e humilhações constantes, e todo esse período havia claramente marcado Gyuri e afetava como ela via a si mesma.
O pastor abaixou a cabeça, entristecido por toda aquela situação e pela sua impotência de conseguir desatar aquele nó familiar.
“Eu acho melhor começar a carregar as caixas para dentro do meu carro, já está ficando tarde.” Ele disse e Gyuri concordou.
“Mas e o seu celular?” A mulher questionou. “Estou certa de que foi a Hyejoo quem o pegou.”
“Eu vou conversar com ela, não se preocupe, nós vamos resolver isso da melhor maneira possível.” Ele garantiu e abriu um pequeno sorriso e depois, agindo fora de seu habitual, segurou levemente no rosto de Gyuri, que mantinha os olhos baixos. “Olhe pra mim, querida, por favor.”
A mulher suspirou, crispou os lábios e após alguns segundos olhou para o homem.
“Eu não quero que você sofra mais assim, daqui uma semana nos casaremos e seremos uma família, nós e as nossas filhas, e com a ajuda de Deus construiremos um lar de amor e cumplicidade.” Ele garantiu sorrindo e depois lhe deu um beijo rápido nos lábios. “Vamos deixar os erros passados para trás e dedicar os nossos dias futuros na construção de uma família sob os princípios cristãos.”
“É tudo o que eu mais quero, tudo o que eu sempre quis.” Ela respondeu e abriu um pequeno sorriso, apesar de ter o seu coração que pesado, com muitos segredos que não haviam sido revelados nem para Donghae nem para ninguém, e temeroso que um dia o reverendo fosse abandoná-la como Yangnam fizera, afinal, ela também tinha sido completamente apaixonada pelo pai de Hyejoo, e ele havia lhe prometido amor eterno, e durante um tempo ele realmente foi um bom marido e um pai pra Sooyoung, mas a relação foi se desgastando e o amor, inevitavelmente, morreu, restando apenas agressividade, mágoas e uma relação de total desrespeito e sem muito diálogo, e ao abandoná-la com duas garotas, ele havia deixado claro que nunca havia pensado diferente das outras pessoas: a considerava uma vagabunda e parecia ter feito um favor ao se casar com uma mulher de sua classe e criado a filha de outro homem.
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Após uma boas doses de bebidas variadas, Sooyoung se sentia mais leve e feliz, mas não confiante o suficiente para dançar como Jin Sol e Jung Eun, tão bêbadas quanto ela, estavam fazendo no meio da sala, após Yerim encontrar um disco de Donna Summer, uma cantora negra muito famosa nós anos 70 e 80, cujas músicas eram uma verdadeira febre nas boates LGBT no mesmo período.
Haseul já tinha tomado algumas doses de bebida também e já não estava mais tão mal-humorada quanto antes, e assim que começou a tocar “Hot Stuff” ela se levantou animada, surpreendendo até Kahei, que estava um tanto entristecida num canto da sala.
“Eu amo essa música.” Haseul falou sorrindo, e se colocou no meio das duas colegas de banda, rebolando de forma provocativa e fazendo questão de se esfregar nas duas, que riam bêbadas, nem se importando com toda aquela “gayzice”.
Kahei cruzou os braços e mordeu o lábio inferior, com uma expressão nada amigável, demonstrando incômodo com aquilo.
Parece que o jogo tinha virado contra a chinesa.
“Eu achei a música perfeita pra vocês, meninas.” Yerim, que tinha virado a DJ oficial da festa, por ser menor de idade e não colocar uma gota de álcool na boca,  falou após rir da cena e trocou o disco de Donna Summer por outro artista da mesma época: Village People, aquele grupo gay e totalmente fetichista onde os membros se vestiam de policial, índio, marinheiro, pedreiro e outras coisas do gênero.
Claro que a música não poderia ser outra que não o clássico “Macho Man”.
Desde que viu Jin Sol com seu novo visual, Sooyoung não conseguiu deixar de achá-la linda, e a cada dose, ela parecia ficar mais gostosa, e naquele momento ela já estava semelhante uma deusa grega, rebolando tão gostoso, ficando suada e tirando a jaqueta por conta do calor devido a dança.
Kahei se sentou ao lado de Sooyoung e lhe deu um guardanapo de papel.
“Pra quê isso?” A garota perguntou, não entendendo aquele gesto.
“É que você tá babando enquanto olha pra bunda da Jin Sol.” Kahei respondeu e riu, já Sooyoung levou alguns segundos para entender, a bebida a deixava bem lerda, mas depois riu também.
“Ela tá muito gostosa, né? Ela loira era linda, mas morena assim até arrepia.” Sooyoung concordou, não conseguindo deixar de ficar seus olhos naquele corpo sexy há poucos metros. “Eu só queria dar um apertãozinho naquele bundinha.” A garota confessou, arranhando ainda mais risos da outra pela sinceridade que só a bebida era capaz de proporcionar.
“Tenta a sorte.” A chinesa a aconselhou, mas Sooyoung rechaçou a ideia. Estava um tanto bêbada, mas ainda não tinha perdido o juízo. Olhar não tirava pedaço, mas dar um apertão já era algo mais íntimo.
Após a música terminar, as três meninas, se jogaram nas poltronas e Haseul se sentou no chão.
“Já cansaram dançarinas?” Yerim perguntou, desligando o álbum. “Com essa energia que vocês pretendem fazer um show inteiro.”
“Tocar é bem mais de boas que ficar dançando e pulando.” Jung Eun respondeu, ofegante e depois olhou para Sooyoung e Kahei. “E vocês não vão dançar, não?”
“Eu não sou muito boa nisso, e também eu já bebi um pouco além da conta, prefiro não correr o risco de cair de cara no chão.” Sooyoung respondeu. “Mas eu estou gostando de ver vocês dançando.”
“Principalmente a Jin Sol.” Kahei falou, para provocar a amiga, e sua tática funcionou, já até Sooyoung ficou vermelha como um tomate e Jin Sol soltou um risinho sem graça.
“O que é isso? Parece um filme.” Yerim falou pegando o que parecia uma capa de DVD.
“Você mesma respondeu: é um filme.” Haseul respondeu e as outras riram.
“Mas é um filme estranho, tá tudo escrito em outro idioma, o nome é “Adam et Yves.” Yerim leu o título.
“Olha só que legal, é um filme em alemão, seu avô é poliglota?” Jin Sol perguntou inocentementee animada, provocando risos das demais garotas.
“Não é alemão, é francês, Jin Sol.” Jung Eun a corrigiu. “Será que é algo da Bíblia? Eu acho que esses nomes significam Adão e Eva.”
“Ah não, Bíblia, não, eu não aguento mais isso.” Sooyoung reclamou fazendo uma careta em rejeição. Tudo o que ela não queria naquele momento era se lembrar de seu ambiente doméstico.
“Bota aí pra gente ver o que é.” Haseul pediu, então Yerim fez o que foi pedido, e assim que o filme começou, todas as garotas ficaram boquiabertas.
O filme era antigo e a primeira cena foi logo um momento de sexo anal entre dois homens, um de quatro e o outro de joelhos atrás dele, enquanto uma voz masculina narrava uma história.
Após a surpresa inicial, começou uma onda de risos. A única que se manteve seria foi Kahei, que não entendia o porquê de seu avô ter um filme pornô gay entre suas coisas.
“Agora a gente já sabe de onde vem o gene boiola da Kahei, é do avô dela!” Yerim ironizou e riu.
“Gente, desliga isso, essa menina não tem idade pra assistir um negócio desses.” Haseul falou, apontando justamente para Yerim.
“Eu tô gostando, parece bem interessante.” Yerim respondeu, voltando a se focar na tela da TV.
Após balançar a cabeça negativamente, Kahei se levantou da sala e seguiu para a cozinha. Sooyoung pensou em segui-la, mas viu que Haseul foi mais rápida, então optou por permaneceu ali, afim de evitar qualquer encrenca.
Ela era a única desinteressada naquela cena de sexo gay, já que Yerim, Jung Eun e Jin Sol estavam vidradas no filme.
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Na cozinha, Kahei estava preparando um drink com uísque e gelo para si, quando Haseul chegou ali.
“Prepara um drinque desses pra mim.” A vocalista pediu.
“Pede pra Jung Eun e pra Jin Sol.” A chinesa respondeu impaciente, fazendo Haseul soltar um risinho. “Tá rindo de quê? Eu não tô vendo nada de engraçado aqui.”
“Você está com ciúmes de mim... Você gosta de mim.” Ela falou bobamente.
“Pois é, eu te falei isso várias vezes, mas parece que só agora a sua ficha caiu “ Kahei falou irritada e tomou um longo gole daquela bebida forte e amarga, quando sentiu a mão de Haseul delicadamente puxar o seu cabelo para trás da orelha esquerda e em seguida segurar em sua cintura e colar a boca em sua orelha.
“Você está muito gostosa com essa roupa, não tô conseguindo mais conter essa vontade louca de beijar a sua boca.” Haseul sussurrou no ouvido da outra, que abriu um sorriso. “Me deixa ficar com você hoje, nem que seja só um beijinho, estou sentindo muito a sua falta.”
Kahei tomou o resto da bebida em seu copo de uma vez só e então se virou e passou seus braços em volta do pescoço da outra.
“Eu quero mais do que só um beijo essa noite.” Disse com um sorriso sacana. “Vem comigo pro meu quarto e eu vou te mostrar o quanto eu realmente te quero.”
Kahei segurou na mão de Haseul e a guiou para o outro cômodo.
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Após levarem todas as caixas de roupas e alguns outros pertences que estavam guardados nelas, Donghae foi buscar a chave de seu carro e viu o celular atrás da televisão. Ele tinha olhado lá por mais de uma vez e o objeto não estava lá.
“Aqui está o meu celular, Gyuri.” Ele disse pegando o aparelho e mostrando-o para a sua futura esposa.
Após deixarem a casa, Jiwoo entrou no carro, e ficou olhando a mensagem de Sooyoung, a qual ainda não tinha respondido. A música que ela havia lhe mandado há alguns dias, era bonita, mas ao mesmo tempo triste e com uma letra que falava sobre sentimentos machucados.
Sentia seu coração dolorido e uma culpa grande por aquele seu comportamento com a outra, ainda mais depois do que ficou sabendo naquela noite.
“Eu adorei essa música. Obrigada por ser tão doce comigo.” Jiwoo escreveu um tanto sem jeito, e depois a enviou, seguida por um emoji de coração.
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Sooyoung estava pegando mais uma cerveja na geladeira, já que Kahei parecia ter tomado um chá de sumiço junto com Haseul.
“Pega uma cerveja pra mim, por favor.” Ao ouvir aquela voz, Sooyoung olhou para trás e viu Jin Sol sorrindo para ela e deu uma piscadela.
Sooyoung sorriu e levou outra garrafa, entregando-o para a mais nova morena.
“O que acha da gente ficar por aqui mesmo? Aquele filme não faz muito o meu estilo.” Jin Sol sugeriu e Sooyoung riu e concordou, sendo assim, as duas se sentaram lado a lado, no chão.
“Vou ligar um sonzinho pra gente, mas não rock, quero uma coisa mais calma, curte Tove Lo?” Jin Sol perguntou e Sooyoung assentiu.
“Não conheço muito da música dela, mas por mim tudo bem.” Ela respondeu, então a baterista colocou a música “True Disaster” para tocar e tomou um gole de sua cerveja.
O celular de Sooyoung vibrou e ela até gelou, imaginando que se tratava de uma ligação de sua mãe, mas para a sua surpresa ao tirá-lo do bolso, ela viu que era a mensagem de Jiwoo.
Nem sabia como se sentir ao ver aquilo, apenas ficou olhando para o celular sem reação alguma.
“Tá tudo bem?” A pergunta de Jin Sol a pegou de surpresa, mas ela forçou um sorriso, guardando o celular novamente em seu bolso.
Se ela havia esperado dias por uma resposta, Jiwoo poderia esperar por algumas horas.
“Está sim.” Sooyoung respondeu sem muito ânimo. “É só uma garota aí.”
“Sua namorada?” Ela riu com aquela questão da colega.
“Não, e nem nunca vai ser.” Respondeu com todo o realismo e tristeza em seu coração. “É uma história longa e complicada.” Sooyoung tomou um longo gole da cerveja, antes de abrir o seu coração e compartilhar com a baterista a desventura com Jiwoo, seu martírio tendo que tocar naquela banda evangélica e o quanto ela estaria fodida caso seus dois maiores segredos viessem a tona, e enquanto desabafava ia se enchendo com mais bebida.
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No quarto de Kahei, o clima de estava cada vez mais quente.
Haseul estava sentada na cama, encostada na cabeceira da cama, que era de casal e de madeira branca, enquanto Kahei estava sentada em seu colo, de frente para ela, com as duas em seu pescoço, lhe beijando ternamente há longos minutos.
Haseul se sentia no paraíso. Se estava com alguma raiva de Kahei, aquilo já era parte do passado.
Após um longo e profundo beijo, Kahei se afastou um pouco, mas não sem antes dar uma mordidinha de leve no lábio inferior da outra, que não pôde evitar soltar um gemido.
“Oh Kahei...”
A chinesa sorriu, satisfeita consigo mesma. Ouvir alguém gemendo seu nome era uma de suas coisas favoritas na vida. Lhe dava uma sensação de poder e satisfação como nenhuma outra coisa no mundo.
“Eu realmente gosto da sua voz, ela é linda em qualquer situação, mas gemendo o meu nome assim é, sem dúvida, a sua melhor forma.” Ela provocou a garota, que lhe puxou para mais perto pela cintura e lhe deu uma mordida no queixo. “Me fode.”
Ao pedir por aquilo, Kahei saiu do colo de Haseul, agarrou em seu moletom e a puxou mais para o centro da cama, onde voltou a se sentar em cima de suas pernas e puxou a peça de roupa da outra jovem para cima, começando a eliminar as barreiras que existiam entre seus corpos.
Haseul, que já tinha perdido o boné naquele amasso, levantou os braços e facilitou a tarefa de Kahei de tirar o seu moletom, que voou pro outro lado do quarto. Agora Haseul estava com uma camiseta preta.
A próxima peça de roupa que foi eliminada foi a jaqueta da chinesa, seguida pela blusa que ela usava por baixo, a qual ela tirou numa questão de segundos, ficando apenas de sutiã branco de renda com bojo.
Haseul parou por alguns segundos apenas para admirar o corpo da outra, e passou a língua pelos lábios, com enorme desejo de provar o gosto daquela pele de tom levemente caramelo.
Kahei no entanto, pegou as mãos de Haseul e as guiou para o fecho de seu sutiã.
“Você já sabe o que fazer, amor.” Kahei provocou e piscou, e então, com um pouco de nervoso Haseul soltou a peça, deslizando-o pelos braços da outra jovem, deixando seus seios expostos.
A vocalista não conseguiu controlar seus olhos, que no mesmo instante, se voltaram para o busto de sua amada.
“Porra.” Haseul exclamou, em um pequeno êxtase, segurando , sem apertar muito, os seios da chinesa, que não eram pequenos nem muito grandes, mas tinham o tamanho exato para caberem em suas mãos. “Você é perfeita.”
A vocalista mordeu o lábio inferior, sentindo seu corpo ser tomado por um desejo enorme que umedeceu a sua calcinha. Em seguida, ela passou a massageá-los, e com isso Kahei começou a gemer baixinho, já ficando bastante excitada com aqueles carinhos, aí a mais velha segurou o rosto de sua garota com as duas mãos e lhe deu um beijo quente, invadindo a boca de Haseul com sua língua desesperada, macia e quente em busca de toda a forma de prazer que pudesse encontrar.
A intensidade do beijo foi tanta, que Haseul soltou alguns gemidos baixos quando sua língua foi capturada pelos lábios ávidos da outra para em seguida ser chupada de forma lenta e provocante.
Haseul sentiu seu corpo se arrepiar inteiro e a umidade no meio de suas pernas de intensificar com aquilo. Sentia que Kahei era a garota mais sexy do mundo e ela era, sem duvida alguma, uma pessoa de muita sorte por poder estar dividindo a cama com ela.
E aquele era só o começo da noite.
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Após chegar em sua casa, Jiwoo junto de Donghae, carregaram as caixas para dentro de casa, e as que continuam o nome de Sooyoung e Hyejoo ficaram no quarto da filha do reverendo.
Após o acontecido na casa de Gyuri, Donghae ficou extremamente chateado e quase não falou muito.
Jiwoo se trocou, rezou e deitou-se em sua cama, mas não sem antes de dar uma olhada em seu celular, apenas para se entristecer a mensagem enviada para Sooyoung dada como lida e não respondida.
Era uma coisa boba, mas ela se sentiu mal e com o coração despedaçado.
Ter uma mensagem vista e não respondida causava uma humilhação semelhante ao de falar com alguém e ser sumariamente ignorado. Ela como fazer um papel de bobo.
A fronha rosa pastel teve alguns pedacinhos de seu tecido escurecidos com as lágrimas da garota que caíram sobre ela.
Ser ignorada doía, mas ser ignorada com a certeza de que Sooyoung estava na cama de outra, era pior.
Rolou pela cama, mas o maldito sono ainda parecia distante, e então ela se sentou em sua cama, de onde encarava as caixas com as roupas que pertenciam a Sooyoung e Hyejoo.
Deixou seu instinto a guiar e fez algo que não era nada louvável e que excedia todos os limites dos normais, mas sentia-se desesperada e precisava de algo para apaziguar a guerra interna que estava sendo travada pela sua razão versus a emoção.
Pegou uma tesoura da gaveta de seu criado-mudo, caminhou até um das caixas com o nome de Sooyoung, cortou a fita que a fechava, abriu a caixa e de lá tirou uma agasalho vermelho da garota. O perfume logo invadiu suas narinas, e isso a acalmava.
Sem pensar duas vezes, ela abraçou o moletom e o levou para sua cama, onde dormiria ouvindo “You Are My Sunshine” de Johnny Cash e abraçada àquele moletom, que lhe proporcionava sentir o perfume que tanto lhe agradava.
Essas duas coisas tornariam o ambiente de seu quarto menos inóspito.
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“... Então, é isso, eu tô gostando da menina que é filha do cara que vai se casar com a minha mãe na semana que vem, e pra ajudar, ele é pastor evangélico.” Sooyoung terminou seu desabafo com a voz arrastada, chorando e tomando um gole de uísque. Já era a terceira dose da bebida que ela tomava naquele momento.
“Não fica triste assim, não.” Jin Sol consolou a garota, tão bêbada quanto ela, acariciando o rosto da amiga. “Sabe, se a gente tivesse uma entrevista hoje e me perguntassem qual é a minha membro preferida, eu ia dizer que é você.”
Sooyoung abriu um pequeno sorriso e depois voltou a chorar.
“Obrigada, você é uma pessoa maravilhosa, Jin Sol, eu nem sei como... Como você... Como eu...” Sooyoung começou a falar, se perdendo nas palavras por conta do alto teor alcoólico em seu sangue. “Você é maravilhosa, você... Me beija! Pediu animada
“Claro!” Jin Sol respondeu na mesma animação.
E os lábios se uniram em um beijo desajeitado e com gosto de álcool, mas que foi mais do que o suficiente para acender o fogo que as duas estavam nutrindo uma pela outra desde que se encontraram horas antes.
Num pique Jin Sol subiu em cima de Sooyoung, sentando-se em seu colo, e aprofundando o beijo, tirando o fôlego da morena, que sem demora desceu suas mãos e as colocou sobre a bunda de Jin Sol, apertando-a, exatamente como havia confidenciado a Kahei que gostaria de fazer.
“Aiii delícia.” A ex-loira murmurou entre os beijos, sentindo uma sensação estranha, quase um arrepio, naquele negocinho que tinha no meio das pernas.
Seu corpo pedia um toque a mais naquele momento, um toque direto na fonte de seu prazer, e então, sem nenhum pudor ela começou a se movimentar no colo de Sooyoung, na esperança de que a fricção com a perna da outra lhe proporcionasse o prazer que estava almejando.
Ela jogou a cabeça pra trás, e gemeu um pouco alto quando os lábios de Sooyoung tocaram a pele sensível de seu pescoço e passou a chupar lentamente aquela região.
Ter Jin Sol em seu colo e se esfregando em seu corpo enquanto chupava a pele de seu pescoço era algo bastante excitante para Sooyoung, que nunca tinha vivido uma experiência como aquela. Os sons de seu gemido rouco só deixavam o momento mais apimentado.
“Sooyoung...” Jin Sol falou seu nome num sussurro de voz, e mergulhou a mão direita em sua cabeleira negra, puxando a sua cabeça para trás, interrompendo o chupão no pescoço. “Vamos para um lugar mais discreto, aqui Yerim ou Jung Eun podem aparecer e estragar tudo.”
Entorpecida com todas aquelas sensações, Sooyoung não disse nada, apenas concordou e se levantou. Seguindo Jin Sol foi parar no banheiro.
Uma vez dentro do menor cômodo da casa, ela abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou nele, esperando que Jin Sol fosse sentar por cima de si, como na cozinha, mas a baterista abriu o botão e o zíper de sua calça de couro preta e se colocou a sua frente, em pé.
“Minha guitarrista, vem me mostrar o quanto você é boa com os seus dedos.” Ela pediu sorrindo, pegando na mão direita de Sooyoung, que se sentiu um pouco ansiosa, já que imaginou que Jin Sol estava lhe pedindo para penetrar seus dedos nela, e bom, isso era algo que ela nunca tinha feito antes, portanto, a chance de fazer algo de errado eram grandes.
Kahei já tinha até explicado que ao contrário do que ela pensava, as mulheres não tinham um único buraco mas sim dois, um era para o xixi e o outro para menstruação e sexo. Sem contar o buraco lá de trás.
E se ela, que já estava alta, enfiasse seus dedos no lugar errado? Não bastasse a vergonha colossal, ainda poderia machucar Jin Sol.
“Você quer mesmo que eu coloque meus dedos lá? E se eu fizer algo errado?” Sooyoung perguntou, meio temerosa e Jin Sol riu.
A mais nova morena já tinha transado com um carinha há um tempo, portanto, não era mais virgem, mas  ainda assim achou engraçada e fofa a preocupação da outra menina.
“Estou pedindo para me tocar da mesma forma que se toca quando está brincando sozinha.” Ela esclareceu, acariciando com a ponta dos dedos o belo rosto de Sooyoung, que corou levemente e riu da própria confusão.
Estava nervosa e não tinha como ser diferente, porém, tomou coragem e, com cuidado, colocou a mão direita por dentro da calcinha da outra.
Era uma sensação completamente diferente tocar uma parte íntima que não era a sua. Meio sem querer o indicador tocou no clitóris já crescido de Jin Sol, que soltou um gemido baixo e estremeceu um pouco no colo de Sooyoung.
A baterista segurou firme nos ombros de Sooyoung e lhe deu um beijo nos lábios, enquanto a outra passou a movimentar os dedos indicador e médio sobre a parte mais sensível do corpo da jovem. Usou a mão esquerda para segurar na cintura da outra menina, lhe dando sustentação.
Sooyoung começou a fazer os movimentos devagar, não muito segura, mas conforme ouvia os gemidos de aprovação da outra, ficava mais confiante e gradualmente aumentava o ritmo, fazendo movimentos mais rápidos e circulares.
“Ooh Sooyoung... Por favor, não para não.” Jin Sol ordenou gemendo, e passando a rebolar no mesmo ritmo dos movimentos da mão da outra, sentindo os dedos da outra deslizando sobre o seu sexo cada vez mais molhado.
Jin Sol abraçou Sooyoung e enterrou o seu rosto no pescoço da outra, depositando ali alguns beijinhos e mordidinhas de leve, incapazes de deixar marcas.
Sooyoung fechou os olhos e deixou um gemido escapar por entre os seus lábios.
Seus dedos estavam começando a ficar encharcados, e Sooyoung já sentia seu próprio sexo vibrando e se molhando, mesmo sem estar sendo tocado.
“Mais rápido, baby.” Jin Sol praticamente suplicou, sentindo uma onda de calor percorrer o seu corpo. O suor escorria por suas costas e por sua testa, por isso, num gesto rápido, se livrou de sua blusa do ACDC em um movimento rápido e habilidoso, jogando-a por cima do box do banheiro.
Sooyoung então fixou seus olhos nos seios cobertos por um sutiã azul.
“Azul é realmente a cor mais quente.” Sooyoung murmurou, embevecida com aquele visão do paraíso. “E também é a sua cor.”
Jin Sol sorriu, agarrou Sooyoung pelo colarinho de sua jaqueta e a beijou de forma intensa. A guitarrista aumentou a velocidade de seus movimentos, e quanto mais molhada sentia Jin Sol ficando, maior era a sua excitação e vontade de invadi-la com os dedos, porém, apesar dessa desejo, ela se conteve para não ir além do que havia sido lhe pedido.
Jin Sol envolveu novamente Sooyoung em um abraço, sentindo que estava próxima de seu êxtase.
“Assim mesmo, baby, só mais um pouquinho e eu vou...oh...vou gozar gostoso assim... Oh porra!” A baterista gemeu quando alcançou aquele orgasmo clitoriano, e jogou a cabeça para trás, possibilitando Sooyoung dar uma lambidinha em seu pescoço, arrancando um riso da outra. “Que delícia, Sooyoung.”
A filha de Gyuri tirou a mão de dentro da calça da outra e viu o líquido transparente cobrindo-os nas pontas, aí Jin Sol pegou em seu pulso e levou a mão para a própria boca, chupando-os com luxúria.
“Porra.” Sooyoung gemeu ao sentir seus dedos sugados naquela boca quente e a língua aveludada da outra.
Além da sensação altamente agradável, a imagem também era muito sexy e provocante. Sooyoung sorriu e mordeu o lábio inferior, observando aquilo e  juntando as pernas, causando uma pressão em seu próprio sexo.
“Hmmm.” Jin Sol gemeu, sentindo seu próprio gosto nos dedos da outra, e abriu um sorriso sacana, após terminar aquele gesto.
Em seguida, ela colocou as duas mãos no rosto de Sooyoung e a beijou. Dessa vez um arrepio muito gostoso percorreu por todo o corpo da jovem guitarrista, principalmente por sentir um gosto diferente, levemente salgado, mas delicioso na boca de Jin Sol.
O consciente não raciocinou, mas seu corpo estremeceu por saber que aquele era o sabor do gozo da outra, e isso foi o estopim que faltava para ela própria alcançar o êxtase sexual e gozar, sem nem mesmo ter seu clitóris tocado.
Parecia que estava em um sonho e não queria acordar.















































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