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“Meu Senhor, eu tenho tentado com todas as minhas forças não tropeçar na minha caminhada de fé, mas o Senhor sabe as tentações que enfrento hoje. Sinto desejos que me afastam de Ti. Às vezes as tentações parecem fortes demais pra mim. Os desejos grandes demais para resistir. Preciso de Sua ajuda nessa batalha, pois sei que sou falha e incapaz de vencê-la sozinha, Senhor. Minha carne é fraca, por favor, me ajude. Tua palavra promete que não serei tentada além do que posso suportar, então peço forças para enfrentar a tentação toda vez que a encontro. Quero orar sempre para que não seja arrastada pelos desejos do mal e não caia nas armadilhas do inimigo. Assim como o Senhor não abandonou Jesus na sua luta contra as tentações de Satanás, por favor não me abandone agora, meu Pai. Sei que o Senhor nos liberta de nossas fraquezas e de nossos pecados, então por favor, esteja sempre ao meu lado durante minha luta contra a tentação. Em nome de Jesus Cristo. Amém.” Jiwoo rezava com fervor e toda a fé que tinha dentro de seu coração naquela manhã de segunda-feira, antes de ir para a aula.
Estava na solidão de seu quarto, ajoelhada ao lado da cama, de olhos fechados e com as mãos juntas sobre a cama, abrindo o seu coração e pedindo para que Deus jamais lhe abandonasse, mesmo que ela fosse uma fraca pecadora, que nos últimos dias havia cometido vários pecados contra Deus ao se deixar cair na tentação da carne.
Saber que iria passar o dia com Sooyoung, o motivo de sua tentação, praticamente a tarde inteira em um ambiente onde ambas teriam que trocar de roupa, estava lhe deixando completamente ansiosa e com medo de cair em tentação e cometer novos pecados.
Ela pegou dentro da gaveta de seu criado-mudo um livro de Salmos e o abriu na página com o Salmo 31 e começou a lê-lo com toda a fé em seu coração.
“Em Ti, Senhor, me refugio; nunca permitas que eu seja humilhado; livra-me pela Tua justiça. Inclina os Teus ouvidos para mim; vem livrar-me depressa!; Seja minha rocha de refúgio, uma fortaleza poderosa para me salvar. Nas Tuas mãos eu entrego o meu espírito; Resgata-me, Senhor, o Deus da verdade. Amém.” 
A garota depositou o livro aberto naquela página com cuidado em cima de sua cama, e lá ele ficaria o dia todo, para que sua proteção contra a tentação e o pecado fosse aumentada. Todas as armas eram válidas para lutar contra o inimigo.
A verdade é que Jiwoo estava em choque, muito envergonhada e temerosa após se dar conta do quão longe havia ido apenas para sustentar aquele prazer carnal egoísta. Todas as pessoas são falhas e cometem pecados, mas ela havia feito algo grave, de natureza abominável, apenas para satisfazer aquela vontade de sentir prazer carnal, e com o agravante de usar Sooyoung em seus pensamentos como ferramenta para esse ato vil.
Havia pedido perdão várias e várias vezes, e tinha consciência de que Deus, com Sua imensa misericórdia, a perdoaria, mas ela própria não conseguia se perdoar.
Estava envergonhada pelo o que havia feito e com mais medo ainda de ser fraca, cair em tentação e pecar de novo. Sabia que a cada repetição, o peso do pecado aumentava, e se ela não fosse forte o suficiente, poderia cair em total desgraça e acabar se tornando indigna de habitar o reino dos céus.
Passar a eternidade no inferno por ser uma fornicadora era um medo real para Jiwoo, o sofrimento era inimaginável, já que nada na Terra poderia se comparar r ao sofrimento destinados àqueles que desonraram Deus em vida.
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Por ficar rezando além do habitual, Jiwoo acabou sem tempo para o café-da-manhã, por isso, como sempre chegava na escola com alguns minutos de antecedência antes do início das aulas, ela seguiu para a cantina, onde pegou um café e se sentou em uma mesa.
Pegou seu celular, apenas para dar uma zapeada na internet e se distrair enquanto a aula ainda não começava, mas logo que abriu o Whatsapp e entrou em um grupo em que fazia parte junto de Heejin, Hyunjin e Yeojin, viu que havia uma montagem com os dizeres “Isso nunca será aceito por Deus” e abaixo as fotos de um casal de dois homens e outro de duas mulheres, seguidas por um dos mais famosos trechos bíblicos dos últimos tempos: Levítico capítulo 18 versículo 22. “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é.”
A imagem havia sido enviada por Yeojin, que ainda completava com a legenda “Fato que os moderninhos não aceitam.”
Logo abaixo Hyunjin comentou: “Verdade. Não importa o que os homens dizem, se tentam forçar a gente a aceitar esse comportamento como algo normal, nós sabemos que não é, e que Deus é contra e nada pode se sobrepor a vontade de Deus.”
Heejin foi a única do trio que não se manifestou. Talvez por ter noção que também estava vivendo em pecado e por isso não tinha moral para apontar o dedo para ninguém, ou porque não achava aquilo grande coisa.
Jiwoo suspirou fundo, e até optou por guardar o celular no bolso. Como se já não bastasse tudo o que estava acontecendo com ela, ainda acabou vendo aquela imagem, que no seu ponto de vista, era algo totalmente desnecessário de ser postado naquele grupo.
Sentiu que sua ansiedade aumentou consideravelmente. Amava muito Yeojin, que era uma menina que havia crescido juntas dentro da igreja, e também Hyunjin, que era sua prima e quase uma irmã, e cujo os pais haviam sido de grande importância na criação de Jiwoo, após a morte de sua mãe, mas elas, às vezes, se comportavam de forma totalmente sem-noção.
A garota tomou mais um gole do café que já estava esfriando, e ficou cabisbaixa, olhando para a mesa, enquanto pensava em como poderia ser a tarde junto de Sooyoung.
Estava tão distraída que nem notou uma aproximação.
“Jiwoo.” Ela se virou para olhar para a pessoa que havia chamado seu nome.
Era Kim Myungjun, que estava em pé, do outro lado da mesa.
O rapaz de cabelos pretos e um sorriso adorável, se apresentava da forma amigável que sempre abordava Jiwoo.
“Posso me sentar aqui com você?” Ele perguntou, e ela assentiu, então Myungjun se acomodou na cadeira a frente da garota. “Eu fiquei preocupado com você, já que, sei lá, você não me pareceu muito bem nos últimos dias, espero que esteja melhor hoje.”
“Sim, eu estou melhor.” Jiwoo respondeu e abriu um pequeno sorriso. “Eu agradeço pela preocupação, mas não quero que fique sofrendo por minha causa.”
“Eu sei, mas é difícil não ficar preocupado quando você gosta de verdade de alguém.” Ele disse de forma um pouco tímida, deixando Jiwoo bastante envergonhada e até tensa, mas arrancando-lhe um sorriso.
Myungjun sempre lhe falava essas coisas, e ela não tinha motivos pra duvidar de suas palavras, então, talvez ela realmente deveria escutar os conselhos de Heejin e chamar o garoto para sair. Se eles não fizessem nada além de conversar, não haveria mal algum.
“Bom, você... É... Você gostaria de tomar um milk-shake um dia desses?” Ela perguntou, e isso deixou o rapaz meio atônito e completamente surpreso, uma vez que ele já havia convidado Jiwoo para sair outras vezes, mas ela sempre recusou dizendo que poderia ter problemas com o seu pai por isso, deixando para o rapaz a imagem de um reverendo Kim muito rígido e controlador com sua filha, por conta disso, Myungjun até havia desistido da ideia de ver a garota fora da escola, mas continuava demonstrando seu afeto por ela quase diariamente.
“Eu iria adorar, mas, e o seu pai? Ele tá mais liberal agora?” O rapaz questionou, com uma preocupação genuína tanto por Jiwoo quanto por ele, que não queria arrumar problemas com um homem adulto.
“Bom, não há nada de errado em sairmos apenas para conversar, Myungjun.” Ela esclareceu e o rapaz sorriu, morrendo de vontade de pegar na mão de Jiwoo que estava sobre a mesa, mas se contendo para não a afugentar, logo agora que ela pareceu disposta a lhe dar uma chance real.
“Tem certeza? Não vou correr nenhum risco de encontrar um homem com uma espingarda quando eu chegar nesse encontro, não é?” Ele brincou e riu, fazendo a garota rir junto, mas de nervoso, tanto pela imagem que ela tinha criado de seu pai para Myungjun, quanto pelo fato dela estar indo para um encontro com um garoto pela primeira vez em sua vida.
Isso era uma coisa vista como normal para uma menina de 17 anos, mas não Jiwoo, que havia crescido em um ambiente tão rígido e se escondido do mundo usando o escudo da igreja por tanto tempo, que naquela altura da vida só tinha beijado pela primeira vez por causa de Sooyoung.
Quando Sooyoung invadia os seus pensamentos daquela forma, Jiwoo sentia até um arrepio percorrendo todo o seu corpo, causando-lhe calafrios.
Então o sinal tocou, forçando-os a seguir cada um para a sua classe, mas não sem antes um último acerto.
“A gente pode se ver hoje, então?” Myungjun perguntou animado, se levantando da mesa.
“Hoje não vai dar, eu tenho um compromisso, mas pode ser amanhã.” Jiwoo respondeu também se levantando. “Então, até mais?”
“Até mais, Jiwoo.” O rapaz se despediu com um largo sorriso nos lábios. A felicidade estava quase que literalmente estampada em sua face, já Jiwoo riu tímida, um pouco nervosa com o que estava por vir, mas dizendo para si mesma que era o melhor caminho a seguir, já que se fosse para desapontar seu pai, era melhor que fosse com um garoto de fora da igreja do que com uma garota, especialmente a filha da mulher com quem ele iria se casar em questão de dias.
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Os pensamentos estiveram tão dispersos durante as aulas, que ela teve uma grande dificuldade em terminar uma lista de exercícios de química, e não por não saber a matéria, na qual ela até possuía certa facilidade, mas por não conseguir parar de pensar em tudo o que estava acontecendo e como sua vida passaria por uma brusca mudança nos tempos que viriam.
Jiwoo tinha ao máximo sempre tentado manter aquela imagem de “girl next door”, já que era a menina dos olhos não só de seu pai, mas também de toda a comunidade eclesiástica, que possuía um carinho especial por ela e praticamente a “adotou” quando sua mãe faleceu, e sair da linha e não corresponder a expectativa que todos tinham dela era algo terrivelmente assustador para a menina.
Ficava em pânico só de imaginar todos que sempre foram amáveis com ela lhe virando as costas. Sua vida inteira era baseada na convivência na igreja, não sabia se iria conseguir viver longe daquele ambiente, muito menos de seu pai.
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“...Eu tô te falando Yeojin, deve ser por isso que ela anda tão nervosa.” Hyunjin comentava baixo com Yeojin, enquanto estavam sentadas em uma mesa durante o intervalo. “Menos mal que seja isso, né?”
Enquanto elas conversavam, Jiwoo se aproximava e Yeojin fez sinal para a amiga se calar.
“Vocês estavam falando de mim?” A filha do pastor perguntou, ao parar próximo a mesa.
Yeojin não disse nada, apenas abaixou a cabeça, já Hyunjin ficou pensativa.
“Não, nós estávamos falando sobre um dorama que nós começamos a ver ontem, muito bom, por sinal.” Ela mentiu e sorriu um pouco nervosa.
“É.” Yeojin concordou e tomou um gole de suco.
“Mentir é pecado.” Jiwoo falou, e sentou-se na mesa junto das meninas. “Eu sei que aquele dia eu fui grosseira com vocês e já pedi desculpas, mas acho que isso não dá direito de vocês falarem mal de mim pelas costas.”
“Nós não estamos falando mal de você, Jiwoo, você é nossa amiga.” Yeojin se defendeu e olhou para a outra que suspirou. “Acontece que nós vimos você conversando com o Kim Myungjun hoje mais cedo.”
Jiwoo corou levemente ao ouvir aquilo.
“Bom, foi apenas uma conversa, não há motivos para burburinhos nem fofocas. Ele é só meu amigo.” Jiwoo comentou, não gostando nem um pouco de saber que era assunto de conversas de outras pessoas.
“Nós não estamos fazendo por mal, mas todo mundo sabe que o Myungjun arrasta um bonde por você, e pra ser sincera, eu acho que vocês dois formam um casal bonitinho.” Hyunjin se explicou.
“É verdade, ele é super fofo, mesmo sendo budista, e tá quase estampado na cara que é doidinho por você.” Yeojin completou sorrindo.
“Mas nós estávamos pensando que pode te deixar preocupada o fato dele ser de outra religião.” Hyunjin disse sincera. “Mas eu acho que isso é algo que pode ser contornado, e eu também não acho que o tio Donghae iria ser grosso com ele por isso, e com o tempo ele pode até aceitar se converter para o cristianismo e vocês poderiam se casar com as bênçãos de Deus, como é o correto.”
Jiwoo ficou um tanto chocada ao ouvir Hyunjin falar de um assunto delicado daquela maneira tão simplória. Ela estava começando a torcer para a prima, que já havia dito várias vezes com orgulho que gostaria de se tornar uma pastora quando adulta, desistir dessa ideia ou pelo menos mudar a sua forma de pensar e agir, caso contrário ela poderia se tornar uma líder fundamentalista, dessas que fazem mais mal do que bem para a comunidade.
“Eu não estou pensando em me casar com ninguém, por favor.” Jiwoo falou de forma bastante séria. “E mesmo que eu fosse me casar, eu não iria pedir para ele deixar suas crenças religiosas para trás, assim como eu jamais abriria mão do meu amor por Deus.”
“Como assim Jiwoo? Você vai ter coragem de se casar com uma pessoa que idolatra a imagem de um falso deus?” Hyunjin perguntou demonstrando estar chocada. “Idolatria é um pecado grave, olha a história de Moisés e o bezerro de ouro.”
Era esse tipo de comportamento que Jiwoo temia ver entre suas pessoas queridas. Estava com raiva e medo. Medo porque tinha para si que seu pai não teria um pensamento diferente, e raiva por sua prima estar tentando lhe ensinar uma coisa que ela já sabia de cor e salteada.
“Hyunjin, você deveria parar de agir desse jeito, cheia de pedras nas mãos, porque se não você vai acabar próxima de um fariseu e longe do nosso Cristo, que sempre foi bondoso e nunca deixou de acolher ninguém, aliás, quanto maior o pecado, maior o amor oferecido, não se esqueça disso.” Jiwoo respondeu, deixando Hyunjin insatisfeita e fechando a cara. “Quando a Bíblia nós diz para “vigiar e orar continuamente” é mais sobre nós mesmos do que os outros, lembre-se disso.” Concluiu, esperando que suas palavras pudessem fazer a sua prima repensar nas coisas que estava dizendo e fazendo por aí.
Jiwoo se levantou e saiu da mesa, indo buscar algo para comer e vendo Myungjun, em uma mesa com seus amigos. Ao vê-la, o rapaz abriu um largo sorriso, e os seus amigos começaram a brincar com ele, num tom claramente provocativo pela presença da garota por ali, o que deixou Jiwoo bastante envergonhada e como reação imediata ela abaixou a cabeça, com medo do que aquele encontro com Myungjun poderia resultar.
Necessitava conversar com Heejin, que parecia ser a única pessoa de seu convívio capaz de lhe entender.
“Com tanto menino bom na igreja, a Jiwoo foi logo se interessar por esse adorador de bezerro de ouro moderno.” Hyunjin comentou com amargura, enquanto observava Myungjun rindo com seus amigos. “Olha só como ele age com os amigos dele, rindo satisfeito como se tivesse encontrado a presa perfeita. Esses caras não respeitam garotas como nós.”
“Mas acho que a Jiwoo vai se aborrecer se você continuar falando sobre isso.” Yeojin comentou.
“Eu sei, e eu não posso fazer nada além de rezar por Jiwoo e pedir para Deus intervir e tirá-la da influência demoníaca do inimigo, que está sempre a espreita, apenas esperando uma chance para desviar os servos do Senhor de seu caminho para o Reino dos Céus.” Hyunjin respondeu séria.
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No intervalo de outra escola, Hyejoo andava por entre os adolescentes, usando a touca de seu moletom cinza escuro na cabeça, com as mãos no bolso, usando a direita para segurar o celular, que tinha os fones de ouvido saindo dele, direto para seus ouvidos, com a música “I’m not okay” do My Chemical Romance no último volume.
Sem a companhia de Chae Won os seus intervalos pareciam períodos intermináveis de tortura, onde ela se limitava a procurar um lugar para ficar distraída com seus jogos e suas músicas até o sinal bater.
O que lhe consolava, era que aquela cabeça oca da Chae Won também estava passando pela mesma coisa, e portanto era uma questão de tempo para que a loira oxigenada e de inteligência questionável lhe procurasse para pedir desculpas, e ela como era uma pessoa piedosa, ofereceria de novo sua insubstituível companhia para a amiga.
Um sorriso até brotou no rosto de Hyejoo com aquele pensamento, enquanto ela caminhou por mais alguns metros, chegando até a cantina, apenas para ficar paralisada ao ver uma cena jamais imaginada: Chae Won estava sentada em uma mesa com outras duas meninas, bem populares e do tipo patricinhas, que usavam tudo o que pudessem na cor rosa, uma coisa que chegava a ser nauseante.
Hyejoo ficou sem reação por alguns segundos, era como se Chae Won tivesse apunhalado seu coração.
As três riam bastante animadas, e ao virar a cabeça para o lado, Chae Won acabou vendo Hyejoo, que a encarava atônita. A loira, no entanto, apenas fechou a cara e virou o rosto, voltando a sorrir apenas ao conversar com suas novas amigas.
Hyejoo engoliu em seco, e então, seguiu diretamente para o banheiro, local pra onde seu lado irracional gostaria de levar Chae Won arrastada pelos cabelos, enfiar sua cabeça na privada e dar descarga para se vingar.
A garota se trancou em uma das cabines, abaixou a tampa do vaso sanitário e se sentou ali, mudando para a música “I don't love you” também do My Chemical Romance, para ficar remoendo o ódio que estava sentido por Chae Won naquele momento.
O ódio inicial no entanto logo virou tristeza que se traduziu em lágrimas, e Hyejoo se sentiu extremamente patética por estar chorando escondida no banheiro da escola enquanto ouvia música emocore por causa que a sua única amiga desde a infância havia lhe abandonado por não lhe aguentar mais.
Hyejoo estava se sentindo o epítome do fracasso.
Alguns minutos se passaram e, finalmente, ela abriu um esboço de sorriso ao sentir o celular vibrar e ver que era uma chamada de Namjoon.
“Oi.” Ela atendeu a ligação.
“Hyejoo, sua voz tá estranha. Tá tudo bem?” Ele perguntou, deixando a garota sem saber o que responder. “Pegou um resfriado?”
“Sim, é, peguei.” Ela concordou com a sugestão, aliviada por ele ter dito aquilo. “Mas logo vou estar melhor.”
“Eu tenho uma coisa aqui que com certeza vai te animar e isso vai ajudar com esse resfriado, gatinha.” Ele falou com um ar de confiança e provavelmente sorrindo.
“E o que é?” Ela perguntou, bastante curiosa, já que uma boa notícia era tudo o que ela precisava para salvar aquele dia, que ainda nem havia chegado a metade, mas já estava sendo uma merda.
“Então, falei com um amigo meu e ele disse que conhece um programa excelente de espionagem de celulares.” Namjoom respondeu, deixando a garota animada. Hyejoo havia comentado com o rapaz sobre o seu interesse em hackers e espionagem, só não havia dito quem ela gostaria de espionar. “O cara falou que com esse programinha você pode acessar pelo seu celular qualquer informação do celular espionado: fotos, conversas, localizações, redes sociais, pesquisas na internet, dá pra descobrir tudo e montar um dossiê do ser humano, e a pessoa não tem a mínima possibilidade de perceber que está sendo espionada, já que o programa não deixa notificações, muito menos ícones visíveis.”
“Uau, bom, desse jeito só vi vantagens.” Hyejoo comentou, bastante eufórica. O programa seria perfeito para o que ela planejava.
“Bom, na verdade tem uma desvantagem, que você no caso precisa instalar esse app no celular da pessoa que você quer vigiar manualmente. Essa é a parte mais punk do processo.” Namjoom explicou.
Bom, era sim um obstáculo, mas não impossível. Só precisaria pensar em um modo de surrupiar o celular do reverendo Kim por alguns minutos para fazer a instalação do aplicativo.
“Eu vou te enviar o link do site pra você baixar esse programa. Tem um PDF com um mini manual de instruções junto, qualquer dúvida é só dar uma lidinha lá.” Namjoon explicou.
“Você realmente foi rápido no gatilho, valeu por me ajudar com isso.” A garota agradeceu, sentindo-se feliz e animada por parecer ter encontrado um parceiro para suas doideiras.
“Acho que eu mereço mais do que só um “obrigado”, não?” Ele perguntou em um tom provocativo e com a voz um pouco mais intensa.
Mesmo por telefone, Hyejoo corou e sentiu um certo receio de onde aquele assunto poderia chegar.
“Você é tão bonita e atraente, Hyejoo, eu nem tenho conseguido pensar em nada que não seja você.” Ele disse, e a garota até sentiu o coração bater meio descompassado e forte. Suas bochechas ficaram púrpuras de timidez.
Nunca ninguém havia lhe dito algo semelhante e ela nem conseguia pensar em nada apropriado pra responder.
“Eu gostaria de te ver em uma lingerie sexy.” Ele esclareceu e deixou escapar um risinho sacana enquanto ela quase teve um ataque de pânico.
“Namjoon, eu não sei se eu tô pronta pra isso...” Respondeu sincera e nervosa. Suas pernas estavam tremendo tanto, que se ela não estivesse sentada, provavelmente teria levado um tombo por perder o equilíbrio.
“Calma, porque eu não estou falando pessoalmente, pelo menos não por enquanto, você pode tirar umas fotos e me enviar. Eu vou adorar poder apreciar cada centímetro desse seu corpo de mulher.” Ele esclareceu, mas Hyejoo ainda continuou nervosa.
“O sinal bateu, eu preciso voltar pra aula.” Ela mentiu, pensando na única maneira de encerrar aquela conversa. “Tchau.” Se despediu rapidamente e desligou o celular.
Seu corpo estava quente e ela estava muito nervosa. Respirou fundo, tentando se acalmar, e se dando conta de que aquela chata da Heejin estava certa ao lhe chamar de criança. Sua reação diante daquele pedido havia sido infantil e patética.
Precisava agir como a mulher que era e não mais como uma criança boba.
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Após o término de mais um dia de aula, Jiwoo foi direto pra casa, onde tentou descansar enquanto esperava pelo horário de ir até a loja de vestidos com Sooyoung. Apesar da intenção inicial, descansar foi a última coisa que a jovem conseguiu fazer naquele espaço de tempo, já que só de pensar na primogênita de Gyuri, ela já ficava ansiosa e quase tendo um ataque de nervos, enquanto os ponteiros do relógio pareciam se arrastar, tornando aquele seu sofrimento quase eterno.
Nem televisão, nem música e nem suas leituras bíblicas seriam capazes de distraí-la naqueles momentos. Entrar no Whatsapp era algo fora de cogitação, já que ela andava se aborrecendo demais com as coisas que estavam sendo ditas por suas amigas de igreja.
Estava sozinha em casa, já que seu pai andava muito ocupado, dividindo a maior parte de seu tempo entre sua rotina de pastor e os preparativos para o casamento e também para a lua-de-mel cada vez mais próximos.
Enquanto estava mergulhada em um mar de pensamentos intrusivos, Jiwoo se assustou com o alto toque do celular. Era uma chamada de Donghae.
“Alô?” Ela atendeu.
“Jiwoo, eu liguei pra saber se você quer uma carona até o shopping? Eu vou fazer uma visita nas proximidades, então eu posso levar vocês.” Ele sugeriu de forma simpática.
“Eu agradeço, pai, mas nós vamos de metrô. Já combinamos.” A garota respondeu, mentindo, já que ela não havia combinado nada com Sooyoung ainda, apesar de ser lógico de que o modo mais rápido de chegar a tal loja era o metrô.
“Tudo bem, filha, mas se precisar de algo é só me ligar.” O homem respondeu.
“Muito obrigada, pai.” Jiwoo agradeceu sincera.
“Tome cuidado e vá com Deus.” Ele disse e desligou o telefone, e assim viu que havia uma mensagem de Sooyoung, perguntando onde elas iriam se encontrar para seguirem até a loja, e a garota respondeu o nome da estação de metrô que ficava no caminho entre as casas de ambas.
Jiwoo suspirou, sentindo o nervosismo aumentar dentro de si, mas tentando se recompor e manter a pose para ir ao encontro de Sooyoung e passar o resto de seu dia ao lado da menina que estava lhe jogando pra fora do eixo.




































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